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Ilha de Gozo, Malta

21h00

Os Trout encontraram-se com os D’Campion na propriedade destes. Nicole conduziu-os até à sala de estar.

— Desculpem toda esta confusão — disse ela. — Ainda estamos a fazer limpezas.

Étienne encontrou-os junto da lareira quase apagada. — É com muito prazer que vos recebo — disse ele. — Todos os amigos de Kurt Austin e Joe Zavala são também amigos nossos. E, se bem que perceba que ele vos tivesse enviado até nós, creio não entender bem porquê.

— Ele queria que nos mostrasse uma pintura — esclareceu Gamay. — Uma que, aparentemente, ele admirava muito.

— A que Émile pintou — retorquiu Étienne.

— A da Baía de Abukir.

Étienne desviou-se. Por detrás dele, por cima da lareira, via-se a pintura.

— Importa-se que a tiremos da parede? — perguntou Paul.

Um ar de preocupação perpassou pelo rosto de Étienne. — E por que motivo iria fazer uma coisa dessas?

— Porque temos razões para acreditar que Émile escondeu a tradução por detrás dela, com a intenção de a enviar a Villeneuve. Era a única coisa que nenhum grande senhor francês roubaria, o que lhe dava uma certa segurança.

— Custa-me muito a acreditar no que me diz — observou Étienne.

— Só há uma maneira de descobrirmos.

Com todo o cuidado, retiraram a pintura do sítio onde estava pendurada. Usaram uma fina lâmina de barba para separar o forro da tela. Gamay introduziu a mão e, com as pontas dos dedos, tocou numa folha dobrada de papel. Retirou então um grosso pedaço de pergaminho. Este foi posto em cima do vidro que cobria o tampo da mesa da sala de jantar, e aberto com um cuidado meticuloso.

Os hieróglifos eram óbvios. A tradução estava escrita por baixo deles. Névoa Negra. Bafo de Anjo. Névoa da Vida. Podia ler-se uma data num dos cantos.

— Frimário XIV — leu Étienne. — Dezembro de 1805. — Olhou então para cima. — Todo este tempo… — observou. — Esteve aqui durante todo este tempo…

— Poderia ter demorado umas meras centenas de anos — disse Gamay —, mas a contribuição de Émile para o conhecimento da antiguidade ficará agora registada para sempre. A data da pintura e a correspondência com Villeneuve irão provar que ele foi a primeira pessoa a traduzir hieróglifos egípcios. E esta descoberta em particular ficará para a História como sendo incomparável. Será lembrado como o mais importante dos savants de Napoleão.