Prefácio

Pode parecer clichê o que estou escrevendo, mas a verdade é que não me sinto como o criador desta história. Ela parece ter existido desde antes de eu a inventar, antes mesmo de cogitar a nascer.

A jornada de Kasias martela na minha cabeça há mais de dois anos. Sonhava com ela, via acontecer diante dos meus olhos, mesmo que os impulsos nervosos do meu cérebro estivessem processando o mundo real e material. Eu acredito ter vivido a jornada com ele, em um mundo que não existe em matéria, apenas em minha mente.

De certa forma, achava injusto o fato de que apenas eu conhecia essa aventura, pois histórias existem para serem contadas. Foi então que decidi que iria transportá-la ao mundo físico, em formato de... Eu não sabia. Livro? HQ? Filme? Essas ideias passaram pela minha mente, mas eu não tinha experiência com nenhuma delas. Assim, considerei contratar um ghost writer (Escritor fantasma) para me ajudar a materializar esse mundo que, até então, só existia em mim.

Contudo, não era a solução. Imagino que todo mundo passa por algo assim um dia, a vontade de deixar sua marca, a vontade de “criar”; é algo intrínseco da nossa espécie, todos queremos deixar um legado. Não tenho filhos, mas acredito que seja uma sensação parecida, como o sentimento do parto, de dar à luz a um projeto que eu possa me orgulhar.

Dessa forma, comecei a escrever. De início estava meio desanimado, não gostava das resoluções dos conflitos, e a trama me parecia rasa. Apaguei completamente o arquivo quando havia chegado na página 103, pois eu deveria fazer do jeito certo.

A história não deveria existir apenas por si mesma, algo de mim deveria estar nela. E foi assim que comecei a escrever novamente, a única diferença foi a perspectiva: agora o que mais importava era a percepção do protagonista, como ele reagia ao mundo e não o oposto.

As inspirações vieram de Berserk, de Kentaro Miura, Neon Genesis Evangelion, O Senhor dos Anéis, os contos de Lovecraft, Schopenhauer, Platão, vários filósofos que eu havia lido no ensino médio. E, assim, a jornada, que antes existia em ideia, passou para o antigo notebook de meu pai para ver a luz do dia.

Acredito que a maior qualidade do livro seja seu personagem principal. Kasias é um rapaz imaturo, arrogante e covarde, mas extremamente simpatizável. Olhando em retrospecto, ele nasceu de uma mistura entre mim, Ikari Shinji e Guts, uma mistura que fez nascer um personagem repudiável, mas compreensível. Acredito ter evoluído junto dele nessa jornada, pois, como jovem adulto, é difícil compreender de imediato qual seu lugar no mundo, e isso se traduz nos conflitos do rapaz. Enfim, já me alonguei demais, mas espero que gostem da história e que consigam tirar algo dela, pois acredito que este projeto me ajudou a entender várias coisas.

Agradecimentos especiais, principalmente, à minha família: minha mãe Cristine, meu pai Stanley e avó Margarete. Eles aceitaram a minha ideia maluca de me tornar escritor e desistir da carreira de medicina, e que, inclusive, me apoiaram desde o princípio.

Agradeço também aos meus amigos Andrey, Arthur, Henrique e Jota, que me convenceram a botar no papel a história que tinha na cabeça. À Peachyy que desenhou a linda Fanart de Kasias antes mesmo da publicação do livro, e quebrou meu galho ao desenhar o mapa. Além de um agradecimento especial a todos os membros do server Clube do Livro, que foram meus leitores beta, e me apoiaram nesta jornada.

Dedico a obra, principalmente, ao meu pai, que, embora nem mesmo saiba que estava escrevendo um livro, ou nem mesmo pôde lê-lo devido às complicações do Alzheimer, sempre foi uma pessoa que me apoiou. E, com certeza, ficaria muito orgulhoso se pudesse compreender meus esforços de criar esta obra.

Gostaria também de fazer uma dedicatória e homenagem à maior influência que tive ao escrever o livro, Kentaro Miura, o autor de Berserk, que, infelizmente, morreu no ano em que escrevi “A Jornada do Legista”. Um grande escritor contemporâneo que nos deixou bem cedo, e teve que abandonar sua obra ainda inacabada.