O VIETNÃ PÓS-GUERRA
Número de mortos: 365 mil1
Posição na lista: 91
Tipo: expurgo ideológico
Linha divisória ampla: comunistas versus ex-anticomunistas
Época: 1975-92
Localização e principal Estado participante: Vietnã
Quem geralmente leva a maior culpa: o governo comunista do Vietnã unificado, piratas malaios
Outro culpado: a república popular insana
A pergunta irrespondível que todo mundo faz: Isso significa que os americanos estavam certos ao intervir no Vietnã e errados ao sair?
Nos dias caóticos que precederam a queda de Saigon, os americanos conseguiram evacuar 175 mil aliados vietnamitas que teriam sido os alvos mais óbvios de retaliação: funcionários públicos, oficiais do exército e crianças birraciais. Mas, mesmo com tantos resgatados, o novo governo comunista encontrou um número enorme de sul-vietnamitas suspeitos de estarem americanizados e que deveriam receber tratamento adequado. Funcionários públicos, professores, ex-oficiais, namoradas e estudantes receberam ordem de se apresentarem para um seminário em campos de reeducação especiais.
A provação não passou tão rápido como prometido. Eles deveriam ficar em quarentena, isolados na nova sociedade e convertidos em marxistas leais. Os campos funcionavam sob uma espécie de fervor religioso dedicado a transformar esses casos difíceis em cidadãos-modelo, mas primeiro eles teriam de ficar alquebrados, geralmente por meio de tortura, trabalho excessivo, fadiga e fome. Muitos foram mantidos nos campos por 10 a 15 anos, sob um regime de trabalhos forçados e rações escassas. A disciplina era severa. Os tornozelos e pulsos dos prisioneiros ficavam marcados de cicatrizes de correntes e algemas.
“Um tenente-coronel tentou escapar do campo de reeducação de Lang Son subornando um dos guardas”, descreveu uma testemunha. “Seu plano foi descoberto; ele recebeu um tiro numa perna e foi apanhado. No dia seguinte, o fugitivo foi enterrado vivo. Morreu em quatro dias.”2
Quase 1 milhão de pessoas passou por esses campos, onde provavelmente 65 mil pessoas foram executadas, e outras 100 mil morreram de negligência, doença ou excesso de trabalho. Esses campos de reeducação foram fechados durante uma anistia geral em 1992, e milhares de prisioneiros que haviam sido mantidos ali por 17 anos completos foram finalmente libertados.
O povo dos barcos
Defrontados com os novos e implacáveis governantes, muitos vietnamitas tentaram fugir do país. Eles usavam o dinheiro à mão para subornar funcionários e comprar qualquer barco disponível, muitos praticamente sem condições navegáveis, bons talvez para fazer a viagem de ida, e muitas vezes nem isso. Refugiados políticos constituíam apenas uma parte do êxodo. Quando estourou uma guerra de fronteira entre a China e o Vietnã, em 1979, Hanói perseguiu fortemente todos os vietnamitas de ascendência chinesa, como suspeitos traidores.
Provavelmente 1 milhão de pessoas fugiram do Vietnã de barco em apenas alguns anos, e cerca de um quarto dessas morreu no mar.3 Elas ficavam à deriva sob o sol inclemente em barcos fazendo água, afundando lentamente, muitas vezes sem comida ou água. Os mortos eram lançados ao mar.
À parte dos perigos ordinários do oceano, os refugiados embarcados sofriam perigo nas mãos dos humanos. As nações vizinhas não os queriam. As guardas costeiras locais os escorraçavam de volta para o mar aberto, e grupos de segurança privada os atacavam quando tentavam desembarcar nas praias estrangeiras. Muitos barcos foram sequestrados por piratas malaios. Os bens dos refugiados eram roubados, as mulheres, estupradas, e os homens, espancados.
A maioria dos que escapavam pelo mar foi para a Malásia, Hong Kong, Indonésia e Filipinas, como primeira parada, onde ficavam aguardando em campos de refugiados, esperando serem aceitos por países mais ricos. O maior número foi reassentado nos Estados Unidos, com a França e a Austrália também recebendo muitos milhares.4
No final da década de 1980, outra onda de refugiados fugiu do Vietnã pelo mar. Infelizmente, dessa vez, o mundo rotulou esses fugitivos de refugiados econômicos, e não de refugiados políticos. Eles foram considerados um incômodo e não receberam muita simpatia geral.
Num incidente ocorrido em 1989, “sete piratas armados com carabinas e marretas assaltaram o barco de refugiados, que saíra do Vietnã no dia 14 de abril, com mais de 130 pessoas a bordo, inclusive vinte crianças… Os piratas fuzilaram e mataram os dois pilotos do barco e estupraram a maioria das 15 ou vinte mulheres e meninas a bordo. Depois tocaram fogo na embarcação. No pânico que se seguiu, muitos refugiados agarraram boias, latões de combustível e salva-vidas e se jogaram no mar… Os piratas usaram paus para evitar que os refugiados se agarrassem a objetos flutuantes”. Houve apenas um sobrevivente, que foi levado pelas correntes sobre tábuas que boiavam.5