CAOS NA SOMÁLIA

Número de mortos: 500 mil1

Posição na lista: 70

Tipo: colapso do Estado

Linha divisória ampla: todo mundo versus todo mundo

Época: desde 1991

Localização: Somália

Estados com pequena participação: Estados Unidos e Etiópia

Principal Estado participante: Somália

Quem geralmente leva a maior culpa: chefes tribais guerreiros

Outra praga: a guerra civil africana

Quando um levante militar na Somália, em janeiro de 1991, expulsou do poder o ditador Mohamed Siad Barre, o último governo efetivo do país caiu com ele. Na Somália as pessoas se identificam mais com seus clãs do que com seu país, e o país logo se fragmentou em territórios frouxamente unidos, governados por chefes tribais guerreiros. A economia foi parando, e bandos armados se apoderavam de todos os suprimentos alimentares disponíveis, deixando à mingua a população desarmada. Depois de cerca de 50 mil pessoas terem sido mortas em combates e outras 300 mil de inanição, as Nações Unidas negociaram um cessar-fogo em março de 1992, entre os principais chefes tribais, a fim de mandar alimentos para o país.

Uma força de paz multinacional, constituída principalmente de americanos, chegou em dezembro de 1992 para guardar os alimentos que estavam sendo importados pelas instituições de caridade internacionais. Em outubro de 1993, uma unidade de tropas americanas foi encurralada e destroçada em Mogadíscio, enquanto tentava capturar seguidores do chefe tribal Mohamed Farrah Aidid. No grande fluxo da história, aquele foi um combate de pouca importância, mas fez a liderança americana ficar tão envergonhada que os Estados Unidos evitaram ao máximo intervir no genocídio de Ruanda no ano seguinte. Os americanos se retiraram do país em 1994, e as Nações Unidas no ano seguinte.2

Uma nova onda de combates irrompeu em 1996, mas depois de o general Aidid ter sido morto, os três mais importantes chefes tribais concordaram com um cessar-fogo mútuo. Fora dos territórios dos chefes tribais, a asa norte do país conseguira estabilidade como duas novas nações independentes, Puntland e Somalidândia, embora ninguém as tivesse reconhecido oficialmente como tais.

Anos de guerra haviam deixado Mogadíscio saqueada, esfrangalhada, e muitos de seus 1,2 milhão de habitantes viviam em prédios destruídos e barracas. Havia muito tempo que as escolas e o comércio não funcionavam. A maioria dos jovens só conseguia emprego como micilianos dos chefes tribais, trocando sua força por comida e khat, o narcótico local. Homens armados roubavam, estupravam e matavam facilmente, sem quaisquer consequências.3 O país tornou-se também um santuário seguro para piratas, que sequestravam navios trafegando pelo Canal de Suez.

Os chefes tribais surgiam e desapareciam, e presumivelmente se engajavam em rivalidade que tinham importância para os participantes, mas que nunca chamavam a atenção dos que estavam por fora do processo.

Sempre que alguém tenta diferenciar aqueles vários chefes, eles são geralmente classificados pelo grau de fundamentalismo islâmico que querem impor ao país. Em 2006, tropas etíopes ocuparam Mogadíscio a fim de lá instalar um governo nacional aprovado pela ONU, mas a ação pouco mais fez do que criar outra facção local ineficaz.

Número de mortos

A única estimativa séria existente gira em torno do relatório da ONU, de que 350 mil pessoas morreram no primeiro ano e meio do caos. Conforme os combates continuaram, ficou patente que o número crescente de mortos estava deixando para trás aquela antiga estimativa. Quando o cálculo foi atualizado, os repórteres aumentaram o número por conta própria, de modo que ficou cada vez mais comum sugerir vagamente que meio milhão a 1 milhão de pessoas possam ter morrido.