Um grupo de seis fugitivos seguiu viagem para o sul saindo de Emaús montados em três camelos: Gaspar sozinho na frente, Belchior e José no meio e, por último, Baltasar, Maria e o filho. Moviam-se com vagar pela areia, longe das estradas e dos olhos bisbilhoteiros dos soldados, com as bocas secas e os cantis quase vazios. Sem dívidas de honra que os prendessem uns aos outros. Sem promessas de amizade ou crenças compartilhadas. Baltasar salvara a vida de seus companheiros, e eles salvaram a sua em retribuição. Estavam quites segundo os termos do deserto. Tudo o que os unia agora era uma necessidade comum de escapar de Herodes.
Quando o calor do dia chegou ao auge, a criança acordou e começou a chorar, e Baltasar percebeu que era a primeira vez que ouvia sua voz desde que tinham escapado de Belém. Dado tudo pelo que havia passado nos últimos dias, o bebê permanecera estranhamente calmo e silencioso. Agora, seus gritos agudos e curtos reverberavam em seus ouvidos, despertando a dor de cabeça da qual ele quase conseguira se esquecer. Estava sedento, cansado e faminto. Uma dor lancinante pulsava no lugar em que estavam os pontos e ao longo de seu corpo a cada passada do camelo. E agora um bebê gritava lá no fundo de sua cabeça latejante.
— Temos que parar — disse Maria.
— Não podemos — respondeu Baltasar.
— Mas ele está com fome.
— Estamos todos com fome.
— Tenho que dar de mamar.
— Então, dê de mamar em cima do camelo. Não vou olhar.
— Não posso. Não com o animal se mexendo para cima e para baixo deste jeito.
— Então acho que ele vai morrer de fome.
Como ele pode dizer uma coisa dessas com tanta frieza?
— Você negaria o leite materno a um bebê faminto? — perguntou ela.
— Não, eu negaria aos homens de Herodes uma oportunidade de nos capturar. Pararemos quando encontrarmos comida ou água. Caso contrário, a mulher aqui é você, dê seu jeito.
— Mas...
— Olhe, se você quiser, eu paro com muito prazer e deixo você descer e amamentar o seu bebê, mas não vou ficar esperando.
Maria pensou em apelar para Gaspar ou Belchior, mas foi inútil. Eles simplesmente diriam o mesmo. Pensou em chamar o marido e pedir sua ajuda para convencer Baltasar a parar, mas sabia que o que quer que José dissesse não faria qualquer diferença. Sentiu lágrimas encherem seus olhos e se odiou por isso. Quem eram aqueles homens a quem tinham confiado suas vidas? A vida de seu filho? Mas sua frustração deu lugar ao medo assim que percebeu que o bebê tinha parado de chorar.
Talvez esteja exausto demais para chorar. Desidratado demais. Com fome e fraco. Talvez seja o começo do fim. Talvez eu não tenha ideia do que estou fazendo. Talvez a gente nunca devesse ter saído de Emaús. Talvez tudo isso tenha sido uma...
— Olhem!
A voz vinha lá da frente. Gaspar tinha parado seu camelo e estava apontando para algo no chão. Algo na areia, refletindo a luz do sol. Era um fio de água — uma fina porção de líquido escorrendo pelo deserto, com um pé de largura e poucos centímetros de profundidade. Corria da esquerda para a direita, cobria a extensão do horizonte e, até onde podiam dizer, era quase perfeitamente reto.
Baltasar já havia atravessado aquele trecho do deserto muitas vezes antes, mas não se lembrava de jamais ter havido um córrego ali. Na verdade, não se lembrava de jamais ter visto água se movendo daquele jeito na areia, fluindo sem ser absorvida. Teria achado impossível. No entanto, ali estava, clara e fresca, correndo de um lado do horizonte a outro.
— O que fazemos agora? — perguntou Gaspar.
Baltasar avaliou a estranha visão mais uma vez, então se virou para Maria.
— Paramos.