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A mocinha acompanhava ao piano o irmão do menino. Ele descera de Correias por uns dias, antes de seguir para Campos do Jordão, num fim de tratamento que era, na verdade, uma demorada convalescença. Lá teria chance, sem risco de recaída, de começar, aos poucos, a exercer a advocacia.

O irmão não apresentava a aparência dos tísicos que o menino topara nos livros. Forte e corado, vestia-se com apuro e elegância, o laço da gravata muito teso, o lenço bem dobrado no bolso do paletó, as meias longas e os sapatos sem mancha, como a saber que tudo aquilo completava o desenho de um rapaz bonito. E com boa voz. Que sabia cantar os blues da moda.

No último ano da faculdade, ele e mais dois amigos decidiram formar um conjunto vocal, com um deles ao piano. Atuaram, por alguns meses, com êxito, num grande cassino. E saíam, todas as noites, do show para a roleta e a boêmia. Até que um deles começou a tossir e se desfez numa tuberculose galopante. Logo depois, o irmão do menino seguia com sua febrícula para a serra. Só não deixou de cantar o que também tocava piano. E manteve o nome de guerra: Dick Farney. Em inglês, como os dos outros dois companheiros.