Capítulo 22

Enfrentando o desafio do seu irmão, Keane disse as palavras com consciência, mas agora ele temia que elas pudessem ser verdadeiras.

Por tudo o que ele tinha desejado, ele não dava mais a mínima por Lilidbrugh, ou por Dunràth. Lilidbrugh era apenas um link para o seu passado, um símbolo há muito esquecido da história do seu clã. Lianae era o futuro dele... onde quer que ela o pudesse levar.

Mas poderia haver amor onde não há confiança?

No entanto... já tinha passado a hora de colocar seus julgamentos para trás. Para melhor ou pior, Lianae era mulher dele agora e ele devia encontrar uma maneira de aprender a confiar na mulher que tinha a intenção de amar.

Lìleas falou primeiro. "Nós ficamos maravilhados com a visão de tantos..."

"Forasteiros?" Keane disse, terminando a frase para a esposa do irmão.

Os dois compartilharam um olhar particular — coisas que Lianae nunca saberia, coisas que ele não confiava nela o suficiente para revelar.

Lìli cruzou os braços por causa do frio. "Você poderia imaginar que Aidan permitiria isso?"

"Nem em mil anos."

Mas é claro, eles não tinham mais a Pedra do Destino para defender. O que importava quem viria para o vale, agora que a pedra não estava mais nas mãos deles?

Lìli olhou para os dois, e sentindo que Keane não tinha vindo para ter uma conversa fútil, ela desculpou-se imediatamente. "Com licença," ela disse. "Estou certa de que vocês têm muito para conversar." E sem aguardar a resposta de Keane, ela foi em direção ao crannóg, onde Aidan e seus filhos esperavam por ela. Por um momento muito desconfortável, Keane ficou olhando sua cunhada ir embora, sentindo o peso do mundo descendo sobre seus ombros.

Não apenas a Pedra do Destino tinha desaparecido — todo o propósito da existência do seu clã por mais de dois séculos — ele tinha vindo para enterrar a mulher que o tinha criado desde o nascimento. E se isso não bastasse, sua esposa era uma mentirosa — e ela tinha quase lhe custado sua vida. Depois de tudo o que tinha sido dito e feito, não era fácil ignorar seu orgulho ferido. Mesmo assim, ele estendeu uma mão, convidando Lianae para ir com ele. "Venha," ele exigiu.

Por um momento, ela apenas olhou para ele, então ela estendeu a mão e o toque dela pareceu um raio no coração de Keane.

Tinha sido um comando arrogantemente dirigido, mas Lianae reconheceu sua vulnerabilidade naquele momento e engoliu sua queixa, dando-lhe a mão. Sem dizer uma palavra, ele puxou-a suavemente para longe da praia e da fogueira. Ao longo do caminho, eles passaram por sua irmã Cailin falando baixo, nas sombras, com Cameron.

O ar da noite dava-lhe um calafrio inconfundível, mas o calor que emanava da mão de Keane fazia a palma da sua mão suar. Borboletas voavam freneticamente dentro de seu peito. "Acho que é bom ver seu povo, mesmo que as circunstâncias não são sejam felizes?"

Keane assentiu com a cabeça, embora ele não tivesse elaborado o que Lianae tinha dito. Maravilhada com o tamanho grande de sua mão, ela imaginou-o quando ele era apenas uma criança. "Você e seu irmão Aidan eram próximos?"

"Sim," ele disse e silenciou mais uma vez. O som avassalador de seu silêncio apertou o coração de Lianae. Era assim que seria entre eles agora? Ela perdeu seu jeito brincalhão — e até mesmo a curva altiva do seu lindo sorriso.

Eles se aproximaram da cabana que tinha sido atribuída a eles e Lianae se esforçou para manter-se tranquila. "Una era muito amada?" ela perguntou, lutando por mais palavras para acabar com aquele silêncio doloroso.

Ele apertou a mão dela quase imperceptivelmente, como se ele quisesse dizer para ela ficar quieta. "Ela era."

Ah! Lianae faria qualquer coisa para mudar o que ela tinha feito — tudo salvo dar-se a William fitz Duncan. Com certeza, mas ela não conseguia encontrar qualquer arrependimento por isso — não quando suas mentiras tinham lhe rendido isto... Mas o que era isso? Ela repreendeu-se.

E onde ele ia levá-la agora?

Havia algo diferente no comportamento de Keane hoje à noite, e deu-lhe uma vibração terrível de antecipação enquanto eles se aproximavam da cabana.

Lutando para acompanhar seus longos passos apressados, Lianae pensou em algo mais para dizer que iria ajudar a curar suas feridas. "Bem, peço desculpa pela sua perda, Keane."

"Assim como eu. Ela foi como uma mãe para mim,” ele disse e mudou o tema quase ao mesmo tempo. "Você ainda está mancando com o seu pé esquerdo, Lianae."

Sem aviso, Keane arrebatou-a em seus braços, levantando-a muito facilmente. Ela mal conseguia respirar muito menos falar enquanto eles entravam na cabana, e depois de alguns passos chegaram â cama.

Dentro, o chalé estava quente e aconchegante. Lianae tinha deixado o fogo aceso na antecipação do regresso deles. Eles tinham cavalgado longas horas, e ela tinha chegado cansada e pronta para descansar.

Uma pequena mesa em um canto, ladeada por duas cadeiras simples. Uma cama no outro canto, perto de uma pequena mesa. Em cima da mesa um jarro vazio e uma tigela.

Sem dizer uma palavra, Keane a jogou na cama — uma cama muito menor do que aquela que eles compartilharam em Keppenach — e voltou a inspecionar os pés de Lianae mais uma vez, removendo primeiro um sapato, depois o outro. Eles ainda estavam doloridos, mas não tanto quanto antes, e Lael tinha lhe dado um resistente par de botas para usar.

Enquanto ele estava ajoelhado para inspecionar as solas dos seus pés, Lianae começou a pensar em como eles iriam dormir. Ele não podia dormir nessas cadeiras, e a cama era tão pequena em comparação com a que eles tinham deixado que eles teriam que dormir um em cima do outro para os dois caberem.

O pensamento tropeçou com a batida do seu coração, mesmo apesar do fato de que eles já tinham dormido muito mais perto em sua palete. "Estou bem," ela assegurou-lhe.

Na verdade, ela estava. Em comparação com alguns dias atrás, ela estava muito bem na verdade. Apesar do ritmo extenuante do dia, do marido que não queria nada com ela, de uma irmã morta e dos irmãos perdidos há muito tempo, Lianae estava perfeitamente bem.

Mas enquanto ela assistia Keane supervisionando seus pés, ela viu que seus atos não eram de um homem que detestava sua esposa, e esta verdade fez seu coração bater mais rápido...

"Está curado," ele disse suavemente. "Você deve mantê-los limpos. Amanhã, vou pedir para Lìli preparar para você um bálsamo."

"Ela não precisa se preocupar comigo," Lianae disse sem fôlego. Verdadeiramente, os pés dela eram sua última preocupação. "Eu sei muito bem o que tem que ser feito."

O marido olhou para ela, sobrancelhas tortas. "Você não se comporta como uma princesa," ele disse.

Lianae arqueou sua testa, incapaz de segurar sua língua. "Sim, bem, além de sua impertinência, você também não."

"Ah, jovem, seria, porque, no caso de você não ter notado, eu não sou uma princesa."

Percebendo tardiamente o que ela tinha dito, Lianae engasgou-se de tanto rir.

"Você é uma rapariga manhosa," seu marido a acusou, mas se o fato o enfurecia, ele não demonstrou — não a julgar pelas linhas de riso que se formaram em torno de seus lábios sensuais.

O coração de Lianae se apertou um pouco por causa da volta do seu bom humor.

Ela estava desesperadamente sozinha e não queria mais estar. Ela tinha arruinado tudo com suas mentiras... e ainda assim ele conseguia mostrar sua bondade e carinho.

"Eu posso ser uma esposa para você de verdade," ela deixou escapar, surpreendendo-se com o que tinha dito — porque era verdade.

Ela ainda era virgem, mas isso não significava que Lianae não soubesse o que deveria acontecer entre ela e seu marido. Ela queria que os votos fossem consumados, apesar de que ele ainda acreditava que ela carregava o filho de outro homem. Ela queria tanto dizer que não era verdade. Mas ela não sabia como — não com a boca. Ela sentiu fogo nas bochechas com o pensamento de falar essas palavras em voz alta. Mas ela não queria que ele olhasse para ela do jeito que ele fez na noite de núpcias — como se ela fosse impura. Ou melhor... ela queria que ele olhasse para ela como ele fez quando eles tinham se conhecido... o jeito que ele estava olhando para ela agora...

Mas o calor em seu olhar desapareceu no instante em que ela olhou para ele.

Keane largou o pé dela e se levantou.

Lianae segurou-o pelo braço, silenciosamente implorando-lhe para não ir.

Keane queria mais do que tudo ficar... ele queria beijá-la novamente... mas havia um desejo mais profundo que não podia ser apaziguado — agora não.

Ainda não.

Não enquanto ela carregasse o filho de outro homem.

Não devia haver dúvidas em sua mente, de quem era o filho que ela carregava. Ele criaria um filho de fitz Duncan, mas ele não iria confundir a verdade na sua cabeça. Se ele fosse para a cama com Lianae agora, ele poderia vir a acreditar que a criança pudesse ser dele e isto ele não podia admitir.

"Por favor," ela implorou, e ele podia ver o desejo escrito em seu rosto. O pedido amassou o coração dele. Ela era sua esposa, ele raciocinou, e afinal de contas, se ela quisesse ficar com o Conde, ela nunca teria mentido para o rei.

Em vez disso, ela tinha feito Keane cúmplice de suas estórias, acusando-o de coisas que ele só tinha cobiçado — e sim, ele era culpado de tudo dentro da cabeça dele. Ele queria levá-la para a cama naquela manhã em Lilidbrugh.

Quem ele estava enganando?

Ele queria ir para a cama com ela agora. E este olhar no rosto dela... fazia ele acreditar que ela tinha feito tudo pela mesma razão que ele aspirava, que era beijá-la e fazer amor com ela...

Porque ela queria ele.

Ele podia ver a verdade nos olhos dela. E de repente Keane não pode se segurar — não quando ela olhou para ele com aqueles olhos de âmbar líquidos. Entregando-se ao seu desejo, ele levantou uma mão para o rosto dela, esperando que Lianae o afastasse. Mas ela não o fez. Em vez disso, ela deslizou seus braços sobre o pescoço dele e Keane se dobrou para reivindicar os lábios dela. Ela beijou-o de volta... sempre tão docemente... e ele já não conseguia pensar em nenhuma razão para parar...

Mas não... não...

Desejo guerreava com o seu orgulho. Se ele a amasse agora, ele iria sempre se perguntar se a criança era dele...

"Lianae," ele implorou, e ainda assim, ele não precisava ter prazer a fim de agradar sua esposa. Ele poderia dar a ela o que ela desejava. E depois, uma vez que ele estivesse sozinho no lago, ele poderia se deleitar e gozar sozinho, se lembrando do sabor de seus lábios, da sensação sedosa do cabelo dela...