Foi ao voltar de viçosa.
— Venha ver! É uma surpresa!
Era. Ali estava um carneirinho, um novelo branco do qual saíam, como pernas, quatro agulhas de tricô. Pouco maior do que aquele outro, o Mimoso, e nascido para o mesmo nome. O focinho, cor-de-rosa e úmido, um ípsilon a ligar as narinas à boca. O cinza dos cascos bilobados a florir na ponta do bambu fino das pernas. O labirinto interno das orelhas. A tristura dos olhos de espera. A lã tão lã, que não cansava as mãos nem o esfregar do rosto.
Logo no primeiro dia, o menino deu-lhe de comer na mamadeira. Uma semana depois, os beiços do anho já lhe faziam, rápidos, cócegas na mão, aflitos pelos grãos de milho cozido, pelo arroz, pelo xerém. O menino trazia-lhe as folhas de couve, alface e repolho recusadas na cozinha. Punha diante dele a vasilha com água ou leite.
O menino chamava: — Mimoso! — e o carneirinho vinha às carreiras. Lindo. Como balões que se soltassem no ar. Manso de luz na lanugem, nuveando a pequenina paisagem do quintal, vinha, todo alegria, contra os verdes das moitas, jogar-se nos braços do menino acocorado e pôr-lhe as patas dianteiras nos joelhos. Vinha. E o menino lhe comprimia o focinho contra o ombro e ciciava: — Mimoso.
Não esperava resposta — ou esperava? A fala era de amigo e o cordeirinho dava sinais de entendê-la. Há flores, porém, que parecem borboletas, e não voam nem movem os pistilos, exceto quando as sacode o vento. Punha a mão levemente sobre a cabeça do carneiro e assim o conduzia até o pátio imprensado entre o muro das viúvas e as janelas da cozinha e do quarto das criadas. Fechava a cancela de madeira. E, ao aceno de adeus — o menino tinha as lições por fazer —, Mimoso balia, marrando a portinhola, a pôr toda a fraqueza do corpo contra ela. Se malcerrada, lá ia ele a correr atrás do menino, até parar à porta da copa, os olhos de falta, remelentos.
Nunca entrou na casa. Quieto, ao lado do batente, até a volta do menino, ruminava.