Blitzkrieg era a palavra que mais se ouvia: no rádio, nas rodas noturnas das calçadas, nas bodegas e na escola. Contra a aviação e os blindados alemães parecia não haver defesa, e suas tropas avançavam, quase a correr, pelos campos da Dinamarca, da Noruega, da Holanda e da Bélgica. Em breve, a fé na inexpugnabilidade da Linha Maginot também se esfarelaria, e, com lágrimas nos olhos, a mãe, a avó e o tio-avô receberiam a notícia da queda de Paris. O que mais os revoltava era a adesão aos invasores dos que se diziam, até a véspera, nacionalistas, mas punham o antissemitismo acima da repulsa ao boche. As noites de amargura prolongaram-se com as discussões sobre Pétain e a apatia ou pusilanimidade francesa, a que apenas De Gaulle e seus companheiros davam desmentido. A BBC era ouvida em silêncio e tristeza, silêncio e tristeza que só se rompiam com as palavras de Churchill.
— Ainda há esperança — dizia a avó. — Não importa a perfídia dos russos. Não importa o descalabro de Dunquerque. Apesar de todas as bombas sobre Londres, os alemães não vão conseguir desembarcar na Inglaterra. E, sem isto, não ganham a guerra.