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Capítulo 17

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DARCY ESFREGOU OS SEUS OLHOS com dedos manchados de tinta. Três cartas feitas, o que lhe deixava ainda duas dúzias. Graças a Deus, Richard estava levando a metade delas. Anne deitara-se mas, como ela ainda não mostrava sinais de tristeza, Darcy suspeitava que não era mais que um estratagema para evitar assumir a parte do trabalho.

Saber que Elizabeth estava a uma curta distância, na paróquia, era uma distração constante. Ele procurou o bolso para tocar a fita desgastada. Muito ainda não havia sido resolvido. Como poderia ela pensar que ele mentiria para ela? Eles tinham muito a discutir, mas aqui estava ele, amarrado a uma mesa, por tempo indeterminado. Mas mesmo que não estivesse, seria inapropriado ele deixar uma casa de luto para fazer uma visita social. Lady Catherine ficaria encantada se soubesse quanto de dificuldade conseguiu causar em sua morte.

Ele verificou a lista que a governanta lhe deu, então escreveu o próximo nome em uma nova folha de papel. Lamento informá-lo...

Higgins bateu na porta aberta.

— Mrs. Collins e Miss Bennet chegaram em visita. Devo dizer-lhes que o senhor não está em casa?

Era o que ele devia fazer. Não havia tempo a perder com visitas sociais, não com a pilha de correspondência diante dele. Mas que se danasse o dever! Por que deveria ser forçado a pagar pelas falhas de lady Catherine? Sua respiração acelerou. — Receba-as, por favor.

O mordomo apertou os lábios com uma expressão que sempre significava que ele estaria informando a lady Catherine sobre um comportamento infeliz da parte de Darcy. Bem, ele poderia contar a Anne, se quisesse. Se Higgins tivesse sido empregado em Pemberley, teria sido demitido há muito tempo, por ousar julgar seus superiores. — Se é isso o que deseja, senhor.

— Se não fosse o que desejo, então por que teria dito isso? — reclamou Darcy.

Com as costas rígidas pela ofensa, Higgins se afastou. Definitivamente demitido por justa causa! Darcy desejava a Anne que se divertisse com a equipe que herdara. Claro, nunca soubera de nada mais.

Mrs. Collins estava vestida de preto, naturalmente, enquanto Elizabeth parecia discreta em lavanda pálida. Meio-luto, apesar de ter encontrado sua tia uma única vez? Era respeitoso, certamente, mas Darcy acharia um ótimo negócio vê-la iluminar o quarto com cor e risada. Apenas um dia, e já estava cansado da atmosfera funerária.

—Bem-vindas, Mrs. Collins, Miss Bennet.

Mrs. Collins lhe lançou um sorriso rápido.

— Sei que o senhor deve estar muito ocupado, então não vamos incomodá-lo com cortesias educadas. Chegamos para prestar nossas condolências, mas também para ver se poderíamos ser úteis de alguma maneira.

Se, ao menos, ele pudesse pedir o que o ajudaria mais – deixar Elizabeth com ele.

— Isso é muito amável de sua parte, especialmente por já lhe incomodado ontem. Devo dar-lhe novamente o meu agradecimento por sua assistência equilibrada no local do acidente.

Os belos olhos de Elizabeth estavam fixos nele.

— Foi o mínimo que pudemos fazer nas circunstâncias, e ainda gostaríamos de ser úteis.

Apenas o som de sua voz acalmou seus nervos. Era muito ruim que não fosse apropriado pedir mais disso.

A voz de Mrs. Collins quebrou seu devaneio.

— Ocorreu-me que Miss de Bourgh não tem parentes femininos presentes para auxiliá-la na preparação do corpo, mesmo que sua saúde lhe permita desempenhar essas funções. Ficaria feliz em oferecer meus serviços.

— Mrs. Collins, devo admitir que seria um alívio para mim. Minha prima retirou-se para seu quarto, deixando esses deveres para Mrs. Jenkinson. Uma vez que ela não os pode gerenciar sozinha, a governanta a ajudou, mas sei que minha tia teria preferido não envolver os criados diretamente nos preparativos.

— Ficaria honrada em ser de ajuda. Mais alguma coisa? Lizzy, claro, se ofereceu para ajudar a preparar o corpo também, mas, como ela só viu lady Catherine uma vez, pensei que não seria apropriado.

Elizabeth disse

— Naturalmente, insisti em acompanhá-la aqui de qualquer maneira, no caso de ser útil de alguma outra forma. — No entanto, seus olhos pareciam enviar uma mensagem diferente. Ou era simplesmente ele que queria tanto que ela tivesse vindo para vê-lo?

Ele trocou olhares com ela.

— Estou muito feliz que tenha feito isso. Muito feliz, embora eu acredite que todos os demais preparativos estejam progredindo bem o suficiente. Richard e eu não temos nada para nos queixarmos, além de uma correspondência excessiva, que nos manterá ocupados a maior parte do dia.

Richard entrou na sala.

— E devo me queixar disso! Sinto como se estivesse de volta à sala de aula. Bom dia, senhoras.

As sobrancelhas de Mrs. Collins se juntaram.

— Mr. Lymon não está disponível?

Darcy franziu o cenho.

— O suposto secretário de lady Catherine? Descobri esta manhã que ele é extremamente dotado na arte da lisonja, mas não consegue escrever a mais simples carta com direção firme e, mesmo assim, em caligrafia quase inadequada, certamente não conveniente para uma correspondência formal.

Os lábios de Elizabeth curvaram-se com um leve sorriso.

— Não sou secretária, mas escrevo com mão firme. Se as cartas não são de natureza pessoal, talvez eu possa ajudá-lo.

Ele não deveria aceitar sua oferta. Ela ainda não era parte da família, e ele não deveria se impor a uma dama para que fizesse o trabalho de uma secretária. Mas lhe daria uma desculpa para mantê-la ao seu lado, e isso, para ele, era mais precioso do que diamantes.

Felizmente, Richard pareceu não ter tais hesitações,

— Miss Bennet, você deve ser um anjo que desceu diretamente do céu! Estarei eternamente em dívida com você. Claro, Darcy pode ser um capataz severo, mas imagino que você tenha maneiras de aliviar a fera selvagem. — Ele piscou para Elizabeth.

Darcy disse gravemente

— Se não for uma grande imposição, ficaria muito grato por sua ajuda. — Ela não podia imaginar quão grato ele estava.

***

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No dia seguinte, Mr. Collins não retornou à paróquia até o anoitecer.

— Que coisa boa é retornar, depois de um longo dia, para minha humilde morada! E que dia foi! Eu diria que lady Catherine ficaria muito satisfeita com isso.

Charlotte deixou de lado seu trabalho.

— Estou certa de que você liderou o funeral de forma exemplar. Você jantou em Rosings, ou devemos preparar algo para você aqui?

Mr. Collins estufou o peito.

— Realmente jantei em Rosings, e fui convidado a fazê-lo por um personagem que não foi menos que lorde Matlock! Sua condescendência quase iguala à da própria lady Catherine. Não tenho dúvidas de que ele é universalmente reconhecido como um dos maiores homens da Inglaterra.

Elizabeth escondeu um sorriso. Perguntou-se como Mr. Collins responderia quando descobrisse que ela se tornaria a sobrinha de lorde Matlock. Ela mesma, dificilmente conseguia acreditar em si mesma. No dia anterior, não tiveram a oportunidade de falar em particular, mas os sorrisos de Darcy e os toques gentis no braço dela enquanto ela o ajudava com suas cartas, asseguraram-lhe que ele realmente pretendia seguir sua antiga promessa em se casar com ela. Mesmo o ato de pensar nele a fazia querer se abraçar.

Charlotte disse:

— Essa é uma honra mesmo! Daqui, observamos enquanto você e os outros cavalheiros da procissão funerária passaram.

Elizabeth só tivera olhos para Mr. Darcy. Mais de uma vez, ela o vira olhar para a paróquia. Estaria ele pensando nela?

Mr. Collins começou um longo solilóquio sobre o serviço funerário, incluindo onde cada um dos senhores estava junto ao túmulo e suas expressões durante os pontos cruciais de sua oração.

— Se eu tivesse que descrevê-lo, acredito que foi um dos meus melhores funerais! Lorde Matlock parecia impressionado. Ele mesmo disse que lady Catherine teve a sorte de me ter como pároco. Pobre dama!

Charlotte disse calmamente:

— É uma grande perda para todos nós, mas especialmente para você, já que a conheceu tão bem.

— É verdade; sinto-o demasiadamente. Mas sei que ela estaria feliz esta noite, pois todos os seus planos serão finalmente realizados! Mas estou me adiantando em minha história. Depois de termos encerrado e voltado para Rosings, o procurador leu o testamento de lady Catherine, que foi, imagino, uma surpresa para todos os senhores. Lorde Matlock claramente não o esperava. — Mr. Collins esfregou as mãos.

— Por que, o que foi tão surpreendente? Ela não deixou tudo para Miss de Bourgh?

— Era o que todos esperavam. Mas aqui é onde o verdadeiro brilho de lady Catherine transparece! Miss de Bourgh só receberá sua herança se estiver casada com Mr. Darcy dentro de um ano. Se não se casarem, ela ficará sem dinheiro, e Rosings irá para um primo distante. Claro, Mr. Darcy nunca permitiria que sua prima perca sua herança, então o maior desejo de lady Catherine será concedido em breve! Essa não é a astúcia mais inteligente que você já ouviu, minha querida?

Elizabeth olhou para ele, com a boca seca. Seria verdade? O senso de responsabilidade familiar do Mr. Darcy era poderoso. Teria lady Catherine, enfim, conseguido colocar um ponto final em seus planos, mesmo no além-túmulo?

Charlotte lhe lançou um olhar preocupado.

— Muito inteligente de fato. O que Mr. Darcy disse quando foi lido?

— Nada, no começo, embora ele não parecesse muito satisfeito. Lorde Matlock disse que estava seguro de que Darcy sabia o dever dele, e Mr. Darcy respondeu que não era nem a hora nem o lugar para discutir. Assim que os procuradores foram terminados, ele saiu e não jantou conosco. Sem dúvida, já estava com Miss de Bourgh, que jantou em seus aposentos.

Apesar da dor vazia em seu peito, Elizabeth podia visualizar isso – Darcy tentando, em raiva silenciosa, tratar de suas feridas em particular. Ele devia estar furioso em ser colocado em tal posição. Ele não poderia ter previsto isso, assim com ela também não. O destino jogara um golpe cruel sobre ambos.

— Lizzy, sua dor de cabeça está pior? — perguntou Charlotte. — Talvez você deva se deitar e descansar por um tempo.

— Minha dor de cabeça? Ah, sim — disse Elizabeth, devagar. — Você está certa. Vou subir logo e descansar.

Se soluçar baixinho em seu travesseiro poderia ser chamado de descansar, ela descansou por algum tempo.

***

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Uma carta de Gracechurch Street chegou a Hunsford no dia seguinte, enquanto Charlotte estava em Rosings com o marido. Elizabeth olhou fixamente para ela. Por que se preocupar em lê-la quando quaisquer respostas já não faziam diferença? Sua última esperança foi que o Mr. Darcy poderia entrar em contato com ela naquela manhã. Ele deveria imaginar que Mr. Collins teria revelado o conteúdo do testamento. Mas nenhuma palavra chegara.

Com um suspiro, ela quebrou o selo na carta da tia.

“Minha querida Lizzy,

“Como sempre acontece, não preciso me reportar a seu tio, já que estou ciente desta questão. Você estava aqui há cerca de quinze dias, quando Mr. Darcy chegou, pedindo para ver nossa querida Jane. Você e eu havíamos saído com as crianças quando ela recebeu o cartão dele. Incerta de como melhor agir, especialmente porque o conhecimento que tinha com ele era muito tênue para justificar uma visita, ela procurou seu tio.

“À luz da sua situação, seu tio só poderia assumir que Mr. Darcy procurara Jane para saber o seu paradeiro. Que ele tomasse esse passo, em vez de procurar seu pai, sugeriu que seu interesse não fosse honrado. A primeira sugestão de seu tio foi que Jane o visse e lhe dissesse que não tinha certeza de onde você estava, e encaminhá-lo para o seu pai, mas Jane duvidou de sua capacidade de sustentar tal informação. Seu tio, preocupado que você retornasse antes que Mr. Darcy partisse, decidiu mandá-lo a Longbourn, e disse a Mr. Darcy que Jane já nos havia deixado e que já voltara para casa. Mr. Darcy ficou claramente descontente com essa informação, mas não discutiu com ele.

“Depois, seu tio e eu chegamos à conclusão que seria melhor para você ignorar o incidente, pois só poderia causar-lhe ainda mais dificuldade em descobrir que Mr. Darcy planejava aproveitar-se sua perda de reputação. Se houve consequências infelizes desta decisão, sinto muito. Fizemos com a melhor das intenções.”

Então era verdade. Não que ela realmente duvidasse, pelo menos não desde o dia da morte de lady Catherine, mas era diferente saber, de forma segura – e somente quando era tarde demais.

Se apenas o pai tivesse entregue a carta a ele, ou os Gardiners lhe contassem sobre a visita de Mr. Darcy, aquela visita que tanto desejou, agora ela estaria seguramente comprometida, se não casada com ele. A raiva apertou-lhe o peito. As pessoas que a amavam tiraram-lhe a chance de felicidade e, durante o resto da vida, ela se arrependeria do que havia perdido. Do que ela e Darcy perderam, pois não duvidava que ele sentia o mesmo desgosto pelo futuro perdido. Como sua família poderia ter feito isso com ela?

Mas a voz de sua consciência não poderia ser silenciada. Também foi sua culpa. Se tivesse aceitado a proposta de Mr. Darcy durante a tempestade, ou se tivesse ido com seu pai visitar Darcy, ou mesmo se tivesse dito aos Gardiners suas esperanças e expectativas, nada disso teria acontecido. Seu orgulho fez com que ela se mantivesse em segredo para que ninguém pudesse conhecer suas esperanças decepcionadas. Ou se tivesse apenas ouvido o Mr. Darcy em sua primeira noite em Kent, eles poderiam ter chegado a um entendimento, e lady Catherine não teria decidido correr pela estrada até encontrar a morte. Não, sua perda era também falta sua, e ela não podia culpar ninguém além de si mesma.

Agora, seu castigo caiu sobre ela, e mais uma vez ela devia enfrentar os fatos. Não havia nada a ganhar em permanecer em Kent, exceto mais desgosto. Já era difícil o suficiente saber que Darcy deveria se casar com Miss de Bourgh, sem ter que ouvi-lo dele mesmo. Não, seria melhor sair com as poucas lembranças boas que permaneciam intactas – e antes que ela enfraquecesse o suficiente para esperar algum contato limitado com ele.

Mas não podia deixá-lo sem uma palavra. Guardando suas cartas, dirigiu-se até a pequena mesa de trabalho e tirou uma folha de papel. A pena não precisava de consertos desta vez e o tinteiro estava cheio, então não teria desculpas para se demorar. Respirando profundamente, começou a escrever.

“Prezado Mr. Darcy,

“Neste momento, você já saberá que parti para Londres. Mr. Collins contou-me sobre os termos da vontade da sua tia, e entendo perfeitamente que o seu dever para com a sua prima deve vir antes daquele mais sombrio, para com uma mulher na minha posição, especialmente alguém que lhe foi indelicada, como o fui durante minha estadia em Kent. Não espero que você tome qualquer outra decisão, então, peço-lhe que acredite quando digo que entendo.

“Quanto à minha indelicadeza, recebi confirmação de Londres que você realmente visitou a casa do meu tio, como afirmou. Por favor, aceite minhas mais profundas desculpas por não acreditar em você.”

Ela fez uma pausa e tocou a pena contra os lábios. Deveria deixar assim? Havia muito mais que desejava dizer a ele, embora não servisse a um propósito útil. Mas nunca haveria mais ninguém com quem poderia desabafar, e queria que ele soubesse. Ele merecia.

“Eu não teria reagido tão mal em vê-lo se os meses anteriores não fossem tão dolorosos. Quando o escândalo surgiu pela primeira vez, senti mais alívio do que qualquer outra coisa, porque me deu a desculpa para escrever-lhe e aceitar sua oferta. Eu não tinha imaginado o quanto sentiria falta de sua companhia após a tempestade, nem entendido o quanto meus próprios sentimentos em relação a você mudaram. Assim que escrevi a carta que meu pai deveria ter-lhe entregue, esperei ansiosamente reunir-me a você.

“Ainda ignoro o que se passou entre você e meu pai, mas quando ele me disse que havia se encontrado com você e que você não tinha intenção de se casar comigo, não tive motivos para não acreditar nele. Eu estava devastada, embora quase não pudesse culpá-lo por isso, mas a angústia que me chegou foi profunda. A ideia de nunca vê-lo novamente foi ainda mais dolorosa do que a realidade de lidar com minha desgraça. Digo essas coisas para não causar dor, mas com a esperança de que possa ajudá-lo a entender por que não quis saber de você quando o vi de novo.

“Finalmente, meu sofrimento se transformou na raiva de ser abandonada, além de descobrir que você não era o homem que acreditava que fosse. Sei agora isso foi baseado em pressupostos equivocados. Quando o vi, na primeira vez em Rosings – Charlotte não me avisou de sua presença – eu só poderia assumir que nosso encontro era mera casualidade e, provavelmente, uma lembrança embaraçosa de um episódio que você preferiria esquecer. Eu não conseguiria enfrentar isso, então evitei você. Quando você confirmou que recebeu a minha carta, perdi minha última esperança que você fosse inocente em me abandonar. Depois disso, não me permitirei ter esperanças, mas não conseguiria expressar para você o profundo alívio que senti quando você me provou que disse a verdade. Foi um alívio completamente inesperado para um tormento que espero nunca mais experimentar de novo.

“Gostaria de ter tido a oportunidade de falar essas coisas pessoalmente, mas acredito que ambos entendemos que é melhor não nos encontrarmos novamente. Pretendo voltar à casa do meu tio por enquanto. Caso necessite entrar em contato comigo, informarei tanto a Charlotte quanto ao meu tio, eles poderão informar-lhe meu paradeiro. Como não entendo o papel do meu pai nisso, não pretendo dizer nada a ele mas, em qualquer caso, não antevejo um futuro que me permita voltar a Longbourn.

“Apenas acrescentarei, Deus o abençoe, e espero que seu casamento com Miss de Bourgh possa, de alguma forma, lhe trazer mais felicidades do que você espera no momento.

“Com profundo e duradouro carinho e respeito,

E. Bennet”

Reprimindo as lágrimas, afastou a carta e tampou o tinteiro antes de ceder à tentação de desnudar ainda mais sua alma. Decidida, enxugou os olhos com um lenço. Este não era o momento de chorar. Haveria muitas oportunidades em Londres para lágrimas. Não, este era um momento de ação.

O primeiro passo foi arrumar seus pertences. Retirou sua mala do guarda-roupa, gritando quando ela caiu sobre os dedos dos seus pés. Como poderia uma mala vazia pesar tanto? Pulou até a cadeira, com o seu pé bom, depois tirou o chinelo e a meia. O dedo grande de seu pé estava avermelhado e já começava a inchar, mas podia movê-lo facilmente, duvidava que houvesse ferimentos sérios. O dedo parecia descordar, dado o desconforto causado pela colocação de sua meia.

Voltou-se para o guarda-roupa e olhou para a mala enquanto a abria e sentia o cheiro de mofo. Obviamente, precisaria ficar aberta antes de ser usada.

De qualquer forma, Charlotte provavelmente retornaria de Rosings agora, e também poderia trazer uma notícia para ela. Andando sobre o calcanhar de seu pé ferido, desceu as escadas razoavelmente bem, embora seu dedo do pé continuasse latejando.

Charlotte estava escolhendo os fios de bordados na sala de estar, e cantarolando em voz baixa. Suas sobrancelhas se juntaram quando viu Elizabeth.

— Qual é o problema, Lizzy?

Elizabeth ergueu o pé alguns centímetros.

— Machuquei meu dedo do pé, mas não é grave. Ficará melhor em uma hora ou duas.

— Não foi isso o que eu quis dizer. — Charlotte apontou para a evidência dos olhos vermelhos de Elizabeth.

Droga! Ela deveria ter lavado o rosto e esperado que as evidências de lágrimas desaparecessem antes de descer.

— Apenas o habitual — disse ela, com desdém. — Tomei a decisão de que voltarei para Londres amanhã. Escrevi uma carta de explicação para Mr. Darcy, que espero que você seja gentil o suficiente para entregar a ele em meu nome.

—Ah, mas você não pode partir ainda! — Charlotte parecia verdadeiramente atingida.

Elizabeth fechou os olhos por um momento para recuperar a compostura.

— Agradeço o sentimento, mas você deve entender que não tenho vontade de estar aqui quando o noivado dele for anunciado.

— Não foi isso o que quis dizer. É só que... oh, querida, era para ser surpresa, mas suponho que devo lhe contar agora. Conversei com o coronel Fitzwilliam, e ele está planejando nos levar para o mar amanhã. Providenciou uma carruagem e quartos em uma pousada, e Miss de Bourgh se ofereceu para deixar Mrs. Jenkinson vir como nossa acompanhante. Ela diz que Miss Holmes pode ficar com ela igualmente e que Mrs. Jenkinson se beneficiaria com o ar do mar. O coronel está tão entusiasmado com isso, e eu me sentiria muito mal se não pudéssemos ir, após todos os problemas que ele teve para planejar o passeio.

Elizabeth vacilou. Era um gesto amável da parte do coronel, e ela se perguntou se ele adivinhara que ela precisava de distração. Certamente, ele parecia ter suspeitas sobre sua história com Mr. Darcy.

— Suponho que eu poderia esperar até depois do passeio. Afinal, eu adoraria ver o mar. — E talvez isso lhe desse tempo para recuperar um pouco de seu ânimo, antes de voltar para Londres.

Charlotte bateu palmas.

— Maravilhoso! Essa é uma excelente notícia. Desde que você sabe dos planos, pode me ajudar a decidir o que levar. O coronel diz que é mais frio à beira-mar e que o vento pode ser muito forte, então devemos estar preparadas para isso.

***

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O conde de Matlock entrou na biblioteca.

— Ah, Darcy. Aí está você. Quero falar com você sobre Anne.

— Não pretendo me casar com Anne.

— Bem, não há pressa. De qualquer modo, com Anne em luto, teremos ainda meio ano antes que ela possa se casar com você. Seria melhor cuidar disso o mais rápido possível, mas isso ainda lhe dará seis meses para desfrutar de sua liberdade.

— Não me casarei com Anne, em tempo algum. Nem em seis meses, nem nunca. — Ostensivamente, Darcy pegou um livro e o abriu.

Houve um silêncio ameaçador, mas Darcy se recusou a dar a lorde Matlock a satisfação de olhar para ele. Em vez disso, lentamente virou as páginas, fingindo ler.

— Darcy, ninguém deseja vê-lo forçado a um casamento que não quer, mas este é um caso incomum. Seu dever é absolutamente claro.

— Lady Catherine sabia que podia contar com você para dizer isso. Era o dever dela assegurar a filha.

— Isso é tolice! Catherine sempre foi obstinada e irritante, mas só queria o melhor para Anne e para você. É um bom arranjo para os dois lados, e Anne é da família, então sabemos que é confiável. Ainda assim, eu o apoiaria em recusá-la, mas não em detrimento de perder Rosings. É um bem importante.

—Não preciso nem quero Rosings. Pemberley fornece tudo aquilo que preciso.

— Este é um dever para com sua família! Todos nós nos beneficiaremos com essas conexões aumentadas. E você sabe tão bem quanto eu que Pemberley precisa de um herdeiro.

— Meu primo John Darcy é herdeiro de Pemberley.

— Você deixaria Pemberley ir para um primo distante? Darcy, sacrificamos muito para trazer Pemberley para o seio dos Fitzwilliam, e tudo será desperdiçado se você morrer sem um herdeiro. E pense na pobre Georgiana, tirada de sua casa!

Darcy falou com os dentes cerrados.

— Tenho certeza de que o dote de Georgiana é intocável e que ela terá renda suficiente para sua vida. Richard ajudou com esses arranjos, se você não acredita em mim.

Lorde Matlock tirou o livro de suas mãos, fechou-o com força e jogou-o sobre a mesa.

— Darcy, ouça-me. Há vinte anos, o recebi em minha casa, à custa de me aborrecer não só com seu pai, mas também com a abastada família rica dessa mulher. Eu mal conhecia você, mas você era um Fitzwilliam, então lutei pelo direito de mantê-lo seguro. Nunca pedi nada de você em troca. Esta noite eu estou pedindo algo, pedindo que você cumpra o seu dever para com nossa família da mesma maneira que fiz por você. Case com Anne.

As mãos de Darcy apertaram os braços da cadeira. Este foi o único apelo capaz de fazê-lo duvidar de si mesmo.

— Eu honro e respeito tudo o que você fez por mim e por sua dedicação à sua família. Faria quase tudo o que me pedisse, mas sinto muito. Não posso fazer isso. — Quão afortunado provou-se ser, quando Elizabeth comprometeu-se em sua atitude em salvar-lhe a vida! Se fosse só uma questão do amor que sentia por ela, teria sido difícil negar-se ao dever para com a sua família e ao que devia a lorde Matlock, a custo da própria felicidade. Mas Elizabeth estava comprometida, então ele tinha um dever concorrente com a própria honra, e seu coração estava agradecido por isso. Mas só criaria mais problemas se ele contasse a seu tio sobre Elizabeth. Para seu tio, o dever familiar vinha à frente da honra.

O rosto do tio ficou vermelho, e ele esmurrou a mesa.

— Maldição, o que há de errado com você? Podemos perder tudo aquilo que conseguimos nas últimas duas gerações! Se perdermos Rosings e Pemberley, isso nos atrasará décadas. Você sabe o quanto trabalhei durante toda a minha vida para recuperar nossa posição legítima na sociedade? E você arrisca tudo, por uma coisa tão pequena?

Se somente tivesse um pouco de conhaque para aliviar a boca seca!

— Casamento não é uma coisa pequena, e você não perdeu Pemberley. Quanto à perda de Rosings, lady Catherine é a culpada disso, não eu.

— Não fale mal dos mortos!

Richard colocou a cabeça através da abertura da porta.

— Aí você está, Darcy! Escondendo-se de mim?

Lorde Matlock apontou para ele.

— Fora! — rugiu ele.

Com as sobrancelhas levantadas e um olhar profundamente solidário para Darcy, Richard recuou, com um movimento exagerado dos pés. Seu pai resmungou às costas de Richard, e voltou-se para sua presa.

***

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Charlotte abriu a mensagem dobrada e a leu, depois voltou-se para o menino que a trouxe.

— Por favor, diga ao coronel Fitzwilliam que o esperamos.

O menino assentiu e apressou-se. Charlotte leu novamente a mensagem, franzindo a testa.

— Algum problema? — perguntou Elizabeth.

— Não sei. O coronel Fitzwilliam gostaria de sair mais cedo do que o planejado. Ele diz: ‘Meu pai está enfurecido, e cenas desagradáveis no café da manhã sempre perturbam minha delicada digestão’. — Ela riu. — Somente ele diria tal coisa! Sua delicada digestão, de fato!