A GUERRA IRÃ-IRAQUE
Número de mortos: 700 mil1
Posição na lista: 61
Tipo: guerra hegemônica
Linha divisória ampla e principais Estados participantes: Irã versus Iraque
Época: 1980-88
Localização: golfo Pérsico
Quem geralmente leva a maior culpa: Saddam Hussein
Fator econômico: o petróleo
Há anos o Irã e o Iraque vinham disputando a posse das terras fronteiriças, ricas em petróleo, ao longo do rio Shatt al-Arab, na extremidade do golfo Pérsico. Então Saddam Hussein tentou se aproveitar do caos desencadeado pela Revolução Iraniana de 1979 e anexou o território disputado. As tropas do Iraque invadiram o Irã em setembro de 1980 e romperam as primeiras linhas de defesa do inimigo, mas, quando a resistência iraniana aumentou, a guerra estancou nos arredores da cidade de Abadan.2
Quando dois dos principais fornecedores de petróleo partem para a guerra, o restante do mundo tem de tomar partido, mas, quando a guerra lança uma ditadura brutal contra uma teocracia fanática, é difícil decidir que lado tomar. Entretanto, sob o ponto de vista puramente prático, era mais fácil se alinhar com ditadores corruptos porque eles geralmente são mais propensos a entrar num acordo. Durante a guerra Irã-Iraque, a maior parte do mundo preferiu ficar com o Iraque. Os países muçulmanos, de governo centrista, tais como o Egito, o Paquistão e a Arábia Saudita, ajudaram abertamente o Iraque, assim como os soviéticos, que eram os tradicionais patrocinadores desse país durante a Guerra Fria. Os Estados Unidos ajudaram o Iraque com equipes de inteligência e empenharam a marinha norte-americana na defesa do fluxo de petróleo para fora do Iraque, e o fluxo de dinheiro e armamento para dentro daquele país.
A República Islâmica do Irã era um país por demais alucinado para ser apoiado abertamente por qualquer nação respeitável, mas muitas nações cooperaram às escondidas. Os Estados fora dos blocos, como Israel, África do Sul, Coreia do Norte e Líbia, por exemplo, apoiaram seu colega não alinhado fornecendo tecnologia e especialistas militares, em troca de dinheiro ou petróleo. O Irã também conseguiu auxílio secreto por parte das superpotências em troca de os iranianos usarem sua influência; no Afeganistão, com os perigosos muçulmanos fanáticos, por parte da Rússia, e com os libaneses, por parte dos americanos.3
Em maio de 1982, um contra-ataque iraniano restaurou a fronteira pré-guerra e mudou a direção do conflito. Nos poucos anos que se seguiram, os iranianos foram gradualmente penetrando mais fundo no Iraque, até que novamente a guerra empacou nos subúrbios de um importante objetivo, a cidade iraquiana de Basra.
Naquele momento, ambos os lados já estavam desesperados e travavam uma guerra mais suja do que de costume. Para aterrorizar a população inimiga, ambos os lados enviavam aviões e mísseis zunindo sobre as cidades, bem longe das linhas de frente. O Iraque bombardeou os soldados inimigos com gás que afetavam o sistema nervoso. Os iranianos se aproveitaram de seus efetivos superiores e da juventude fanaticamente religiosa para lançar ondas humanas contra as posições inimigas, na esperança de que alguns, não muitos, poderiam rompê-las.
O Irã lançou a Operação Kheiber, que significa “Aurora”, de meados de fevereiro até meados de março de 1984, para o controle da estratégica via fluvial Basra-Bagdá. Foi um preguiçoso e canhestro confronto de ataques frontais iranianos contra ataques a gás por parte dos iraquianos, que matou 20 mil dos primeiros e 6 mil dos segundos, mutilando e deixando cicatrizes em dezenas de milhares mais, tudo em menos de um mês.4
A última grande ofensiva foi a Batalha de Basra, que ficou sendo a mais sangrenta batalha já travada no mundo desde a Segunda Guerra Mundial. De dezembro de 1986 a abril de 1987, aproximadamente 50 mil iranianos e 8 mil a 15 mil iraquianos foram chacinados sem qualquer ganho para um dos lados.5
Nenhum desses esforços quebrou o impasse, apenas elevou esse conflito para se tornar a mais sangrenta guerra para soldados desde o Vietnã. Finalmente, em agosto de 1988, quando ficou claro que ninguém iria vencer, os dois países, exaustos, concordaram com um cessar-fogo negociado pelas Nações Unidas.