EPÍLOGO

ATÉ QUE TUDO se acalmasse, Louisa adiou por dez dias sua vontade de ir à Mansão Regmont depois de ouvir o relato do filho. O suicídio do conde havia repercutido intensamente nos meios sociais. A versão principal era que ele estava atolado em dívidas. Outra, como a de Lucien Remington, dizia que tinha sofrido uma crise de pânico diante da perspectiva de ser mortalmente baleado por Michael no duelo em negociação. O adversário, além de bom pugilista, era tido como exímio atirador.

— Sua irmã me parece bem — comentou a duquesa de Masterson assim que iniciou sua visita a Jessica e Hester.

Esta, mais corada, já se mantinha de pé e passeava ao lado de Michael nos jardins do solar. Ele a apoiava com o braço amigo.

— Sim, ela está mais forte a cada dia. E se lembra de coisas que a animam e a fazem rir — disse Jess, espiando pela janela. Até mesmo o velho Masterson havia comparecido à visita e desfrutava o dia de sol carregando o neto no colo, embora o herdeiro já ensaiasse os primeiros passos. O patriarca tinha mudado bastante, tornando-se um avô calmo e cordial.

— O jovem lorde Tarley não esconde o prazer que tem na companhia de Hester — percebeu Louisa enquanto Jess fixava o olhar no bonito par que Michael formava com sua irmã.

— É como um membro da família. Mas nos últimos dois anos provou-se imensamente valioso para nossa paz e segurança. Tanto quanto seu filho Alistair. Por falar nisso, onde ele está?

— Anda estudando um problema de irrigação. Espero que ele saiba que Masterson está bem impressionado com sua conduta.

Não havia meio de saber, porque os dois homens raramente trocavam uma palavra, porém essas discórdias familiares agora tendiam a ser esquecidas. Segundo Louisa, Alistair vinha demonstrando excelência não só no setor da navegação, mas também nos cálculos e projetos de engenharia. Jess sorrira ao ouvir isso. Ele também era excelente no uso de seus atributos físicos, porém isso constituía privilégio e prazer exclusivos dela.

O tempo passou e mudou muita coisa na vida daquelas pessoas. Conforme o previsto, Jessica e Hester foram morar com os Masterson, e o convívio entre todos revelou-se surpreendentemente agradável. O chefe do clã tinha perdoado a esposa, Louisa, e reconhecido Alistair como filho legítimo. Albert e Ema se casaram discretamente, já que ela se achava grávida, e adquiriram uma casa espaçosa, destinada a criar uma família grande e unida. Com o nascimento do bebê e herdeiro, Alistair transferiu-lhe oficialmente o título de nobreza que abominava. Ele também estava legalmente unido a Jessica após uma cerimônia civil e religiosa sem alarde e sem festa. Mesmo assim, a união entre uma nobre dama e um ex-libertino despertou comentários entre os especuladores da vida em sociedade e distraiu Hester durante sua recuperação. Nada poderia apressar a cura completa, porém, mais do que a devoção incondicional de Michael.

Cada vez mais apaixonados e inseparáveis, Michael e Hester adiaram o matrimônio para depois do primeiro aniversário da morte de Regmont. Seria a ocasião certa, segundo promessa de Jessica, para uma grande reunião social, comemorativa de todos os bons eventos. Na verdade, o casal havia resolvido aguardar a liberação médica de Hester, com a garantia de que poderia engravidar sem perigo. O aborto anterior fora atribuído a questões nervosas e emocionais, mais do que a problemas orgânicos.

— Milady — a criada interrompeu o chá da tarde entre Jess e Louisa, entregando à primeira uma carta. O sorriso com que abriu o lacre deixava claro quem era o remetente: Alistair. E era mais um bilhete do que um texto longo. Insuportavelmente solitário. Venha ao meu encontro.

Jess pediu licença e deixou a saleta. O interior da casa, quieto e pacífico, transmitia uma sensação de intimidade e bem-estar. Ela e Alistair, além de Hester, ocupavam uma ala inteira da vasta propriedade, enquanto o duque e a duquesa viviam em outra. Aquele era o segundo verão que passavam juntos, e o relacionamento havia ganhado novas dimensões. O nascimento do filho de Albert, futuro herdeiro do título familiar, trouxera grande alívio para todos. Jess usou a desculpa de uma festa próxima para reintroduzir a irmã na sociedade londrina. Michael esperava pacientemente a cura total dela, assim como Alistair havia esperado sete anos por Jess.

Num coche alugado, Jessica chegou ao novo escritório do marido, em um centro comercial de luxo. O lugar contava com espaço para a recepcionista, salão de trabalho para os funcionários, além da sala particular do proprietário, dotada de um recanto para repouso, com cama e tudo, obviamente isolado por uma porta com chave. Jess passou direto pela recepção e entrou. Não viu Alistair à mesa nem em outro local. Começou a subir a escada interna em espiral, e então escutou o som de um violino. Rejubilou-se. Ouvir o marido tocar era um de seus passatempos favoritos. Às vezes, ele empunhava o instrumento após fazerem amor, quando a emoção se tornava completa. O mesmo ocorria ao ver os desenhos que fazia, em traços suaves, das expressões dela depois do clímax. Não existiam palavras capazes de descrever a inspiração do autor. De modo eloquente, porém silencioso, Alistair exprimia a frequência e a profundidade com que pensava em Jess. No entanto, ele continuava sendo uma pessoa original, imprevisível, a ponto de montar uma espécie de garçonnière em pleno ambiente de trabalho. A Jess, só cabia esperar que fosse a única frequentadora feminina do local.

Ela entrou no pequeno quarto e sentou-se à cama, contente com o volume natural e intenso da música, que Alistair executava de peito nu. O cãozinho Acheron jazia aos pés dele, sobre uma almofada, parecendo extasiado com o som.

À medida que o marido movia o arco, seus músculos se flexionavam, criando visões fluidas, mas fascinantes, que logo aqueceram o sangue de Jess, pulsante de expectativa. Não era só o talento refinado dele que a seduzia, mas também o apelo de sua virilidade. Naquela tarde, ele havia desmarcado compromissos de trabalho só para receber a esposa em seu ninho especial. Encerrou a exibição, sob aplausos discretos da visitante, e guardou o instrumento na caixa. Depois, teve o cuidado de colocar Acheron para fora do quarto, no corredor.

— Gosto de ouvir você tocar — disse Jess em tom suave.

— Eu sei. — Alistair trancou a porta.

Ela sorriu.

— Também gosto de ver seu torso nu e essas costas provocantes.

— Também sei disso — disse ele, lançando-lhe um olhar de tirar o fôlego. Estava excitado e era uma figura bonita de se olhar.

Jess mordiscou o lábio inferior.

— Sinto-me vestida demais, diante de você.

— É verdade, mas isso tem jeito. — Aproximando-se de forma graciosa mas predatória, Alistair tocou com a mão o ventre de Jess em toques voluptuosos, sinal de que confiava em sua capacidade de acender os instintos femininos.

— Qual a agenda que pretende adotar? — Jess começou a despir-se após o gracejo. Para Alistair, era mais fácil, pois vestia apenas calças folgadas.

— Por motivos práticos, temos ficado pouco tempo juntos. E menos ainda juntos na cama. Faz apenas quase um ano que nos casamos e já nos portamos como...

— Pobrezinho. Não me lembro de você ter reclamado seus direitos conjugais.

— Você não se negaria, se eu tivesse. Preferi não aborrecê-la.

Aborrecer? Jessica estranhou o termo e o atribuiu a uma tentativa de fazer graça por parte de Alistair. Havia rispidez e urgência no toque dele. Em resposta, seus mamilos tornaram-se rijos sob o corpete. Ele podia adivinhar, claro. Daí ter-lhe arrancado a roupa de baixo e apertado-lhe os seios com pressão maior do que a necessária. Quente e molhada, Jess sentiu-se faminta de sexo. A tensão dos dois e o empenho em satisfazê-la eram proporcionais aos dias de abstinência.

Ela adorava todos os modos que Alistair tinha de praticar sexo, mas eram especiais os momentos em que ele a procurava em estado próximo ao descontrole. Jess podia abster-se de agitá-lo até a beira do precipício. Vulnerável, era ele quem a levava às alturas, para que caíssem juntos.

Ainda de pé, com as mãos percorrendo as coxas e as nádegas dela, Alistair colou seus genitais aos da esposa.

— Quero uma lua de mel — disse ele. — Semanas em um navio, um mês na Jamaica. Temos negócios em aberto por lá. Hester já está mais forte e pode passar algum tempo sem você. Além do quê, Michael cuidará dela, pelo bem do próprio coração.

— Você poderia viajar agora? Teria condições de se ausentar de Londres?

— Falei com Masterson. É a hora adequada, sim, enquanto ele está saudável e bem disposto. — Alistair beijou-a no rosto, depois nos lábios.

— Sonho em nadar com você, os dois nus, e em fazer sexo debaixo da chuva — confidenciou Jess. — Também quero ver as queimadas. Não é preciso me seduzir assim para obter minha aprovação. Irei com você a qualquer lugar, por qualquer motivo.

— Mas da maneira como estamos fazendo é mais agradável — retrucou ele, feliz. Abrigou sua ereção entre as pernas de Jess e balançou o corpo. — Você só terá que se conter nos gritos que costuma emitir.

— Enquanto você faz de tudo para provocá-los?

— Absolutamente.

— Talvez hoje seja seu dia de gritar. Vou levá-lo a pedir piedade...

— É um desafio, milady? — atalhou Alistair. — Sabe como lido com o assunto.

— Bem, só posso dizer que conto com isso.

Jess espalmou as mãos nas nádegas firmes do marido, guiando-o para a cama. Ali trocaram longas e vigorosas carícias orais que a levaram à beira do clímax. Mas ela, fincando as unhas na colcha, não se permitiu terminar antes de Alistair. Aguardou que ele a possuísse por meio de espertas estocadas, ora lentas, ora rápidas, as quais lhe abriram o portal da satisfação. Liberou seu próprio orgasmo quando sentiu que Alistair estava pronto também. Abraçaram-se durante o glorioso final, entoando juntos um indiscreto coro de gemidos, gritos e sussurros. Jess imaginou que talvez, graças aos momentos intensos e às medicações que vinha tomando, sua felicidade se completasse com uma inesperada gravidez.

Felizmente, do lado de fora da porta, o cachorrinho era o único ser vivo capaz de escutá-los. Acheron sentiu-se instado a reagir, por isso ganiu. Já era relativamente versado nos sons cativantes de um violino... mas não podia compreender o modo como os humanos demonstravam viver um amor sem limites.