Capítulo 28
O momento certo
Além de ser óbvio que, uma vez que o cigarro não traz nada de bom para você, agora é a hora de parar, creio que é importante encontrar o momento certo. Nossa sociedade trata o tabagismo com uma certa leviandade, como se fosse um hábito ligeiramente desagradável que pode prejudicar a sua saúde. Não é nada disso. É um vício em uma droga, uma doença, o assassino número um na sociedade. A pior coisa que acontece na vida da maioria dos fumantes é a dependência dessa terrível erva. Se continuarem viciados, poderão sofrer conseqüências terríveis. Descobrir o momento de parar é crucial para que você tenha direito a uma cura adequada.
Em primeiro lugar, identifique as horas ou ocasiões em que fumar parece ser fundamental. Se você é um homem de negócios e fuma pela ilusão de que isso alivia o estresse, escolha um período de menos agitação para parar. Uma boa idéia seria parar nas férias. Se você fuma mais em momentos relaxantes ou monótonos, faça o oposto. De qualquer maneira, leve o assunto a sério, fazendo dessa tentativa a coisa mais importante de sua vida.
Pense num período futuro de cerca de três semanas e tente imaginar qualquer acontecimento que possa levá-lo ao fracasso. Uma festa de casamento ou o Natal não são motivos para detê-lo, desde que você consiga antevê-los sem achar que vai se sentir privado de alguma coisa. Não tente reduzir o número de cigarros nesse meiotempo, pois isso só vai criar a ilusão de que o cigarro é agradável e estimular seu consumo. Enquanto estiver fumando aquele último cigarro, tome consciência do cheiro e do gosto horríveis e pense como será maravilhoso quando você se permitir parar de fumar.
FAÇA O QUE FOR, NÃO CAIA NA ARMADILHA DE APENAS DIZER “AGORA NÃO, MAIS TARDE”, TIRANDO O ASSUNTO DA CABEÇA. FAÇA SUA PROGRAMAÇÃO IMEDIATAMENTE E AGUARDE COM ALEGRIA O MOMENTO ESCOLHIDO. Lembre-se: você não está abrindo mão de nada. Muito pelo contrário – está prestes a obter vantagens maravilhosas.
Há muitos anos venho afirmando que conheço profundamente os mistérios do tabagismo. O problema é o seguinte: embora o fumante acenda um cigarro simplesmente para aliviar a dependência química da nicotina, não é o vício em nicotina que o aprisiona, mas a lavagem cerebral que resulta desse vício. Um indivíduo inteligente também cai no conto-do-vigário, mas somente um tolo continua caindo na mesma trapaça depois de se dar conta de que é uma trapaça. Felizmente, os fumantes, em sua maioria, não são tolos; eles apenas pensam que são. Cada fumante, individualmente, tem a sua própria lavagem cerebral. É por isso que parece haver uma variedade tão grande de tipos de fumantes, o que só serve para aumentar o mistério.
Depois de anos aprendendo todos os dias algo novo sobre o tabagismo e recebendo feedback dos leitores, tive a grata surpresa de perceber que a filosofia que propus na primeira edição deste livro continua válida. O conhecimento acumulado ao longo do tempo me ensinou a comunicar o que aprendi a cada fumante em particular. Saber que todo fumante pode não apenas achar fácil parar, mas também ter prazer nesse processo seria inútil e extremamente frustrante se eu não conseguisse fazer com que ele próprio percebesse isso.
Muitas pessoas já me disseram: “Você nos recomenda continuar a fumar até acabar de ler o livro. Isso faz com que o fumante leve séculos para terminar a leitura ou não a termine nunca. Por isso, acho que você deveria mudar essa instrução.” Esse argumento parece lógico, mas sei que, se a instrução fosse “Pare imediatamente”, alguns fumantes nem começariam a ler o livro.
Até hoje me lembro do desabafo de um fumante que veio me procurar nos primeiros tempos: “Eu realmente me sinto mal por ter de buscar sua ajuda. Sei que sou uma pessoa de grande força de vontade. Tenho controle sobre todas as outras áreas de minha vida. Por que outros fumantes conseguem parar usando sua força de vontade e eu tenho de vir até aqui?” E prosseguiu: “Acho que conseguiria parar sozinho, se pudesse continuar a fumar enquanto estivesse parando.”
Isso pode parecer uma contradição, mas entendi o que ele queria dizer. Nós achamos que parar de fumar é algo muito difícil. E do que precisamos quando temos de enfrentar uma dificuldade? Do nosso amigo de todas as horas. Então, parar de fumar parece ser um golpe duplo. Não apenas temos uma tarefa difícil a realizar, mas nossa muleta, com a qual contamos para atravessar essas ocasiões, não está mais ao nosso dispor.
Muito tempo depois de aquele homem ir embora é que percebi que a grande beleza do meu método está nessa instrução para não parar antes de terminar a leitura do livro. Você pode continuar a fumar enquanto enfrenta o processo de parar. Primeiro, livre-se de todas as dúvidas e medos e, ao apagar aquele último cigarro, já será um não-fumante e terá prazer em saber disso.
O único ponto que me fez questionar seriamente o meu conselho inicial foi este, sobre o momento certo. Eu disse algumas linhas acima que, se o seu cigarro especial é fumado em situações de estresse no es critório, você deveria optar pelas férias para tentar parar e vice-versa. Na verdade, essa não seria a maneira mais indicada de parar, e sim escolher aquela hora que você considera a mais difícil, seja ela ligada a estresse, eventos sociais, concentração ou tédio. Uma vez que você possa provar que consegue lidar com a vida e apreciála nas piores situações sem o cigarro, todas as outras se tornarão fáceis. Mas, se eu lhe desse explicitamente essa instrução, você ao menos tentaria parar?
Para que você entenda melhor, farei uma analogia. Minha mulher e eu fazemos natação. Nós chegamos à piscina na mesma hora, mas raramente nadamos juntos. Por quê? Porque ela, primeiro, mergulha um dedo do pé e só meia hora depois começa a nadar de verdade. Eu não agüento essa lenta tortura. Já sei que, em algum momento, por mais gelada que a água esteja, terei de enfrentá-la. Assim sendo, aprendi a fazer isso da forma mais fácil: mergulho na piscina de uma só vez. Se eu dissesse à minha mulher que, se ela não mergulhasse de uma só vez, não poderia nadar, tenho certeza absoluta de que ela acabaria abrindo mão da natação. Entendeu a situação?
Pelas respostas que tenho obtido, sei que muitos fumantes usaram o conselho que dei sobre o momento certo só para adiar aquele que, segundo imaginam, será o dia fatal. Minha idéia então foi usar o mes mo recurso do capítulo sobre as vantagens de fumar. Pensei em escrever algo como: “A hora certa é importante e vou orientá-lo sobre o melhor momento para a sua tentativa.” O leitor viraria a página e veria um imenso AGORA. Este é, de fato, o melhor conselho. Mas você o seguiria?
Pois esse é o aspecto mais sutil da armadilha do cigarro. Quando enfrentamos um estresse verdadeiro em nossas vidas, não é o momento de parar. E se não há nenhum estresse, não temos o desejo de parar.
Faça a si mesmo as seguintes perguntas:
Quando fumou seu primeiro cigarro, você realmente decidiu, naquele instante, que continuaria a fumar pelo resto da vida, o dia inteiro, todos os dias, sem jamais ser capaz de parar?
É CLARO QUE NÃO!
Você pretende continuar a fumar pelo resto da vida, o dia inteiro, todos os dias, sem jamais ser capaz de parar?
É CLARO QUE NÃO!
Então, quando você vai parar? Amanhã? No ano que vem? No ano seguinte?
Não é isso mesmo o que você vem se perguntando desde que percebeu que estava viciado? Você está esperando que um dia, ao acordar, simplesmente não tenha mais vontade de fumar? Pare de enganar a si mesmo. Passei 33 anos esperando que isso acontecesse comigo. O vício numa droga o deixa cada vez mais – e não menos – dependente. Você acha que vai ser mais fácil amanhã? Pois ainda está enganando a si mesmo. Se não é capaz de parar hoje, o que o faz pensar que amanhã será mais fácil? Você vai esperar até contrair uma daquelas doenças fatais? Isso não faria o menor sentido.
A verdadeira armadilha é a crença de que agora não é a hora certa – amanhã será sempre mais fácil.
Nós acreditamos que levamos vidas estressantes. Não levamos, não. Já retiramos de nossas vidas a maior parte do verdadeiro estresse. Quando você sai de casa, não tem medo de ser atacado por animais selvagens. Mas pense na vida de um coelho. Toda vez que sai da toca, por toda a vida, ele enfrenta uma guerra. Mas o coelho sabe lidar com essa guerra. Ele possui adrenalina e outros hormônios – assim como nós. A verdade é que os períodos mais estressantes da existência de qualquer criatura são a primeira infância e a adolescência. Mas três bilhões de anos de seleção natural nos equiparam para lidar com o estresse. Eu tinha cinco anos de idade quando a guerra começou. Fomos bombardeados e fiquei separado de meus pais por dois anos, alojado com pessoas que não me tratavam bem. Foi um período infeliz em minha vida, mas consegui lidar com ele. Não acredito que essa situação tenha me deixado cicatrizes permanentes; ao contrário, penso que fez de mim um ser humano mais forte. Quando faço um retrospecto da minha vida, vejo que só houve um ponto com o qual não consegui lidar: minha escravidão à amaldiçoada erva.
Alguns anos atrás, eu achava que tinha todas as preocupações do mundo. Eu me considerava um suicida – não porque quisesse pular da janela, mas porque sabia que o cigarro não demoraria a me matar. Costumava argumentar que, se aquilo era a vida com uma muleta, sem ela não valeria a pena viver. O que eu não percebia era que, quando estamos física e mentalmente deprimidos, tudo nos empurra para baixo. Hoje sinto-me jovem outra vez. Só uma coisa me fez mudar minha vida: pulei fora do poço do cigarro.
Sei que é um clichê afirmar que “se você não tem boa saúde, não tem nada”, mas é absolutamente verdade. Eu costumava pensar que os fanáticos pela boa forma eram uns chatos. Dizia que havia coisas mais importantes do que estar em forma – a bebida e o tabaco, por exemplo. Isso é uma grande besteira. Quando você se sente física e mentalmente forte, consegue aproveitar os altos e lidar com os baixos da vida. Costumamos confundir responsabilidade com estresse. A responsabilidade se torna estressante somente quando não nos sentimos fortes o bastante para lidar com ela. Homens como Richard Burton são física e mentalmente fortes. O que os destrói não é o estresse da vida, não é o trabalho, não é a velhice, mas as muletas a que recorrem, que não passam de meras ilusões. Infelizmente, no caso dele, assim como em milhões de outros, as muletas matam.
Veja a questão sob o seguinte aspecto: você já decidiu que não vai passar o resto da vida na armadilha. Portanto, em algum momento, achando fácil ou difícil, terá de passar pelo processo para libertar-se. Fumar não é um hábito nem um prazer. É um vício numa droga, uma doença. Nós já estabelecemos que parar amanhã não será mais fácil, e sim, progressivamente, mais difícil. Quando se tem uma doença que vai piorar a cada dia, o momento de se livrar dela é AGORA – ou o mais próximo do agora possível. Pense na rapidez com que cada semana de nossas vidas vem e vai. É só isso que você precisa fazer. Pense em como será agradável passar o resto da vida sem uma sombra cada vez mais obscura pairando sobre sua cabeça. E, se você seguir minhas instruções, não terá de esperar nem cinco dias. Depois que apagar o derradeiro cigarro, você não vai simplesmente achar fácil parar, VOCÊ VAI GOSTAR DE FAZÊ-LO!