Capítulo 27

Um hábito social?

A principal razão para a existência de mais de 15 milhões de exfumantes na Inglaterra desde os anos 1960 é a revolução social que está acontecendo.

Sim, já sei: a saúde e logo depois o dinheiro são as principais razões pelas quais devemos parar de fumar, mas foi sempre assim. Nós não precisamos nos sentir ameaçados pelo câncer para saber que o cigarro destrói a nossa vida. Nossos corpos são as criações mais sofisticadas do planeta e qualquer fumante sabe de imediato, desde a primeira baforada, que o cigarro é um veneno.

O único motivo pelo qual nos envolvemos com o cigarro é a pressão social de nossos amigos. A única vantagem que o cigarro já teve algum dia foi o fato de, em determinada época, ter sido considerado um hábito social aceitável.

Hoje ele é considerado, até pelos que fumam, um hábito anti-social.

Nos velhos tempos, o homem forte fumava. Se você não fumasse, era considerado um maricas. Todos nós nos esforçávamos muito para desenvolver o vício. Em todos os bares ou clubes, a maioria dos homens estava tragando com orgulho o seu tabaco. Havia uma nuvem permanente sobre a cabeça das pessoas e os tetos que não eram pintados regularmente logo assumiam uma tonalidade amarela ou marrom.

Hoje a situação está completamente mudada. Os homens fortes não precisam fumar. O homem forte atual não depende de nenhuma droga.

Com a revolução social, os fumantes estão pensando seriamente em parar e são considerados seres humanos fracos.

A tendência mais significativa que já observei desde que escrevi a primeira edição deste livro, em 1985, é a ênfase crescente no aspecto anti-social do tabagismo. O tempo em que o cigarro era um símbolo da mulher sofisticada e do homem “machão” se foi para sempre. Todos agora sabem que o único motivo pelo qual as pessoas continuam fumando é o fato de não conseguirem parar ou de terem medo de tentar. Todos os dias, o fumante é exposto ao ridículo por proibições no escritório e em lugares públicos, ou por ataques de ex-fumantes que se consideram mais virtuosos que o resto da população. Isso mostra que os maneirismos dos fumantes estão mudando. Tenho presenciado situações que eram comuns nos meus tempos de menino, mas que eu não via há muitos anos – como fumantes jogando a cinza nas mãos ou bolsos por terem vergonha de pedir um cinzeiro.

Há alguns anos, eu estava num restaurante, era meia-noite e todos já haviam parado de comer. Num momento em que cigarros e charutos costumam ser abundantes, ninguém estava fumando. Presunçosamente, imaginei: “Estou começando a causar algum impacto nas pessoas.” Então perguntei ao garçom: “É proibido fumar neste restaurante?” Ele disse que não. Pensei: “Que coisa estranha. Sei que muitas pessoas estão parando de fumar, mas deve haver pelo menos um fumante aqui.” Alguém acabou acendendo um cigarro num canto do salão e o resultado foi uma série de luzes piscando por todo o restaurante. Todos aqueles fumantes estavam ali sentados, imaginando: “Não é possível que eu seja o único fumante aqui dentro.”

Atualmente, muitos indivíduos não se sentem à vontade para fumar. Muitos não apenas pedem desculpas, mas também olham ao redor para ver se há outras pessoas que possam reclamar. Como, a cada dia, mais e mais fumantes abandonam o navio que está afundando, os que nele permanecem têm muito medo de serem os últimos.

NÃO PERMITA QUE O ÚLTIMO SEJA VOCÊ!