IDI AMIN
Número de mortos: 300 mil1
Posição na lista: 96
Tipo: déspota
Linha divisória ampla: Idi Amin versus todo mundo
Época: 1971-79
Localização e principal Estado participante: Uganda Participantes de menor importância: Tanzânia e Líbia
Quem geralmente leva a maior culpa: Idi Amin
Idi Amin era um homem enorme, com 1,90 de altura e 120 quilos, mas quase não sabia ler nem escrever. Campeão de boxe e soldado profissional até a medula, Amin foi subindo na hierarquia do exército colonial britânico até tornar-se chefe do estado-maior do exército do primeiro presidente eleito de Uganda, Milton Obote. Amin era geralmente considerado um brutamontes jovial, com muito pouca imaginação para representar uma ameaça. Como era oriundo de uma tribo insignificante do Sudão, ele não tinha as ligações necessárias para causar muitos problemas.
Em janeiro de 1971, Amin se apoderou do poder com um golpe de Estado, exatamente quando o presidente Obote pensava se livrar dele.
Quase imediatamente, Amin expurgou o exército de elementos das tribos acholi e langi, que formavam o núcleo de apoio de Obote, matando cerca de 10 mil deles num exército que, para começar, já não era muito grande. Ao mesmo tempo substituiu os expurgados por homens de sua tribo sudanesa recrutados no norte de Uganda e do outro lado da fronteira, em territórios muçulmanos mais ligados por laços familiares a seu próprio povo.
Em 1972, Amin expulsou 70 mil ugandenses de descendência asiática, a maioria indianos, e confiscou suas propriedades. Embora fosse popular e temporariamente lhe trouxesse lucro, a medida destruiu a economia. Os ancestrais dos expulsos haviam sido levados para a África pelos britânicos para serem funcionários públicos civis, e formavam a espinha dorsal da classe média da nação.2
O ditador mudou o alinhamento internacional de Uganda, afastando os assessores britânicos e israelenses, e se aproximando da solidariedade dos países muçulmanos, e logo tropas líbias chegaram para dar sustento ao regime. Quando sequestraram um avião comercial israelense, em 1976, os terroristas palestinos encontraram um refúgio seguro no aeroporto ugandense de Entebbe. Enquanto Amin aproveitava o feito para posar como o centro das atenções de uma crise internacional, os comandos israelenses invadiram o aeroporto e salvaram os reféns.
É claro, nada disso constitui razão para que Idi Amin tenha se tornado o líder mais cruel do Terceiro Mundo. Nós todos conhecemos Idi Amin porque ele atraía os holofotes bancando o palhaço. Durante a crise internacional da década de 1970, a imprensa mundial sempre podia contar com um ultrajante comentário partido de Uganda. O ditador aconselhou os países árabes a enviarem pilotos camicases contra Israel, e ofereceu ao presidente Richard Nixon seus sinceros votos para uma “rápida recuperação” depois do escândalo de Watergate. Desafiou o presidente de um país vizinho para uma luta de boxe, a fim de resolver uma disputa de fronteiras. Concedeu a si próprio a Cruz da Vitória, uma importante condecoração britânica, e se apresentou como voluntário para ser rei da Escócia. Até mesmo o boato de que ele era canibal foi tratado mais como uma piada fascinante do que uma violação de direitos humanos. Entre os títulos que concedeu a si mesmo estavam o de “Senhor de todos os Animais da Terra e Peixes do Mar” e de “Conquistador do Império Britânico”, mas seu favorito era Dada, “Grande Papai”.3
Durante todo o tempo, Idi Amin manteve um regime tirânico, entre os mais brutais da história. Cadáveres eram atirados no rio Nilo porque não se podiam cavar sepulturas na velocidade requerida para conter todas as vítimas. Em certo momento, o descarte mostrou-se até mesmo demasiado para os crocodilos, e corpos inchados flutuando entupiram a principal usina hidrelétrica do país, interrompendo o fornecimento de eletricidade. Seu círculo mais íntimo nunca se estabilizava, e ele promovia e expurgava assessores e esposas com caprichosa rapidez. Os prisioneiros eram forçados a se entredevorar, a fim de se manterem vivos.
Finalmente, quando Uganda se tornou pobre demais para ser saqueada, Amin enviou seu exército contra a Tanzânia, a fim de pilhar as terras fronteiriças em disputa. O exército tanzaniano reagiu em massa, invadindo Uganda e expondo a verdade sobre o regime. Perto do palácio favorito de Amin, na sede da Agência de Pesquisa Estatal, isto é, sede da polícia secreta, foram encontrados “vinte a trinta cadáveres espalhados num aposento, em vários estados de putrefação e mutilação. Quase todos mostravam sinais de tortura e o chão estava coberto de manchas de sangue”. Prisioneiros em farrapos, alquebrados, foram libertados das prisões. Foram cavadas covas de execução coletiva, mostrando crânios esmagados por coronhadas, braços e pernas amarrados, crianças empaladas em estacas.4
Nesse ínterim, Amin escapou para a Líbia, depois foi para a Arábia Saudita, onde viveu numa confortável aposentadoria até sua morte, em 2003.5