Em grupos de três ou quatro, eles começaram a aparecer nas ruas, os soldados americanos. O que logo neles chamava a atenção eram os uniformes: amplos, de golas abertas e mangas curtas, sem talabartes, galões e perneiras. Em vez de quepe ou capacete, o bibico. Uma coisinha de nada, fita ou estrela, quase a não distinguir oficiais de praças.
A todos espantava a rapidez com que os americanos construíam os prédios da base aérea e as pistas de pouso para as grandes fortalezas-voadoras. Trabalhavam todo o dia e a noite inteira. Sem domingos e dias santos. E deram-se ainda mais pressa, depois da batalha entre sua esquadra e a alemã, ao largo das costas do Nordeste. O mar abafou os estrondos da luta, mas a notícia de que a guerra chegara tão perto, que estava ali, à soleira de suas casas, pôs, na alma dos locais, brio e medo.
De muitas bocas saíam previsões de um ataque alemão às bases que os americanos construíam em Fortaleza, em Natal e no Recife, pois não se ignorava que seriam plataformas para a ajuda aos franceses livres da África Equatorial, para uma nova tentativa de tomada de Dacar e para a invasão de Marrocos, dada por certa. Um irmão do menino fora mandado do Rio de Janeiro para Fernando de Noronha, onde as baterias antiaéreas estavam — ninguém o ignorava — de prontidão permanente. Começaram na cidade os ensaios de black-out: ao tocar estridente das sirenes, todas as luzes se apagavam.
A guerra não trouxe somente apreensões. Trouxe também novidades. Para o menino, a principal fora o ice-cream, o doce-gelado, tendo por base o leite, e que iria, por algum tempo, desbancar o sorvete de frutas. Mal os primeiros soldados americanos desceram na cidade, abriu-se a primeira loja de ice-cream, e logo outra, e mais outra, e outra mais. Uma, próxima à praça central, tinha três portas e mesinhas e cadeiras na calçada. Além de gelados de creme, chocolate, baunilha e flocos, vendia hot dog, hamburger, milk-shake e popcorn. Com exceção das pipocas, o resto, até aquele momento, era coisa de cinema. Do mesmo modo que as garçonetes de vestido cor-de-rosa e aventais e toucas brancas. Nos rádios, os tangos e a música francesa cediam o tempo aos blues e ao swing. E nas farmácias e perfumarias, novos remédios, sabonetes, cremes e dentifrícios substituíam os produtos alemães e de Paris.
Quando não estavam de uniforme, os americanos usavam, para fora das calças, camisas amplas e coloridas, em contraste com o engravatado dos homens da terra, na sua maioria sempre de terno branco, cinza ou azul-claro. Não demorou muito para a rapaziada aderir à moda, embora, em geral, com camisas mais discretas, de um só tom pastel ou de risquinhas. Houve gente também que passou a mostrar, pendurado no cinto ou no chaveiro, um pé de coelho, o talismã dos gringos.