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Capítulo 19

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ESTAVA PERTO DE ANOITECER quando Elizabeth e Darcy subiram os últimos degraus até o topo do penhasco. A carruagem esperava no mesmo lugar, mas não havia nenhum sinal do resto do grupo.

— Consciências culpadas? — murmurou Darcy.

O cocheiro saltou de seu assento.

— Peço desculpas, senhor, o coronel Fitzwilliam e as senhoras foram para a pousada e me instruíram para voltar e esperá-los.

— Talvez eles se cansaram das brisas do mar — disse Elizabeth, alegremente. — Quão privilegiados somos nós que não nos cansamos.

Darcy abriu a porta da carruagem e ajudou Elizabeth a entrar. — Espero que haja luz suficiente para chegarmos à pousada também. Caso contrário, poderíamos encalhar, e não iríamos querer isso, não é?

Elizabeth riu.

— Tomei a precaução, senhor, de trazer lanternas — disse o cocheiro com firmeza. — Mas a lua está bem clara, e acho que nos sairemos bem sem elas.

Darcy disse no ouvido de Elizabeth:

— Não faço objeções à escuridão, e você?

Ela corou intensamente.

***

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Oh, aqui está deliciosamente quente — disse Elizabeth, quando entraram na pousada, colocando imediatamente suas mãos em frente à lareira ardente.

— Aí estão vocês! — gritou o coronel. —Começamos a temer que não os víssemos até a manhã. Ficaram presos pela maré, então?

— Presos, sim, mas pela maré ou pela traição, não sei dizer — disse Darcy deliberadamente.

Charlotte correu para o lado de Elizabeth.

— Pobre Lizzy! Você deve estar um tanto congelada.

— Consegui encontrar maneiras de me aquecer. — Elizabeth trocou um olhar divertido com Darcy. — Mas estou ansiosa por comida quente.

O coronel Fitzwilliam mudou o apoio para o outro pé.

— O jantar será servido às oito. Direi a eles que haverá mais duas no nosso grupo.

Darcy levantou uma sobrancelha.

— Espero que haja o suficiente para nós também. Todo aquele ar fresco me deu um apetite notável.

— Espero que tenham sopa de cebola — disse Elizabeth. — Tenho pensado nisso o dia todo. — Ela entregou sua pelisse a uma criada da pousada. O casaco e o chapéu de Darcy se juntaram à pilha nos braços da serviçal enquanto ela subia as escadas.

O coronel trocou um olhar com Charlotte enquanto Darcy e Elizabeth se juntavam a eles em uma grande mesa de carvalho. Então, aparentemente, houve uma conspiração!

— Bem, Darcy, parece que você e Miss Elizabeth ficaram sozinhos por algumas horas.

— Sim. Foi bastante agradável, devo dizer. —Aparentemente, Darcy não se incomodava em provocar seu primo.

O coronel Fitzwilliam limpou a garganta.

— Trouxe Miss Elizabeth sob minha proteção durante esta viagem e prometi a Mr. Collins que preservaria sua reputação como se ela fosse minha irmã.

Darcy riu.

— Suponho que ele nunca conheceu suas irmãs.

— Fale sério, Darcy. Isso é um problema.

Bom Deus! Seria possível que o coronel e Charlotte tivessem planejado que ela e Darcy ficassem sozinhos para forçá-lo a propor casamento a ela? Isso era demais.

— Coronel, o senhor é muito amável em se preocupar com minha reputação. Entretanto, asseguro-lhe que é de muito pouca importância, uma vez que já estava comprometida com o Mr. Darcy há vários meses, e por muito mais do que isso.

O maxilar do coronel Fitzwilliam caiu, mas ele se recuperou rapidamente.

— Você não estava sob minha proteção, então. Darcy, sei que você se sente obrigado a propor casamento a Anne, mas uma questão de honra como essa deve ter precedência sobre um casamento por mero dinheiro e propriedade.

O sorriso de Darcy desapareceu.

— De onde você tirou a ideia que eu pediria Anne agora, depois de tê-la recusado por tantos anos?

— Você não está propondo a ela? Mas ela vai perder Rosings!

— Sinto muito por sua perda, mas foi escolha de lady Catherine, não minha. Porque ela é minha prima, tenho uma certa responsabilidade com ela, e pretendo oferecer-lhe uma casa de campo em Pemberley e uma pequena renda. Mas nunca pensei em casar com ela por pena.

— Mas todo mundo está pensando... até meu pai pensou... você não disse nada quando o testamento foi lido!

Charlotte acrescentou calmamente:

— Todos supuseram assim. Certamente, também acreditei.

Elizabeth cutucou Darcy.

— Veja, não era uma coisa tão ridícula de pensar.

O coronel balançou a cabeça.

— Pensei que você se sentiu obrigado a pedi-la, enquanto seu coração se encontrava em outro lugar.

— Foi por isso que você encenou esse pequeno drama? Para me dar uma saída?

O coronel Fitzwilliam tossiu.

— Bem, sim, essa foi a ideia geral.

Charlotte cobriu o rosto em uma tentativa de abafar o riso.

— Os melhores planos...

Elizabeth sacudiu a cabeça para a amiga.

— Estou criando um novo apreço por sua capacidade para conspiração, Charlotte!

O coronel Fitzwilliam disse:

— Bem, será bem uma celebração hoje à noite. Diga, Darcy, por que não mencionou que Georgiana se juntaria a nós? Que surpresa foi descobri-la aqui!

Darcy voltou-se.

— Georgiana está aqui?

Richard e a Mrs. Collins trocaram olhares.

— Ela disse que você pediu para ela vir.

— Mas não pedi! É muito longe para ela viajar por apenas uma noite. Nunca lhe contei sobre os meus planos de viagem. Você deve ter lhe dito alguma coisa.

Richard balançou a cabeça.

— Eu, não. Não escrevo para ela há mais de quinze dias. Quem mais conhecia nossos planos? Mrs. Collins nunca a conhecera antes de hoje. Talvez Anne tenha escrito para ela. Deve ser isso. Mas por que Georgiana não o disse?

— O que eu não disse? — Georgiana apareceu ao lado da mesa, franzindo a sobrancelha.

Darcy abraçou-a.

— Estou encantado em vê-la, é claro, mas intrigado com sua vinda aqui. Anne lhe contou sobre os nossos planos?

Ela lhe lançou um olhar estranho.

— Claro que não.

— Então, por que está aqui? — A questão já estava se tornando preocupante. Georgiana não fazia o tipo de tomar esse tipo de iniciativa.

Ela abaixou os olhos e torceu as mãos.

— Você queria que eu viesse — disse ela, em um sussurro. — Crewe me disse.

Darcy estreitou os olhos.

— Crewe disse isso?

— Não deveria fazê-lo? — Georgiana olhou para ele, tímida.

— Não, não deveria; ou melhor, não tinha nenhuma instrução para lhe dizer qualquer coisa desse tipo.

Georgiana mordeu o lábio.

— Sinto muito. A primeira coisa que farei amanhã será retornar a Londres. — Ela se virou, claramente preparada para escapar.

Darcy pegou sua mão antes que ela pudesse fugir.

— Você não está em apuros, querida. Estou sempre feliz em vê-la. Simplesmente não esperava você.

Richard colocou a mão sobre a boca, mas mal conseguiu disfarçar a risada.

— Crewe! Eu deveria saber. Mas por que diabos, iria ele quer que Georgiana viesse?

Mrs. Collins disse:

— Temo não entender. Quem é Crewe?

— É o camareiro de Darcy, pelo menos na aparência. Exceto quando pensa que Darcy está cometendo um erro, caso em que deseja consertá-lo sem lhe dizer. Pergunto-me o que ele está tramando agora.

— Eu também — disse Darcy, sombrio. Crewe não estaria desaprovando Elizabeth, ou estaria? Darcy não conseguia imaginar tal coisa e, caso fosse verdade, Crewe estaria pretendendo uma nova posição. Mesmo um antigo e confiável serviçal da família não poderia ir tão longe.

Richard segurou a manga de um criado que passava a serviço.

— Você faria a gentileza de ir ao quarto de Mr. Darcy e dizer ao seu criado que ele está sendo chamado imediatamente?

Darcy olhou para Elizabeth.

— Não, vou falar com ele em particular. — Se fosse sobre ela, não queria que ela ouvisse.

— Seja lá o que for, não é nada negativo sobre Miss Bennet. Toda essa viagem foi ideia de Crewe. — Mais uma vez, Richard parecia capaz de ler sua mente.

Darcy sentiu um peso sair de seus ombros. Odiaria perder Crewe.

— Muito bem, então traga-o aqui. Enquanto isso, Georgiana, tenho ótimas notícias. Posso apresentar-lhe sua futura irmã, Miss Elizabeth Bennet?

Os olhos de Georgiana se arregalaram e ela bateu palmas.

— De verdade? Vai se casar?

— De verdade — Darcy ainda não podia acreditar em si mesmo.

Elizabeth fez uma reverência.

— É um prazer conhecê-la, Miss Darcy. Seu irmão me falou muito sobre você, e eu ansiava por conhecê-la. — Somente Elizabeth para saber que Georgiana precisaria de incentivo para superar sua timidez!

— Ele me contou tudo sobre você também. Estou tão feliz por vocês dois!

Darcy observou, ternamente, enquanto as duas mulheres que amava conversavam, Elizabeth fazendo perguntas para atrair Georgiana. Ela seria boa para sua irmã.

Uma sombra apareceu ao seu lado.

— O senhor deseja falar comigo, senhor? — disse Crewe.

Darcy cruzou os braços.

— Sim, Crewe, desejo. Talvez você possa me informar por que assumiu para si a tarefa de trazer minha irmã?

— Claro. É seu desejo que lhe diga agora ou mais tarde?

Richard gargalhou.

— Ah, não. Nada de esperar até estarem sozinhos. Quero ouvir isso!

Darcy lhe enviou um olhar venenoso.

— Pode me dizer agora.

Crewe, como sempre, parecia totalmente imperturbável.

— Muito bem, senhor. Posso, em primeiro lugar, tomar a liberdade de oferecer meus melhores votos a Miss Bennet?

Claro, Crewe simplesmente assumiu que tudo aconteceu de acordo com seus planos!

— Mais tarde, Crewe. Estou esperando.

Era realmente um leve olhar de satisfação, o que percebera nos olhos de Crewe?

— De fato. O senhor, claro, já percebeu as grandes desvantagens em anunciar seu noivado, então pensei que estaria planejando um casamento imediato. Quando estava em Londres para buscar sua licença especial, ocorreu-me que teria muito menos a aparência de fuga se Miss Darcy estivesse presente por ocasião de seu casamento.

Ignorando os risinhos de Richard, Darcy disse secamente:

— Peço que me recorde, Crewe, como eu realizaria tal ato? — Se Crewe tivesse uma razão convincente para que eles se casassem imediatamente, Darcy queria sabê-lo. O que ele não daria por uma boa desculpa para se casar com Elizabeth imediatamente!

— Lady Matlock tem profundos sentimentos sobre a etiqueta apropriada de luto. — Os olhos de Crewe piscaram diante da ausência da cravat negra em Darcy. — Ela ficaria muito angustiada se o senhor anunciasse seu noivado durante os três meses de luto, e o casamento não poderia ocorrer antes de seis meses completos. Provavelmente, ela observaria que começar seu casamento com um escândalo criaria muitas dificuldades para Miss Darcy, quando esta debutasse nesta temporada, e que suas perspectivas conjugais seriam melhores se o senhor não anunciasse seu noivado até que a temporada acabasse, um ano a partir de agora. Naturalmente, o senhor não precisa cumprir os desejos dela, mas ela dará sua opinião ao senhor.

Com os diabos. Não pensara sobre a questão de luto e a apresentação de Georgiana em janeiro. Ele teria que aguardar os três meses, mas isso era tudo.

— Não tenho intenção de esperar tanto tempo. Lady Matlock não faz as regras.

Richard bufou.

— Oh, sim, ela faz.

— Claro, o senhor tomaria sua própria decisão; mas teria que levar em consideração que lorde Matlock expressará sua opinião sobre seu noivado nos termos mais fortes e com bastante frequência. Essas opiniões provavelmente causariam uma ruptura entre você e seu tio mas, o mais importante, talvez seja angustiante para Miss Bennet ser a fonte desse conflito. Quando o senhor viesse a se casar, o dano poderia ser irreparável. Se, por outro lado, o senhor apresentar com um fato consumado, eles podem ficar descontentes, mas procurarão aceitar da melhor maneira possível. Não haveria meses de desagrado que obscureceriam seu casamento.

— Ele tem razão — disse Richard. — Meu pai irá dar-lhe um sermão implacável sobre as desvantagens desse casamento – perdoe-me, Miss Bennet, é só porque ele não teve a oportunidade de apreciar suas notáveis qualidades – e poderiam ser meses desagradáveis. Ou um ano.

— Embora eu respeite minha tia e meu tio, não me casarei precipitadamente para evitar a ira deles.

— Claro que não, senhor. Minhas desculpas pelo meu erro. — Os lábios de Crewe se curvaram quase imperceptivelmente, e Darcy sabia que ele estava prestes a dar o golpe de misericórdia. — Sem dúvida, a família de Miss Bennet entenderá a necessidade de permitir que o escândalo e os falatórios sobre ela continuem por três meses até que seu noivado possa ser anunciado.

Demorou um momento para que Darcy percebesse. Como esquecera disso? Ele sentiu um sorriso crescer em seu rosto. Um casamento rápido era exatamente o que teria que acontecer! Ele forçou um sorriso, e disse com firmeza:

— Suponho que também considerei como poderia apresentar a notícia de um casamento secreto, de forma a não causar mais escândalos.

Crewe parecia intrigado – e ele nunca mostrava uma expressão sem um propósito.

— Como poderia ser um casamento secreto se a sua irmã, seu primo e a amiga mais próxima e esposa do primo de Miss Bennet estão presentes? Seria apropriada uma cerimônia discreta e muito privada em deferência ao recente falecimento de lady Catherine.

Richard balançava a cabeça.

— Crewe, Crewe, Crewe. Você nunca deixa de me surpreender. Diga-me, Darcy já tomou providências para o casamento?

Crewe inclinou-se para Richard.

— O cura da igreja de St. James, aqui em Folkestone, estará disponível amanhã, às dez e meia da manhã.

Mas o silêncio atrás dele o fez se lembrar que era uma decisão que não poderia tomar sozinho. A expressão de Elizabeth estava serena. Provavelmente, era sinal de perigo; ele já a vira com muitas expressões, mas nenhuma delas poderia ser descrita como serena.

Suas palmas úmidas, Darcy arrastou sua cadeira mais para perto de Elizabeth. Segurou a mão dela por debaixo da mesa.

— Qual é a sua opinião? Crewe tem alguma razão, mas este é o seu casamento e deve ser como você deseja. Você tem todo o direito de se casar na igreja de Longbourn com sua família ao seu redor. Se, de alguma forma, estiver insatisfeita com essas sugestões, peço que diga-me de uma vez, e colocarei um ponto final nelas.

Seus lábios dela se contraíram.

— Mesmo que você prefira se casar imediatamente, com ou sem os argumentos cuidadosamente reunidos do seu camareiro?

Se ao menos ele pudesse beijá-la!

— Seria difícil negar o desejo de fazê-la minha o mais rápido possível, mas meu desejo de fazê-la feliz é ainda maior do que isso.

— Que sorte você ter uma resposta tão razoável para dar, e eu ser tão razoável para aceitá-lo!

O júbilo tomou conta dele.

— Isso significa que você concorda?

— Há um pequeno problema. Ainda não sou maior, então ainda precisaria da permissão do meu pai.

Com os diabos! Se ele tivesse que viajar até Longbourn e voltar, também precisaria anunciar o noivado... dentro de três meses. Ele falou com extremo cuidado:

— Se você se casasse sem a permissão dele, provavelmente ele tentaria anular o casamento, mesmo depois de termos vivido juntos como marido e mulher?

Um delicioso rubor subiu-lhe às faces.

— Não, suponho que não. Seria problema demais, e ele prefere o caminho mais fácil.

— Eu o visitei e lhe falei da minha intenção de me casar com você e, apesar de não me ter dado sua permissão, também não me negou. Eu poderia argumentar que é o mesmo que uma permissão tácita. Mas o que é mais importante, você se sentiria incomodada em se casar sem o consentimento formal dele? Não gostaria de fazê-la infeliz.

Os lábios se apertaram.

— Meu pai, ao reter minha carta para você e não lhe dizer o meu paradeiro, foi responsável pelo tempo mais miserável da minha vida. Sem dúvida, ele achou que me fazia o bem, à maneira dele, mas eu não permitiria que sua desaprovação definitiva me detivesse, então certamente não sentirei a falta de seu consentimento formal.

Pelo menos, ele não estava sozinho em sua indignação pela interferência de Mr. Bennet!

— Então...

Ela hesitou.

— Crewe está... certo de que um anúncio de noivado durante o período de luto poderia prejudicar as perspectivas da sua irmã?

— Ele está correto, mas não é um problema sério. Ela ainda é a neta de um conde, com um grande dote. Apenas desencorajaria os melhores pretendentes por seu irmão ter pouco senso de decoro.

Elizabeth riu.

— Na verdade, nenhum senso de decoro!

Ele baixou a voz em um sussurro.

— Certamente não tive nenhum, enquanto estávamos na enseada.

A cor tomou o rosto dela.

— Talvez, então, uma vez que seu senso de decoro é tão pouco confiável, seja melhor seguir o plano de Crewe. Você me disse uma vez que ele sempre estava certo.

— E que às vezes é muito irritante. Não desta vez, contudo.

Richard tossiu alto.

— Bem, Darcy?

Decidindo ignorá-lo, Darcy disse a Crewe:

— Espero que você me tenha trazido roupas adequadas para um casamento.

— Naturalmente, senhor. E também para Miss Darcy.

Georgiana disse:

— Mas você disse que eu devia trazer as minhas melhores roupas caso Darcy planejasse me apresentar a alguém!

Crewe inclinou a cabeça.

— Acho que é sempre melhor estar preparado.

Elizabeth riu.

— Estou vendo que Charlotte e eu seremos as únicas mal preparadas!

Richard murmurou:

— Não, se conheço Crewe.

— Tomei a liberdade de trazer da paróquia o melhor vestido de Mrs. Collins, e certos itens do guarda-roupa de lady Anne, que pareciam caber em Mrs. Bennet. Naturalmente, trouxe de Londres as safiras dos Darcy.

— Naturalmente — disse Darcy em voz baixa.

Depois, acrescentou, mais alto:

— Crewe, há mais alguma coisa que planejei, que talvez tenha me esquecido? Odiaria me envergonhar, por não me ater aos detalhes.

Crewe contou nos dedos.

— Licença, igreja, cura, família, vestuário adequado, joias; não, acredito que o senhor tenha cuidado de tudo, senhor.

Richard disse:

— Quão extraordinariamente pobre está sua memória nos dias de hoje, Darcy! Crewe, como você fez para obter uma licença especial em nome de Darcy?

Crewe, por uma vez, pareceu perplexo e olhou para Darcy.

Darcy limpou a garganta.

— Crewe, sem dúvida, bem sabia que eu já tinha uma licença especial na gaveta da mesa. Eu a obtive antes de visitar o pai de Elizabeth, pensando que ele gostaria de um casamento rápido.

Mrs. Collins falou então pela primeira vez.

— Encontro-me extremamente desconfortável sobre o que ouço esta noite. Seria impróprio para mim participar de planos que o meu marido julgasse desagradáveis ​​para a sua falecida senhoria tardia. O amanhã trará, sem dúvida, uma grande surpresa para mim.

Richard riu.

— Se eu soubesse que Crewe tinha tudo sob controle, Mrs. Collins, eu poderia ter deixado a senhora fora da minha pequena conspiração, e sua consciência estaria bem limpa.

— Oh, não — disse Charlotte gravemente. — Não teria deixado de conspirar contra Lizzy e Mr. Darcy por nada desse mundo. Em casos como esses, uma consciência limpa é demasiadamente exagerada.

Sob a mesa, Darcy segurou a mão de Elizabeth e apertou.

***

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Depois do jantar, Darcy voltou-se para o primo e disse abruptamente:

— Nunca imaginei.

— Para dizer o mínimo — disse Richard.

— Falo sério. Seu pai está absolutamente determinado a me casar com Anne. Ele não ficará satisfeito com você por interferir em seus planos. Há pouco que ele possa fazer para me punir, mas já você é uma história diferente.

O sorriso de Richard desvaneceu-se um pouco.

— Considerei isso, mas não vou esconder minha participação, independentemente do que ele possa fazer. Será, no mínimo, uma cena feia.

Para a surpresa de Darcy, Mrs. Collins falou:

— O que de pior ele pode fazer contra o senhor?

— Deserdar-me — disse Richard, seu rosto ficou mais pálido do que antes. — Cortar meus recursos. Seria difícil, mas eu poderia sobreviver com o meu salário do exército.

Mrs. Collins inclinou-se para a frente.

— O senhor não me disse que não poderia deixar o exército por causa do seu dever para com seu pai? E se ele o rejeitar?

Um sorriso surgiu no rosto de Darcy. Que mulher inteligente Mrs. Collins era!

— Se ele o renegar, você pode vender sua comissão e viver em Pemberley.

Richard congelou, seu copo de Porto a meio caminho de sua boca.

— Oh, sim, Richard! — disse Georgiana. — Seria perfeito!

Ele pousou o Porto com cuidado, como se tivesse medo de que o vidro se quebrasse.

— Você... você... não posso aceitar sua caridade.

— Não é caridade. Você faria isso por mim – lembra? Juntos, contra todos os inimigos?

Um pouco de cor voltou ao rosto de Richard.

— Juntos, contra todas as dificuldades. Mas talvez você deva consultar sua futura esposa antes de me convidar para viver em Pemberley.

Darcy não havia pensado nisso. Precisaria aprender a ser um marido. Marido. Gostava daquela palavra.

— Talvez Elizabeth e eu possamos discutir isso em particular.

— Não vejo por que precisamos discutir isso —disse Elizabeth, cordialmente. — Eu ficaria muito feliz em vê-lo vendendo sua comissão, coronel.

Os ombros de Richard relaxaram.

— Então, você teria que me chamar de Richard.

Elizabeth franziu os lábios como se estivesse pensando profundamente e disse, com veemência:

— Um desafio difícil, mas acredito que esteja dentro da minha capacidade.

Com uma risada, Richard levantou o copo.

— À deserção!

— Apoiado, apoiado! — disse Darcy.

Uma vez que todos brindaram, Elizabeth disse:

— Foi um longo dia, e acho que vou me recolher mais cedo.

— Um excelente plano — disse o coronel. — Um de vocês deve estar bem descansado, e Darcy nunca dorme a noite toda.

Darcy o ignorou; em vez disso, olhou para Elizabeth com um leve sorriso brincando em seus lábios.

— Quente ou frio? — perguntou ele, com voz rouca.

Um tom rosado assomou às faces dela, mas ela sorriu.

— Quente. Definitivamente quente.

Charlotte ficou intrigada.

— Estou certa de que irão acender um fogo no seu quarto. O meu estava bem aquecido.

— Essa é uma boa notícia — disse Elizabeth, gravemente. — Não gosto de sentir frio à noite.

Capítulo 20

––––––––

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COM O QUE ELA concordara? Não sabendo quando, ou se, Darcy planejava aparecer, Elizabeth colocou sua camisola em tempo recorde. Enquanto escovava os cabelos, uma batida na porta a fez saltar. Com a pulsação acelerada, abriu a porta.

Charlotte entrou.

— Vim ver se seu quarto realmente estava quente o suficiente. Posso pedir mais carvão se desejar, e há um cobertor extra no guarda-roupa, se precisar dele.

Se ela se sentisse mais aquecida do que estava no momento, poderia correr o risco de entrar em chamas! Especialmente porque Mr. Darcy poderia aparecer a qualquer momento, causando uma cena ainda mais embaraçosa.

— Agradeço-lhe, Charlotte. Como pode ver, o quarto é muito confortável. Eu estava prestes a ir para a cama. — Ela esperava que sua amiga entendesse a indireta e saísse.

— Se você tem certeza de que o quarto está bom... Sei que você precisa dormir. E Lizzy – se você tiver alguma pergunta, eu ficaria feliz em fazer o meu melhor para respondê-la. Sei que você não estava esperando essa situação. — As faces de Charlotte ficaram tão vermelhas quanto as de Elizabeth.

Este seria um momento muito ruim para Darcy entrar!

— Querida Charlotte, você é o melhor das amigas! Não consigo pensar em qualquer pergunta no momento. Como sabe, minha mãe tratou de ser mais liberal com informações do que desejei – mas se surgirem perguntas, certamente a ouvirá de mim. Impulsivamente ela se inclinou para frente e beijou o rosto de Charlotte. — Afinal, se você não nos juntasse, eu não estaria me casando com Mr. Darcy amanhã!

Os lábios de Charlotte se contraíram.

— Por que, logo nesta manhã, você me olhando com raiva!

— Você mereceu isso – conspirando com o Coronel Fitzwilliam, de fato! E afirma não ser romântica!

— Alguém tinha que fazer com que os dois tivessem juízo. A julgar por esta quinzena, seu casamento nunca será aborrecido.

A lembrança de Darcy em mangas de camisa, diante de um fogo oscilante a aqueceu.

— Não, não foi aborrecida. Na verdade, um pouco menos de excitação não seria indesejável — disse ela, sentida.

— Só lamento que sua visita em minha casa seja interrompida! Estou apenas provocando, é claro. Durma bem, e a vejo pela manhã.

— Boa noite, Charlotte. — Com um suspiro de alívio, Elizabeth fechou a porta atrás de Charlotte, então encostou-se nela. Graças aos céus, ela foi embora! Esperava que Darcy se cuidasse ao vir até ela, se de fato o fizesse.

Talvez o mais sensato fosse demonstrar para todos que ela dormia. Apagou as duas velas, deixando o quarto escuro, iluminado apenas pelo brilho da lareira. Afinal, eles haviam se saído bem o suficiente, durante a tempestade de neve, sem as velas.

Ela se sentou na cama, envolvendo seus braços ao redor de seus joelhos. Decidiu que iria esperar mais um pouco, e depois dormiria se ele não viesse.

O trinco da porta levantou-se e uma figura alta e familiar deslizou para dentro.

— Você ainda está acordada? — perguntou ele, suavemente.

Elizabeth se levantou.

— Sim. Você só perdeu Charlotte aqui.

Ele riu.

— Eu sei. Eu estava começando a andar pelo corredor quando a vi bater na sua porta. Tive que fingir que estava indo para o quarto de Richard. Ele a envolveu em seus braços.

Como sentia ser adequado estar ali! Ela apoiou a cabeça contra o ombro dele.

— Fico feliz que não precisemos nos preocupar com segredos no futuro!

— Amanhã pode demorar. — Ele pressionou os lábios levemente na testa dela.

— Concordo. — Ela inclinou a cabeça para trás, pensando que ele iria beijá-la.

Em vez disso, ele recuou e colocou o dedo indicador contra seus lábios.

— Vim aqui esta noite esperando dormir em seus braços, como fiz na cabana. Depois de segurá-la na praia, passar outra noite longe de você me pareceu intolerável. Mas se eu começar beijando você, receio não parar em beijos. Você me tenta mais do que imagina.

Ele quis dizer isso mesmo?

— Vou acreditar em sua palavra, mas também ficarei feliz em dormir em seus braços. Como senti falta!

O olhar dele se intensificou.

— Sentiu?

— Sim, senti.

Incapaz de resistir à oportunidade de provocá-lo, ela acrescentou:

— Você foi um travesseiro delicioso e quentinho.

— Um travesseiro, de fato. Você estava usando mais do que isso na casa de campo.

Ela sentiu um puxão no cinto de seu roupão e olhou para baixo para ver as mãos dele deslizando para dentro e pousando em seus quadris. A sensação morna, através da fino linho de sua camisola, enviou-lhe arrepios através de sua coluna.

— Dormimos com nossas roupas lá. Essa é uma camisola.

— Não, essa é a tentação encarnada! Acho melhor você dormir com seu roupão, ou todas as minhas boas intenções não terão resultado. — Com aparente relutância, ele retirou as mãos, fechou o roupão e amarrou firmemente o cinto.

Ela franziu o nariz para ele, sem saber se estava aliviada ou decepcionada. Seu corpo, formigando da cabeça aos pés, escolheu pela decepção.

— Muito bem, se você insiste. Por essa noite.

Ele gemeu.

— Não diga isso!

— Nossa, quantas regras para essa noite!

— Nossa, que atrevida impertinente eu tenho essa noite! — Ele afastou a colcha e apontou para a cama.

Ela hesitou. Não deveria ser tão difícil deitar-se. Afinal, estivera com ele no colchão da cabana mas, de alguma forma, agora parecia muito mais íntimo. Reunindo sua coragem, ela se deitou e estendeu os braços para ele.

Ele deslizou para seu lado, colocando o braço debaixo da cabeça dela.

— Assim é melhor.

Ela suspirou com prazer.

— Muito melhor. Mas e se alguém nos descobrir de manhã?

— Não precisa se preocupar. Sempre acordei antes do amanhecer, e sairei antes mesmo dos criados começarem seu trabalho.

Se ao menos ele a beijasse, seria perfeito! Aproximando-se dele, perguntou-se como poderia dormir com ele pressionado contra ela.

— Mmmm.

Ele beijou sua testa.

— Durma bem, doce Lizzy.

Ela abriu um olho.

— Foi o que você disse na cabana. Guardei essa lembrança com carinho.

— Pensei nisso todas as noites, desde então.

Coberta por seu amor e cuidado, ela caiu sob a magia do sono.

***

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Uma batida persistente despertou Darcy do mais prazeroso dos sonhos, de fazer amor com Elizabeth em sua cama em Pemberley. Mas este não era aquele magnífico dossel de carvalho, apenas uma cama estreita de uma pousada, com a luz do sol derramando-se através da janela e a cabeça de Elizabeth pousada em seu ombro.

— Elizabeth? — Era a voz de Georgiana.

E sua irmã estava na porta.

O que estava errado com ele? Não dormia até tão tarde desde... desde que dormira nos braços de Elizabeth na cabana. Que idiota fora! Ele sacudiu o ombro de Elizabeth. Afastando-se da cama com um dedo nos lábios, seus olhos percorreram o quarto. Devia haver algum lugar em que pudesse se esconder. Diabos, não havia espaço debaixo da cama suficiente para ele!

— Elizabeth, você está acordada? — Isso soou como Mrs. Collins.

Elizabeth sibilou:

— Atrás do guarda-roupa!

Então ela acrescentou mais alto:

— Sim, apenas um momento. Já vou.

Darcy olhou o espaço estreito entre o guarda-roupa e a parede. Caberia ele ali? Se fosse outra pessoa, que não Georgiana, do lado de fora, ele simplesmente enfrentaria a situação, mas não podia fazê-lo na frente de sua irmãzinha. Em meio ao pânico, conseguiu se espremer por detrás do guarda-roupa.

Sim, deu certo! Pelo menos, desde que sua cabeça ficasse virada para o lado e ele tomasse apenas respirações curtas. Que situação ridícula!

O trinco clicou.

— Bom dia, senhoras — disse Elizabeth.

— Sinto muito por ter acordado você — disse Georgiana —, mas Mrs. Collins disse que precisávamos de um tempo extra para prepará-la para o casamento, pois talvez devêssemos ajustar o vestido da prima Anne em seu corpo.

Ele rezou para que Elizabeth conseguisse afugentá-las. Ele poderia ficar estrangulado se tivesse que permanecer naquele espaço confinado por muito mais tempo!

Mrs. Collins veio em seu socorro.

— Lizzy, seu quarto é muito pequeno. Talvez fosse mais fácil se usássemos o quarto de Miss Darcy. Haveria mais espaço para todos nós.

— Uma excelente ideia — disse Elizabeth. — Há alguém no caminho, ou posso ir de roupão?

— O caminho está livre — disse Mrs. Collins.

O som da maçaneta voltando a seu lugar foi um dos sons mais doces que Darcy já ouvira.

***

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Elizabeth andou rápido. Quanto mais cedo chegassem ao quarto de Miss Darcy, melhor.

Charlotte pegou seu braço e sussurrou:

— Você, menina levada, Lizzy!

— Perdão?

A amiga esperou até que Miss Darcy abrisse a porta de seu quarto para sussurrar:

— O seu guarda-roupa tinha pés.

— O que quer dizer? — Elizabeth teve um pressentimento, mas já sabia.

— Quatro pernas de madeira e dois pés humanos! — Charlotte estava lutando para não rir.

Elizabeth bateu seus cílios com inocência simulada.

— Qual é a vantagem de estar comprometida sem poder aproveitar?

Miss Darcy olhou para elas com expressão intrigada.

— Algo importante? Eu fiz algo que não deveria?

Elizabeth rapidamente dissimulou o sorriso.

— Nada. Estamos apenas rindo da ideia se casar tão cedo!

***

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Quando Darcy finalmente chegou ao seu quarto, encontrou sua roupa perfeitamente preparada em cima da cama. Crewe estava sentado em uma cadeira de madeira de costas retas, com os braços cruzados sobre o peito.

— Estava começando a me perguntar se o senhor planejava vir — disse Crewe, sugestivamente.

Darcy franziu o cenho para ele.

— Não há necessidade de me olhar assim. Nada aconteceu. Dormi demais; isso é tudo.

— O senhor dormiu demais. — Havia um mundo de descrença nessas palavras.

— Sim, como fiz quando estava retido com ela antes!

— Pelo menos, ela é um excelente sonífero, então.

— Pelo amor de Deus, estarei casado com ela em algumas horas, e não preciso me justificar para o meu camareiro! — Especialmente depois de passar um quarto de hora tentando escapar daquele armário amaldiçoado. Quem teria pensado que sair seria muito mais difícil do que entrar?

Crewe levantou as sobrancelhas.

— Claro que o senhor não precisa se justificar para mim. Mas se deseja estar na igreja rapidamente, sugiro, senhor, que espere despedir-me até depois de estar vestido.

— Não seja ridículo.

— Que sorte eu ter conseguido organizar o seu casamento para hoje. Se o senhor não conseguiu esperar uma noite, três meses teriam sido um verdadeiro desastre.

Assumindo seu melhor olhar de senhor de Pemberley, Darcy disse, sem cortesia:

— E lhe agradeço por isso.

Crewe quase sorriu, depois retomou sua habitual expressão ilegível enquanto ajudava Darcy com seu robe.