A GUERRA CIVIL MOÇAMBICANA
Número de mortos: 800 mil1
Posição na lista: 55
Tipo: guerra civil ideológica
Linha divisória ampla: Frelimo versus Renamo
Época: 1975-92
Localização e principal Estado participante: Moçambique
Estado participante de menor importância: África do Sul
Principal não Estado participante: Renamo
Quem geralmente leva a maior culpa: Renamo
Outra praga: a guerra civil africana
Amaioria dos europeus largou suas colônias africanas entre 1955 e 1965, depois do que o último e teimoso bastião do domínio branco na África ficou sendo um grupo de países ao sul; os regimes de apartheid da África do Sul e da Rodésia, encravadas entre as colônias portuguesas de Angola e Moçambique.
Uma coalizão ampla de rebeldes dentro da África oriental portuguesa organizou a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), em 1962. Eles mantiveram a pressão sobre o governo português com uma guerra civil usando guerrilheiros instalados no interior, a qual durou 12 anos, na esperança de que os imperialistas por fim desistiriam e voltariam para casa.
Em 1974, um golpe em Lisboa substituiu a ditatura militar de Portugal por democratas, e no ano seguinte o novo governo concedeu a independência às colônias ultramarinhas de Portugal. A Frelimo assumiu o controle do país, depois do que o governo declarou-se comunista e cultivou o apoio dos soviéticos. Agora Moçambique tornara-se um refúgio e um centro de treinamento da luta de rebeldes contra os regimes vizinhos adeptos do apartheid.
Em retaliação, a Rodésia e a África do Sul organizaram e armaram grupos marginais, gente insatisfeita e dissidentes de todos os tipos, formando uma nova organização rebelde, o Movimento de Resistência Moçambicano (Renamo). O Renamo não tinha uma ideologia ou objetivos políticos unificados senão a derrubada da Frelimo. A liderança do Renamo vinha de “autoridades tradicionais e ia até a sua sorte, isto é, chefetes, curandeiros, feiticeiros, médiuns que evocam espíritos, enquanto a Frelimo fundamentava-se num milênio panético, socialista. A mágica desempenhava um papel essencial em manter o espírito batalhador do Renamo. Se seus guerreiros esfregassem o corpo com ervas, as balas da Frelimo se ‘transformariam em água’”.2 O apoio das fileiras mais baixas vinha de camponeses que entregavam qualquer pequeno pedaço de terra que possuíam para ir trabalhar nas fazendas coletivas.
O Renamo tentou desestabilizar o governo aterrorizando civis e prejudicando a economia. Os rebeldes destruíram pontes e usinas elétricas, levando caos ao país. Até pior, seus ataques contra a população em geral visavam maximizar o terror. Muitas vezes os habitantes dos vilarejos tinham as orelhas, os lábios e o nariz cortados, e depois eram soltos para servir de alerta para os outros. Em 1988, um relatório do Departamento de Estado dos Estados Unidos calculou que o Renamo havia ostensivamente assassinado 100 mil pessoas nos meados de 1980, com sortidas, sequestros e fuzilamentos aleatórios. Suas atrocidades empurraram 1 milhão de refugiados para o exílio em outros países, e deixaram outros 3,5 milhões deslocados internamente.3
Depois de anos de guerra, o Banco Mundial classificou Moçambique como o país mais pobre do mundo, não o segundo ou o terceiro, não “entre os mais pobres”, mas sim o último, mesmo.4 Em 1990, começaram as conversações entre os dois lados, e logo depois disso a Rússia comunista e a África do Sul do apartheid foram jogadas na lata do lixo da história.a Isso deixou Moçambique entregue inteiramente à própria sorte, não mais um peão em lutas maiores. Sem patrocinadores para lhes fornecer munição, os dois lados concordaram com um cessar-fogo em 1992. A Frelimo foi confirmada no poder por eleições multipartidárias realizadas em outubro de 1994, enquanto o Renamo emergiu como um legítimo partido de oposição, com um surpreendente apoio popular.
a A Rodésia, governada por brancos, já virara o Zimbábue, governado por negros, em 1979.