A mãe, gripada, amanheceu com febre de queimar. E piorou no fim do dia, a tossir sem descanso. O médico que a acudiu resolveu, passada uma semana, transferi-la para um hospital. E outra semana depois, o menino foi, com a avó e as irmãs, visitá-la no casarão, com todas as portas dos quartos abertas para uma longa varanda, que parecia, com seus grandes jarros de flores, continuar o jardim. Um jardim cheio de árvores altas e frondosas e com um gramado como o menino nunca tinha visto antes — sem falhas, cortado rente e de um verde úmido.
O quarto era branco, e branco o leito da mãe, e brancas as roupas das irmãs e das enfermeiras. A própria sombra que tomava um canto da habitação parecia ser, embora cinza, branca. A avó, de negro, o menino com uma camisa à cossaco, florida, e as irmãs, vestidas de cores leves e de fita no cabelo, como que interrompiam essa forma de silêncio. E a voz do médico vinha de longe, ainda que ele estivesse de pé, ali, ao lado deles:
— Agora é deixar o corpo reagir à superalimentação e ao repouso. O essencial é o repouso. Repouso. Repouso. Repouso.
A mãe sorria, os cabelos claros derramados no travesseiro. Sobre a mesa ao lado da cama, o prato com as maçãs, as uvas e as peras trazidas pelas crianças cantava contra o branco, enquanto a mãe, devagarinho, se despedia com um aceno de mão.
Os adeuses repetiram-se por vários domingos, até que, num deles, a avó levou, em vez de frutas, uma braçada de rosas. Deu-as à mãe, que esperava, faceira e de roupa nova, os filhos, à porta do quarto, e com eles voltou para casa, como se nas ruas fossem festas e como se não tivesse havido ontem, nem anteontem, nem trasanteontem, nem um só daqueles dias de ofego difícil, tosse e febre.