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CAPÍTULO 18

Quando seu tio a alcançou, Violet estava um pouco mais controlada. Continuava apavorada devido ao segredo que guardava, mas sua determinação tinha voltado, fortalecendo sua vontade e construindo um muro de compostura. Tinha parado de chorar e andava em círculos enquanto o líder da equipe permanecia impassível, esperando para ver o que aconteceria.

Ela correu para o tio quando o viu aproximar-se como uma força impossível de ser contida. Ele a envolveu com os braços, e ela finalmente se sentiu segura.

Não queria perder mais nem um segundo, e não podia correr o risco de que alguém ouvisse o que ela sabia.

— Ele está aqui — ela sussurrou contra o peito do tio.

Ele não a soltou, e Violet achou que o abraço tinha até apertado um pouco mais.

— O que você está dizendo, Violet? — perguntou ele, apesar de ela achar que ele sabia exatamente o que ela estava dizendo.

Ela se afastou, apenas o suficiente para respirar, mas não o bastante para que outros a ouvissem.

— Eu o vi. Ele está ali. — Apontou com a cabeça para a direção de onde ela viera.

Tio Stephen ficou rígido como uma estátua, e Violet achou que ele provavelmente estivesse resolvendo como proceder.

— Tem certeza?

Ela assentiu.

Ele ponderou por um instante.

— Você a sentiu? — parecia ter dificuldade para fazer a pergunta. — Mackenzie Sherwin?

Violet não sabia ao certo como responder, então o fez da maneira como podia. Manteve a voz como um sussurro fraco.

— Tem alguém lá… enterrada. E ele está guardando o corpo. — Engoliu em seco, apenas imaginando como ela e o tio pareciam naquele instante, abraçados e trocando sussurros. — Acho que ele está cuidando para que ninguém a encontre lá.

O tio mordeu o lábio inferior enquanto Violet olhava novamente para ele, observando e esperando para ver o que planejava fazer. Ele olhou para ela, e não era mais o tio que a encarava, e sim o chefe de polícia de uma cidade aterrorizada pelo desaparecimento das próprias crianças. Sua determinação só se comparava à dela.

— Como ele é?

Violet balançou a cabeça, desejando que pudesse dizer.

— Não sei, na verdade. Muito comum, eu acho. Só soube que era ele… — lutou para encontrar as palavras certas, e, como sempre, quando tentava verbalizar o que sentia, seu discurso soava inadequado. — … Sabe, pelo que senti em torno dele.

— Violet! Violet! — eram gritos do pai, que se aproximava, correndo, do local em que ela e o tio estavam.

Ele afastou Violet do irmão e a soterrou em um abraço tão confortante quanto o do tio, mas de um jeito totalmente diferente.

— Meu Deus, que bom que está a salvo — suspirou na cabeça da filha. — O que você está fazendo aqui? Há quanto tempo está aqui?

Violet olhou silenciosamente para o tio, pedindo ajuda. Sabia que o pai daria um ataque quando percebesse o que ela realmente fazia ali… e o que tinha descoberto.

O tio deu uma piscadela, mas não ofereceu nenhum resgate.

— Aliás, eu disse para seu pai que você estava aqui. — Em seguida olhou por cima da cabeça da sobrinha para o irmão, novamente sério, e disse: — Precisamos conversar.

Normalmente, em momentos como aquele, Violet seria posta de lado, para que os adultos pudessem conversar em particular. Mas seu pai se recusou a soltá-la, e tudo o que o tio disse a ele era resultado direto do que a menina acabara de confessar. Afastaram-se dos ouvidos atentos dos voluntários, que tinham começado a se reunir com a aparição do chefe de polícia, e dos próprios oficiais, a maioria dos quais viera com o tio após a chamada da sobrinha em apuros.

Stephen Ambrose repetiu calmamente o que Violet lhe dissera, sobre o que ela vira, e a cada palavra ela podia sentir o braço pesado do pai comprimindo seus ombros de forma protetora, até ela começar a achar que poderia se dividir em duas com o apertão. O pai perguntou praticamente as mesmas coisas que o tio, mas direcionou-as ao irmão, em vez de a ela, como se fingir que Violet não estivesse ali pudesse de alguma forma protegê-la de precisar reviver a experiência.

Quando terminaram com os sussurros apressados, o tio contou ao pai de Violet o plano que tinha idealizado. O pai não gostou nem um pouco.

— Greg, preciso que você traga Violet conosco… para o local onde ela viu o sujeito — o tio disse com a voz convicta de chefe de polícia.

— De jeito nenhum, Stephen. É da minha filha que estamos falando. Ela não vai chegar perto desse monstro novamente. Já é suficientemente ruim que ela o tenha encontrado uma vez. — Violet se surpreendeu com o tom gelado na voz do pai, principalmente pelo fato de ele normalmente ser calmo e afável.

— Olha, tudo o que ela precisa fazer é se certificar de que estamos pegando o cara certo. Não precisa nem falar nada: pode só apertar sua mão, e você me avisa. — A voz do tio era cuidadosa e diplomática ao apelar para o senso de justiça do irmão. — Depois que ela fizer isso, vocês saem, voltam para casa, e eu os encontro mais tarde. Ninguém nunca vai saber que ela esteve envolvida. Mas precisamos pegar esse sujeito… precisamos contê-lo, antes que ele ataque novamente. E Violet é a única que pode identificá-lo. — Esperou para ver se as palavras tinham surtido o impacto desejado, e em seguida disse: — Certamente, como pai, você não quer esse maníaco provocando mais prejuízos por aí.

Nenhum dos dois falou por um momento enquanto se confrontavam, cada um se mantendo firme em sua decisão. Violet achou que talvez o pai ganhasse a disputa e podia sentir que cada músculo do corpo dele estava rígido, enquanto encarava o irmão mais novo.

Em seguida o sentiu ceder, relaxando um pouco, tão pouco que, se não estivesse exatamente ao lado dele, talvez não percebesse.

— Só isso, Stephen. Ninguém fica sabendo que foi ela. E não vamos ficar esperando para ver o que acontece.

O tio assentiu, concordando com os termos do pai, e em seguida olhou para Violet.

— Você está bem, Vi? Pode fazer isso? — ele perguntou.

— Claro. — Era o que queria o tempo todo… pegar o sujeito.

* * *

O chefe Ambrose levou apenas três minutos para atualizar seus homens, e outros dez para afastar os voluntários que se reuniam discretamente na área. Utilizou apenas os oficiais que tinha trazido ao ir ao encontro de Violet, e não lhes disse quase nada, apenas que um voluntário tinha visto algo suspeito.

O plano era simples, e precisava ser executado de forma silenciosa e rápida. Não queria problemas. Havia civis demais na área, e ele precisava se certificar de que ninguém sairia machucado.

Quando estavam prontos, o tio Stephen deu o sinal para que seus homens os seguissem. Ninguém questionou o porquê de Violet e o pai estarem com o chefe de polícia e os oficiais.

Tudo acabou em uma questão de minutos, pelo menos a parte dela.

Violet encontrou novamente o homem com facilidade, o que estavam procurando. Estava exatamente no mesmo lugar onde o vira da primeira vez, guardando o corpo de uma menina anônima morta.

Violet apertou a mão do pai, com o máximo de força possível, e ele transmitiu ao tio o sinal que confirmava que aquele era, de fato, o homem que procuravam. Olhares foram trocados silenciosamente entre os homens que trabalhavam para o tio de Violet e em seguida ela foi praticamente arrastada pelo pai através das árvores: passaram pelos voluntários, que não imaginavam o drama que se desenrolava no interior do bosque, e seguiram em direção ao epicentro dos esforços de busca e resgate. Ela se segurou nele com tanta força quanto ele a segurava, um não querendo soltar o outro por nenhum segundo.

Quando chegaram à clareira, no limite da floresta, Violet ouviu o pai soltar um suspiro pesado de alívio, como se tivessem acabado de passar por um campo minado e saído ilesos. E ela concluiu que, de alguma forma, era o que tinham feito.

— O tio Stephen vai vir mais tarde para nos contar o que aconteceu? — Violet perguntou enquanto se aproximavam do carro estacionado. Entregou as chaves para o pai.

— Ele vai assim que puder, mas pode ser que demore um pouco — respondeu com honestidade. — Isso é sério, Violet. Muito sério, e ele vai ter de explicar para todo o mundo como encontrou o sujeito.

Violet não se importava com a forma como o tio explicaria, mesmo se tivesse que dizer o nome dela, pois esse era o fim pelo qual vinha torcendo e esperando.

Pegaram o assassino.

As próximas horas passaram como um borrão para Violet.

* * *

Refugiou-se no quarto assim que foi possível, fato que se deu quase imediatamente, pois o pai precisava de tempo para conversar com a mãe. Teria de explicar os acontecimentos da manhã no bosque atrás da casa dos Hildebrand, e depois precisaria acalmá-la. E Violet não queria estar perto deles durante essa conversa, sabendo que a mãe teria um ataque pelo que ela havia feito… caçar um assassino por conta própria.

Esperou até que estivesse longe dos olhos abelhudos dos pais antes de ver se havia recados no celular. Era algo que Violet mal podia esperar para fazer desde que ela e o pai tinham entrado no carro e ela ouvira as vibrações do aparelho, alertando-a sobre ligações perdidas.

Abriu o aparelho e verificou os registros de chamadas. Percebeu que estava prendendo a respiração, torcendo para ver o número de Jay, que era o único que ela queria ver. Apesar de o número dele claramente não estar na lista, havia dois números que não reconhecia.

Checou o correio de voz, e a gravação automática lhe informou que tinha catorze novas mensagens.

Ouviu, apagando cada uma em seguida, acumulando frustração a cada recado decepcionante que não era de Jay. Quando terminou, organizou as chamadas na cabeça.

Chelsea tinha deixado um recado. Um era da mãe, querendo saber se tinha encontrado o pai, e a que horas achavam que iriam voltar. Doze eram de Grady, que aparentemente tinha sido quem ligara dos números desconhecidos, provavelmente por achar que Violet estava selecionando os que iria atender. Não tinha sido o caso, mas somente por falta de acesso ao telefone, pois, se estivesse com ele, era o que teria feito.

Nenhum dos recados era de Jay.

Os recados de Grady eram patéticos, combinavam pedidos de perdão com desculpas idiotas sobre ter bebido demais. Admissões de culpa e explicações foram um tema comum nas doze mensagens de voz, enquanto primeiramente pedia, depois implorava, para que ela ligasse de volta, só para que ele pudesse dizer quanto lamentava. Como se já não o tivesse feito pelo menos uma dúzia de vezes.

Mas Grady era a última pessoa com quem Violet queria falar naquele momento.

Ouviu vozes no andar de baixo, e primeiro achou que os pais estivessem discutindo, provavelmente por sua causa, pois falavam alto demais. Mas, ao ouvir outra voz, achou que talvez o tio tivesse passado lá para atualizá-los.

Levantou-se de um pulo e correu pelas escadas.

Em seguida parou onde estava, surpresa demais para dar mais algum passo.

Na cozinha, seu pai e Jay estavam próximos, conversando calmamente, mantendo as vozes baixas — em tom sério. Violet ficou surpresa com quanto Jay parecia pertencer àquele lugar, àquele cenário.

Nenhum dos dois levantou o olhar imediatamente, apesar de Violet ter certeza de que ambos sabiam que ela os observava. E alguma coisa na maneira como evitavam olhar para ela propositalmente a deixava plenamente ciente do fato de que ela era o assunto da conversa.

Sabia que o pai provavelmente estaria contando a Jay sobre a manhã no bosque. Detestava que falassem dela, ignorando-a.

Jay olhou para Violet, e havia alguma coisa na expressão de seu rosto que a fez deter-se. Ele a olhou de um jeito que, sem dizer nem uma palavra, transmitia que não estava nem um pouco satisfeito com o que ela fizera e que tinha muito a lhe dizer quando estivessem a sós.

E havia mais alguma coisa.

Foi quando ele estava virando a cabeça de volta para seu pai: Violet poderia jurar — e teria apostado — que vira Jay sorrir. Apenas um sorrisinho… quase imperceptível para qualquer um que não fosse ela. Tinha certeza de que o pai não vira, pois continuou a discussão sem parar para respirar.

E aquele sorriso isolado, quase imperceptível, a derreteu.

Observou enquanto os dois conversavam por vários instantes. Imaginou quanto do que realmente acontecera o pai estava contando a Jay, e o que estaria omitindo.

Não era segredo que Jay sabia sobre a “habilidade” de Violet, mas ela não se lembrava de nenhuma época, nem de uma única ocasião, em que os pais tivessem falado sobre o assunto na frente dele. Sempre houve um acordo implícito de que era para ser mantido em sigilo… como acontece com todo bom segredo de família. Era o que eles tinham a esconder.

Ficou surpresa quando viu o pai esticar a mão formalmente para Jay. Era mais um gesto entre dois homens de negócios do que esperaria ver entre o pai e o melhor amigo.

Sem hesitar, Jay aceitou, e eles apertaram as mãos. Em seguida, o pai olhou para ela e balançou a cabeça afirmativamente. Era como se estivesse lhe dizendo que tudo tinha sido resolvido, apesar de Violet não fazer ideia do que aquilo significava. Depois desapareceu calmamente pela porta de trás, indo em direção ao estúdio da mãe, onde Violet presumiu que ela estaria lidando com suas frustrações com ajuda da arte.

Repentinamente constrangida por estar a sós com ele, Violet resolveu desviar a atenção deles dois, pedindo a Jay que explicasse o que ele e o pai conversaram de forma tão séria. Entrou na cozinha se sentindo nervosa e insegura.

— O que foi aqui…

Mas antes mesmo que ela pudesse concluir a frase, Jay tinha dado dois longos passos, tomado Violet nos braços enquanto sua boca cobria a dela de forma possessiva.

O beijo foi faminto e passional, e Violet foi arrebatada imediatamente, querendo mais… exigindo mais. E ele a colocou no chão, apenas o suficiente para que estivesse sobre a ponta dos pés, ao pressionar-se contra ele, esforçando-se para se aproximar ao passar as mãos ao redor da cintura dele e puxar as costas da camisa em sua direção. Sentiu-se tonta, de uma maneira agradável — da melhor maneira possível — e se permitiu embarcar na emoção, aproveitando cada instante, cada carícia da língua dele na sua. Ele movia as mãos incansavelmente nos ombros de Violet, nas costas, e subia novamente para a nuca, onde os dedos se mexiam, provocantes, para atraí-la para mais perto.

Ele recuou, apenas levemente, movendo os lábios gentilmente sobre os dela, e Violet podia ouvir a respiração de Jay em arfadas. Sabia que respirava de forma tão pesada e desigual quanto ele, e pôde sentir uma frustração inominável, como jamais sentira, agitando-se dentro de si.

— O que você ia dizer? — ele perguntou, e ela podia senti-lo sorrindo aquele sorriso torto contra seus lábios em chamas.

Não fazia ideia do que ele estava falando. Poderia estar falando alguma língua estrangeira desconhecida naquele instante.

Não esperou que ela se recobrasse e respondesse à pergunta. Em vez disso, ficou com pena e parou de provocá-la, aplacando a irritação que ela sentira quando suas bocas se afastaram. Ela se rendeu ao ataque violento dos beijos profundos e ferventes dele e torcia vagamente para que ele estivesse tão abalado quanto ela. Queria que aquela sensação nunca acabasse.

Estava apenas levemente ciente de que se moviam, de que ele a conduzia pela própria casa, enquanto a acariciava, tocava e explorava com suas mãos firmemente gentis. Foi apenas quando ele a pôs sentada que Violet percebeu que tinham chegado ao seu quarto, e que ela estava sendo colocada na cama.

Sentiu o colchão se mover bastante sob o peso deles ao se agarrar a ele, e só pensou brevemente no fato de que os pais estavam em casa… em algum lugar no andar de baixo… antes de as carícias deliciosas da língua dele fazerem com que ela perdesse qualquer coerência outra vez.

As mãos dele eram tão incansáveis quanto as dela, e Violet não fazia ideia de quanto tempo estavam deitados daquele jeito, em sua cama, tocando um ao outro com paixão frenética. Sentia-se como se não pudesse ficar próxima o suficiente dele… como se esses fossem os únicos instantes que teriam juntos, e que precisavam tirar o máximo de vantagem desse tempo precioso.

Mas depois os beijos se tornaram infinitamente mais profundos… assumiram uma languidez, sem pressa, enquanto começavam a aprender a sensação do gosto um do outro. Ela passou as pontas dos dedos nos pelos grossos dos braços dele e curtiu a sensação dos músculos lisos e fortes sob a fina camada da camisa. Gostava da maneira como os dois se encaixavam, perfeitamente, como duas metades que se completam.

Por um instante as bocas se afastaram, e Jay olhou para ela. Os lábios de Violet se curvaram em um meio sorriso enquanto olhava para ele; estava inteiramente descabelado, e ela o examinou. Desejava o toque dos lábios inchados dele nos dela, e o desejo ardia. Quando a frustração crescente se tornou demais para ser suportada, ela fechou a distância entre eles, deixando os lábios percorrerem preguiçosamente os de Jay ao respirar em sua boca aberta, provocando-o. Ele agarrou-a com firmeza outra vez, arrastando-a para perto, a respiração desigual enquanto possuía a boca da garota com prazer voraz.

Ela queria mais que simplesmente isso. Queria mais que beijos e toques… seu corpo ansiava por mais, muito mais. Pressionou-se contra ele, movendo os quadris para a frente e saboreando a sensação elétrica do corpo dele contra o dela ao senti-lo reagindo fisicamente ao movimento. Fechou os olhos com firmeza enquanto ele se movimentava contra ela, e ondas de choque se espalhavam como raios por todo o seu corpo. Moveu-se novamente, esforçando-se para chegar cada vez mais perto de Jay, desejando-o como se fosse uma droga. O acúmulo de tremores dentro de Violet era, por sua vez, incrivelmente estimulante… e furiosamente insuficiente.

Então Jay se afastou, deslocando o corpo, para que seus quadris não mais se tocassem, e o esforço parecia monumental enquanto ele suspirava contra os lábios entreabertos de Violet.

Violet estava estarrecida, espantada demais com a reação do próprio corpo, de modo que não conseguia raciocinar, muito menos falar. Ele envolveu o pescoço de Violet de forma possessiva e puxou a cabeça da garota de encontro a seu ombro, como se dissesse silenciosamente que precisavam parar.

Violet precisou lutar contra o impulso de se sentir ofendida pela interrupção tão abrupta. Mas, por mais inexperiente que fosse, sabia que também não devia ser fácil para ele.

Ele esticou a mão livre e segurou a dela. Casualmente, ele acariciou a palma de Violet com o polegar enquanto os dedos se entrelaçavam, as mãos se acariciando suavemente, enquanto ficavam ali se recuperando.

Violet sentia-se cansada. Estava exausta como nunca antes. Sentia-se emocionalmente esgotada, mas ao mesmo tempo inebriada pela proximidade de Jay, e sabia que mesmo que fechasse os olhos, seria impossível dormir naquele momento.

Respirou a languidez deleitosa de simplesmente estar nos braços dele.

Após um tempo, achou que conseguiria falar novamente.

— Você não me ligou — ela disse, sondando o terreno entre os dois.

Sem ver o rosto de Jay, sabia que ele sorria.

— Eu sei.

— Você me magoou.

Ele beijou a cabeça de Violet, puxando-a um pouco mais para perto outra vez. Ela derreteu-se nele.

— Desculpe-me — ele sussurrou. — Não sabia exatamente o que dizer.

Violet estava tão absorvida na sensação do corpo dele contra o dela, que agora era ela que não sabia o que dizer. Após um instante sussurrou:

— Grady ligou para pedir desculpas.

Foi a coisa errada a dizer. Soube assim que as palavras saíram de sua boca e sentiu Jay enrijecer. Desejou retirar o que tinha dito assim que o fez, mas sabia que não podiam ignorar o assunto para sempre. Em algum momento teriam de conversar sobre o ocorrido na noite anterior.

— Deixou doze recados, todos eles me pedindo milhões de desculpas por ter agido feito um babaca. Palavras dele, não minhas. — Ela se apoiou no cotovelo, olhando para Jay.

Piscou os olhos, tentando se concentrar em continuar falando, e não em outras coisas.

— Não liguei de volta — ela disse.

Isso pareceu fazer com que ele relaxasse um pouco, aquelas simples palavras tranquilizadoras, como se houvesse alguma dúvida de que ela não estava exatamente onde queria estar naquele momento. Como se pudesse existir qualquer chance de que ela preferisse estar com Grady a estar com Jay. Ele apertou sua mão, ainda segurando-a, e puxou Violet para baixo, de modo que ela ficou deitada sobre o peito dele.

— Me beije outra vez — ele desafiou, um pouco de brincadeira.

Era tão estranho ouvi-lo dizer aquilo, ouvir essas palavras em voz alta. Eles tinham se beijado. Mais de uma vez. Mais que muitas. Já tinham ultrapassado em muito a barreira do “apenas amigos”.

Ela se inclinou e deu um beijo seco, fraternal nele. Em seguida ergueu a cabeça de novo e lhe sorriu inocentemente. Desejou que pudesse fazer uma auréola surgir sobre a própria cabeça, para intensificar o efeito.

Jay emitiu um som como um rugido para ela, em seguida a puxou para baixo… com força. Ele a virou, deitando-a sobre as costas, e ele por cima, e tomando vantagem da posição em que se encontrava, moveu os lábios sobre os dela com um toque suave como uma pena, de um jeito que era tudo, menos inocente. Até ela abrir a boca e permitir que ele a beijasse outra vez… completamente… meticulosamente. Violet se ouviu gemendo e podia sentir as batidas de sua própria pulsação palpitando ardentemente pelas veias.

Ele levantou a cabeça e olhou para ela, passando o polegar em seu lábio inferior.

— Era disso que eu estava falando. Um beijo de verdade.

Ela achou que ele provavelmente estivesse tentando se gabar, mas estava mais que satisfeita por ele soar tão trêmulo quanto ela após o beijo.

— Isso é estranho? — ela perguntou com um suspiro satisfeito.

Jay balançou a cabeça.

— Não — respondeu, passando a mão na pele sensível do braço de Violet. — Iria acontecer em algum momento. Só estou satisfeito por já ter começado… estava ficando cansado de esperar.

Violet ficou confusa. Ter começado? Mas que diabos isso deveria significar? Iria acontecer em algum momento? Como ele poderia saber o que iria acontecer?

Ela saiu de baixo dele.

— Como assim, você estava cansado de esperar? Esperar o quê, exatamente? — Levantou-se novamente sobre o cotovelo enquanto o interrogava, esperando por uma resposta.

Ele deixou as perguntas pairarem entre eles, por mais tempo do que precisava, provocando Violet deliberadamente enquanto ela esperava, impaciente. Mas quando finalmente respondeu, a leve irritação valeu a pena.

— Só estava esperando que você me quisesse tanto quanto eu a queria. — As palavras vieram serenas, mas cheias de impacto. — Eu sabia que ficaríamos juntos; era só uma questão de tempo. Ficava torcendo para você perceber. Mas para uma garota inteligente, você é um pouco lenta, Vi. Eu puxava assuntos sobre Lissie Adams, mostrava os bilhetes que ela deixava, torcendo para irritar você o bastante para que você finalmente admitisse o que sentia por mim.

Lissie Adams. Só de ouvir o nome da outra, Violet se arrepiou de inveja, estremecendo um pouco. Esfregou os braços de forma protetora e torceu para que Jay não percebesse.

— O que o faz pensar que eu estava sentindo alguma coisa? — perguntou desconfiada, como se ele tivesse lido sua mente. Se ela fosse o tipo de garota que mantinha um diário, juraria que ele tinha violado a tranca, para ler cada palavra.

Ele sorriu para ela.

— Porque estava — falou com segurança. — Eu sei porque eu sentia, e não havia a menor possibilidade de você não sentir também.

Não se incomodou em negar, e, em vez disso, perguntou:

— Então você usou a Lissie para me deixar com ciúme? — tentou soar indignada, o que era difícil, quando na verdade o que queria fazer era dançar, triunfante, pelo quarto. Imaginou o que Lissie pensaria se os visse agora, juntos em sua cama.

— Não, eu tentei usar a Lissie. Mas aparentemente você é mais teimosa do que eu imaginava. Tive certeza de que funcionaria. Em vez disso, o tiro saiu pela culatra, e você aceitou ir à festa com… outra pessoa. — Cerrou os dentes, provavelmente sem perceber, enquanto engasgava com as palavras, incapaz de dizer o nome de Grady. — E quando percebi que você ia com ele, concluí que a única maneira de vê-la lá seria convidando Lissie para ir comigo. Imaginei que pudesse conseguir pelo menos uma dança com você.

Violet não se conteve — riu. Um pouquinho. Era demais. Tudo aquilo. Jay tentando enganá-la para fazer com que ela declarasse para ele os próprios sentimentos. Grady tentando beijá-la na noite anterior. Depois isso… agora… ela e Jay abraçados na cama… no maior amasso. Era uma loucura.

— Você acha engraçado, é? — Ele parecia um pouco abalado com o fato de que ela estava rindo dele.

— Eu que me dei mal — ela disse, agora com seriedade. — Devo ficar em casa enquanto você e a Lissie Adams vão ao Evento de Boas-vindas. — Tentou fazer soar como se não fosse nada demais, mas a verdade era que a incomodava mais do que gostaria.

Jay esticou o braço e pôs a mão no pescoço de Violet. Puxou-a em sua direção, olhando-a nos olhos enquanto acabavam com a distância entre eles. Violet sentiu uma emoção angustiante só por estar perto dele outra vez.

— Liguei para ela ontem à noite e cancelei, depois que a deixei em casa. — Sua voz era espessa e rouca, e provocava arrepios em Violet. — Disse a ela que iria à festa com você.

Violet achou que o coração fosse explodir. Era exatamente o que queria ouvir havia semanas, talvez meses. Mas não ia liberá-lo assim tão facilmente depois daquele joguinho ardiloso.

— Desculpe-me — mostrou uma sinceridade debochada. — Já tenho um par. Além disso, não me lembro de você ter me convidado.

Ele franziu os olhos para ela, como se a desafiasse para uma discussão.

Eu sou seu par. Grady pode ir para o inferno. Talvez Lissie vá com ele, e ele possa agarrá-la a noite toda.

Estavam nariz com nariz, boca com boca. Violet sentia-se intrigada por aquele lado dele… o lado confiante, direto, que se recusava a aceitar um não como resposta. Inclinou-se para a frente e suspirou quando seus lábios mal tocaram os dele.

— Tudo bem — expirou fingindo derrota. — Eu vou à festa com você… com uma condição.

Os lábios dele se curvaram em um sorriso contra os dela.

— Qualquer coisa.

Ela olhou nos olhos dele enquanto passava a língua pelos próprios lábios, tocando propositalmente o lábio inferior de Jay. Aquele simples contato fez com que ela sentisse um frio instantâneo na barriga.

— Diga-me sobre o que você e o meu pai estavam conversando.

Jay se afastou como se ela tivesse acabado de lhe dar um tapa. E Violet percebeu que era quase como se o tivesse feito. Ele se sentou depressa, como se sua mente de repente tivesse se livrado do torpor sensual, e o sorriso provocante subitamente sumiu de seu rosto.

— Deixe para lá — ela disse, tentando recuar. — Esqueça que eu disse qualquer coisa. — Queria voltar para onde estavam. Mas era tarde demais. A mandíbula contraída de Jay deixava bem claro.

— Não — ele disse rispidamente. — Acho que deveríamos conversar sobre isso, Violet. — Até a maneira como disse seu nome de repente parecia dura e raivosa. — Seu pai me contou o que aconteceu hoje… no bosque. Ele me disse que você caçou o sujeito que matou todas as meninas… que se colocou em perigo. — Violet não sabia dizer se ele estava furioso ou aborrecido… ou ambos. Passou a mão pelo cabelo despenteado em um gesto apressado, que indicava que ele estava ficando agitado. — E não é a primeira vez que você faz isso. Problemas parecem segui-la aonde quer que você vá, e você é a única pessoa que eu conheço que parece não se importar. Não quero nem pensar no que poderia ter acontecido com você ontem à noite se eu não tivesse aparecido enquanto o Grady… a atacava. — Ele hesitou, como se realmente fosse demais pensar no assunto, mas em seguida continuou com a bronca. — Você não consegue nem ir ao shopping em segurança. Eu fiz uma promessa a seus pais, e você simplesmente saiu vagando sem me dizer para onde ia. — A voz de Jay estava repentinamente muito áspera, e parecia a Violet que ele raspava um quadro-negro com as unhas...

Ela se arrepiou com o tom de acusação, e de repente ele não era o único que estava irritado.

— E você não falou comigo durante uma semana! — rebateu. — O que foi aquilo? Passei a semana inteira esperando que você parasse de me ignorar. E tudo porque não pedi permissão? Você não pode me dizer o que fazer! Você não é meu pai, sabe.

— Obrigado por esclarecer, Violet — ele disse, com sarcasmo. — Seria assustador se você confundisse seu namorado com seu pai.

Violet praticamente deu um salto quando ele disse a palavra namorado. Obviamente ela notara que eles tinham cruzado a fronteira da amizade, mas não sabia ao certo o que aquilo significava para ambos. Aparentemente, Jay sabia com exatidão.

Mas isso não significava que ele poderia lhe dar ordens.

— Você não entende? Sem mim talvez ninguém encontrasse esse maluco. E agora, por causa do que eu consigo fazer, ele já era… acabou. O tio Stephen provavelmente já o prendeu depois que saímos de lá mais cedo. — Ela estava sentada longe dele agora, brava, e até um pouco magoada, pelo fato de que todos faziam parecer que ela havia feito algo errado. — Não vou me desculpar por isso. Não posso. Estou feliz por ele finalmente ter sido pego, e espero que ele apodreça na cadeia!

Ela não percebeu que estava gritando até ouvir uma batida na porta do quarto. Do outro lado, a voz suave do pai parecia marcada com um traço de preocupação:

— Tudo bem aí?

Ela mordeu o lábio, frustrada, e tentou se acalmar. De repente se sentiu embaraçada por ela e Jay estarem juntos na cama, mesmo que já tivessem estado ali, juntos daquela maneira, centenas, talvez até milhares de vezes. E nunca isso a incomodara antes, quando ainda eram apenas amigos; mas, de alguma forma, com o pai a poucos centímetros de distância, principalmente logo depois que tinham acabado de dar uns amassos, sentiu como se estivessem fazendo algo errado.

— Tudo bem, pai! — respondeu, tentando soar calma e contida. Depois encarou Jay por tê-la feito gritar.

Ouviram o som do caminhar de seu pai, que se afastava, e Violet notou que até os passos dele eram suaves e discretos.

Fez-se um longo silêncio quando ficaram sozinhos novamente. Palavras que precisavam ser ditas, e algumas que talvez não, eram como fogos invisíveis a explodir no espaço vazio entre os dois.

Jay cedeu primeiro.

Ele estendeu a mão e pegou a dela, prendendo-a com firmeza entre as dele.

— Olhe só, Violet, não sei exatamente como dizer isso, mas não quero que nada de ruim aconteça com você. Acho que não conseguiria suportar se alguma coisa, ou alguém, a machucasse. — O tom de voz ainda era firme e teimoso, apesar do sentimento doce por trás. Ele apertou a mão dela, no entanto… com firmeza, como se enfatizasse o argumento. — Eu sei que é egoísta, e não me importo que seja, mas não vou ficar parado e permitir que você corra perigo, mesmo que seja para capturar um assassino. — Ele soltou um pouco os dedos palpitantes de Violet, e sua voz ficou toda rouca e áspera outra vez. — Não posso perdê-la — explicou, dando de ombros, como se aquelas não fossem as palavras mais lindas que ela já tivesse ouvido. — Não agora, que finalmente a tenho.

Ela sentiu lágrimas se formarem em seus olhos e piscou com força, tentando contê-las. Estava completamente dominada pelo que tinha acabado de descobrir… percebeu antes mesmo que ele terminasse de falar. Sabia exatamente o que ele não estava dizendo enquanto passava o sermão sobre segurança.

Ele a amava.

Jay Heaton, seu melhor amigo desde a infância, estava apaixonado por ela. Não disse, mas ela sabia que era verdade.

E a parte que mais a assustava, a parte que a pegou totalmente desprevenida, foi que ele não estava sozinho nisso. Porque, mesmo que negasse havia muito, muito tempo, aquele sentimento sempre estivera ali… aguardando logo abaixo da superfície da amizade deles. E agora fora exposto, não tinha mais volta.

E era tão estranho até mesmo pensar no assunto, mas…

ela estava apaixonada por ele também.