SADDAM HUSSEIN

Número de mortos: 300 mil mortos internamente1

Posição na lista: 96

Tipo: déspota

Linha divisória ampla: Saddam versus todo mundo

Época: governou de 1979 a 2003

Localização e principal Estado participante: Iraque

Quem geralmente leva a maior culpa: Saddam

Fator econômico: petróleo

A pergunta irrespondível que todo mundo faz: Ele era realmente tão maligno quanto o governo americano o fez parecer?

Sem nunca ter sido militar, apesar do uniforme que habitualmente usava, Saddam passou a juventude como militante truculento de rua do Partido Ba‘ath, formado por nacionalistas árabes revolucionários. A derrubada da monarquia do Iraque em 1958 inaugurou uma década de golpes e contragolpes, às vezes com aquele partido como vencedor e às vezes como derrotado. Em 1968, Saddam era o principal adjunto do ditador Ahmad Hassan al-Bakr, e, em julho de 1979 ele afastou seu envelhecido patrão e rapidamente matou qualquer um que tinha probabilidade de objetar.

O Iraque é um país artificial, com fronteiras traçadas para servir às potências coloniais europeias, especialmente a Grã-Bretanha, não refletindo as alianças locais. Nessa combinação multiétnica e inadequada, Saddam concedeu lucrativos favores à minoria árabe sunita, em detrimento da maioria árabe xiita, que ele mantinha sob controle. Colocou, especialmente, membros de sua família e amigos de sua cidade natal, Tikrit, em altos cargos do governo, e encorajou-os a saquear seus diversos redutos feudais com uma quase impunidade, embora qualquer companheiro que mostrasse ambição além de simples ganância era removido do cargo e morto.2

O próprio Saddam era o vértice idolatrado do poder. Ergueu estátuas anunciando sua glória e pendurou pôsteres sempre que o lugar não era adequado para estátuas. Canções elogiando-o abriam os noticiários de televisão.3 Mantinha controle cerrado sobre seu povo autoproclamando-se um grande herói, e depois fazendo sumir na calada da noite qualquer um que discordasse. Nas prisões por todo o Iraque, dezenas de milhares de perturbadores da ordem eram torturados e mortos, ou então torturados e soltos como um aviso para os outros. Corpos mutilados de inimigos do Estado eram devolvidos às famílias para que elas os enterrassem, a fim de espalhar boatos do tratamento selvagem na prisão.4 Familiares inocentes dos dissidentes eram sequestrados, estuprados, torturados ou mortos, com uma punição adicional contra qualquer um que escolhesse o lado errado.5

Os curdos

Enquanto a maioria dos ditadores da última metade do século XX se contentava em permanecer em casa e silenciosamente brutalizar apenas seus próprios países, Saddam tentou duas vezes expandir seu domínio para os territórios das nações vizinhas, primeiro o Irã (1980-88) e depois o Kuwait (1990-91). Fracassou em ambas as tentativas, e voltou sua ira contra o próprio povo.

A minoria curda que se esparramava pela fronteira com a Turquia, Irã e pelo Iraque propriamente dito vinha resistindo esporadicamente ao domínio iraquiano desde que o país surgira, depois da Primeira Guerra Mundial. Quando a cidade curda de Halabja, bem dentro do Iraque, foi conquistada depois do avanço das forças iranianas, em março de 1988, os curdos locais se alegraram com a libertação. Enraivecido com a deslealdade, Saddam abriu as portas do inferno contra Halabja. Diversas incursões aéreas destruíram a cidade com explosivos, napalm e gás venenoso, matando indiscriminadamente perto de 5 mil civis.6

A essa altura, Saddam focalizara sua atenção sobre os curdos, como bode expiatório por seu fracasso na guerra contra o Irã. Entre fevereiro e setembro de 1988, as tropas do ditador varreram sistematicamente o território curdo, destruindo vilarejo após vilarejo, na Operação Anfal. Os homens em idade de combater eram levados de caminhão, espancados, fuzilados e atirados em covas coletivas. Os velhos eram enviados a campos de concentração no Sul, onde morriam de inanição, enquanto as mulheres eram reassentadas, muitas vezes vendidas como noivas ou mulheres de cabaré por todo o mundo árabe.7 Nessa operação, Saddam matou qualquer coisa entre 100 mil e 200 mil curdos.8

Os americanos

Em 1991, quando a coalizão de países liderada pelos Estados Unidos expulsou Saddam do Kuwait, os americanos encorajaram os iraquianos a derrubar o ditador que os levara a uma guerra contra o mundo todo. Os árabes xiitas dos pântanos do sul se revoltaram, esperando que a coalizão fosse em seu socorro. Os americanos não estavam dispostos a se meter numa guerra civil, de modo que ficaram vendo Saddam avançar e massacrar 50 mil rebeldes xiitas, simpatizantes dessa causa e simples transeuntes. Um levante simultâneo dos curdos também não conseguiu derrubar o ditador, e ele expulsou os curdos para as montanhas do norte, onde a cobertura aérea americana finalmente os ajudou a estabelecer uma zona autônoma.

Embora o mundo tenha colocado Saddam e o Iraque em quarentena depois de 1990, por ter perturbado a calma internacional, essa nunca pareceu ser uma solução satisfatória. Deixar tal reserva de petróleo do mundo não utilizada sob o domínio de um ditador pária era algo perigoso e improdutivo. Em março de 2003, esperando arrastar o Iraque, dando pontapés e gritando, de volta à comunidade das nações e à economia global, o presidente americano George Bush, o mais jovem, invadiu o Iraque e canhestramente substituiu Saddam com o que era esperado ser um posto avançado da civilização ocidental, lucrativo e estabilizador, no coração do território hostil. Em vez disso, a iniciativa deteriorou-se com carros-bomba e o caos.

Saddam, então prisioneiro, foi julgado e enforcado por esse novo regime em 2006.