Capítulo 2

O método fácil

Ao contrário do que acontece com os métodos tradicionais para parar, este livro tem como objetivo fazer com que você – em vez de começar com a sensação de que está escalando o monte Everest e de que vai passar as próximas semanas louco por um cigarro e morrendo de inveja dos outros fumantes – já dê o primeiro passo com um sentimento de euforia, como se tivesse sido curado de uma terrível doença. Daí em diante, à medida que você avançar pela vida afora, vai olhar para os cigarros e ficar imaginando por que fumava. Você vai olhar para os fumantes com pena e não com inveja.

Se você não é um não-fumante ou um ex-fumante, é essencial que continue a fumar até ter completado a leitura deste livro. Isso pode parecer uma contradição. Mais tarde vou lhe mostrar que o cigarro não faz absolutamente nada por você. Na verdade, um dos muitos enigmas sobre o tabagismo é que, quando estamos fumando, nós olhamos para o cigarro e ficamos pensando por que estamos fazendo aquilo. Somente quando somos impedidos de fumar é que ele se torna tão precioso. Entretanto, vamos considerar que, gostando ou não do cigarro, você acredita que está viciado. E quando você tem essa convicção, nunca se sente completamente relaxado, ou nunca consegue concentrar-se direito, a não ser que esteja fumando. Por isso, não tente parar de fumar antes de terminar o livro. À medida que for lendo, o seu desejo de fumar irá diminuir gradativamente. Não tente avançar sem estar totalmente pronto. Isso pode ser fatal. Lembre-se: tudo o que você precisa fazer é seguir as instruções.

Desde que lancei o livro, essa instrução para continuar fumando até terminar a leitura foi a que mais frustrações me causou. Logo que parei de fumar, muitos de meus parentes e amigos também pararam, simplesmente porque eu tinha conseguido. Eles devem ter pensado: “Se ele conseguiu, qualquer um consegue.” Com o passar dos anos, fazendo um comentário aqui e outro ali, consegui fazer com que os que não haviam parado percebessem como era bom ser livre! Quando o livro foi publicado pela primeira vez, ofereci exemplares aos cabeças-duras que ainda insistiam em fumar. Eu achava que, ainda que fosse o livro mais chato do mundo, eles o leriam porque fora escrito por um amigo. Fiquei surpreso e magoado ao saber que, meses depois, eles não tinham se dado ao trabalho de chegar ao final. Descobri até mesmo que um exemplar que eu havia autografado e oferecido ao meu melhor amigo não apenas tinha sido ignorado, mas fora dado a outra pessoa. Fiquei chateado na época porque não levei em consideração o terrível medo que a escravidão do tabaco gera no fumante. Ele pode transcender a amizade. E até levar ao divórcio. Minha mãe disse um dia à minha mulher: “Por que você não ameaça abandoná-lo se ele não parar de fumar?” Minha mulher respondeu: “Porque ele me largaria se eu fizesse isso.” Tenho vergonha de admitir, mas ela estava com a razão, tal era o medo provocado pelo fumo.

Hoje compreendo que os fumantes não terminam o livro porque sentem que terão de parar de fumar quando chegarem à última página. Alguns lêem num ritmo bem lento de propósito, para adiar o temido dia D. Sei que muitos fumantes estão sendo importunados por aqueles que os amam para que leiam este livro. Pense nisso da seguinte maneira: o que você tem a perder? Se não parar de fumar ao chegar à última página, não estará numa situação pior do que agora. VOCÊ NÃO TEM ABSOLUTAMENTE NADA A PERDER E TEM MUITO A GANHAR! Aliás, se você já não acende um cigarro há alguns dias ou semanas e não tem certeza se é um fumante, um ex-fumante ou um não-fumante, não fume enquanto estiver lendo. Na verdade, você já é um ex-fumante. Tudo o que precisamos fazer agora é permitir que o seu cérebro acompanhe o seu corpo. Até terminar o livro você será um não-fumante feliz.

Basicamente, meu método é o extremo oposto do método convencional de parar de fumar. O método normal é fazer uma lista das consi deráveis desvantagens do cigarro e dizer: “Se eu puder ficar o tempo suficiente sem um cigarro, com o correr dos dias o desejo de fumar irá desaparecer. Poderei desfrutar a vida outra vez, livre da escravidão do vício.”

Essa é a maneira lógica de lidar com a questão, e milhares de fumantes estão parando todos os dias utilizando variações desse método. Entretanto, não é fácil obter sucesso com ele pelas seguintes razões:

  1. Parar de fumar não é o verdadeiro problema. Todas as vezes que apagamos um cigarro, paramos de fumar. Você pode ter boas razões para dizer no primeiro dia: “Não quero mais fumar” – todo fumante as tem todos os dias de sua vida, e essas razões são muito mais poderosas do que você imagina. A maior dificuldade é enfrentar o segundo dia, o décimo dia, o milésimo dia, quando, num mo mento de fraqueza, de euforia ou de uma emoção forte, você fuma um cigarro. E como o problema é, em parte, um vício numa droga, você deseja mais um cigarro e, de repente, volta a ser um fumante.
  2. Os medos em relação à saúde deveriam nos impedir de fumar. O lado racional da nossa mente diz: “Pare de fumar. Você é um tolo.” Mas, na verdade, esses medos fazem com que seja mais difícil parar. Nós fuma mos, por exemplo, quando estamos nervosos. Diga a um indivíduo que fumar o está matando e a primeira coisa que ele fará é acender um cigarro. Há muito mais guimbas de cigarro do lado de fora de um centro de tratamento de câncer do que em qualquer outro hospital.
  3. Todos os motivos para parar de fumar acabam tornando mais difícil abandonar o cigarro por duas razões. Em primeiro lugar, eles criam uma sensação de sacrifício. Estamos sempre sendo forçados a abrir mão do nosso amigo, suporte, vício ou prazer, seja lá como for que o fumante veja o cigarro. Em segundo lugar, eles criam um “véu” que deturpa os fatos. Nós não fumamos pelos motivos que de viam nos levar a parar. A verdadeira questão é: “Por que desejamos ou precisamos fumar?”

O método fácil resume-se basicamente em esquecer os motivos pelos quais gostaríamos de parar de fumar, enfrentar o problema do cigarro e perguntar a nós mesmos o seguinte:

  1. O que o cigarro está fazendo por mim?
  2. Eu realmente tenho prazer em fumar?
  3. Eu preciso passar o resto da vida pagando caro para colocar essa coisa na minha boca e sufocar a mim mesmo?

A verdade é que o cigarro não faz nada por você. Vamos esclarecer bem: eu não estou afirmando que as desvantagens de ser fumante são maiores que as vantagens. Todo fumante passa a vida ouvindo isso. O que eu quero dizer é que não existe nenhuma vantagem em fumar. A única vantagem que o cigarro porventura já ofereceu foi aquele “algo mais” diante das pessoas; mas, hoje em dia, até mesmo os fumantes sabem que fumar é um hábito anti-social.

Muitos fumantes acham necessário racionalizar os motivos que os levam a fumar, mas não passam de falácias e ilusões. E a primeira coisa que vamos fazer é desmascarar essas mentiras. De fato, você vai perceber que não há nada do que abrir mão. E, por outro lado, há ganhos notáveis em ser um não-fumante, sendo que saúde e dinheiro são apenas dois deles. Tão logo você se dê conta de que a vida é infinitamente mais agradável sem o cigarro, tão logo se livre da sensação de estar sendo privado ou de estar perdendo alguma coisa, retomaremos a questão da saúde e do dinheiro – e as dúzias de outras razões para parar de fumar. Essas descobertas serão pontos positivos para ajudar você a alcançar o que realmente deseja: poder aproveitar a vida livre da escravidão do tabagismo.