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Capítulo 12

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NA SALA DE ESTAR DOURADA, em Rosings Park, Richard Fitzwilliam esticou as pernas.

— E quanto à nossa prima, Anne? Espero que sua ausência não indique problemas de saúde.

Graças aos céus pela existência de Richard! Darcy não conseguiria passar dois dias com lady Catherine sem a habilidade de Richard em falar calmamente com ela. Especialmente em sua sala de estar, onde o papel de parede turquesa, terrivelmente vívido, fazia seus olhos doerem.

— A saúde de Anne está muito melhor. Darcy, você ficará bastante satisfeito quando a vir.

Ele ignorou a insinuação de que a saúde de Anne seria particularmente importante para ele. Lady Catherine conhecia seus sentimentos sobre o assunto.

— Estou feliz por ela estar bem de saúde.

— Estou muito satisfeita com o médico, Mr. Graves. Ele é muito diligente e determinado em seus cuidados com ela. Vem vê-la todas as semanas, mesmo quando está com boa saúde, já que ele diz que isso o ajuda a entender melhor como ajudá-la em outros momentos. Chegou ao ponto de se juntar a nós quando viajamos para Ramsgate e levou Anne para caminhar durante o passeio, dizendo que seria bom para seus ânimos ter a oportunidade de sair com um cavalheiro como qualquer outra dama, e ela parecia muito melhor quando voltou. Ele também me deu um tônico muito útil para minha gota.

E, sem dúvida, Mr. Graves também apreciava os pagamentos que recebia todas as semanas. Se seu remédio para a gota fosse verdadeiramente efetivo, presumivelmente lady Catherine não exigiria a assistência de dois lacaios para caminhar uma curta distância.

Richard disse:

— Ele tem a sorte de ter uma benfeitora tão generosa quanto a senhora.

— Ele está ciente da sua boa fortuna, garanto-lhe, assim como o clérigo que nomeei para Hunsford. Estou muito satisfeita com a minha escolha. Mr. Collins é um daqueles raros homens que conhecem sua posição e apreciam a condescendência de seus superiores. Ele sempre está feliz em receber meu conselho.

— Parece que você não poderia ter escolhido um beneficiário mais grato por suas atenções. — Richard piscou para Darcy.

— Ele se beneficiou muito com o meu conselho. Porque, há alguns meses atrás, por minha recomendação, Mr. Collins tomou uma esposa, boa e sensata. Todos os párocos devem se casar, eu disse a ele. É um bom exemplo para o seu rebanho. Darcy, a esposa dele afirma ter conhecido você.

— Acho improvável. Talvez esteja equivocada. — Ele quase não estava ouvindo. A menção do clérigo obsequioso levou os seus pensamentos de volta a Elizabeth. Onde poderia ela estar se escondendo?

— Não, tenho certeza disso. Ela conheceu você em Hertfordshire. Tenho uma recordação em particular sobre ela dizendo isso.

Hertfordshire? Ele prendeu a respiração. Não, é claro que não poderia ser Elizabeth. Seu pai teria lhe dito se ele a tivesse feito se casar.

— Qual é o nome dela?

Lady Catherine sorriu triunfante.

— Era Miss Lucas. Lembro-me muito bem, pois ela me contou o nome de seu pai. Ele foi nomeado cavaleiro, o que foi uma sorte para ela, já que Mr. Collins tinha as minhas instruções específicas para que se casasse com uma dama.

Poderia ser? Elizabeth dissera que sua amiga se casara com um idiota e se mudou. Se Mrs. Collins fosse realmente a ex-Charlotte Lucas e amiga particular de Elizabeth, certamente saberia onde Elizabeth poderia ser encontrada. Ela tinha uma mente prática. Devia ter, para se casar com aquele tolo Collins com suas perspectivas. Mas espere – Elizabeth disse que ia visitar sua amiga. Poderia ele ter tanta sorte? Ele pigarreou.

— Deve ser difícil para ela estar tão longe de sua família e amigos. Ou eles a visitam?

Lady Catherine comprimiu o lábio.

— Haveria uma visita, mas precisou ser cancelada no último minuto, algo sobre a irmã dela estar doente. Fiquei muito aborrecida, pois não podia ver razão alguma para ficarem longe. Mr. Graves poderia tê-la assistido, se estivesse doente.

Seu coração desacelerou para um ritmo normal. Talvez Miss. Lucas – Mrs. Collins – pudesse ter as informações de que precisava. Mas a esperança momentânea de logo ver Elizabeth deixou um gosto amargo ao desaparecer. Por que, oh, por que ela não entrou em contato com ele como lhe pedira?

Darcy resolveu visitar Mrs. Collins na primeira oportunidade possível.

***

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—Ela é tão amiga sua, que você não pode ficar longe? — perguntou o coronel Fitzwilliam. — Nunca o vi tão ansioso para fazer uma visita.

Darcy deliberadamente retardou seu passo rápido.

— Estou ansioso para estar livre da companhia da nossa tia; isso é tudo.

Mas seu primo deu-lhe um olhar estranho, claramente insatisfeito, e anunciou sua intenção de se juntar a Darcy em sua visita ao presbitério.

Mrs. Collins cumprimentou os dois primos com toda a cortesia, mas Darcy pensou ter visto um pequeno estreitamento de seus olhos quando ela olhou para ele. Então, ela soube o que aconteceu com Elizabeth, ou pelo menos parte disso. Ouvira os rumores? Ou Elizabeth falou algo sobre ele em alguma carta para ela? Se a aversão a ele fosse por críticas de Elizabeth, ele não teria outra opção senão aceitar a opinião do Mr. Bennet de que Elizabeth não queria nada com ele.

Esse pensamento era muito difícil de suportar.

Precisava descobrir.

— Mrs. Collins, espero que sua família em Hertfordshire esteja bem de saúde.

— Eles estão muito bem, obrigada. — Seu tom era frio, quase desdenhoso.

— Seu pai continua a apreciar a caça?

—É improvável que isso mude, a menos que todos os animais e aves fujam dos arredores.

Ele não conseguia lembrar nada sobre sua mãe, mas tinha que encontrar algo para dizer, para manter a conversa sobre Meryton. Caso contrário, não teria como perguntar sobre Elizabeth.

—Sua mãe também está bem?

As sobrancelhas da Mrs. Collins subiram ligeiramente.

— Ela está bastante ocupada. Provavelmente, o senhor não poderia ter sabido das novidades. Pouco depois do meu casamento, minha irmã mais nova ficou noiva e casou logo depois. Casar duas filhas em poucos meses manteve minha mãe bem ocupada.

Darcy se perguntou como ela reagiria se ele lhe dissesse que provavelmente sabia mais sobre o casamento de sua irmã do que ela própria.

— Espero que sua irmã esteja muito feliz. É o cavalheiro afortunado alguém que eu teria conhecido durante a minha estadia em Netherfield?

— Seus caminhos poderiam ter se cruzado. Ele era o tenente Chamberlayne da milícia, agora capitão.

— Acredito que me lembre dele. Parecia um sujeito amável.

— Eu mal o conheci, mas parece que é gentil com a minha irmã.

Certamente deveria ser gentil; estava sendo bem pago para isso.

— A senhora soube de mais alguma de suas amigas de Meryton?

Agora seus olhos definitivamente se estreitaram. Sem dúvida, ela tinha uma excelente ideia de qual amiga ele estava curioso. Mrs. Collins, como Elizabeth, não era uma idiota.

— Algumas, embora eu não esteja aqui há muito tempo. Lizzy Bennet é uma correspondente regular, é claro. Talvez o senhor se lembre dela. — Suas palavras pareciam ter bordas afiadas.

— Lembro-me dela muito bem. — Dia e noite, para ser sincero. — Como está Miss Elizabeth?

O sorriso dela era completamente desprovido de calor.

— Ela está bem de saúde.

— Estou feliz em saber disso. — Uma desculpa pobre para uma resposta, quando na verdade queria encorajá-la a dizer mais. Se ao menos Richard não estivesse lá! Seu primo, tinha certeza, não estava perdendo uma palavra dessa conversa. — Peço-lhe que dê meus cumprimentos a seus pais da próxima vez que escrever para eles, e também a Miss Elizabeth.

— Ficarei feliz em fazê-lo, senhor. — Seu tom indicava exatamente o contrário. — Perdoe-me, coronel Fitzwilliam. É imperdoavelmente rude falarmos sobre pessoas que o senhor não conhece. Lizzy é minha querida amiga de Hertfordshire, e também prima de Mr. Collins.

— Um duplo relacionamento, então — disse Richard.

— Se não fosse por ela, nunca teria conhecido meu marido. Agora será a vez dela, já que se casará. Talvez já esteja; não tenho notícias dela há mais de quinze dias. O senhor está bem, Mr. Darcy? De repente, pareceu-me pálido. — As palavras dela bem que poderiam ser facas.

Ele não estava nada bem. Um mergulho em água gelada não poderia ter sido um impacto mais chocante. Se seu estômago se agitava antes, não era nada parecido com o que estava acontecendo agora, quando cada músculo em seu corpo parecia contraído, como em protesto.

— Casada? Isso é muito inesperado. — Ele teve que se forçar a falar.

— Parece ser a moda nos dias de hoje. Ou o senhor achou que nenhum homem iria querê-la?

Pelo canto de seus olhos, Darcy percebeu Richard sentar-se mais para frente.

— De forma alguma. Simplesmente não tinha ideia de que ela estava pensando em casamento.

Mrs. Collins deu de ombros.

— É a história de costume. Ela não tinha intenção de se casar agora, mas alguém começou a espalhar rumores sobre ela – bastante infundados, asseguro-lhe – e isso se transformou em um escândalo. Então ela se casará em breve e o falatório morrerá de morte natural.

Richard sacudiu a cabeça compreensivelmente.

— Isso é muito triste. Às vezes não sei como as jovens senhoras o toleram – o conhecimento de que só o que se precisa é uma pessoa mal-intencionada, para arruinar sua reputação. Lamento por sua amiga e espero que seu casamento seja tolerável.

Tolerável! Ela poderia ter se casado com ele e ser a senhora de Pemberley, e Richard esperava que o casamento dela fosse tolerável! Era uma coisa quando ela pensou poder voltar à sua vida antiga, assim que o escândalo tivesse passado, mas se casar com outro homem? O que havia de errado com ela? Ela tinha sido feliz o suficiente em sua companhia, durante a tempestade – para não falar dos beijos dele – mas agora, por algum motivo, ela parecia ter retornado à sua antiga e péssima opinião sobre ele.

Teria Wickham dito alguma coisa que envenenasse a mente dela contra ele? Ele estrangularia o canalha com as próprias mãos! Mas não fazia sentido. Depois de ver a cena na taberna, onde Wickham se aproveitava de Miss Lucas, Elizabeth certamente não daria crédito a nenhuma das suas mentiras.

Talvez fosse seu pai, que parecia ter algo contra ele. Teria ele alguma vez influenciado Elizabeth? Ou era essa idiotice de casamento desigual que ela falara durante a tempestade?

Ele contraiu as mãos. Se ao menos pudesse fazer alguma coisa! Uma luta feroz de esgrima ou um passeio selvagem por todo o campo poderia ajudar, mas tudo o que podia fazer era ficar sentado calmamente, até que pudesse ter uma desculpa para sair. Dificilmente seria satisfatório, quando na verdade ele queria quebrar os vidros das janelas, derrubar as venezianas e esmagá-las até que virassem lenha. Lenha. Acender uma lareira. Elizabeth. Diabos – ela o deixaria louco!

***

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Foi um milagre Darcy conseguir permanecer acordado em todo o sermão intoleravelmente maçante de Mr. Collins, no dia seguinte. Não que estivesse ouvindo isso, é claro. Sua mente estava totalmente ocupada com estratégias para encurralar Mrs. Collins após o serviço.

Uma noite quase sem dormir, torturando-se com imagens de Elizabeth nos braços de outro homem, era suficiente. Seus sentimentos por ela não iriam mudar; disso sabia ele agora. Não enquanto, em algum nível básico, ele pertencesse a ela para sempre. No momento em que o relógio bateu três horas, ele já havia se castigado por não ter conseguido seduzi-la enquanto estavam presos. Isso teria resolvido todos esses problemas.

Ela correspondeu a ele; disso estava certo. Ela não lhe era indiferente, e lhe enviara uma carta amigável através de Stanton. Então, por que ela escolheu não escrever para ele agora? Essas e outras perguntas estavam indelevelmente gravadas em sua mente, juntamente com a outra questão de por que ele permitiu que ela se afastasse dele, em primeiro lugar. Que tolo ele fora, pensando no dever e no que a sociedade queria! Tudo o que resultara era descobrir que Elizabeth poderia já estar casada com outra pessoa, e todo o dever no mundo se transformou em cinzas secas. Por que não percebeu isso antes?

Mas Mrs. Collins dissera apenas que ela poderia estar casada, então ele rezaria para que não estivesse. Não havia tempo a perder, porém, não quando todos os dias tornavam-se um risco de perdê-la para sempre para outro homem. Precisava encontrá-la antes.

Finalmente, o sermão chegou ao seu final enfadonho. Darcy atravessou o resto do serviço de forma automática. Mrs. Collins estava no banco atrás dele, então precisaria sair rapidamente para impedir que ela o evitasse. Assim que soubesse onde Elizabeth estava, ele deixaria Rosings hoje, apesar de seu cansaço. Poderia dormir depois de convencer Elizabeth a se casar com ele. Como conseguiria isso, quando não conseguira fazê-lo em três dias, sozinho com ela na tempestade, não era para ser considerado. De alguma forma, ele conseguiria ou morreria tentando. Podia imaginar seu olhar divertido, pedindo-lhe para explicar exatamente como alguém poderia morrer, tentando propor casamento a uma mulher. Tudo o que ele sabia era que uma vida sem Elizabeth seria uma espécie de morte.

A congregação estava se levantando agora. Darcy teve o cuidado de sentar-se no final do banco da família, para facilitar sua saída. Se tivesse que esperar que lady Catherine movesse suas pernas dolorosamente doentes, ele perderia a chance. Ele se colocou propositadamente em direção à sua presa, que já estava se dirigindo para a porta da igreja, sem dúvida tentando escapar dele.

Ele a alcançou nos degraus da igreja.

— Mrs. Collins! Um momento, peço-lhe.

Ela hesitou, claramente desejando recusar, mas não querendo parecer tão descortês, em público, ao sobrinho de sua benfeitora. Era com o que ele contava.

— Mr. Darcy.

— Onde está Miss Elizabeth Bennet? — Fantástico – uma abertura tão eloquente! O que havia acontecido com o “bom dia” e com todas as gentilezas usuais? O desespero as havia roubado.

As sobrancelhas dela subiram um pouco.

— Não posso contar.

— Não pode ou não quer?

— Muito bem, então; não contarei ao senhor.

— Mrs. Collins, é assunto de extrema importância.

—Para o senhor pode ser mas, para mim, manter a confiança de minha amiga é de maior importância. Espero que o senhor me perdoe. — O olhar dela lhe dizia que ela não se importaria se ele nunca a perdoasse.

— Não é minha intenção fazer-lhe mal. Peço-lhe, Mrs. Collins, que me ajude. — Que irritante ser forçado a implorar a ela!

— Peço que me perdoe. Meu lugar é ao lado de meu marido. — Ela se afastou dele.

— Espere! — Ele não podia permitir que ela se fosse. — Poderia, pelo menos, escrever-lhe, dizendo que desejo falar com ela – o mais rápido possível? — Os paroquianos começaram a sair da igreja, e logo eles estariam rodeados.

Lá estava novamente – aquele estreitamento de seus olhos.

— Vou considerar isso. Bom dia, Mr. Darcy.

Enquanto ele se afastava, amaldiçoou todas as mulheres teimosas. Richard teria que fazer companhia a lady Catherine na carruagem, sozinho. Darcy não suportaria mais meia hora na companhia de ninguém, não agora.