Quando Kurt e Joe voltaram ao Cairo, a parte clandestina da Osiris International estava a desmoronar-se. Encontrara-se uma base de dados que mostrava bem o lado criminoso das suas ações. Pagamentos, subornos, ameaças. Nomes de operacionais. Nomes de ativos estrangeiros.
A vertente comercial manter-se-ia, porém, segundo Edo, seria talvez nacionalizada, dado que muitos dos investidores se tinham revelado criminosos.
Kurt estava preocupado com Renata e encontrou-a num hospital, já consciente e a recuperar, se bem que um pouco confusa. — Sonhei com crocodilos — disse ela.
— Isso não foi um sonho — disse-lhe Kurt.
Explicou-lhe de que modo o antídoto funcionava e de como eles o tinham descoberto. E ficou ao lado dela, até uma equipa médica italiana ter chegado, para a levar para o aeroporto, onde deveria partir para Itália para ser observada.
A seguir foi ver como estavam os Trout. Estes explicaram-lhe os problemas que tinham encontrado em França.
— Gamay chegou mesmo a desmontar as pinturas de Villeneuve — disse Paul —, porque ela pensava que ele talvez pudesse ter escondido o segredo dentro de uma delas. Dois dos trabalhos nada revelaram. Foi quando alguém chamado Escorpião nos roubou a terceira pintura.
— Aprecio todos os vossos esforços — disse Kurt —, mas tenho de vos perguntar o que vos teria feito pensar que a tradução de D’Campion estaria escondida numa pintura?
— Havia qualquer coisa nas cartas de Villeneuve a D’Campion que nos fez pensar que ele estava a deixar uma pista ao seu velho amigo.
— Nas suas cartas?
— Na sua última carta — explicou Gamay. — Villeneuve escreveu acerca do seu receio do que Napoleão faria se viesse a ter de facto a Névoa Negra em seu poder. «Talvez seja melhor que a verdade nunca seja revelada. Que fique consigo no seu pequeno barco a remos a caminho do abrigo no Guillaume Tell.» Quando eu e o Paul olhámos para as obras que Villeneuve alegadamente tinha pintado, uma delas representava um pequeno barco onde uma tripulação de vários homens remava entusiasticamente. Pensámos que a tradução talvez estivesse escondida no verso.
— Mas os homens que nos atacaram roubaram-nos essa pintura antes mesmo que o pudéssemos verificar — acrescentou Paul.
— Não me pareceu que houvesse aí qualquer coisa escondida antes de eles a terem roubado — observou Gamay. — Era apenas uma ideia parva.
Kurt ouviu o que ela disse, mas não a estava a escutar. Estava perdido nos seus pensamentos. — Diz-me outra vez o que dizia a carta.
Gamay repetiu a citação: — «Talvez seja melhor que a verdade nunca seja revelada. Que fique consigo no seu pequeno barco a remos a caminho do abrigo no Guillaume Tell.»
— «Que fique consigo» — repetiu Kurt —, «no seu pequeno barco». — De súbito tudo lhe começava a fazer sentido. — Gamay, és um génio! — exclamou.
— Um génio? Porquê? — perguntou ela.
— Por tudo — disse Kurt. — Vão até Malta. Encontrem-se com os D’Campion. Peçam a Étienne que vos mostre o trabalho que o seu antepassado pintou sobre a Batalha da Baía de Abukir. Ficarão logo a saber porquê, assim que o virem.