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A mãe suspendeu a leitura e ordenou:

— Menino, vá correndo chamar a sua avó!

O jornal trazia a notícia do assassinato, na fazenda, do marido de uma tia. Ele cochilava na rede da varanda, quando o degolaram.

A mãe do menino, mal a avó entrou, foi logo dizendo:

— Só pode ter sido a titia quem mandou matá-lo.

O rádio, de tardinha, confirmou o palpite. A senhora comparecera ao juiz e confessara o crime.

Estava casada há pouco mais de sete anos. Ao engravidar pela primeira vez, o marido mudou-se, com uma rapariga, para outra fazenda, que tinham ao lado. Após o parto, voltara, amantíssimo, para junto da mulher. Nova gravidez, novo abandono e nova amásia. Como se tivesse asco da esposa prenha.

Ela pegara filho pela quinta vez. E estava recostada ao peitoril do alpendre, triste e linda — a mulher mais linda que o menino já vira, toda alva, o rosto de luz e lua, os olhos azuis e os cabelos castanhos muito escuros —, quando se aproximou um agregado e assim disse:

— Dona, eu sei do mal que a aflige. Se quiser, lhe dou fim ou conserto.

Ela entrou na casa e trouxe a faca de gume duplo e ponta:

— Quero.

O rapaz montou no seu burrico e amanheceu na outra fazenda dos patrões. O marido, enojado, preguiçava no terraço, uma perna para fora da rede.

A família estava por baixo na política e a tia foi condenada a cinco anos. Como, porém, a cadeia local não fosse própria para uma senhora — na realidade, não abrigava criminosos, mas bêbedos, débeis mentais, loucos e desvalidos, que passavam o tempo a fabricar e a vender gaiolas de passarinhos —, puseram-na presa numa casa que possuía na cidade, trancadas as portas e as janelas para a rua. Passou a ver o céu de seu quintal. E no encerro, acudida pelos parentes, que só podiam visitá-la aos domingos e por algumas horas, deu-se aos filhos, sem remorsos, mas com saudades do morto.