Com Kurt a comandar, no alto do flybridge, o barco de mergulho avançava a grande velocidade para a baía isolada com o hotel abandonado, gravando um rasto branco nas águas azuis-esverdeadas. Enquanto Kurt guiava, Joe construiu um búnquer ao juntar vários tanques de oxigénio vazios.
— Estas coisas não explodem quando são trespassadas por balas? — perguntou Renata.
— Só nos filmes — disse Joe. — Mas eu tirei-lhes o ar que ainda restava nelas. Agora são apenas vasilhas fortes e espessas, de aço, que poderemos usar para nos proteger. Perfeitamente dispostas para que nos possamos esconder por detrás delas.
— Vocês são muito corajosos — disse Renata.
— Espero que diga isso a todas as suas amigas quando acabarmos de tornar o mundo verdadeiramente seguro para a humanidade.
Ela sorriu. — Conheço algumas raparigas amigas que ficariam muito contentes por vos conhecer.
— Algumas?
— Duas ou três… — respondeu ela. — Irão ter de lutar umas com as outras para ficarem convosco…
— Isso poderia ser bastante interessante — disse Joe, com um sorriso malicioso no rosto. — Mas olhe que eu chego para todas…
— Espero que isto funcione — disse ele a Kurt. — De repente, fiquei com uma vontade desesperada de sobreviver.
Acabara de atar a última garrafa metálica quando se aproximaram das escarpas muito altas que caracterizavam esse lado da Ilha de Gozo. — O vosso ninho de corvo está tão seguro quanto eu o poderei tornar — disse ele a Kurt. — Vou até lá abaixo.
Kurt acenou afirmativamente com a cabeça e voltou-se para a médica. — A Renata terá que se manter fora das vistas de qualquer um. Eles ainda não sabem que está aqui connosco.
— Não me irei esconder por baixo do convés enquanto vocês lutam com os fulanos que atacaram o meu país — respondeu ela.
— De facto, é exatamente isso que irá fazer — disse Kurt. — O camarote à ré tem uma claraboia. Destranque-a e espere pelo momento exato para agir.
— Porquê esse camarote?
— Porque eu posso introduzir-me nele, caso tenha de fugir depressa.
Colocaram aparelhos de comunicação. Depois de testar o dela, Renata desceu até ao convés principal, indo depois até ao camarote. Tal como Kurt sugerira, ela destrancou a claraboia, mas deixou-a fechada. Em seguida pegou na Beretta e pôs-se à espera.
Assim que se aproximaram do intervalo, nas escarpas de pedra calcária, Kurt inverteu o rumo e começou a entrar na baía muito lentamente e de marcha-atrás. Ao passarem por entre as escarpas que protegiam a baía, ele acocorou-se por detrás das garrafas de oxigénio, de espingarda na mão, olhando para os rochedos no topo, em busca de qualquer sinal de perigo e quase esperando um confronto armado.
— Ainda estamos vivos — observou ele, à medida que a baía se ia alargando em torno deles.
— Pelo menos por enquanto — resmungou Joe no convés principal mais abaixo.
Olhando através de um óculo de longo alcance, Kurt estudou a situação que eles teriam pela frente. — Vejo três tipos com pistolas, à espera, na doca de cimento ao lado da ponte, dois veículos numa ponta da estrada e nenhum barco.
— Devem ter vindo de carro — disse Renata. — Isso pode ajudar-nos?
— Bem — observou Joe —, a não ser que eles consigam nadar muito depressa, provavelmente não irão ser capazes de vir atrás de nós, se fugirmos.
— Mantenham-se fora de vista — disse Kurt. — Creio ter notado um atirador no telhado do hotel. Acabo de ver o reflexo dos seus binóculos.
— Você é que está completamente exposto aí em cima — observou Renata.
— Mas eu tenho uma cabeça de ferro — respondeu Kurt. — De modo que não correrei perigo. Para além disso, eles não vão começar aos tiros até terem aquilo que querem.
Kurt pôs o barco de mergulho a baixa velocidade, e este continuou a entrar na baía muito discretamente, sempre de marcha-atrás, até a ré bater na doca de cimento. Havia aí um caminho que conduzia a umas escadas e à ponte. Um segundo levava a uma cabana de manutenção deplorável.
Um dos três homens avançou, com uma corda na mão.
— Não é preciso amarrar o barco — gritou Kurt, olhando por entre duas garrafas de oxigénio. — Não vamos aqui ficar muito tempo. Onde está o seu patrão?
Um homem forte e baixo saiu da cabana. Tinha óculos de sol espelhados e o cabelo muito curto, como o de um militar. — Estou aqui.
— O senhor deve ser Hassan — disse Kurt.
O homem pareceu ficar irritado.
— Conseguimos obter alguma informação dos vossos homens, mais do que o que possa pensar — disse Kurt.
— Isso para mim não quer dizer nada — insistiu o homem. — Mas permito-lhe que me trate por esse nome, se assim o deseja.
— Têm aqui um ótimo sítio… — continuou Kurt, ainda acocorado por detrás do muro formado pelas garrafas de oxigénio. — Para toca de bandidos, essa cabana parece estar em ruínas.
— Está a perder tempo com as suas piadinhas — rugiu Hassan. — Talvez queira levantar-se e olhar-me de frente, como um homem.
— Com todo o prazer — disse Kurt. — Mas, primeiro, tem de pedir ao seu atirador para atirar a espingarda para a água.
— Qual atirador?
— O que está no telhado do hotel.
Através de uma pequena fenda entre as garrafas, Kurt podia ver que o homem estava cada vez mais furioso.
— É agora ou nunca — gritou Kurt, ligando os motores como quem se está a preparar para se ir embora.
O bandido pôs um rádio junto à boca, murmurou qualquer coisa e repetiu-a com um pouco mais de firmeza. No telhado, o atirador levantou-se, pegou numa espingarda enorme e pesada e ergueu-a. Rodou um pouco, enquanto a atirava, e ela caiu de chapa nas águas calmas da enseada.
— Já está satisfeito? — perguntou Hassan.
— Oxalá ele não tenha uma outra arma — murmurou Joe —, ou que haja mais destes pistoleiros.
— Saíste-me muito encorajador! — respondeu-lhe Kurt, entre dentes. — Mas só há uma maneira de descobrirmos.
Kurt pôs-se de pé, lentamente, erguendo a espingarda APS com ele, e contando três armas semelhantes que lhe estavam a ser apontadas. Hassan parecia ter uma pistola, que, por enquanto, permanecia num coldre de ombro.
— Onde estão os D’Campion? — perguntou Kurt.
— Mostre-me primeiro as placas — pediu Hassan.
Kurt abanou a cabeça. — Não me parece. Para lhe dizer a verdade, não sei muito bem o que fiz com elas.
O mesmo olhar irritado regressou. Hassan deu um assobio e, de soslaio, Kurt deu-se conta de movimento na ponte. Duas pessoas foram postas de pé e empurradas para a margem. Os D’Campion, um casal de idosos, estavam atados um ao outro e foram forçados a dirigir-se à margem da ponte, onde já não havia gradeamento. Kurt viu um objeto com um fundo arredondado na mão do homem, atado aos pés deste com uma corrente.
— Isto vai ser um problema — murmurou Kurt.
— Que é que está a ver? — perguntou-lhe Renata.
— Reféns atados uns aos outros e ligados à âncora de um navio.
— A uma âncora?
— Pelo menos é isso que me parece. Não é muito grande — acrescentou ele. — Talvez pese uns dez quilos. Mas é o suficiente para manter um homem debaixo de água. Um homem e a sua mulher.
Hassan começou a ficar impaciente. — Como pode ver, estão vivos. Embora não fiquem assim por muito mais tempo se não me der o que quero. Estou a ver apenas dois dos meus homens.
— O resto, por agora, é comida de tubarão — disse Kurt. Tratava-se de uma meia-verdade. Dois dos bandidos feridos tinham sido tratados no Sea Dragon e entregues às autoridades assim que o barco atracara.
— E as placas? — gritou Hassan.
— Desamarre primeiro os D’Campion — exigiu Kurt. — Como um gesto de boa-fé.
— Eu não opero com base na boa-fé!
Kurt não duvidava disso. — Pois bem — disse ele. — Vamos lá a isto…
Puxou por uma corda de náilon e desviou uma cobertura de lona que se encontrava no convés. Quando esta deslizou, mostrou uma grande arca que era usada para arrumar equipamento de mergulho. — As placas estão aqui.
Hassan hesitou. — É claro que não lhas vou levar — disse Kurt.
Hassan estava obviamente desconfiado. — Onde está o seu amigo espadachim?
Kurt quase sorriu.
— Estou aqui — gritou Joe, abrindo uma escotilha junto à ré. Tal como Kurt, Joe estava protegido por uma pequena barreira de garrafas de oxigénio vazias, porém, ao contrário da barreira protetora de Kurt, duas das garrafas em frente de Joe ainda estavam pressurizadas e ligadas a uma mangueira, que passava por debaixo da lona e entrava num buraco, na parte de trás da arca.
— Muito bem — disse Hassan, e mandou avançar dois dos seus homens.
Estes foram até ao bordo do cais, com espingardas na mão, saltaram para o barco de mergulho e começaram a andar cautelosamente para a arca que os esperava.
— Se isto é um truque… — disse o homem.
— Bem sei, bem sei — disse Kurt interrompendo-o. — Vocês vão matar-nos a todos e afogar os D’Campion. Já ouvi antes esse discurso.
Os dois atiradores aproximaram-se da arca como se de um animal selvagem se tratasse, algo que pudesse acordar com um rugido, a qualquer momento. Kurt sorria, como se estivesse a divertir-se, e até deixou de lhes apontar a espingarda, fingindo que nada o preocupava.
Quando chegaram à arca, um dos homens baixou-se para abrir o trinco. O outro ficou de atalaia.
Dentro da cabina, as mãos de Joe dirigiram-se às válvulas das garrafas de oxigénio, que já se encontravam ligeiramente abertas, pressurizando a arca de fibra de vidro; contudo, quando um dos homens se debruçou mais, Joe abriu por completo ambas as válvulas.
A tampa da arca abriu-se então bruscamente, batendo no rosto do homem. Uma fina camada de gasolina que Joe tinha posto na arca elevou-se no ar, devido à rapidez com que se espalhara o oxigénio a alta pressão, enquanto um dispositivo semelhante a um isqueiro, que ele colara a uma das dobradiças, foi acionado. Isso deu lugar a uma enorme faísca ao gosto dos filmes de Hollywood e a uma impressionante bola de fogo que não fez grande estrago mas contribuiu para fazer com que os homens caíssem para trás, chamando a atenção de toda a gente com uma onda de chamas cor de laranja e uma nuvem de fumo negro que se começou a elevar.
Kurt colocou a espingarda em posição. Ignorando os homens que tinham ficado inconscientes com a explosão, e Hassan, que ainda tinha a sua arma no coldre, disparou duas vezes, fazendo mira aos criminosos que se encontravam na doca. Ambos os disparos atingiram os seus alvos e os dois homens tombaram sem dispararem de volta.
Kurt voltou a apontar a espingarda e disparou um terceiro tiro, este dirigido a Hassan. Contudo, o homem conseguiu desviar-se e fugir para a cabana em ruínas, de onde saíra.
Kurt rodou para a esquerda, na esperança de poder atingir o bandido que estava na ponte, porém, antes mesmo que pudesse voltar a disparar, houve balas que começaram a fazer ricochete em volta dele, e o som abafado das mesmas a martelarem nas garrafas de oxigénio vazias forçou-o a acocorar-se.
Conseguiu proteger-se enquanto ouvia uma chuva de sucessivas rajadas que atingiam as garrafas metálicas onde se começavam a ver já grandes amolgadelas, do mesmo modo que o metal se distorce quando é batido por um martelo de bola. Kurt voltou a desviar-se no momento em que houve um outro impacto que conseguiu rachar, de alto a baixo, a garrafa que estava mais perto dele, cuspindo fragmentos de metal na sua direção.
— Joe, estou aqui sem conseguir sair.
— O tiroteio vem do telhado do hotel — respondeu Joe, disparando dois tiros para o edifício, de modo a dar algum alívio a Kurt.
Este acabou por ver o atirador, de cócoras por detrás de uma parede baixa. Conseguiu ver que o homem tinha apenas uma espingarda normal sem mira telescópica de longo alcance.
— Esse fulano no telhado tem uma pontaria fabulosa — observou Kurt, procurando uma nova posição e acrescentando mais alguns tiros aos que Joe já disparara.
Por essa altura, os homens que tinham sido atirados ao chão pela explosão estavam já a levantar-se. Um deles foi direito à espingarda, apontando-a à cabina onde Joe estava escondido. Não obstante, antes que o homem pudesse alvejar alguém, Renata abriu a claraboia e disparou duas vezes. O atirador recebeu dois tiros no peito e caiu do barco na água.
O seu companheiro pôs-se a correr.
Renata apontou-lhe a pistola às pernas, atingindo-o na parte de trás dos joelhos e atirando-o por terra, se bem que o quisesse manter vivo para um possível interrogatório.
Mais tiros foram disparados do telhado do hotel e os indivíduos que Joe e Kurt tinham amarrado caíram como pinos de bowling. Dado que os sujeitos tinham posto os mergulhadores a trabalhar até à morte, Kurt não sentiu qualquer pena deles.
— Empurrem-nos — ouvia-se Hassan a gritar. — Empurrem-nos agora!
Os D’Campion foram então atirados da ponte, caindo de uma altura de dez metros e batendo de chapa nas águas da baía, para desaparecerem em seguida.
— Os reféns estão na água! — gritou Kurt, protegendo-se quando uma outra rajada de tiros varreu o barco. — Eu ainda aqui estou preso. Não consigo sair para mergulhar. Joe, podes fazê-lo?
— Não duvides — gritou-lhe Joe.
Ele estava a lidar com disparos esporádicos vindos de alguém escondido por detrás dos veículos, e com tiros perdidos vindos da cabana onde Hassan se tinha escondido. Fechou a válvula de uma das garrafas de oxigénio, cortou a linha que a atava às outras e conseguiu pegar nela.
Foi até ao lado mais distante da cabina, usou a garrafa para partir o vidro da janela e atirou-a através da mesma.
— Zavala a despedir-se! — anunciou ele.
Correu e mergulhou através da janela de uma forma perfeita, cortando as águas sem que nenhum tiro o atingisse.
Uma vez submerso, Joe nadou rapidamente até ao fundo para agarrar na garrafa.
Abriu a válvula, deixou que uma torrente de bolhas saísse, e pôs a ponta da mangueira na boca. Não seria a melhor maneira para respirar, mas, decerto, funcionaria.
Voltou-se e começou a nadar por baixo do barco de mergulho, em direção à base da ponte. A baía era como uma piscina e ele não tardou a ver os D’Campion a debaterem-se no fundo, iluminados por faixas de luz dourada.
Com o tanque seguro por baixo de um braço, Joe começou a dar às pernas, servindo-se também da mão livre. Para um homem habituado a nadar com barbatanas, parecia-lhe estar a progredir muito lentamente. Conseguiu alcançar a areia a uma profundidade de quatro metros e serviu-se dos pés para dar mais ímpeto ao modo como se movia. Já estava quase debaixo da ponte quando as primeiras balas começaram a cortar a água na sua direção, deixando longas filas de bolhas à sua passagem.
Da sua posição no flybridge, Kurt deu-se conta do perigo. A água da baía era transparente como o vidro e quase igualmente lisa. O atirador que estava na ponte podia ver Joe sem qualquer problema. Quando chegasse junto dos D’Campion, ele estaria mesmo por baixo da espingarda.
Sentindo-se encurralado, mas incapaz de permitir que os D’Campion se afogassem, ou que o seu amigo fosse trespassado com tiros, Kurt fez a única coisa que lhe pareceu racional: não olhou a meios.
Pegou na carga de C-4, marcou cinco segundos no temporizador, e pressionou ENTER. Com um movimento do braço, atirou-a para a cabana. A carga caiu muito perto e a explosão abanou a construção, arrancando-lhe grande parte do telhado e fazendo com que as paredes começassem em seguida a cair, uma de cada vez, como um castelo de cartas.
Aproveitando-se da distração criada pela explosão, que veio interromper o tiroteio, Kurt agarrou-se às alavancas do barco, pô-las para a frente e rodou o guiador. Porque tinham entrado de marcha-atrás, para o caso de terem que fugir rapidamente, a proa estava apontada para as águas desimpedidas do Mediterrâneo. Mas assim que Kurt rodou o leme, o barco começou a dirigir-se à ponte a alta velocidade.
Seis metros abaixo, Joe nadava de costas, segurando no tanque entre ele e os riscos de bolhas que marcavam a presença de cada bala que entrava na água.
Retirou então a mangueira de ar da boca, libertando assim uma erupção de bolhas com as quais ele esperava poder esconder a sua verdadeira posição. As balas não paravam, caindo em volta dele como uma chuva de meteoros. Uma delas arranhou-lhe um braço, rasgando-lhe uma linha fina na pele que, em breve, começou a sangrar. Outra acertou na base da garrafa de ar, mas não conseguiu penetrá-la.
Finalmente, introduziu-se nas sombras ao lado dos D’Campion e deixou que cada um deles respirasse os jatos de ar.
Na ponte, o atirador começava a ficar frustrado. Hassan e os outros já estavam em debandada. — Acaba com eles, antes de te vires embora! — ordenou-lhe Hassan.
O atirador recuou, substituiu a carga vazia e pôs a arma em automático. Apontando para baixo, através de um buraco na ponte, segurou no cano. As bolhas tornavam tudo mais confuso, porém, cada vez que a sua presa respirava da mangueira de ar, a visão tornava-se-lhe mais clara. Foi nessa altura que apontou e se preparou para puxar o gatilho.
Um vulto vermelho e cinzento surgiu de súbito, embatendo contra os pilares que suportavam a ponte. A velha estrutura tremeu com um gemido.
Por momentos, o atirador pensou que a ponte cairia, mas esta acabou por se imobilizar, enquanto o pó ia assentando. O atirador voltou a olhar pelo buraco por onde estivera a disparar.
O rosto sorridente do americano de cabelo platinado estava a olhar para ele, enquanto o mesmo segurava uma espingarda APS.
— Nem penses — disse-lhe o americano.
Mas o atirador tentou, de qualquer modo, empurrando o cano da espingarda rapidamente para baixo.
Porém, não foi suficientemente veloz. Ouviu-se então um único tiro com um som estranho.
Algures num local da sua mente, o atirador reconheceu o som como pertencendo às enormes balas da espingarda APS, os dardos, normalmente disparados debaixo de água, ainda que, neste caso, o disparo tivesse vindo através do ar. Esse pensamento foi mais do que instantâneo, interrompido pelo impacto de um projétil com dez centímetros.