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A IMPACIÊNCIA DE DARCY PARA VER Elizabeth crescia à medida que se aproximavam da paróquia. Ainda não podia acreditar que ela estava realmente lá. Até a pele dele formigava, ao tomar consciência que pensava nela.
A voz de Richard chegou até ele, alertando-o de que seu primo estava falando há algum tempo.
— Imploro seu perdão. Eu estava sonhando acordado e não ouvi o que disse.
Seu primo riu.
— Isso foi óbvio. Eu simplesmente estava me perguntando o que a nossa tia está fazendo agora, e se devemos esperar que ela venha até nós como uma Valquíria de Valhalla.
— Deus nos livre — disse Darcy, secamente. — Ela é terrível o bastante, sem acréscimos de poderes sobrenaturais.
Eles retomaram o caminho para a paróquia, em harmonia, e com Darcy contando os segundos.
***
Na sala de estar da paróquia, o coronel Fitzwilliam desatou a conversar tão animadamente com Charlotte, que Elizabeth suspeitava que a manobra fora planejada pelo primo dele. A abordagem imediata de Darcy parecia apenas confirmar isso. Bem, não tinha intenção de lhe dar a satisfação de saber que ele tinha o poder de machucá-la. Fez questão de não olhar para ele, quando ele se sentou ao lado dela.
Sem preliminares, ele disse com uma voz baixa e dolorida:
— Você acha que não fiz o suficiente para a irmã de seu amigo? O homem escolhido por ela não foi adequado?
Era tão surpreendentemente inesperado, que ela esqueceu sua decisão e olhou para ele.
— Não, ele era adequado.
Isso devia soar incrivelmente ingrato após os extraordinários esforços dele em relação a Maria Lucas, então ela acrescentou:
— Você foi muito generoso, e agradeço por isso. — Isso serviria; pelo menos, o dissera com a menor graça possível, mas pelo menos o fez, e essa dívida foi paga.
— Então, por quê? Sei que não consegui entender suas intenções em várias ocasiões, mas li sua carta dezenas de vezes e, por minha vida, não consigo encontrar nada para explicar por que você não quer nada comigo. — Ele abriu uma folha de papel e colocou-a na mão dela. — Mostre-me o que está errado. Mereço isso, pelo menos.
Era a primeira carta que lhe escrevera, a enviada através de Mr. Stanton, cheia de provocações sobre sopa de cebola e agradecimentos por sua bondade para com Maria. Por que ele trouxe isso para Rosings? Dobrou-a lentamente e entregou-o de volta para ele.
— Não é essa carta — disse ela, sem rodeios. Sua raiva a impediu de irromper em lágrimas. —A que meu pai lhe deu.
— Mas seu pai não me deu nenhuma carta. — Ele parecia genuinamente desconcertado.
Por um momento, a esperança chegou até ela, mas então lembrou-se do que Charlotte lhe dissera.
— Talvez eu acreditasse que você não a recebeu, mas tenho provas suficientes para não acreditar no que diz. Se não recebeu a carta, como descobriu que houve um escândalo?
As sobrancelhas dele se juntaram.
— Stanton me disse. Ele o descobriu quando viajou para Meryton para fazer os assentamentos finais para Miss Lucas. É sobre isso que a carta dizia? Estive perdendo o sono durante semanas perguntando-me porque você nunca me contatou como prometeu.
Ela balançou a cabeça.
— Isso não é tudo. Charlotte me disse que você foi à casa de meu tio e que lhe disseram que Jane fora para o interior. Infelizmente para você, sei que isso é falso. Jane ainda está lá, mesmo agora, enquanto falamos.
Ele estendeu as mãos com as palmas para cima.
— Não tenho nenhuma explicação. Visitei a casa do seu tio e enviei meu cartão para Miss Bennet. Pouco depois, seu tio saiu e me disse que ela voltara para Longbourn. Não sei por que ele fez isso, mas estou lhe dizendo a verdade.
— Então, você acusa meu tio de mentir? O que ele poderia ganhar com isso? Não, Mr. Darcy, temo não acreditar em sua história. — Mas ela também não conseguiria manter sua compostura por muito mais tempo, então ficou de pé rapidamente, suas saias farfalhando e moveu-se para uma cadeira, onde pudesse se sentar o mais perto possível de Charlotte. Ele não ousaria tentar uma conversa em particular lá.
Ela tentou se concentrar na conversa entre Charlotte e o coronel, se não por outra razão do que evitar pensar no homem sentado na sala. Podia sentir o peso dos olhos dele nela.
O coronel disse:
— Seu marido parece incrivelmente orgulhoso de seu jardim.
Charlotte sorriu recatadamente.
— Eu o encorajo nisso. O ar fresco é bom para sua saúde.
— Na verdade, é bom para todos nós. Miss Bennet, sua amiga estava me dizendo que você é uma ótima caminhante. Há muitas caminhadas para explorar na área.
— Que delicioso. Você deve saber bem. — Não foi uma resposta muito eloquente, mas era algo.
— Exploro quando posso. Eu sou grande admirador do cenário de Kent, o que é uma sorte para mim, já que estive recentemente lotado em Folkestone. Provou-se ser um local muito agradável.
Charlotte disse:
— Sei pouco de Folkestone, exceto pelo mar.
— Nosso acampamento está realmente no topo dos penhascos, com vista para o canal. Os ventos de inverno são ferozes, mas a vista da água é incomparável. Muitas vezes, ando pelas praias de lá também.
— Ouvi dizer que o ar do mar é mais revigorante. — Charlotte olhou para Elizabeth.
— Espero que você possa experimentá-lo em breve — afirmou o coronel. — Não estamos longe da costa aqui.
Elizabeth saltou quando Darcy falou.
— Miss Elizabeth também nunca viu o mar.
Ela engoliu em seco.
— Infelizmente, a menos que você se refira a um mar de neve, é verdade.
Richard esfregou as mãos.
— Nós devemos fazer algo sobre isso, então. Darcy, você acha que seria possível organizar uma excursão? Folkestone está a menos de dez milhas.
Elizabeth rezou para ele dizer não. Um dia em uma carruagem com ele seria insuportável.
— Minha carruagem está a seu serviço. — Não havia animação em sua voz.
Charlotte olhou de soslaio para Elizabeth.
— Essa é uma oferta generosa, Mr. Darcy.
Por que ele estava fazendo o papel da parte lesada? Deveria ter pena dele e dizer-lhe que ela entendia por que ele se recusara a se casar com ela? Ele ficaria surpreendido se esperasse por isso. Por que a perseguiu, então? Se ao menos ele pudesse deixá-la sozinha!
— Miss Elizabeth. — Darcy limpou a garganta. — Fiquei surpreso ao descobrir que você tem mais semelhança com seu tio do que com qualquer um de seus pais. Fiquei impressionado com isso quando o conheci. Ele tem o mesmo cabelo escuro, embora o dele seja liso e tenha ficado grisalho nas têmporas. Ele é alto, embora não tão alto quanto Richard. Mas está no rosto dele, eu poderia realmente ver a semelhança. O formato é semelhante, especialmente ao redor do queixo, mas o mais notável eram os seus olhos. Não notei até que ele tirasse seus óculos, mas os olhos dele têm o mesmo formato inclinado que os seus, embora os dele não sejam tão escuros. Como o seu, o rosto dele mostra uma tendência para o riso, mesmo quando está discutindo um assunto sério. Ele usava um colete azul bordado com videiras entrelaçadas. Isso me fez imaginar se ele gostava da natureza tanto quanto você. — Sua voz era assustadoramente equilibrada.
O coronel Fitzwilliam riu.
— Meu Deus, você está se tornando um artista ao ficar mais velho, Darcy! Nunca percebi que você observa tantos detalhes sobre a aparência de alguém.
Darcy não olhou para ele, seus olhos ainda estavam fixos nela.
— Sempre notei essas coisas. Geralmente, não aborreço as pessoas com tal recitação, a menos que exista um propósito. Eu também poderia mencionar os vasos de flores com narcisos em cada lado da entrada, enquanto os vidros das janelas tinham uma mistura de flores azuis e amarelas.
Elizabeth respirou, trêmula. Então ele tinha ido a Gracechurch Street e conheceu seu tio – e ela o acusou de mentir. Ele não poderia ter imaginado todos esses detalhes. Mas ainda não fazia sentido. Por que seu tio o mandaria embora quando Jane estava lá – ou seria que ele desejava impedi-lo de descobrir que Elizabeth estava lá, além de Jane? Seu tio era um homem honesto, mas ele não estava acima de inventar uma história educada, para proteger uma de suas relações. Exceto pelo fato que ela não desejava ser salvaguardada de Mr. Darcy. Ela o desejava. Também poderia ser verdade que ele não recebera sua carta? O pai dela lhe mentiu?
Com o coração disparado, ela disse:
— Retiro minha acusação. Vejo que você conheceu meu tio e viu sua casa.
Darcy assentiu uma vez, devagar.
— E o resto?
Como poderia ela responder, com Charlotte e o coronel olhando para eles, bem como continuar essa conversa singular? Seu estômago dava cambalhotas, enquanto o medo e uma esperança vertiginosa guerreavam dentro dela.
— Eu não sei.
Charlotte interpôs apressadamente:
— Nunca visitei a casa do seu tio, mas sei que você sempre gosta de visitá-la, Lizzy.
Ela não conseguia suportar olhar o rosto severo de Mr. Darcy, então abaixou os olhos para as mãos dobradas.
— Sim, gosto. Eles sempre foram muito acolhedores — disse ela suavemente. — Os vidros das janelas têm miosótis e violetas.
Darcy fez um som que era quase uma tosse. Quando Elizabeth olhou para ele, ele olhava interrogativamente para Charlotte, que deu de ombros levemente.
O súbito e agudo grito de um animal com dor interrompeu a conversa. Charlotte, parecendo aliviada com a interrupção, levantou-se e olhou pela janela.
— O que você acha que foi? Não consigo ver nada.
O rosto do coronel Fitzwilliam estava pálido.
— Era um cavalo. Estou certo disso.
— Não temos nenhum estábulo aqui — disse Charlotte.
Darcy caminhou para se juntar a ela na janela.
— Deve ser um viajante, então. Você ouviu a direção de onde veio?
Charlotte balançou a cabeça.
— Não estou certa. Mas, espere – parece que alguém está vindo pela estrada. Devemos saber o quanto antes.
Darcy olhou para o Coronel Fitzwilliam.
— Pode não ter sido um cavalo. Poderia ser uma criança.
— Era um cavalo. Ouvi cavalos suficientes gritarem nas batalhas para saber do que falo. Não é um som que se esquece.
— Ele está vindo aqui. Eu vou...
Mas a empregada estava à frente do que quer que Charlotte planejava. Não houve nenhuma batida, pois ela deve ter aberto a porta imediatamente, e trouxe o visitante até sua senhora.
Era uma criança de mais de dez anos, ofegante.
— A senhora deve vir rapidamente. É um acidente terrível! — Ele se inclinou para a frente, com as mãos na frente de suas coxas, ofegante.
— Onde? — perguntou Darcy.
— Na curva da estrada, ao lado do riacho. É muito ruim.
— Venha, Richard — disse Darcy. — Senhoras, peço que nos desculpem.
Eles estavam à porta antes que Elizabeth pudesse pensar em despedir-se.
— Devemos ir atrás deles, você não acha? — perguntou a Charlotte.
Sua amiga já estava calçando suas luvas.
— Eu devo, mas você pode permanecer aqui, se desejar.
Ela não podia deixar Mr. Darcy sem mais explicações.
— Não, irei com você. Talvez eu possa ajudar de alguma forma.
Na estrada em frente à paróquia, os cavalheiros já estavam bem adiante delas, correndo. Elizabeth desejava que pudesse fazer o mesmo, mas Charlotte era a esposa do pároco e tinha que dar o exemplo. Ainda assim, seu ritmo foi rápido.
Charlotte disse:
— Isso iria acontecer mais cedo ou mais tarde. A margem do rio foi destruída há algum tempo e o caminho está desmoronando na sua borda. Mr. Darcy disse que falou com lady Catherine sobre a necessidade de repará-lo, mas ela não estava disposta a gastar dinheiro. Espero que isso seja suficiente para fazê-la ver de forma diferente.
— Por que Mr. Darcy se importa com as estradas aqui?
— Ele a aconselha sobre questões da propriedade, embora eu ache que ela raramente segue o seu conselho. Ela tem fortes opiniões próprias. Suspeito que ela só pede que ele faça isso por causa de suas esperanças que ele um dia se case com sua filha.
As palavras foram suficientes para chocar Elizabeth.
— Ah, sim, Mr. Collins contou-me algo assim uma vez.
Com um olhar de aguda observação, Charlotte disse:
— Não há nada para isso acontecer, Lizzy. Já vi os dois juntos e ele não tem interesse nela. E certamente você não pode duvidar agora que ele tem fortes sentimentos por você.
— Eu não vejo...
— Oh, bom Deus! — gritou Charlotte. — Essa é a carruagem de lady Catherine! — Ela levantou as saias e começou a correr.
Elizabeth correu atrás dela. Uma grande e ornamentada carruagem estava derrubada a meio caminho no córrego, e seu lado se abrira. Dois cavalos estavam caídos selvagemente logo acima dela, suas rédeas em uma confusão emaranhada, enquanto Darcy e o coronel Fitzwilliam lutavam para afastá-los.
Darcy as viu primeiro e ergueu a voz.
— Mrs. Collins, poderia ajudar lady Catherine? Não podemos deixar esses cavalos se perderem.
— Claro. — Com pouca atenção ao decoro, Charlotte desceu pela margem e aproximou-se da carruagem por trás, onde ficaria a salvo dos cavalos enlouquecidos. Precisou se esforçar para destrancar a porta do carro em um ângulo não natural.
— Lady Catherine? É Mrs. Collins. Posso ajudá-la?
Elizabeth não conseguiu ouvir as palavras de resposta, apenas o aborrecimento do tom.
— Muito bem, vou subir — De alguma forma, Charlotte conseguiu subir no coche caído e então se abaixou para dentro.
Elizabeth viu então por que os cavalheiros estavam segurando os cavalos. Pouco além deles, estava um homem de farda, enroscado no chão e gemendo. Ela correu para o seu lado e se agachou ao lado dele. A marca clara do casco de um cavalo aparecia em seu rosto.
— Você consegue se levantar? — perguntou ela.
— Não posso — sussurrou ele. — Oh, bom Deus, como isso dói!
Ela olhou para Darcy.
— Ele não pode se mover.
— Pergunte se ele tem uma pistola ou um rifle.
Ela se virou para seu rosto novamente e repetiu a pergunta, por mais estranho que pudesse.
— No ... no banco.
Ela transmitiu as palavras a Darcy.
Ele franziu a testa, depois disse:
— Lamento pedir a você, Elizabeth, mas não posso largar este cavalo. Você poderia tentar encontrá-la para mim?
— Sim. — Foi mais fácil dizer do que fazer. Depois de circular em torno dos cavalos que chutavam, precisou segurar uma pequena árvore para subir no banco, mas era simples a partir daí. A pistola estava no banco, assim como o cocheiro disse que estaria. Ela estendeu a mão para a alça segurando o coldre, mas parou quando ouviu a voz preocupada de Darcy.
— Tenha cuidado, Elizabeth! É muito provável que esteja carregada, e possivelmente engatilhada.
Com um cuidado um pouco maior, ela desabotoou a correia e levantou suavemente a pistola, o coldre e tudo. Não queria que seus dedos se aproximassem do gatilho. Segurando-o em ambas as mãos, levou-o para Darcy. Só então surgiu-lhe perguntar por que ele a queria.
Os olhos dele brilharam.
— Obrigado. E agora devo pedir-lhe que se afaste e desvie o olhar.
Aquelas eram instruções que ela não hesitou em seguir, fechando os olhos como boa medida.
Darcy disse calmamente:
— Desculpe, Richard. De qualquer forma, teria que ser feito. A perna dele está quebrada.
— Simplesmente faça — disse seu primo.
O estampido da pistola ecoou no ar fresco, o cheiro de pólvora queimada lembrando incrivelmente a Elizabeth quando ela, em sua infância, correria para encontrar seu pai em seu retorno de uma expedição de caça. Mas os dias simples da infância estavam muito atrás dela.
De repente, ela percebeu que não tinha ouvido nada de Charlotte, desde que entrou na carruagem. Mantendo seus olhos longe do cavalo caído, correu para o coronel, que ainda segurava a cabeça do cavalo vivo enquanto Darcy cortava as rédeas emaranhadas com uma faca.
— Charlotte, você precisa de ajuda?
— Não agora. — A voz de sua amiga estava estranhamente pesada. Então o rosto cansado de Charlotte apareceu pela porta aberta do coche. — Lady Catherine está morta.
Capítulo 16
––––––––
NO SILÊNCIO PERTURBADOR após o anúncio de Charlotte, Elizabeth voltou silenciosamente ao cocheiro ferido. Seus ferimentos pareciam ser internos, além de arranhões e hematomas, então havia pouca coisa que podia se fazer para ele, além de falar gentilmente e lhe dizer que a ajuda seria em breve, mas pareceu melhor do que nada.
Mr. Darcy se aproximara da carruagem derrubada e estava falando com urgência, mas silenciosamente, para Charlotte, enquanto o coronel Fitzwilliam tentava acalmar o cavalo restante. Pareceu uma eternidade antes de dois fazendeiros vigorosos apressarem-se para o cocheiro.
Darcy disse:
— Não, deixe isso. Cuide primeiro do cocheiro. Não há nada que você possa fazer para lady Catherine agora.
Elizabeth afastou-se para permitir que os homens pegassem o cocheiro e o levassem para uma fazenda próxima. Os solavancos o fizeram uivar de dor.
Então, Darcy estava ao seu lado. Ele segurou a mão dela e ela não resistiu. Depois desta cena de pesadelo, ficou feliz com o conforto, e ele devia precisar dele ainda mais do que ela. Perdera sua tia, enquanto, para ela, lady Catherine não fora nada além de objeto de adulação de Mr. Collins. Se, ao menos, pudesse abraçá-lo! Mas havia muitas pessoas assistindo, e ele já estava se atrevendo ao segurar sua mão e ficar tão perto dela.
— Você me ajudaria com algo? — disse ele, em seu ouvido.
— Claro. Qualquer coisa. — Depois que as palavras já haviam saído de sua boca, foi que ela percebeu o quão imprudente elas poderiam ter sido.
Ele riu suavemente.
— E logo quando não posso tirar proveito disso. Não se preocupe. Só estou pedindo que passe algum tempo conversando com Richard.
— Coronel Fitzwilliam? — Ela inclinou a cabeça para um lado. Por que ele estaria pedindo isso como um favor?
— Sim. Ele precisa de alguém para distraí-lo. Fale com ele sobre qualquer coisa – Longbourn, seus pássaros favoritos, algum lugar que tenha visitado em Londres – desde que não tenha nada a ver com guerra, armas, morte ou cavalos. Continue falando, mesmo que ele pareça não estar ouvindo. Explico mais tarde.
Ela lembrou-se do olhar gelado no rosto do coronel depois que Darcy tinha atirado no cavalo.
— Não precisa explicar. Conheci soldados antes, que ainda estão lutando contra velhas batalhas.
Ele apertou ainda mais sua mão.
— Obrigado. Devo ficar aqui até que tudo esteja em ordem, mas ele não deve. Leve-o para longe daqui – talvez para a paróquia? Ele não deveria ter que informar Anne da morte de sua mãe.
— Levarei.
— E, Elizabeth? — Sua voz se aprofundou.
— Sim?
— Quando houver tempo, você me permitirá visitá-la?
Ela soltou um longo suspiro, que não percebeu que estava segurando.
— Sim. Sim, permitirei.
Ele fechou os olhos por um breve momento, depois abriu-os.
— Obrigado. — Com aparente relutância, ele soltou sua mão. Foi bom; ela não precisava de sua reputação arruinada em Kent, assim como em Hertfordshire.
Como tudo pode ter mudado tão rapidamente?
O coronel Fitzwilliam estava ao lado do cavalo amarrado, um pé raspando o chão com a bota. Ele viu Elizabeth se aproximar, mas seu sorriso não chegou a seus olhos.
— Coronel, posso pedir-lhe para acompanhar-me de volta à paróquia? Estou me sentindo fraca e prefiro não ir sozinha. — Parecer como se estivesse à beira de desmaiar não estava entre os talentos de Elizabeth, mas ela fez o melhor que pôde.
Os ombros dele se endireitaram e ele ofereceu-lhe o braço.
— Será um prazer, Miss Bennet.
Na curta caminhada, ela conseguiu fazer uma série de perguntas sobre a área imediata e suas visitas anteriores a Kent. Uma vez que chegaram à paróquia, ela percebeu o problema que foi usar a fraqueza como desculpa, quando ele sugeriu que ela descansasse por um tempo.
Pensando rapidamente, ela disse:
— Preferiria que não. Só faria minha mente voltar ao que aconteceu. Se o senhor não se opõe, a conversa sobre outras coisas me distrai melhor do que qualquer outra coisa. Mr. Darcy me contou sobre seus primos, com quem ele morava por um tempo quando criança. Você faz parte dessa família?
— Sim, essa era a minha família. Ele morou conosco, depois vivi com ele e seu pai por um tempo.
— Então, o senhor deve ser o primo que aprendeu a acender fogueiras em uma caverna.
Ele inclinou a cabeça em reconhecimento.
— De fato, fui. Espero que Darcy não tenha lhe dito o quanto nos demorou para descobrir o óbvio.
— Acredito que ele pulou essa parte e se concentrou mais em seus sucessos do que em seus fracassos.
— Quão generoso dele! Diga-me, como você conheceu Darcy?
— Nós nos conhecemos quando ele visitou Hertfordshire, e hospedou-se não muito longe da minha própria casa.
— E você conversou o suficiente para descobrir nossa velha caverna, não? Deve conhecê-lo bem, então.
A garganta de Elizabeth se apertou.
— Não tão bem, mas conversamos várias vezes. Durante uma deles, ele me contou sobre sua família - a madrasta, suas aventuras vivendo com você, a irmã. Esse tipo de coisas.
O sorriso do coronel pareceu congelar.
— Darcy contou sobre sua madrasta?
— Sinto muito; não deveria tê-la mencionado?
— De modo algum. É simplesmente porque Darcy nunca fala sobre ela, se pode evitar, então fiquei bastante surpreso.
Ela precisava tomar cuidado antes de revelar o quanto ela e Darcy haviam compartilhado.
— Somente de passagem, como parte de sua explicação de como seu o pai levou para sua segurança. Contou muito pouco sobre ela.
O coronel Fitzwilliam puxou sua cravat.
— Ele falou sobre o que ela fez? — perguntou, incrédulo.
— Apenas uma menção disso. Foi bastante insignificante.
— Se Darcy aludiu a isso, longe estava de ser insignificante. Nunca soube dele falar sobre isso, mesmo para mim.
Seria verdade?
— Devo tê-lo apanhado em um momento excepcionalmente loquaz, então. Estou certa de que não significa nada. Só me lembro disso por causa da minha surpresa quando ele disse que gostava de sua madrasta. Ela não pareceu nada agradável para mim.
O coronel a olhava estranhamente.
— Eu mal a conheci, mas Darcy a amava. Pelo menos até ele morar conosco. Você diz que conheceu Darcy em Hertfordshire?
Pelo menos, isso era mais seguro.
— O amigo dele, Mr. Bingley, tinha acabado de alugar uma casa a algumas milhas, e Mr. Darcy foi seu convidado lá.
— Isso teria sido na época em que ele conheceu a Mrs. Collins, então.
— Sim, ela era outra vizinha. Mr. Darcy e eu frequentamos reuniões na casa do pai dela, Lucas Lodge. — Isso foi bom, colocar Charlotte no centro da história, distraí-lo de seu próprio papel nela. — Ela conheceu Mr. Collins, meu primo, ao mesmo tempo. Lamentamos perdê-la da vizinhança.
— Que bom para você poder visitá-la aqui, então. — Ele a observou atentamente.
O som do fechamento da porta da frente impediu qualquer necessidade de resposta. A forma robusta de Mr. Collins apareceu na entrada, com o chapéu na mão.
— O que é todo esse absurdo? Pessoas correndo para frente e para trás, sem empregada na porta. E onde está minha esposa? — Então seu tom mudou de repente do aborrecimento para o servilismo. —Peço seu perdão, coronel Fitzwilliam; não vi o senhor aqui. Peço-lhe, permita-me acolhê-lo na minha humilde morada. Espero que a minha prima Elizabeth tenha vindo atendê-lo. Prima, certamente você não esteve sozinha com o coronel todo esse tempo?
Então a notícia ainda não chegara a ele. O coronel Fitzwilliam ficou pálido novamente. Para poupar-lhe a dor de dar as tristes notícias, Elizabeth disse:
— Temo que tenhamos notícias trágicas e chocantes para transmitir. Houve um acidente terrível. A carruagem de lady Catherine virou-se na estrada. O cocheiro ficou gravemente ferido; E sinto muito por dizer que lady Catherine não sobreviveu.
Mr. Collins, aparentemente incapaz de compreender suas palavras, disse:
— Lady Catherine? Oh, não, prima Elizabeth. Você deve ter entendido mal. Nada desse tipo poderia acontecer com ela.
— Na verdade, gostaria que fosse assim, mas não é. O coronel Fitzwilliam pode confirmar minha veracidade. Charlotte estava com lady Catherine quando esta respirou pela última vez, e ela permanece no local para oferecer a ajuda e o conforto que pode, como convém à esposa de um reitor.
Mr. Collins abriu a boca, surpreso.
—Não pode ser! Não lady Catherine! — Seus olhos se abaixaram quase comicamente. Ele parecia mais desgostoso do que qualquer um dos sobrinhos de lady Catherine.
— Sinto muito por sua perda — disse ela.
— Onde ela está? Devo ir até ela imediatamente! Lady Catherine ficaria muito descontente se eu não estivesse ao seu lado.
Elizabeth absteve-se de ressaltar que lady Catherine estava além de estar descontente.
— A carruagem está logo além da curva na estrada. Imagino que ela ainda possa estar lá.
— Ela não pode ser deixada ao ar livre! É um insulto à sua dignidade. Eu...
Ele foi interrompido pela voz cansada de Charlotte vindo atrás dele.
— Ela está sendo levada a Rosings enquanto falamos.
Mr. Collins virou-se.
— Minha querida Charlotte! Meu Deus, está ferida? Deve tomar mais cuidado.
Charlotte olhou para as próprias saias.
— O sangue não é meu, mas de lady Catherine, pobre senhora.
— É muito inadequado que a esposa de um pároco apareça tanto em público!
— Na verdade, é — disse Charlotte, calmamente. — Foi por isso que voltei assim que pude sair do lado da sua senhoria. Mas você não deveria estar em Rosings? Tenho certeza de que Miss de Bourgh precisará de seu conforto.
Ele juntou as mãos.
— Oh, você está bem correta, minha querida! Devo ir imediatamente. Ore desculpe-me, coronel Fitzwilliam, prima Elizabeth, mas o dever me chama! — Ele colocou o chapéu na cabeça e saiu às pressas.
O coronel levantou-se lentamente.
— Eu deveria retornar também, agora que Mrs. Collins está aqui. Em nome da minha família, bem como no meu, agradeço às duas por sua assistência oportuna hoje. — Pelo menos, a cor dele melhorou novamente.
Elizabeth fez uma reverência para ele.
— Estou em sua dívida pela sua gentileza em me acompanhar de volta.
— Estou sempre ao seu serviço. — Ele se curvou e se despediu.
Charlotte limpou a testa com a manga.
— Que dia terrível!
Elizabeth pegou seu braço.
— Venha, você deve vestir um vestido limpo. Vou ajudá-la.
— Obrigada. Quem sabe quando a empregada vai voltar?
Elizabeth seguiu sua amiga enquanto caminhava para o andar de cima. Uma vez no quarto, sentiu Charlotte tremer enquanto desabotoava os pequenos botões na parte de trás do vestido.
— Você deve estar exausta. Não consigo imaginar o que foi para você estar com lady Catherine no final.
Charlotte tirou o vestido com cuidado.
— Poderia ter sido pior. No começo, ela estava simplesmente amaldiçoando o cocheiro e Mr. Darcy. Não percebi que seus ferimentos eram sérios até o final.
— Ela não disse nada a respeito? — Isso foi uma surpresa; ela esperava que lady Catherine estivesse falando sobre essas coisas.
— Apenas que sua perna doía; mas as pernas dela sempre a mortificaram, então pensei que era apenas a posição desconfortável. Ajudei-a a levantar os pés da água, e foi quando vi que ela estava sangrando. Uma das escoras atravessara sua perna logo abaixo do quadril. Deve ter atingido a grande artéria, pois assim que ela se moveu, o sangue esguichou. Que visão terrível! Ela pressionou sua mão sobre o ferimento, mas não me permitiu tentar conter o fluxo; porém, não havia nada que eu pudesse fazer por uma ferida tão grande e profunda, em qualquer caso. Foi tão rápido! A água debaixo dela tingiu-se de vermelho, como se tivesse virado sangue. — Charlotte se arrepiou.
— Lamento que você tivesse que testemunhar tal coisa—.
Charlotte despejou água em uma bacia e começou a esfregar as mãos com ferocidade.
— Eu nunca fui suscetível a pesadelos, mas suspeito que, nesta noite, pode acontecer uma exceção!
Seus próprios pesadelos seriam sobre o acidente ou sobre o momento terrível quando ela percebeu que acusara falsamente Mr. Darcy? Silenciosamente, entregou a Charlotte uma toalha de linho para secar as mãos.
Sua amiga procurou no guarda-roupa com as mãos trêmulas e puxou um simples roupão.
— Tudo o que quero agora é sentar-me na frente do fogo com uma xícara de chá, e eu diria que você se beneficiaria do mesmo.
— O chá e o fogo são bons. — Mas uma chance de falar com Mr. Darcy seria ainda melhor. Infelizmente, nas circunstâncias, poderia levar algum tempo antes de ter a oportunidade de fazê-lo.
***
Richard indicou a Darcy que o seguisse pelo corredor e entrasse no quarto dele. Uma vez que estavam ambos dentro, Darcy fechou a porta e recostou-se contra ela.
— Isso foi claramente estranho.
Seu primo já estava buscando a garrafa de conhaque.
— Para dizer o mínimo. — Sua mão sacudiu ligeiramente enquanto ele enchia dois copos.
Darcy aceitou uma mas, ao contrário de Richard, não a tomou imediatamente.
— Sempre tive a impressão de que Anne gostava bastante de sua mãe.
— Certamente pareceu-me dessa maneira, embora não conseguisse entender. Mesmo assim, não pensaria que ela sorriria quando lhe falamos sobre a morte de lady Catherine.
Franzindo a testa, Darcy disse:
— Essa pergunta estranha que ela fez – sobre se nós a estávamos provocando. Como poderia imaginar nós provocaríamos sobre tal coisa?
— Não faço ideia. Suponho que devemos agradecer ela não ter uma crise nervosa, mas pareceu não dar a mínima. Não posso dizer que conheço muito Anne. Ela sempre preferiu falar com sua acompanhante em vez de mim, mas, aparentemente, eu a conheço ainda menos do que pensava.
Darcy tomou um gole do brandy e deixou-o escorregar pela garganta.
— Sempre evitei falar com ela. Mesmo olhando em sua direção, poderia incentivar lady Catherine a falar sobre as vantagens de uma união entre nós. Mas admito que estou hoje chocado com o comportamento de Anne.
Richard esvaziou o copo em um ritmo inadequado para brandy, e voltou a enchê-lo.
— Falando em ficar chocado, considero que a adorável Miss Bennet é a jovem senhora com quem você tem intenções.
Darcy franziu o cenho.
— Ela lhe disse isso?
— De modo nenhum. Poderia dizer que foi por causa daquela conversa estranha sobre o tio dela, ou porque você usou o nome de batismo dela e segurou sua mão no acidente da carruagem. Mas estava incerto até que soube que você tinha contado a ela a história de sua madrasta. Isso ficou tão claro quanto uma manchete nos jornais para a minha mente.
Claro. Elizabeth não podia saber que era algo que ele não comentava.
— Não vou negar que ela é a mulher da qual falei, mas o assunto ainda está indeciso. Como você viu anteriormente, ainda temos de resolver certos assuntos.
— Você não tem certeza de que deseja se casar com ela? — perguntou Richard, bruscamente.
—Estou certo, mas não sei o que ela deseja. Talvez tivéssemos a oportunidade de resolver isso hoje, mas só os céus sabem quando isso acontecerá agora.
Richard assentiu lentamente, mas o vazio desapareceu de seus olhos, substituído por um olhar pensativo.
***
A paróquia estava quieta. Mr. Collins ainda não havia retornado de Rosings Park. Charlotte estava ocupada ajeitando suas roupas de luto e costurando braçadeiras pretas para os criados. Elizabeth tentou ajudar, mas Charlotte disse gentilmente a ela que lesse seu livro, quando ficou bem claro que ela estava muito perturbada para manter seus pensamentos sobre qualquer tarefa.
Concentrar-se em seu livro, no entanto, era impossível. Tudo o que Elizabeth podia pensar era a sua conversa interrompida com Mr. Darcy.
Se ele disse a verdade sobre sua visita à casa dos Gardiners, então ela também deveria acreditar em sua afirmação de que seu pai não lhe entregara sua carta. Se tivesse tido tempo suficiente para perguntar-lhe o que seu pai lhe dissera!
Talvez devesse escrever para seu pai e exigir a verdade. Não, isso não resolveria nada. Mesmo que seu pai admitisse isso, poderia demorar semanas antes de ele se preocupar em responder a uma carta. Mas havia alguém a quem poderia perguntar sobre uma parte da história de Mr. Darcy.
— Charlotte, existe algum lugar em que eu possa escrever uma carta?
— Claro. Há uma pequena mesa na sala de estar dos fundos.
— Obrigada. — Contente pela desculpa para escapar dos olhos experientes de Charlotte, ela se apressou.
Havia papel e tinta em abundância na mesa, embora a pena precisasse ser afiada. Com sua impaciência, Elizabeth conseguiu rachar a caneta quando tentou consertá-la mas, felizmente, havia uma segunda. Desta vez, teve mais cuidado e logo começou a escrever.