Capítulo 21

O velho Fergus estava de guarda na porta do crannóg enquanto todos os homens estavam em volta da fogueira, aquecendo seus dedos congelados. As chamas dançantes lançavam uma luz caprichosa sobre cada uma das faces. Na longa mesa, Lìli discretamente balançava seu bebê recém-nascido, escutando com ansiedade seus discursos. Juntamente com o ancião Lachlann, Aidan, Lìli, Sorcha, Keane, Lael e Cameron discutiam o que estava por vir. Sorcha e Lael estavam de braços dados, gratas ao ver uma a outra depois de muitos anos, mas a atenção deles permanecia sobre seus irmãos. Por mais de duzentos anos os dún Scoti não tinham chamado a atenção para seu vale — por uma boa causa — e agora, o rei e seus homens estavam a caminho.

"Quantos vêm com ele?"

"Quinhentos homens, agora." Cameron MacKinnon forneceu essa informação. "Ele pretende se encontrar com mais duzentos depois que deixarmos o vale, e o resto vai se juntar a nós na Northumbria."

Keane, mais do que ninguém entendia que o próximo confronto na Northumbria não era a preocupação principal de Aidan. "Quinhentos homens do Rei irão se reunir aqui?" o irmão perguntou, seu tom claramente irritado. Seu olhar se focou em Keane, claramente considerando-o responsável.

"Eu o encorajei a renunciar a viagem," disse Keane. "Ele insistiu. O que você queria que eu fizesse?"

Os dois irmãos trocaram olhares, Aidan furioso e Keane resoluto. Ele conhecia bem os medos do seu irmão, mas que diferença faria agora?

"Todos nós sabemos que David mac Mhaoil Chaluim não vem aqui para prestar condolências," Aidan sugeriu. "Então, me diga, o que ele quer?" Ele estava mais zangado agora do que Keane jamais tinha visto — mais ainda do que no dia que Lael partiu do vale. O fato de que sua voz estava calma não escondia a sua fúria. Estava lá no brilho dos seus olhos de aço.

Seu irmão era o único homem para quem Keane tinha ajoelhado, mas não hoje. Desacostumado com a timidez de Keane em direção a alguém, Cameron mudou-se para difundi-la. "Eu acredito que o que ele quer é pedir para você aderir à luta. Se quisermos ter sucesso na Northumbria, precisamos de todos os homens disponíveis."

As pupilas de Aidan se dilataram quando ele olhou para o primo de MacKinnon, até que seus olhos verdes foram ofuscados pelo negro. "Nós?" ele perguntou com cuidado.

"Sim," disse Cameron.

O temperamento do seu irmão mal estava contido. "Northumbria não é minha preocupação, não é minha guerra," ele surtou.

Por toda a conversa que ouvia de forasteiros — que Aidan mimava suas mulheres demais — Keane nunca tinha conhecido um homem, no entanto, que estivesse pronto para ser confrontado com a ira do irmão dele, incluindo o Rei David. Mas pela primeira vez em todos os anos que eles se conheciam, Cameron MacKinnon endireitou sua coluna, enfrentando Aidan. "Também não é luta dos MacKinnon, e me disseram que ele vai se juntar a ela."

Aidan deu um passo em direção a Cameron. "De qualquer maneira, você não tem nada a ver com o meu conselho, Cameron MacKinnon."

"Aidan," Lael interrompeu, movendo-se entre eles e colocando uma mão sobre o peito de Aidan para empurrá-lo de volta na cadeira. "Por favor," ela disse. "Ele é nosso convidado e já perdemos muito. Não vamos lutar entre nós," ela implorou.


Aidan levou um longo momento para se recompor, mas quando ele olhou novamente para Cameron, havia um novo respeito em seu olhar. "Chreagach Mhor está em ruínas," ele informou-lhe, um pouco mais calmo. "Vai demorar meses para reconstruir o que eles perderam".

"Mesmo assim, o Castelo Aldridge encontra-se vulnerável agora que FitzSimon está morto e eu não acredito que meu primo vá permitir que o patrimônio da sua esposa seja tão facilmente dilapidado. Ele virá."

"Sim, bem, tudo o que Iain MacKinnon fizer é preocupação de Iain MacKinnon. Não vou emprestar bons homens para defender uma coroa que não apoiamos em mais de duzentos anos."

"E nós estamos de luto," Lìli interrompeu de sua posição na mesa, o tom dela cheio de preocupação. Ela balançava seu bebê, olhando suplicante para Keane, como se ele pudesse parar a discussão. Mas havia mais, e não havia sentido em adiar o que devia ser dito.

"Digo para se juntar a ele," anunciou Keane.

Cada par de olhos passou a olhar para Keane. Ele sentiu seus olhares mais do que o calor da fogueira. Irmão encarando irmão, olhos verdes conflitantes sobre as chamas dançantes. Só Lael já tinha desafiado Aidan, há dez anos e ela sozinha podia compreender o que Keane sentiu enquanto ele olhava para Aidan, mais do que preparado para defender seu terreno.

Ele tinha dado sua palavra a David, e apesar de ele ser um dún Scoti muito tempo antes de ele ser um dos homens do rei, ele suspeitava que a velha laje de pedra escondida na barriga da montanha provaria ser uma maldição para a sua família — como foi uma maldição para os homens. Era um massacre à espera de acontecer — uma mosca que já estava na teia. Se Keane tivesse suas preferências aceitadas anos atrás, eles teriam enterrado aquela rocha tão profundamente abaixo da montanha que nenhum homem iria colocar os olhos em cima dela novamente. Que os próprios deuses tivessem se dignado a fazê-lo foi uma bênção disfarçada.

O silêncio perdurou.

"E... Eu me casei."

Silêncio.

Desconfortável com a tensão crescente, Cameron MacKinnon cruzou os braços, olhando para o chão, e suas irmãs e Lìli permaneceram quietas também.

Aidan lhe permitiu continuar sem interrupção — ou, talvez, ele estivesse simplesmente muito nervoso para falar. "Em troca eu jurei para David minha lealdade," Keane disse.

A separação entre eles nunca tinha sido mais palpável.

Keane mediu suas palavras com cuidado. "Não vim para lutar, Aidan."

Os músculos da mandíbula de Aidan contorceram-se como ele, e ele cruzou os braços como se para moderar sua reação à notícia.

"Porque você veio?"

"Una. Ela era meu parente, também."

E mais uma vez houve silêncio, juntamente com uma tensão tão pesada como se pudesse se cortá-la com uma lâmina. Seu irmão olhou para Sorcha significativamente, acenando sutilmente em direção de Cameron.

Ela pegou o significado do olhar rapidamente e levou Cameron pelo braço, afastando-o da fogueira. "Venha," ela disse suavemente, "eu tenho notícias para compartilhar..." E ela levou-o para fora da sala, falando em tons mais suaves. Keane os ouviu conversando enquanto iam embora pelo corredor, mas Aidan ainda tinha que pronunciar algum som.

"Eu gostaria de saber o que aconteceu com Una," Keane exigiu, enviando um olhar de súplica em direção a Lìli. "Não vim até aqui para discutir sobre David."

Lágrimas encheram os olhos de Lìli. "Foi Constance quem a encontrou," ela disse, mas rapidamente desviou o olhar, incapaz de continuar.

"Constance?"

"Irmã de Cameron."

Keane levantou ambas as sobrancelhas, surpreso ao descobrir que ela estava em Dubhtolargg. Seu irmão devia tê-la trazido de Chreagach Mhor. Mas isso era um assunto para ser discutido outro dia, porque Aidan parecia derrotado, quando ele falou novamente. Mas no seu tom tinha a mesma raiva de momentos antes.

"A menina viu mais do que ela deveria ter visto".

Keane esperou com a respiração suspensa. Nem mesmo seu irmão seria tão cruel a ponto de matar uma mulher por causa da pedra sagrada. Mas pela primeira vez desde sua chegada, Keane sentiu um momento de pavor, pois ele percebeu que ainda tinha que ver a cara da irmã de Cameron, e então ele percebeu que Sorcha o tinha puxado para dar-lhe as notícias. "Aidan? O que Constance viu?"

Ninguém se atreveu a falar.

Um músculo se mexeu no maxilar do Keane. "Se alguma coisa se abateu sobre a jovem, Cameron tem o direito de saber."

Por um momento muito, muito longo, o crepitar e o estouro da velha madeira eram o único som que rompia o silêncio. Seu irmão parecia momentaneamente impossibilitado de falar. De repente, uma mão trêmula foi até seu rosto como se quisesse esconder sua tristeza. Há três dias ele não se barbeava e o rosto de Aidan estava escurecido e de repente Keane compreendeu o quanto a morte de Una tinha custado.

"Ela está com Kellen agora," explicou Lìli, e foi ela quem explicou o que aconteceu.

Da melhor forma que alguém poderia contar, Constance se deparou com Una no aposento da Pedra, abaixo de sua gruta. Lá, ela viu a Pedra do Destino e leu em voz alta as palavras sobre a placa antiga. De acordo com Constance, Una a atacou como uma víbora. Houve uma explosão de luz, seguida de um trovão terrível e ela não tinha nenhuma idéia como de repente encontrava-se do lado de fora das cavernas. Mas lá eles a encontraram, tremendo de frio... e cega. Una ficou presa embaixo da caverna. Agora tudo se foi. A câmara superior onde eles armazenavam seus produtos, a gruta de Una, bem como a caverna da Pedra tudo se encontrava sob uma camada de detritos. Era como se a montanha tivesse entrado em colapso sobre si mesmo. Ninguém poderia sobreviver a tal catástrofe.

Keane ouviu a respiração do irmão, e ele ainda estava incapaz de falar. "Você não recuperou o corpo?"

Aidan abanou a cabeça, olhando com a aparência mais cansada que Keane jamais o tinha visto.

"Não foi possível," Lìli disse.

O funeral foi apenas pro forma. Tinha apenas uma efígie feita de palha. Felizmente, Fergus tinha vindo na frente para dar o alerta para Aidan sobre a horda que estava chegando. Eles não queriam que o rei perguntasse onde Una estava enterrada. Era melhor que eles não soubessem exatamente o que tinha ocorrido. E então Aidan instruiu Kellen a manter Constance ocupada em seu pavilhão, enquanto o rei permanecesse no vale. Se possível, Cameron não devia ficar sabendo sobre a pedra. Quanto menos gente soubesse, melhor, apesar de que a Pedra de Scone agora estivesse sumida. Nem homem nem besta poderia desenterrá-la, e ninguém gostaria de vê-los tentar. De alguma forma, agora que Una tinha ido, parecia ser a vontade dos deuses que a pedra ficasse perdida para sempre.

"O que é isso que eu ouvi; você está casado?" Aidan perguntou rispidamente.

"Uma filha de Óengus."

"O Mormaer?" Aidan deu um olhar descrente para Keane.

"Sim. O Rei David quer ver paz em toda a Escócia,” defendeu Lael. "Ele espera paz com essa união. Ele poderia ter enforcado o nosso irmão; e não o fez. Ao invés disso, ele buscou uma aliança com o nosso povo, mesmo apesar disso trazer-lhe problema com William Fitz Duncan assim que ele descobrir a verdade."

Aidan jurou suavemente, retornando sua raiva. "O que mais eu devo saber irmão?"

Keane olhou para Aidan com olhos duros, brilhantes, sem vontade de falar mal de sua noiva, Lianae merecendo ou não. Ela podia não estar ali ao seu lado e ele não confiava nela, mas ele se atrevia a ter a esperança de que um dia ele poderia... e se ela carregava o bebê de outro homem, nenhum homem, a não ser Jaime e o rei saberiam disso enquanto Keane vivesse. "Eu a amo," ele disse e percebeu nesse instante que era verdade.

Aidan levantou uma sobrancelha. Lael também. Keane conhecia cada um dos seus olhares e os entendia. Mas ele achava que tinha visto Lael sorrir, embora ela escondesse com uma mão.

"Mas esta é uma notícia alegre!" Lìli exclamou, pulando do banco e vindo para frente. "Não é Aidan?"

A mandíbula de Aidan permanecia tensa, seus olhos brilhando tanto quanto diamantes.

"Aidan, por favor," Lael implorou.

O salão permaneceu em silêncio enquanto esperavam que o laird de Dubhtolargg desse a sua resposta. Finalmente, ele concordou. "Sim," ele disse. "São boas notícias... nós damos boas vindas a sua noiva de Moray."

Tendo permanecido calado tempo suficiente, Lachlann limpou a garganta. "Tanto quanto detesto a interrupção de falar sobre amor, devemos ir até a pira e acendê-la antes do rei chegar?"

"Acenda a pira! Acenda a pira!"

Respondendo as vozes em pânico de seus parentes, Cailin dún Scoti abandonou Lianae na praia, para acender a pira. Seus cabelos vermelhos queimavam tão brilhantemente como as chamas que ela iria colocar para queimar, ela subiu em cima do estrado, comandando o acendimento de todas as tochas, e então ela acendeu uma por uma, jogando-as sem a menor cerimônia em cima de pira.

Enquanto quinhentos soldados montados marchavam para a montanha, as chamas rasgavam a madeira, como um campo seco de grãos.

Empurrando o manto sobre seus ombros, Lianae sucumbiu ao calor enquanto assistia as chamas consumindo o cadáver, queimando através dele como se ele fosse feita de nada mais do que palha.

Mas por que eles iriam queimar uma efígie?

Lembrando o cheiro de carne queimada, quando eles queimaram o corpo do pai, ela sabia sem sombra de dúvida que a velha que eles falavam não estava sobre a pira. E ainda assim Lianae podia sentir a sensação de dor entre essas pessoas, pois não havia um olho seco no meio delas. Alguns choravam abertamente, desconsoladamente. Outros eram mais estóicos, mas com os olhos vermelhos, o que os fazia ter um sofrimento silencioso. E ainda rodeada por pessoas que sofriam por amor, ela nunca tinha se sentido mais sozinha.

Quem choraria por ela assim quando ela se fosse?

Ewen e Graeme muito provavelmente já estavam mortos, e no momento, ela sentiu perder a esperança. Ela não tinha provas que qualquer um dos seus irmãos tivesse sobrevivido à batalha de Stracathro em Forfarshire. Elspeth tinha ido embora. A mãe dela também. Idem o pai dela. O irmão dela, Lulach, para todos os efeitos, também tinha ido embora.

Lianae ficou sozinha, assistindo à queima, hipnotizada pelas chamas, e pouco a pouco, a encosta deu à luz a dezenas de fogueiras.

Desde o instante em que eles tinham chegado ao vale, ela sentiu um ar de apreensão em meio às pessoas desta aldeia sonolenta, e agora que David marchava para o vale com quinhentos homens armados, um silêncio caiu sobre o clã.

Eles estavam escondendo algo, mas Lianae não sabia o que era — e mesmo se ela soubesse, ela nunca diria nada para David, pois ela tinha mais em comum com os parentes do marido do que com os escoceses. Como o povo de Moray, esses dún Scoti agora corriam o risco de serem extintos como uma vela engolida por uma noite escura.

David mac Maíl Chaluim estava à beira de unir todos os clãs, mas no processo, todos os seus legados estariam perdidos. Melhor do que se sentir fortificado pela visão deles, o exército do rei mais parecia como uma infestação no vale — uma praga de escoceses, com vozes de bêbados, que desrespeitavam o parente dún Scoti morto.E no meio do vale eles levantaram a tenda do rei, um elaborado edifício de seda listrada em ouro e vermelho. Por tudo isso Lianae se sentia como uma estranha, ela sabia instintivamente que fosse o que fosse que essas pessoas estivessem mantendo em segredo, não era algo que eles se importavam em compartilhar com o Rei da Escócia.

Mas por muito tempo, ela tinha considerado David seu inimigo. Foi pelo seu comando, que o pai dela tinha sido assassinado. E mesmo assim... se o rei percebesse que ela tinha mentido sobre Keane, ele não teria mostrado por ela a gentileza de não mandá-la de volta para o Conde — um julgamento que ele poderia considerar justificado, porque William fitz Duncan não era um homem que alguém gostaria de cruzar. Em vez disso ele lhe tinha dado a um homem que, Lianae tinha aprendido desde então, não era inteiramente aliado de David. De acordo com Cailin irmã de Keane, que afirmou conhecer Keane muito bem, o marido dela tinha aceitado usar o uniforme do rei apenas por uma questão de circunstância. Cailin estava igualmente certa que ele nunca teria aceitado receber terra e título — a menos que ele acreditasse que havia uma causa maior.

Era a causa maior que Lianae pensava agora, embora ela não se enganasse em acreditar que podia ser amor. Ela estava tão imersa em pensamentos, considerando o que poderia ter motivado Keane a se casar com ela, que ela não ouviu a abordagem.

Ela começou com o som de uma voz feminina. "Há tantas," a esposa de Aidan disse e Lianae não tinha necessidade de perguntar o que ela queria dizer... eram os homens do rei a quem ela se referia — as fogueiras intermináveis piscando no meio da noite escura.

Lianae virou-se para sorrir para a mulher que tinha se casado com o irmão mais velho de Keane. Ela estava sem o filho neste momento, apesar de ter sido a primeira vez desde a sua chegada em Dubhtolargg que Lianae a via sem seu bebê recém-nascido nos braços.

"O bebê está dormindo?"

Ela era linda, com cabelo castanho escuro e belos olhos violetas que pareciam perscrutar diretamente a alma de Lianae. "Sim, até que enfim. Está muito tarde".

Lianae se virou para olhar sobre a encosta. "Eu estava... esperando," ela confessou, mas ela não queria dizer por quê.

Para o marido perdoá-la, na verdade.

"É claro," disse a mulher. "Você está recém-casada."

Lianae corou calorosamente. "Oh, não," ela protestou. "Não é isso."

Mas era. Se o marido dela ia levá-la para cama ou não, ela não tinha nenhum desejo de passar a noite sozinha no pequeno chalé que tinham colocado a disposição deles. Ela foi procurá-lo, mesmo que ela não soubesse por quê. Ele era sua base agora — o centro dela.

Keane era tudo o que restava e fazia sentido no seu mundo. Ela não tinha ninguém além dele, e mesmo bravo como ele estava com ela, ela ainda confiava nele para mantê-la segura.

Os olhos da mulher cintilavam enquanto ela estudava Lianae, como se ela soubesse algo que Lianae não soubesse. Mas ela não podia saber que Keane não queria nada com ela e com razão, pois Lianae tinha estragado tudo muito cuidadosamente.

Mas o que teria ela feito diferente se ela pudesse?

Certamente não voltar para o Conde.

Isso nunca.

Nada, Lianae percebeu tristemente. Ela não faria nada diferente, pois se ela tivesse jogado de uma maneira diferente, o rei poderia ter feito com que ela voltasse para o Conde. Ela engoliu sua dor sobre esta verdade e ficou parada, abraçando-se contra o frio da noite, olhando para as colinas.

"Ele está bastante satisfeito com o casamento," comentou a esposa do laird.

O olhar de Lianae foi direto para o rosto da mulher. No começo, ela pensou que devia ser uma pergunta, porque certamente não podia ser verdade. "Keane?" ela perguntou, pensando que ela devia estar enganada.

Ela assentiu com a cabeça, e longos momentos se passaram sem que Lianae simplesmente soubesse como ou o que responder. Ela abriu a boca para falar e fechou-a novamente.

"Eu sei muito bem o que é estar dividida entre mundos," a mulher disse, surpreendendo Lianae com o insight.

Havia um ar de familiaridade entre elas, embora não fosse algo que Lianae pudesse explicar. Ela sentia a mesma proximidade com Kenna, e um pouco com Lael. Mas nenhuma delas devia saber o que Lianae tinha feito... ou elas, também, iriam desprezá-la como Keane.

"Quando cheguei a Dubhtolargg," ela confessou. "Eu quis saber como o destino permitia eu me casar com o homem cujo povo tinha amaldiçoado a minha existência."

"Aidan?" Lianae perguntou com surpresa.

Ela sorriu. "Sim, é verdade. O povo do meu marido me amaldiçoou. Na verdade, foi Una quem me lançou mau-olhado. Talvez você tenha ouvido falar da maldição de Caimbeul?"

Os olhos de Lianae se arregalaram. Mesmo no norte, eles ouviram as histórias de como o povo da montanha tinha amaldiçoado a filha de Caimbeul por seus pecados. Esta, então, era Lìleas MacLaren.

O olhar do Lianae deslizou para a pira. "Foi Una quem a amaldiçoou?"

Garganta do Lìleas se contraiu. "A própria."

"E mesmo assim você ainda chora a perda dela?"

Os olhos de Lìleas se encheram com lágrimas. "Mais do que palavras podem dizer. Você é uma filha de Óengus, não é o que dizem?"

Lianae assentiu com a cabeça. "Sim, mas ele agora se foi... bem como a minha mãe e a minha irmã... Eu estou sozinha."

"Não," Lìleas falou. "Não porque você nos tem. Nós somos sua família agora, Lianae. Os dún Scoti são homens leais e eu te afirmo agora que se Keane te ama verdadeiramente, você não vai querer mais nada, enquanto ele permanecer ao seu lado."

Lianae não disse nada, incapaz de revelar as coisas que ela já tinha feito para destruir o casamento deles. Se sentindo triste, ela se virou para olhar para a encosta, para as dezenas e dezenas de fogos cintilantes... como estrelas que tinham caído na terra.

Ambas as mulheres ficaram em silêncio. Depois de algum tempo, Lìleas falou novamente. "Vou compartilhar com você o que Una uma vez me disse quando eu precisava mais ouvir. Ela disse, confie em seus instintos, e tudo o que você fizer, faça com toda a sua alma. Sinto que você vai precisar deste conselho nos dias vindouros, Lianae."

Lianae chorando, virou-se para piscar para ela.

"Seja fiel ao seu coração, e não a sua cabeça," Lìleas disse com um sorriso, e havia algo em seus olhos violetas que fez Lianae querer acreditar.

E então, ela virou-se para encontrar Keane em pé atrás dela, e o coração dela bateu mais forte...