Capítulo 38

Devo evitar situações tentadoras?

Até agora, tenho sido categórico e gostaria que meus conselhos fossem considerados instruções a serem seguidas, e não sugestões. Em primeiro lugar, porque existem razões práticas para esses ensinamentos e, em segundo lugar, porque essas razões têm sido comprovadas por milhares de casos estudados.

Lamento, porém, não poder afirmar com muita convicção se devemos ou não evitar situações tentadoras durante o período de abstinência. Cada fumante terá de decidir por si mesmo. Mas posso fazer algumas sugestões úteis.

Como já disse, é o medo que nos mantém fumando durante toda a vida, e esse medo tem duas fases distintas:

  1. “Como irei sobreviver sem um cigarro?”

    Os fumantes entram em pânico quando descobrem, tarde da noite, que seus cigarros estão quase acabando. Esse sentimento não é causado pela crise de abstinência. É o medo psicológico da dependência – você não pode viver sem um cigarro. Esse medo chega ao ápice quando você está fumando seu último cigarro. Porém, como está inalando nicotina, a crise de abstinência está no seu nível mais baixo.

    É o medo do desconhecido, o tipo de medo que as pessoas têm quando estão aprendendo a mergulhar. O trampolim só tem 30 centímetros de altura, mas parece ter 2 metros. A água tem 2 metros de profundidade, mas parece ter apenas 30 centímetros. É preciso coragem para pular. Você está convencido de que vai quebrar
    o pescoço. Lançar-se de cabeça é a parte mais difícil: se você tiver coragem para se jogar, o resto será fácil.

    Isso explica por que muitos fumantes que, em outras situações, demonstram ter grande força de vontade jamais tentam parar ou, quando tentam, só conseguem ficar algumas horas sem cigarro. Há fumantes que consomem em média vinte cigarros por dia, porém, ao tomar a decisão de parar, diminuem o intervalo entre os cigarros. Nem parece que resolveram abandonar o tabaco. A decisão de parar causa pânico, o que é muito estressante. Esse é um dos momentos em que o cérebro dispara a ordem “Fume um cigarro”. Mas agora você não pode fazer isso. Você está sendo privado da sua muleta, o que gera mais estresse. O gatilho dispara outra vez e você acaba acendendo um cigarro.

    Não se preocupe. O pânico é apenas psicológico. É o medo de ser dependente. A verdade é que você não é dependente, nem mesmo enquanto ainda está viciado em nicotina. Não entre em pânico. Apenas confie em mim e mergulhe de cabeça.
  2. A segunda fase acontece mais a longo prazo e está relacionada ao medo de que, no futuro, você não consiga aproveitar determinadas situações sem o cigarro, ou não seja capaz de lidar com um trauma sem ele. Não se preocupe. Se você mergulhar de cabeça, descobrirá que acontecerá exatamente o oposto.

Os fumantes podem ser divididos em duas categorias, dependendo do modo como evitam as tentações:

  1. “Vou manter meus cigarros à mão, embora não vá fumá-los, pois me sinto mais confiante sabendo que eles estão ali.”

    A taxa de insucesso entre as pessoas que agem assim é muito maior do que entre aquelas que se desfazem de seus maços. Isso
    ocorre principalmente porque, se o fumante passar por um mau momento durante a crise de abstinência, ele terá o cigarro ao seu alcance e será muito fácil acendê-lo. Se precisar sair para comprar um maço, terá uma boa chance de vencer a tentação. De qualquer maneira, até que ele chegue ao bar da esquina, os sintomas da síndrome de abstinência já terão desaparecido.

    Entretanto, acredito que o principal motivo de fracasso nesses casos seja o fato de o fumante não estar totalmente comprometido com a decisão de parar. Lembre-se de que os dois fatores essenciais para o sucesso são:

    • Ter certeza do que você está fazendo.

    • Pensar positivo: “Não é maravilhoso que eu não precise mais fumar?”



    Em qualquer desses casos, por que cargas-d’água você carregaria cigarros com você? Se ainda sente necessidade de ter um maço por perto, sugiro que releia este livro. Parece que alguma coisa não foi bem assimilada.
  2. “Devo evitar situações estressantes ou eventos sociais durante o período da crise de abstinência?”

    No que se refere às situações de estresse, sim, o melhor é evitá-las. Não faz sentido colocar-se sob uma pressão desnecessária.

    No caso dos eventos sociais, só tenho um conselho a dar: saia e divirta-se. Você não precisa do cigarro, mesmo enquanto está viciado em nicotina. Vá a festas e alegre-se com o fato de que parou de fumar. Você logo vai perceber que a vida é muito melhor sem o cigarro e será ainda melhor quando o pequeno monstro tiver saído de seu corpo, levando com ele todo aquele veneno.