Roma
Durante cerca de vinte e quatro horas, Alberto Piola mal pôde descolar os olhos da televisão. Eram constantes as imagens da polícia e das unidades militares regulares a enxamearem a central hidroelétrica da Osiris no Cairo. Um vídeo, tirado de um helicóptero de um canal de notícias, no exterior da central, mostrava um remoinho de água que estava a ser sugada pela conduta de escoamento e conduzida até aos aquíferos. Viam-se centenas de soldados em terra, jipes, tanques e camionetas que enchiam o parque de estacionamento.
Rumores ligando a Osiris ao desastre de Lampedusa e à seca que percorrera o Norte de África espalharam-se como fogo na palha. Ao ouvir que Shakir e Hassan estavam mortos, Piola sentiu uma certa esperança de que a sua ligação à Osiris tivesse também morrido com eles. Mas, bem no fundo, sabia que assim não era, de modo que fez planos para escapar.
Abriu um cofre que tinha na parede e retirou de lá uma pistola de 9 milímetros e dois maços de notas, cerca de vinte mil euros. Da mesa da sua secretária retirou a chave do Fiat insignificante que ela conduzia. Ninguém iria reparar nele no interior de um veículo como esse.
Saiu do escritório e começou a andar pelo corredor, tentando manter-se calmo. Já estava a aproximar-se das escadas quando apareceram os Carabinieri. Voltou-se, e começou a andar na direção contrária.
— Signore Piola — gritou um dos polícias. — Pare neste preciso momento. Temos um mandado para a sua captura.
Piola voltou-se e começou a disparar.
Os tiros acabaram por dispersar a polícia, fazendo com que os civis, que estavam no corredor, fugissem para se proteger. No meio de todo aquele caos, Piola correu à vontade. Irrompeu na antessala e empurrou várias pessoas que estavam no seu caminho, enquanto se apressava para as portas duplas. Bateu no rosto de um homem, que não se tinha desviado com a velocidade que ele pretendia, e voltou a disparar para os polícias que tinham vindo atrás dele.
Alcançou a porta mais distante, abriu-a e entrou de rompante na sala principal de conferências. — Mexam-se! — gritou ele para toda a gente. — Saiam da minha frente!
Ao avançar, com uma pistola levantada na mão, a multidão dividiu-se a meio como o Mar Vermelho; toda a multidão, exceto um homem com cabelo ruivo cortado à escovinha e com uma pera e bigode. Este homem aproximou-se dele, vindo de um dos lados, observando-o bem, como um jogador de hóquei no centro do campo de gelo.
Piola esbarrou contra uma parede, fez ricochete e caiu ao chão. Os euros espalharam-se por todos os lados como papelinhos de Carnaval, mas manteve a pistola bem firme na mão. Levantou-se a abaná-la, pronto para disparar, mas nunca chegou a ter essa oportunidade, dado que esse mesmo homem lha conseguiu tirar da mão.
Piola reconheceu então o rosto do seu atacante. Tratava-se de James Sandecker, o vice-presidente americano. Um instante depois, o punho direito deste incidiu no rosto de Piola, atirando-o de novo ao chão.
O murro atordoou-o o tempo suficiente para que a polícia pudesse chegar rapidamente, para o dominar. Foi levado já algemado, a refilar em voz alta. A última coisa que viu, antes de sair da divisão, foi James Sandecker a massajar os nós dos dedos e a sorrir.
Com Piola fora de jogo, Sandecker sentou-se ao fundo da mesa de conferências. Todos pareciam chocados, mas um sorriso de satisfação instalara-se firmemente no rosto de Sandecker.
O ajudante do vice-presidente, Terry Carruthers, trouxe um balde com gelo para ele meter a mão.
— A não ser que planeies trazer champanhe, não vale a pena dares-te ao trabalho.
Carruthers pousou o balde. — Receio bem que não…
Sandecker encolheu os ombros. — Que pena… — Pôs a mão no bolso do casaco, retirou um charuto e acendeu-o com o velho isqueiro Zippo.
Carruthers reagiu previsivelmente. — Não é permitido fumar aqui, senhor vice-presidente.
Sandecker recostou-se na cadeira. — Onde é que eu já ouvi isso? — disse ele, criando um quase perfeito anel de fumo que se elevou sobre a mesa. — Onde é que eu já ouvi isso…?