—Vai mais depressa! — gritou Gamay.
O motor fora de borda já atingira a sua máxima velocidade, mas o barco não estava a atingir nenhuns recordes de rapidez.
Paul tentou deitar fora um pouco da gasolina, pondo a alavanca a fundo, pensando assim adquirir mais velocidade. Em seguida, abriu metade da válvula. Era uma manhã fria e húmida e ele pensou que isso talvez pudesse ajudar. Porém, o motor limitou-se a dar uns quantos estalos.
— Não estás a ir mais depressa — observou Gamay.
— Não me parece que este barco ande muito depressa — ripostou Paul. Fechou a válvula e limitou-se a evitar os obstáculos e os barcos atracados de ambos os lados do canal.
O pequeno barco que os seguia estava a fazer o mesmo e a aproximar-se mais no processo. Ao descreverem uma curva apertada à direita, a proa do barco que os seguia bateu num dos cantos da parte de trás do barco deles. A colisão fez com que dessem um salto em frente e raspassem o casco contra a parede de pedra.
Quando o rio se tornou mais estreito, o outro barco pôs-se ao lado do deles. Um dos homens ergueu um punhal e estava já prestes a cravá-lo em Paul quando Gamay pegou num remo que encontrara para agredir o atacante. Acertou-lhe num dos lados da cabeça e ele desequilibrou-se e caiu à água, mas um segundo indivíduo, alguém que ela reconheceu logo como sendo o Escorpião, pegou na ponta do remo e puxou-a para ele.
Gamay quase foi atrás do remo até ao outro barco, mas largou-o, caindo para trás no momento em que o Escorpião atirava com o remo borda fora.
Os barcos separaram-se uma vez mais, e ela viu-o a preparar o punhal. — Aproxima-te mais — vozeou ele ao seu compatriota.
— Dificulta-lhes a vida — gritou ela para Paul. — Guia esta embarcação como se estivesses muito atrasado.
Paul seguiu essa sugestão e os dois barcos ficaram novamente ao lado um do outro, embatendo com os lados em metal, o que fez logo com que dessem um salto para os lados. Uma barcaça que vinha da direção contrária fez com que eles se voltassem a separar, espalhando-se ambos para cada um dos lados do canal. Mas não demorou até os seus perseguidores virem outra vez na direção deles.
Foi então que os barcos bateram e ficaram presos um ao outro de um modo estranho; porém, o barco maior e mais veloz ganhou a batalha, fazendo com que o barco deles, que era mais pequeno, fosse contra uma das paredes do canal. Atingiram-na e rasparam por ela, provocando uma chuva de faíscas.
Quando se desviaram da parede, o Escorpião conseguiu debruçar-se-lhes na popa para retirar a pintura que estava aos pés de Gamay. Esta pegou fortemente num dos lados do caixilho, mas o homem continuou a fazer força e o caixilho de madeira acabou por se desconjuntar.
Gamay ficou com um bocado lascado de carvalho vermelho na mão, enquanto o Escorpião caía para trás no barco com o resto da pintura. O seu companheiro desviou imediatamente a embarcação deles em direção ao centro do canal, acelerando em seguida.
— Ele ficou com a pintura! — gritou Gamay.
Os papéis reverteram-se por momentos e Paul virou logo o barco. Ambas as embarcações voltaram a chocar, mas não ficaram presas e o impacto fez com que Paul retirasse a mão da alavanca de velocidade.
Quando voltou a agarrá-la, o pequeno motor fora de borda estava a roncar. Paul tentou remediar o problema mas acabou por afogá-lo com combustível, levando o motor a parar. O barco começou logo a abrandar.
Paul começou a puxar desesperadamente pelo fio de náilon para voltar a ligá-lo.
— Depressa — gritou Gamay.
O outro barco estava a ir-se embora a toda a velocidade. Paul continuava a puxar pelo fio de náilon para ligar o motor. Por fim, este voltou a pegar e o barco começou a ganhar velocidade, porém, os outros já levavam um grande avanço, deixando-os para trás. Não demorou até os terem perdido por dentro do nevoeiro.
— Ainda os consegues ver? — perguntou Paul.
— Não — respondeu Gamay, tentando vislumbrar alguma coisa através da bruma.
Alguns minutos mais tarde, encontraram o barco. Estava vazio e abandonado, a flutuar junto à margem direita do rio.
— Eles já se foram embora — disse Paul, afirmando o óbvio. — Já os perdemos.
Gamay praguejou entre dentes e olhou para Paul. — Precisamos de telefonar para a polícia e para os paramédicos, para que eles se dirijam ao museu.
— E pedir-lhes que façam também uma visita à Madame Duchêne — acrescentou Paul.
Continuou a guiar o barco até terem encontrado umas escadas e um patamar junto à margem do canal. Saíram juntos e correram logo para a primeira loja que encontraram. Gamay não demorou a falar ao telefone e a polícia já vinha a caminho.
Agora não havia mais nada que pudessem fazer senão esperar.