JESS NÃO SE MOVEU por um longo minuto, preocupada. — Também tenho medo de um flagrante. Estamos empatados.
— Mas você sabia, desde o começo… — murmurou Alistair, beijando-a nos lábios. Depois, empenhou-se em remover com os dentes as luvas femininas que o incomodavam. Para ela, a ação teve um componente erótico. A visão de Alistair puxando as peças brancas despertou um instinto primitivo em Jess. Com os dedos livres, ela poderia tocá-lo com mais eficácia. Lembrou-se da promessa dele de tirar-lhe o vestido de seda da mesma maneira.
— Sabia, mas é impossível resistir. Quero sentir você inteiro.
As luvas caíram no chão da carruagem. Alistair afagou-lhe toda a pele dos braços e das mãos, detendo-se no anel de rubi que lhe trazia forte comoção. Quando ele a tocou com a língua entre as pernas, Jess produziu um som abafado. Não poderia ficar mais excitada do que já estava. Assim, segurou a roupa acima da cintura com uma das mãos, e com a outra guiou-lhe o membro ereto rumo à sua intimidade. Alistair não evitou um sussurro de prazer. E Jessica vibrou com a antecipação da volúpia que o amado deixaria pelo caminho.
Ao mesmo tempo, os dedos de Alistair percorreram as coxas de Jessica em toques ritmados, preparatórios. Ela adorou isso também. Mais ainda quando ele achou uma passagem na barra inferior do corpete e esfregou, certeiro, as dobras secretas de Jess. Ela puxou com os dedos o tecido branco de baixo, liberando-lhe o acesso.
— Você está quente e molhada — constatou ele, esfregando dois dedos no clitóris de Jess. — E me deixa fora de mim.
Sem as luvas, Jess sentiu-se livre para comprovar com as mãos a magnífica ereção do homem que tinha sobre si. Acariciou aquele instrumento de prazer com uma pressão bem dosada, cujo resultado foi potencializar a disposição do parceiro e retirar dele qualquer cuidado com eventuais ruídos, capazes de denunciá-los. De fato, Alistair rosnou ao penetrá-la, preenchendo-a por inteiro. Ela estava pronta e acessível. Assim se sentia desde o momento em que ele a fizera esvoaçar pelo salão de baile, mas sem deixar de tocá-la com o próprio corpo nos pontos certos.
Durante o ato em si, Jess mexeu-se pouco, devido à falta de espaço. Restringiu-se, passiva, a seguir o andamento da própria carruagem, cujas rodas às vezes batiam em pedregulhos soltos no pavimento. A posição de Alistair também era forçada. Parecia apressado em terminar. Ele sentiu a proximidade do orgasmo, enquanto ela percebia a pulsação do membro.
— Poderia ficar assim eternamente. Espere-me um pouco — pediu ela.
Estoicamente, Alistair se manteve dentro dela, deslizando o órgão viril por pontos sensíveis. Jess merecia o esforço para conter-se. Em uma pausa, ele levantou ainda mais o vestido dela, reutilizando os dedos e a língua a fim de estimulá-la. Suspirou ao ver Jess reagir de forma positiva, sem afetação. Ela absorvia todos os gestos voluptuosos do amante, determinada a compartilhar o êxtase próximo. De tempos em tempos, ele apertava com mãos firmes o corpo de Jess, como se necessitasse de um momento de possessiva ferocidade para adiar o próprio clímax. No entanto, ela não conseguiu ficar inerte. Segurou o pênis dele, já lubrificado com seu próprio líquido natural, e nunca teve tanta satisfação ao masturbá-lo. Depois, realizou uma manobra que sabia ser da preferência de Alistair: dirigiu com as mãos o membro para o interior de seu corpo e, segurando-o pela base, passou a esfregar a glande no clitóris, até começar a ofegar. Como um prêmio à dedicação de Alistair, encarregou-se então do movimento de vaivém, um tanto tosco devido às condições do ambiente, mas capaz de levá-lo ao clímax. O orgasmo dele veio intenso, irrefreável, e Jess o compartilhou, livre de amarras. Nesse momento, ela estremeceu e conteve, com a mão sobre a boca, o som e o arrebatamento do próprio êxtase.
Tinham terminado juntos, dando fim à pressão dos sentidos, mas o ato em si havia sido um tanto frustrante, devido às limitações do local. Saciados, mas doloridos, ambos estavam de acordo quanto a isso. Trocaram um olhar de amor e de entusiasmo. E prometeram buscar, sem demora, uma nova oportunidade. Pela primeira vez em minutos, entre afagos e palavras carinhosas, puderam escutar os ruídos vindos da rua.
Recompuseram-se depressa, prontos para voltar à normalidade.
Existiam muitos aspectos no homem que amava, pensou Jess. Alguns suaves como plumas, outros francamente selvagens ou mesmo depravados. Ela não conseguia imaginar-se vivendo sem nenhum deles. Em conjunto, tais traços de caráter formavam um todo que a completava. Os olhares mútuos se perderam um no outro até que a carruagem se aproximou do bairro de destino.
Minhas simpatias às debutantes que procuravam rivalizar com a encantadora marquesa. A antes fria lady T., agora viúva, pretendeu levar o apático lorde B. à mesma fogueira que a consumia. Caros leitores, o calor no ambiente era palpável. Algo escandaloso e infame, porém delicioso…
Michael acabou de ler a coluna do jornal em voz alta e observou a reação de Alistair, que se limitou a erguer as sobrancelhas.
— O que foi? — indagou ele para o amigo.
— Não seja modesto. Eu vi Jessica ontem à noite. Aquele vestido decotado... O que você fez com a minha cunhada?
— Melhor perguntar o que ela fez comigo. A resposta seria mais completa, garanto! — num rápido exame pelo salão do Clube Remington, Alistair Caulfield travou contato visual com diversos conhecidos, que pareciam intrigados com sua felicidade. O interesse se devia ao fato de que todos sabiam de sua mudança de comportamento. Não perdiam por esperar, pois ele ainda burilava tal mudança.
Naquela mesma manhã, havia visitado a viúva de um dos irmãos, na tentativa de oferecer-lhe assistência e conforto. Ela havia recebido um bom legado financeiro, mas tinha amado o marido e precisaria mais do que dinheiro e propriedades para seguir em frente em boa forma emocional. Precisaria de um ombro forte no qual se apoiar, e Alistair disponibilizou o dele, pois sabia quão importante um ente querido podia ser pelo simples fato de acordar de manhã e respirar. Assim, segurou a cabeça da cunhada junto de seu peito, imaginando como iria agir em uma segunda visita.
— Seu nome e o de Jessica foi tudo o que ouvi nas últimas horas — disse Michael, interrompendo o fluxo de pensamentos do amigo.
— O anúncio do nosso noivado vai aparecer nas colunas sociais de amanhã, cobrindo boatos e interesses escusos com o devido manto da respeitabilidade. A notícia devia ter saído ainda hoje, mas... atrasei-me na volta do baile dos Treadmore.
Alistair tinha decidido conservar aquela carruagem até o fim da vida. Ele e Jess poderiam até influenciar outras pessoas com sua mútua paixão, porém jamais o veículo — cenário de um ato de amor e sexo — seria reformado, vendido ou destruído. Quem sabe não serviria para uma pitoresca repetição?
— E quanto a seus pais? — perguntou Michael. — Pareceram pouco empolgados.
Alistair deu de ombros, sentindo uma leve pontada no peito, mas não a responsabilidade pela conduta dos pais.
— Eles encontrarão um modo de lidar com o assunto.
O amassar do jornal chamou a atenção de Caulfield para os punhos cerrados do amigo. Imaginou o que teria dito para provocar tal reação. Foi então que notou Michael fitando alguém ao longe e, seguindo-lhe o olhar, percebeu que o conde de Regmont entrava no salão ao lado de mais dois amigos.
— Vamos convidá-lo para um drinque? — indagou Alistair, voltando as costas para os recém-chegados.
— Está maluco? — Michael estreitou os olhos de forma estranha. — Mal tolero a respiração dele, pois indica que está vivo.
Nada mais precisava ser dito. A despeito das circunstâncias similares, Alistair não queria se intrometer, considerando que o próprio irmão de Michael, Benedict Tarley, tinha cobiçado e possuído sua Jessica.
— Que diabo deu nele? — desabafou Michael. — A esposa está em casa, doente e grávida, e Regmont borboleteia por aí como se fosse solteiro.
— Muitos nobres agem assim.
— Muitos nobres não são casados com Hester.
— A solução que lhe sugiro é deixar o país, mas você não pode.
Michael contemplou o amigo, curioso.
— É por isso que se ausentou da Inglaterra por tanto tempo? Por que Jessica se casou com Benedict?
— Em grande parte, sim.
— Não fazia ideia. Você resolveu bem a situação.
Alistair balançou uma mão de forma displicente.
— Na verdade, escondi a realidade de mim mesmo. Convenci-me de que meu interesse por Jess seria vencido graças à complacência. Ou seja, que minha decepção pessoal não deveria atingi-la. Se soubesse quanto ela me desprezava, na época, teria fugido de medo.
— Mas você está diferente agora — acrescentou Michael, estudando a fisionomia de Alistair. — Menos agitado, mais calmo. Domado por uma mulher, talvez?
— Droga! Baixe a voz quando falar assim.
Uma risada rouca desviou a atenção de Michael para o espaço atrás de Alistair. Pediu licença e se levantou, enquanto o amigo meneava a cabeça e pedia outra dose. O fato era que ele também não entendia Regmont. O único motivo para ele, Caulfield, estar no clube, consistia em não ter Jess a seu lado.
— Lorde Baybury.
Atendendo ao chamado, Alistair deparou com o sorridente Remington, dono do estabelecimento.
— Posso me sentar com você por um momento? — pediu o homem.
— Claro.
— Não vou incomodá-lo por tempo demais. Se não voltar logo para casa, minha esposa é capaz de vir me buscar dentro de um clube masculino! Perdoe-me pela ousadia, mas acho que vivemos problemas parecidos. Como proprietário, sei bastante sobre os sócios, e compreendo que a atual situação é difícil para você.
Alistair calou-se. Deduziu que Remington se referia a questões familiares e de paternidade, sendo ele próprio filho bastardo de um duque. Embora fosse o descendente mais velho da duquesa Louisa de Masterson, seu irmão mais novo, porém legítimo, herdaria o título e as propriedades da família. Ao compreender que Remington conhecia sua condição — um segredo partilhado apenas pela mãe, por Masterson e por Jessica —, ele se surpreendeu. Certamente, o proprietário ouvira rumores quando Alistair se associara ao clube, mas talvez tivesse informações mais precisas; talvez soubesse o nome de seu verdadeiro pai...
— Se precisar de assistência ou apenas de um ouvido amigo, conte com minha ajuda — disse Remington, surpreendendo ainda mais o interlocutor.
— Quer dizer que nós, bastardos, devemos ficar unidos? — perguntou Alistair, um pouco a sério, um pouco de brincadeira.
— Algo dessa natureza.
— Obrigado. — Existiam pessoas cuja amizade valia a pena, e Lucien Remington era uma delas.
Uma gritaria vinda do bar pôs de pé o ágil dono do clube, que se desculpou antes de se afastar para verificar do que se tratava. Alistair olhou por sobre o ombro e reconheceu Regmont e os amigos, que discutiam entre si junto do balcão.
— Só um instante — solicitou, segurando Remington pelo braço. — Levando em conta que a esposa dele logo se tornará minha cunhada, acha que Regmont será um problema também para mim?
— Sim, claro. Para todos. — Remington curvou-se em sinal de despedida e se afastou por fim.
De pé, Alistair procurou Michael e o achou no bar, perto do grupo de Regmont, mas não como parte dele.
— Vamos embora — propôs ao amigo.
— Ainda não. — Michael vasculhou o bolso interno do casaco e pegou a caixa prateada em que guardava os charutos, além de um lenço branco de linho. Ali perto, Regmont ria e protestava diante da advertência de Remington para manter-se quieto ou retirar-se do clube.
— Não é aconselhável ficar aqui. — Alistair pressentia confusão no ar. Regmont, embriagado, achava-se na fronteira entre o desafio fútil e
a estupidez. Michael, por sua vez, claramente se preparava para uma
boa briga.
Lorde Taylor, um dos acompanhantes de Regmont, deu um passo para trás, esbarrando, assim, em Michael, que acabou derrubando o lenço e a caixa prateada. Os caros charutos rolaram livres pelo chão.
— Mais atenção! — gritou Michael, curvando-se para pegar seus pertences.
Regmont censurou Taylor, depois agachou-se para ajudar Michael. Apanhou um charuto e o lenço, que pousara aos seus pés e lhe chamara a atenção pela beleza.
Michael estendeu a mão para pegá-los.
— Obrigado.
O conde passou o polegar pelas letras bordadas no canto do lenço. — Monograma interessante — comentou ele.
Observando a cena, Alistair soltou um impropério em voz baixa diante do inconfundível “H” bordado em linha vermelha.
— Por favor, Regmont — insistiu Michael.
— Acho que não devolverei tudo — disse Edward, entregando o charuto a Michael, mas guardando a peça branca no próprio bolso. — Isto me pertence, creio eu.
A tensão de Michael era palpável. Alistair tocou-lhe o braço, como para avisá-lo para ter cautela. O olhar feroz de Regmont denotava sua predisposição para o confronto físico.
— Se deseja o lenço, venha pegá-lo.
Michael cerrou os punhos, enquanto Remington se colocava entre os dois homens. Resolveu intervir, ladeado por funcionários do clube. — Podem decidir essa pendência lá embaixo, senhores — disse ele, apontando o lugar onde ficava o ringue de pugilismo —, ou então lá fora, mas não permitirei violência aqui.
— Prefiro um duelo com pistolas, ao ar livre — desafiou Michael, para desalento do amigo Alistair. — Nomeie seus padrinhos, Regmont.
— Taylor e Blackthorne — respondeu ele, apontando os dois atentos acompanhantes.
Michael balançou a cabeça.
— Baybury e Merrick são os meus. Eles discutirão os detalhes amanhã. Até breve.
— Mal posso esperar — disse Regmont, enquanto Michael saía calmo, alheio ao perigo a que tinha se exposto.