Capítulo 4
A armadilha sinistra
Fumar é a armadilha mais sutil e sinistra que o homem e a natureza já criaram em conjunto. Mas o que nos faz cair nela? Pense nos milhões de adultos que fumam. Eles até nos avisam que é um péssimo hábito, que acabará nos destruindo e nos custando uma fortuna, mas não conseguimos acreditar que não apreciem realmente o cigarro. Um entre os muitos aspectos patéticos de fumar é o fato de precisarmos nos esforçar tanto para nos tornarmos viciados.
Essa é a única armadilha que não tem uma isca, nenhum pedaço de queijo. O que a faz funcionar não é o fato de o cigarro ter um sabor maravilhoso, mas sim um gosto horroroso. Se fumar aquele primeiro cigarro fosse agradável, ouviríamos um sinal de alerta e, como seres inteligentes que somos, poderíamos entender por que metade da população adulta paga tão caro pelo privilégio de envenenar a si mesma. Mas como ele tem um gosto terrível, nossas mentes ainda jovens têm a certeza de que jamais nos tornaremos viciados. Achamos que, como não estamos gostando de fumar, poderemos parar no instante em que desejarmos.
O cigarro é a única droga na natureza que nos impede de alcançar o nosso objetivo. Os meninos em geral começam a fumar porque querem parecer “durões” – como Humphrey Bogart ou Clint Eastwood. Mas se há um sentimento que o primeiro cigarro não provoca é o de sentir-se “durão”. Você não ousa tragar e, se fumar demais, começa a se sentir tonto e enjoado. Tudo o que você quer é fugir dos outros meninos e jogar fora aquela coisa nojenta.
Já as mulheres buscam transmitir uma imagem sofisticada e moderna. Todos nós já vimos meninas dando pequenas baforadas num cigarro, parecendo completamente ridículas. Quando os meninos finalmente aprenderem a parecer “durões” e as meninas, sofisticadas, todos eles já estarão desejando que nunca tivessem começado. Fico me perguntando se as mulheres chegam mesmo a parecer sofisticadas quando fumam ou se é apenas uma ilusão criada pela propaganda de cigarros.
Depois, passamos o resto da vida tentando explicar a nós mesmos por que fumamos, dizendo aos nossos filhos que não caiam na armadilha e, nos momentos difíceis, tentando escapar dela.
A armadilha é planejada de forma a nos levar a tentar parar somente quando enfrentamos situações estressantes, seja em relação à saúde, à falta de dinheiro ou simplesmente ao fato de nos sentirmos marginalizados por fumar.
Assim que paramos, enfrentamos um estresse maior (o sofrimento da crise de abstinência da nicotina) e não podemos mais usar aquilo em que confiávamos (nossa velha muleta, o cigarro) para nos livrar dessa tensão.
Após alguns dias de tortura, decidimos que escolhemos a hora errada de parar. É melhor aguardar um período sem estresse. É claro que esse dia nunca vai chegar porque, em primeiro lugar, achamos que nossas vidas tendem a se tornar cada vez mais difíceis. À medida que vamos abrindo mão da proteção de nossos pais, o caminho mais natural é montar uma casa, lidar com financiamentos e hipotecas, filhos, trabalhos que exigem mais responsabilidade, etc. Mas isso também é uma ilusão. A verdade é que os períodos mais estressantes para qualquer criatura são a infância e o início da adolescência. Costumamos confundir responsabilidade com estresse. A vida dos fumantes se torna automaticamente mais estressante porque o tabaco não relaxa nem alivia as tensões, ao contrário do que a sociedade tenta nos fazer crer. É exatamente o oposto: ele nos deixa mais nervosos e estressados.
Até os fumantes que se livraram do hábito (muitos conseguem, uma ou mais vezes durante a vida) podem viver perfeitamente felizes e, de repente, voltar a ser viciados.
Fumar é como vagar por um gigantesco labirinto. Assim que entramos nele, nossas mentes tornam-se nubladas e obscurecidas, e passamos o resto da vida tentando escapar. Muitos acabam conseguindo, somente para descobrir que vão cair novamente na armadilha no futuro.
Passei 33 anos tentando fugir desse labirinto. Como todos os fumantes, eu não conseguia entendê-lo. No entanto, por uma combinação de circunstâncias incomuns – nenhuma delas revelando qualquer ponto a meu favor –, eu desejava saber por que havia sido tão desesperador abrir mão do cigarro anteriormente e por que, quando consegui parar, não só foi fácil como também agradável.
Desde que larguei o cigarro, o meu hobby e, mais tarde, a minha profissão têm sido resolver os muitos enigmas associados ao tabagismo. É um quebra-cabeça fascinante e complexo e, como o Cubo Mágico, praticamente impossível de resolver. Entretanto, como todos os quebra-cabeças complicados, se você souber a solução, ele se torna fácil! Eu tenho a solução para parar de fumar. Vou conduzi-lo através do labirinto e garantir que nunca mais vagará por ele. Tudo o que você precisa fazer é seguir as instruções. Se virar para o lado errado, o restante dos ensinamentos perderá o sentido.
Gostaria de enfatizar que qualquer pessoa pode achar fácil abrir mão do cigarro, mas primeiro precisamos estabelecer os fatos. Não, eu não estou falando de fatos ameaçadores. Sei que você já tem consciência deles. O mundo está cheio de informações sobre os malefícios do fumo. Se isso pudesse fazê-lo parar, você já estaria livre do cigarro. A questão é: por que achamos difícil parar? Para descobrir a resposta, precisamos saber a verdadeira razão pela qual ainda estamos fumando.