As novidades deram a Kurt um novo acesso de energia. — Quando é que a iremos encontrar?
— Esperemos que não tão depressa — respondeu Renata. — É que ela já não se encontra entre os vivos.
Isso eram más notícias, ou pelo menos Kurt assim pensava. — Não parece estar lá muito incomodada com isso.
— Bem, é que já decorreu muito tempo — respondeu Renata. — Ela morreu em 1822.
Kurt olhou para Joe. — Será que alguma coisa nesta história te está a fazer sentido?
Joe abanou a cabeça. — O dióxido de carbono afetou os meus raciocínios mais sofisticados. Creio que não estou a ouvir bem.
— Sei que te estás a divertir com isto — disse ele —, mas não exageremos. Para já, quem é a Sophie C? E em que medida uma mulher que morreu em 1822 poderá ter algo a ver com o Dr. Kensington e com o ataque de Lampedusa?
— Sophie C — explicou Renata — é uma abreviatura para Sophie Celine.
— E eu que já estava quase a descobrir… — observou Joe.
Kurt nem sequer reagiu. — Continue.
— Sophie Celine era prima em terceiro grau e amante distante de Pierre Andeen, um membro prestigiado da Assembleia Legislativa de França, que foi criada após a Revolução. Dado que ambos eram casados com outras pessoas, não poderiam estar oficialmente juntos, mas isso não os impediu de ter um filho.
— Que escandaloso… — disse Kurt.
— Tem toda a razão — acrescentou Renata. — Com escândalo ou sem ele, o nascimento dessa criança foi um momento alto para Andeen que usou da sua influência, junto do almirantado francês, para ter um barco com o nome da mãe da criança.
— Assim como uma espécie de presente — sugeriu Kurt.
— Acredita no que te digo — repostou Joe. — A maioria das mulheres prefere joias.
— Concordo — apressou-se Renata a dizer.
— Assim sendo, que aconteceu à Sophie? — perguntou Kurt.
Renata cruzou os pés e colocou-os em cima de uma mesinha. — Viveu até uma idade provecta e foi enterrada num cemitério privado nos arredores de Paris, depois de ter morrido durante o sono.
Kurt podia imaginar para onde tudo isso se dirigia. — Creio que o Kensington se estava a referir a um navio chamado Sophie Celine.
Renata assentiu com a cabeça e passou a Kurt uma cópia impressa da história do navio. «O Sophie C fez parte da frota mediterrânica de Napoleão e esteve atracado em Malta durante um breve período de domínio francês. Por acaso, este navio naufragou durante uma tempestade, depois de ter saído daqui, carregado de um tesouro francês que fora saqueado no Egito. Foi no entanto encontrado, e o naufrágio examinado por membros da Conservação D’Campion, uma organização sem fins lucrativos, custeada por uma família maltesa muito rica. Após terem mantido os artefactos nas suas coleções privadas, durante anos, decidiram recentemente vender alguns artigos. O museu deveria ser o intermediário, e receber uma percentagem.»
— Os mesmos artigos que os nossos amigos violentos se limitaram a levar sem pagar um cêntimo — disse Joe.
— Kensington disse que duzentos mil não chegariam para lhes arranjar um lugar à mesa, de modo que eles decidiram levar todo o bufete.
Joe fez a pergunta óbvia: — Por que razão iria Kensington pôr-nos no rasto do Sophie Celine quando ele nem sequer nos disse o que ia ser levado a leilão?
— Pela mesma razão que esses tipos não o mataram, nem roubaram os artefactos, até nós termos aparecido e começado a fazer perguntas. Deve haver qualquer coisa nesse naufrágio que ainda lhes interessa, algo que eles ainda não conseguiram encontrar.
— As placas egípcias que eu vi estavam partidas — disse Joe. — Peças parciais, fragmentos… Talvez estejam à procura das partes que faltam.
Kurt voltou-se para Renata. — E onde foi esse naufrágio?
— Eis a localização — disse ela, entregando a Kurt o resto das suas anotações. — Fica a mais ou menos sessenta quilómetros a leste de La Valletta.
— A última vez que verifiquei, esse não era o caminho para França — disse Kurt.
— O capitão do navio estava a tentar evitar as embarcações inglesas. De modo que optou por rumar a leste e depois a norte, pretendendo contornar a costa da Sicília ou cortar pelo estreito que fica entre essa ilha e a Itália continental. Aparentemente, apanhou mau tempo antes de poder optar. Penso que ele talvez tivesse tentado voltar para trás, mas nunca chegou ao porto.
Pela primeira vez durante dias, Kurt sentiu que estavam de facto a avançar.
— Creio que sabemos o que teremos de fazer a seguir — disse Joe. — E também o que eles irão fazer. Quando virem que esses baixos-relevos e placas são apenas fragmentos parciais, irão procurar o navio naufragado para tentarem trazer à superfície o que ainda possa restar que lhes interesse.
— Isso seria precisamente o que eu faria — observou Kurt. — Ainda não estou a ver bem como é que tudo isto se encaixa e do que é que eles andam à procura. No entanto, se isso não fosse realmente importante, já se teriam ido embora. Algo me diz que será melhor nós mergulharmos no local do naufrágio antes que eles o façam.