Biografia

Nasceu em São Paulo, a 27 de janeiro de 1937, João Antônio Ferreira Filho, descendente de uma família de trabalhadores. O pai, imigrante português, lutou muito, ao longo da vida, para poder tornar­-se proprietário de um pequeno negócio de secos e molhados; mas, traído por seus sócios, acabou tudo perdendo, devendo, já avançado em idade, recomeçar sua luta. A mãe, por seu lado, era mestiça, e sempre ao lado do marido enfrentou com ele o desafio da sobrevivência. A influência do pai sobre João Antônio foi extremamente importante, ainda que, durante a adolescência, as descobertas da boemia por parte do escritor, tenham­-no colocado em oposição ao pai, situação que só seria ultrapassada quando do atingimento da idade adulta. De qualquer maneira, João Antônio creditou ao pai, antes de tudo, a influência musical, pois graças a ele pôde conviver com os principais chorões paulistanos. Apesar da oposição da mãe, que temia ser a música apenas uma desculpa para a boemia, João Antônio acabou, adolescente de 16 anos, buscando libertar­-se do controle familiar, por descobrir a boemia, sendo para tanto facilitado pela moradia em bairros eminentemente populares, como o assim batizado (pelo pai) Beco da Onça, que aparece em seu “Lambões de caçarola”. Outra influência importante do pai foi sua sensibilidade, por exemplo, para com flores como a orquídea, que conhecia, cultivava e distinguia, nomeando por seus nomes científicos, o que viria a fazer do filho um cuidadoso colecionador de tipos humanos populares, aqueles que habitam em seus contos.

Trabalhando sucessivamente de office boy e balconista, João Antônio dividiu seu tempo entre os estudos, que realizava à noite, e a frequência na sinuca. Conviveu com malandros, que homenageou em seu primeiro livro. Escreveu textos para um jornalzinho infantil, O Crisol, e sobretudo leu muito, descobrindo desde cedo escritores clássicos, dentre os quais Graciliano Ramos, de quem reconhece explicitamente influência pela preocupação com um estilo.

Seus primeiros trabalhos premiados ocorrem a partir de 1958. Chegou a compor um livro em 1959, mas um incêndio destrói­-lhe a casa e igualmente acaba com seu trabalho. Graças ao auxílio de Mário da Silva Britto, e contando com boa memória, recompõe o livro, em uma cabina da Biblioteca Mário de Andrade, lançando­-o em 1963. Malagueta, Perus e Bacanaço recebe o Prêmio Fábio Prado daquele mesmo ano, mas João Antônio, apesar da boa crítica, ainda não alcança reconhecimento maior, o que ocorrerá apenas a partir de 1975, com a segunda edição daquele mesmo trabalho, seguido de um segundo texto, Leão de chácara.

Nestes doze anos que permeiam sua vida, estudou jornalismo e integrou a equipe da revista Realidade, seguindo sua mudança para o Rio de Janeiro, onde atuou, sucessivamente, no Jornal do Brasil, O Globo e Diário de Notícias. É de sua autoria a expressão “imprensa nanica”, referindo­-se aos jornais alternativos que se sucedem no difícil período da ditadura Médici.

José Antônio faleceu em 31 de outubro de 1996.