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APÓS DEIXAR CHARLOTTE no presbitério, a carruagem chegou a Rosings pouco antes do anoitecer. Um lacaio abriu a porta imediatamente, com Higgins os aguardando no interior.
— Miss Bourgh voltou? — Darcy despiu uma luva, depois a outra.
— Não, senhor. — Higgins limpou a garganta.
— O que foi feito para descobrir o paradeiro dela?
Higgins deu um passo para trás.
— Senhor, não é da minha posição questionar as ações dos meus superiores.
Richard bufou e passou pelo mordomo.
— Quem a viu antes de partir?
— A criada dela e o cocheiro que a levaram para a estalagem.
— E a acompanhante dela, Miss Holmes?
— Miss Holmes foi com Miss de Bourgh.
— Bem, graças a Deus por isso! — disse Richard. — Espero que Miss Holmes tenha mais juízo do que Anne.
Darcy deixou cair as luvas em uma travessa.
— Traga a criada dela diretamente para a sala de estar. Estarei lá logo que tiver mostrado a Mrs. Darcy os nossos aposentos. Você deve enviar alguém até a paróquia para apanhar os seus pertences.
— Mrs. Darcy? — disse Higgins, cético, olhando de Darcy para Elizabeth e vice-versa.
— Mrs. Darcy — disse ele, com firmeza.
***
— A criada de Miss de Bourgh, senhor. — Um lacaio introduziu uma mulher de meia-idade.
— Desejava falar comigo, senhor? — As mãos dela apertavam a saia mesmo depois de sua reverência.
— Sim. Desejo saber tudo o que aconteceu ontem, anteriormente à partida de Miss de Bourgh.
— Não houve muito, senhor. Tudo parecia o mesmo, até o café da manhã. Ela o tomava em seus aposentos, como sempre, mas desta vez disse-me para buscar sua mala no sótão. Quando os lacaios a trouxeram, ela fechou a porta e me disse para fazer a mala.
— Ela lhe deu instruções sobre o que embalar ou quanto?
— Ela indicou quais vestidos deviam ser embalados, então me disse para adicionar tudo o mais de que precisaria.
Darcy desejou permanecer paciente.
— Quantos vestidos ela escolheu?
— Dez, senhor. Cinco vestidos para o dia e cinco vestidos para a noite. E nenhum deles era vestido de luto! — Isso pareceu chocar a criada mais do que o fato do desaparecimento de sua senhora.
Então, ela pretendia estar ausente por um longo período de tempo.
— Você notou algo incomum em relação ao comportamento dela?
— Ela ficou rindo com Miss Holmes no dia anterior, e Miss Holmes parecia muito animada. Mas, geralmente, Miss de Bourgh me dispensa quando Mrs. Holmes está aqui, exceto quando é hora de vesti-la ou penteá-la, o que fez quando terminei de fazer as malas.
Darcy achou difícil imaginar Anne rindo.
— Você a ouviu falando sobre desejar viajar para algum lugar?
— Não, senhor, mas ela não falaria de tais coisas comigo.
— Ela se corresponde com outras damas?
— Apenas com lady Matlock e Miss Darcy, e mesmo essas não são muito frequentes.
— Ela tem amigos? Pessoas que a visitam?
A criada sacudiu a cabeça.
— Não que eu saiba, senhor. Não recebemos muitos visitantes em Rosings.
Isso não era surpreendente. Lady Catherine conseguia irritar todos os vizinhos o bastante para ser raramente convidada em qualquer lugar, tendo por companhia o seu pároco.
— Você consegue se lembrar de algo mais?
— Não, senhor, exceto que Mr. Collins a visitou todos os dias desde o acidente de lady Catherine, mas ela nunca permanecia falando com ele por muito tempo.
Collins. Poderia ele saber alguma coisa? Estaria ele na paróquia? Ou estaria com Anne?
— Mais alguma coisa, senhor?
— Não, pode ir.
Assim que a empregada saiu, Richard entrou às pressas.
— Alguma notícia?
— Nada.
Richard esfregou o queixo.
— Não entendo. Para onde ela iria? E por que não falou nada?
— Gostaria de saber. Mrs. Jenkinson lhe contou alguma coisa? — A dama de companhia voltara a Rosings Park no dia anterior, após descobrir os planos de Darcy para se casar com Elizabeth.
— Ela afirma não saber de nada. Minha impressão é que Anne não tinha o hábito de confiar nela.
Pelo que vira de Mrs. Jenkinson na viagem, Darcy não ficou surpreso.
— A questão é: o que faremos a seguir. Simplesmente esperamos que Anne volte, ou tentamos descobrir para onde poderia ter ido?
— Temos escolha?
Darcy passou a mão pela testa.
— Não, realmente não.
Talvez Elizabeth o acompanhasse para questionar Mr. Collins. Não que ele precisasse de ajuda; só queria estar ao seu lado.
***
Eles se reuniram novamente antes do jantar para partilhar o que sabiam. Richard esticou as pernas na frente dele, de uma maneira que nunca teria feito na frente de lady Catherine.
— A família de Miss Holmes não sabia de nada. Ela lhes disse que ficaria com Anne por vários dias. Ninguém se preocupou com isso diante das circunstâncias. Não falou nada sobre desejar viajar, nem qualquer coisa em particular sobre Anne. A mãe dela contou que, há alguns meses, ela disse que algum dia Anne iria surpreender a todos, mas que não iria falar mais nada sobre isso. Você encontrou algo?
Darcy sacudiu a cabeça.
— Nenhum dos cavalariços ou tratadores dos cavalos sabia alguma coisa sobre seu paradeiro. Duas malas foram colocadas na diligência, a maior pertencente a Anne e a menor, a Miss Holmes. Ninguém notou quaisquer malas menores, próprias para uma estadia noturna em uma pousada, sugerindo que estão a um dia de viagem ou que Anne não sabia fazer uma segunda mala.
— E Mr. Collins? Você o encontrou?
Elizabeth disse, com um sorriso:
— Sim, e ele levou muito tempo para não nos contar absolutamente nada. Sequer se dera conta que ela tinha partido. Mas, oh! As cores com as quais ficou quando descobriu que nos casamos! Não acredito que já tenha visto aquelas cores em um ser humano antes. — Ela estendeu a mão para segurar a mão de Darcy.
Richard franziu o cenho.
— Anne parece ter encontrado alguns problemas para esconder seus rastros. Deve haver mais alguém que a conheça.
— Há o seu médico, mas ele está em Londres. Seria uma possibilidade remota, mas vale a pena investigá-la, já que não temos mais nada.
Richard assentiu.
— Supondo que você ainda vá a Londres amanhã, talvez possa encontrá-lo. Ficarei aqui, caso Anne retorne.
Darcy disse:
— Não é justo deixar você esfriando seus calcanhares aqui, enquanto vamos para a cidade.
Richard riu.
— É verdade, mas vocês são recém-casados, e precisam visitar a família da sua adorável esposa para compartilhar as boas notícias. Estarei bastante satisfeito explorando os depósitos de vinho de lady Catherine. Sempre suspeitei que ela tivesse melhores vinhos do que aqueles que nos servia. Além disso, gosto da companhia de Mrs. Collins. Ela é muito tranquila.
Quando Elizabeth olhou Richard, agradecida, Darcy disse:
— Muito bem. Planejaremos isso, então.
Richard bocejou ostensivamente.
— Acho que vou me recolher agora. Foi um longo dia.
Darcy olhou para o relógio. Era apenas oito horas, e Richard sempre foi uma coruja noturna. Então, viu seu primo piscar-lhe o olho.
— Uma excelente ideia — disse Elizabeth, inocentemente.
***
Darcy flexionou os braços, depois que Crewe removeu seu sobretudo elegantemente apertado. Não teria sido sua escolha para a viagem, mas não importava.
Ele caiu na cadeira baixa e estendeu o pé. Crewe puxou a bota com habilidade e ela saiu facilmente. Darcy lembrou-se de como lutou para retirá-las na cabana e sorriu. Pelo menos na cabana, ninguém os interrompeu, mas agora ele finalmente ficaria sozinho com Elizabeth novamente, e desta vez não teria que se conter.
— Crewe?
— Sim, senhor? — O camareiro retirou a segunda bota e escovou um pouco de sujeira.
— Não quero ser perturbado por ninguém esta noite ou amanhã de manhã, a menos que a casa esteja em chamas.
Os lábios de Crewe se apertaram enquanto tentava esconder um sorriso.
— Vou me certificar disso.
— Pensando bem, a menos que esta ala da casa esteja em chamas. A outra ala pode ser reduzida a cinzas, que não me importo.
— E os estábulos? E se eles estiverem em chamas?
Era inédito que Crewe o provocasse, mas Darcy sorriu.
— Salve Bucephalus, mas não me perturbe. E, Crewe?
— Sim, senhor?
— Obrigado por fazer todos os arranjos para o casamento.
Um sorriso largo atravessou o rosto do camareiro.
— O prazer foi todo meu, senhor.
***
No quarto ao lado, Elizabeth sentou-se bem reta à penteadeira, enquanto a criada francesa de lady Catherine retirava os grampos de seu cabelo. Quando a mulher apanhou a escova de cabelo, Elizabeth disse:
— Vou escová-lo eu mesma; por favor, faça-me a gentileza de me ajudar com esse vestido. Nunca usei nada com tantos botões!
Antoinette fungou, para demonstrar seu descontentamento pela falta de refinamento de Elizabeth, ou talvez fosse uma simples desaprovação de sua posição. Vários serviçais em Rosings davam a impressão de que achar que Elizabeth roubara a posição de Mrs. Darcy de sua dona legítima. Elizabeth escondeu um sorriso, pensando no que Darcy diria se soubesse. Ela não se importava; iria embora no dia seguinte e nunca mais veria Antoinette. Mas ainda teria Darcy. Um tremor de expectativa correu através dela.
Sua noite de núpcias. Ainda não parecia real, não sem as semanas de preparação para um casamento que sempre esperou. Em poucos minutos, seu marido chegaria para consumar o casamento. Deveria ser o momento que a mudaria de uma garota para uma esposa, mas seu namoro foi tão fora do comum que esse parecia um simples passo no processo. E se fosse algo parecido com o que acontecera na enseada, seria realmente interessante!
Ela saiu de seu vestido e permitiu que Antoinette desamarrasse seu corpete, depois a dispensou antes que ela pudesse ajudá-la com a camisola. Era apenas sua camisola simples de todos os dias, sem babados ou renda, nada daquilo que a noiva de Mr. Darcy deveria vestir na noite de núpcias. De alguma forma, achou que não fosse importante para ele, de qualquer modo.
Uma batida na porta de ligação fez sua pulsação correr. Levantando-se, disse:
— Entre.
Darcy estava vestido em mangas de camisa e um par de calças, não com o camisolão que esperava. A roupa drapejada revelava as fortes linhas de seus ombros, fazendo Elizabeth perder o fôlego.
Depois de parar na porta, ele avançou lentamente para ela. Ele estendeu a mão e entrelaçou um dedo em um cacho solto dos cabelos dela.
— Você me deixa sem palavras — disse ele, com voz rouca.
Inclinando a cabeça para o lado, ela disse, dissimulada:
— Então devemos encontrar atividades que não envolvam falar.
Os olhos dele brilharam, ficando cada vez mais escuros do que ela jamais os vira. Então, ele a puxou para seus braços e segurou-a forte. Pressionando a cabeça contra a dela, disse:
— Desejei fazer isso o dia todo. Pensei enlouquecer durante aquela interminável viagem de carruagem, tendo você tão perto de mim, mas incapaz de tocá-la.
Ela decidiu não mencionar a frequência com que o pé dele tocava a dela.
— E agora?
— Ainda acho que posso enlouquecer, Elizabeth; não quero assustar você, e temo que minha paixão por você possa fazê-lo.
Ela inclinou a cabeça e roçou os lábios contra os dele.
— Minha coragem sempre aumenta a cada tentativa de me intimidar, e não tenho medo. De alguma forma, parece mais fácil por ter compartilhado uma cama com você antes.
Ele assentiu repentinamente.
—Eu sinto o mesmo. Nessa tarde, senti como se estivéssemos casados desde a nevasca e que o dia de hoje apenas formalizou o que já existia.
O calor a preencheu. Ela colocou as palmas das mãos contra o peito dele e o acariciou, seguindo até seus ombros.
— Como queria fazer isso na cabana, e agora posso!
Darcy respirou fundo.
— Por outro lado, queria que você desabotoasse minha camisa e me tocasse. Embora eu suspeite que nossa história teria terminado de forma diferente, se você tivesse me tocado!
Com um olhar travesso, ela desabotoou a camisa dele, embora suas mãos não estivessem tão firmes quanto desejasse.
— Você sabe, quase me arrependo de não ter acontecido. Teria nos salvo de tantos problemas.
Ele fechou os olhos, mas ela viu que a respiração dele acelerou. Lentamente, abriu a gola da camisa dele e, com o que poderia ser coragem ou abandono, colocou a mão sobre o coração dele. A aspereza de sua pele contra a dela provocou uma forte emoção através de seu corpo.
A mão dele se fechou sobre a dela, então ele levantou-a até seus lábios e beijou o centro de sua palma.
— Da próxima vez. Temo pelo meu autocontrole se você continuar agora. — Seus lábios se moveram em um círculo ao redor da palma da mão dela, depois em seus dedos, passando suavemente os dentes ao longo das mãos sensíveis dela
A sensação a inundou e, sem querer, ela oscilou para a frente. Então, as mãos dele emaranharam-se nos cabelos dela, trazendo seu rosto mais para perto, até capturar sua boca com um beijo que parecia quebrar todas as barreiras entre eles.
Ao se apertar contra ele, tudo era diferente. Antes, havia sempre muitas camadas de roupas separando-os, e agora havia apenas uma musseline leve. Ela podia sentir o corpo dele, seu calor e firmeza, e isso fez suas pernas tremerem.
Os lábios dele se moveram até seu pescoço, explorando suas linhas até chegar à depressão em sua base. Como nunca percebeu o prazer que poderia ter esse pequeno local? Então ela sentiu os dedos dele acompanharem o decote da camisola, mergulhando por dentro dela e enviando uma onda de paixão diretamente para o seu coração.
Ela tremia enquanto ele desamarrava os laços de sua camisola. Ele congelou e olhou profundamente nos olhos dela.
— Elizabeth, você está bem? Quer que eu pare?
Ela balançou a cabeça.
— Por favor, não pare.
— Minha querida e encantadora Elizabeth — suspirou ele, quando suas mãos quentes afastaram a camisola de seus ombros. Ele sussurrou de encontro à pele aquecida de Elizabeth, enquanto a camisola caía no chão.