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UM CONVITE INESPERADO

Uma pequena pancada…

Jake encontrava-se deitado de barriga para baixo, enquanto o sol lhe queimava as costas. Estivera na pedreira por trás da sua casa o sábado inteiro. A laje de pedra por baixo dele era quase toda lisa, mas, nesta altura, qualquer alto na superfície parecia uma protuberância afiada.

Tinha os lábios contraídos num esgar, não de dor, mas de concentração absoluta.

Não posso estragar a amostra.

O fóssil da era paleozoica parecia um cruzamento entre um caranguejo espalmado e uma espécie de nave extraterrestre. Conseguia até ver um minúsculo par de antenas.

Era um achado raro naquela zona. Tinha quase oito centímetros de comprimento, um excelente exemplar de Isotelus maximus, mais conhecido por trilobite.

Um achado fantástico!

Jake segurava uma picareta numa mão e um pequeno martelo na outra. Mais uma pancada certeira e conseguiria soltar o fóssil da pedra em volta. Depois poderia levá-lo para o seu quarto e limpá-lo de forma cuidadosa sob condições apropriadas.

Posicionou a picareta, respirou fundo e ergueu o martelo. Queria fechar os olhos, mas duvidava que isso o ajudasse.

Aqui vai…

Ergueu o martelo e…

A CHAMAR O MENINO JAKE!

… sobressaltado, acertou com força no polegar, mesmo junto ao nó do dedo.

CONSEGUE OUVIR-ME?

Os gritos estridentes vinham de um walkie-talkie equilibrado em cima de uma rocha, junto ao cotovelo de Jake.

Jake sacudiu a mão magoada e rolou até ficar de lado. Pegou no rádio e pressionou o botão para transmitir.

— O que se passa, tio Edward? — perguntou ele com alguma irritação.

O JANTAR VAI SER SERVIDO.

Jantar?

E DESCONFIO QUE PRECISES DE ALGUM TEMPO PARA TE LAVARES.

Jake olhou de relance para o céu e reparou que o Sol se afundara no horizonte e que as sombras se alongavam sobre a paisagem. Profundamente concentrado, não se tinha apercebido de que era tão tarde.

Levou o rádio aos lábios.

— Está bem. Vou já.

Demorou mais uns minutos com a picareta e o martelo para libertar da rocha o fóssil de trilobite, enfiando-o no bolso em seguida. Quando terminou, rolou até ficar deitado de costas, dando de caras com dois maxilares babados e um grande nariz preto húmido. Uma respiração quente atingiu-lhe o rosto. Uma gota de baba aterrou-lhe na testa.

Ugh.

Jake esticou os braços e empurrou o focinho do basset hound para o lado.

— Uf, Watson. Esse hálito era capaz de matar um dragão.

Jake sentou-se direito.

Ignorando o insulto, Watson deslizou uma comprida língua molhada pela face de Jake.

— Sim, está muito melhor. Partilha os teus micróbios.

Ainda assim, Jake sorriu e coçou vigorosamente o velho cão atrás da orelha esquerda descaída, o que fez com que a perna traseira do cão começasse a abanar de felicidade. Watson, com quase catorze anos, já era parte da família há mais tempo que Jake. A mãe de Jake resgatara Watson de um criador inglês de cães de caça à raposa, que ia afogá-lo em cachorrinho por ter nascido com uma pata da frente torta. Watson ainda coxeava ao andar, mas tal como a mãe dizia sempre: «São as imperfeições que nos fazem ser o que somos

Ainda assim, com uma perna defeituosa ou não, se Watson visse um esquilo, desatava a correr atrás dele como um relâmpago peludo. Jake tinha um apito sempre à mão para não perder o cão no meio do bosque, sobretudo agora que a visão de Watson estava cada vez mais debilitada por causa da idade.

Bora, Watson. Vamos comer.

A última palavra fez com que a cauda do cão começasse novamente a abanar. Levantou o focinho, a cheirar. Esse sentido certamente não ficara mais debilitado com a idade. Era provável que já soubesse o que a tia Matilda estava a cozinhar no fogão.

Jake olhou para baixo, para outros dois fósseis que queria recolher. Teria de esperar até amanhã. A luz estava a desaparecer e ele não queria cometer nenhum erro. O pai ensinara-lhe isso. Um arqueólogo tinha de ser paciente. Ouviu a voz do pai dentro da sua cabeça: Não apresses a história… ela não vai a lado nenhum.

Tendo em consideração esse conselho, Jake recolheu as ferramentas e começou a andar acompanhado de Watson. Trepou para fora da pedreira e dirigiu-se para casa.

A mansão Ravensgate estendia-se diante de Jake, vinte e um hectares de colinas salpicadas de florestas de áceres e carvalhos.

Jake desceu um caminho coberto de aparas de madeira. A propriedade pertencia à família há várias gerações, desde o primeiro Ransom que ali se estabelecera pouco antes da assinatura da Declaração da Independência. Fora um egiptólogo de renome, e cada geração depois dele seguira as pisadas do seu antepassado, todos eles exploradores de algum tipo.

Quando Jake fez a curva, avistou a mansão.

No meio do vasto jardim à inglesa, encontrava-se uma pequena mansão com torreões de pedra e paredes em enxaimel, telhados de ardósia e remates de cobre, janelas de vitral e dobradiças de latão. Na parte da frente, um caminho de acesso circular empedrado conduzia ao portão principal, cujos pilares suportavam um par de corvos de pedra, que davam o nome à propriedade.

Com o desaparecimento dos seus pais, a casa fora ficando negligenciada. A hera crescera mais fina e amarelada em certas partes, faltavam algumas telhas e uma secção de painéis de vidro tinha sido remendada com fita adesiva e tábuas. Era como se algo essencial tivesse sido roubado… da propriedade, da casa, mas sobretudo do coração de Jake.

Com Watson ao seu lado, Jake dirigiu-se para uma das portas traseiras. Empurrou a porta e entrou num pequeno vestíbulo com piso de tijoleira, onde sacudiu o pó dos sapatos e da roupa. Pendurou o saco com a amostra e as ferramentas num cabide junto à porta.

Uma cabeça surgiu na porta da divisão anexa. A tia Matilda. O seu rosto enrugado era emoldurado por caracóis brancos, a maior parte dos quais apanhada por baixo de um chapéu de pasteleiro. Ela não entrou na sala. Raramente o fazia. A tia Matilda parecia estar sempre demasiado ocupada para mover todo o seu corpo para dentro de uma divisão.

— Ah, aí estás tu, meu querido. Estava agora mesmo a servir a sopa. É melhor despachares-te e ires lavar-te. — Um ligeiro ar de preocupação fazia com que contraísse os lábios. — E onde é que andará a tua irmã?

A pergunta não era para ser respondida, muito menos por Jake, porque ele e Kady raramente passavam tempo juntos. Era uma mera reclamação ao Universo.

— Vou lavar-me e já desço, tia Matilda.

— Despacha-te. — Ela desapareceu de vista, indo controlar o cozinheiro e as duas empregadas. No entanto, voltou a espreitar pela porta. — Oh, o Edward quer que passes pela biblioteca antes do jantar. Chegou qualquer coisa no correio hoje.

A curiosidade apressou Jake. Bastante menos interessado, Watson afastou-se para procurar restos de comida na cozinha.

A biblioteca era logo a seguir ao salão principal. Para chegar lá, Jake percorreu o corredor central da mansão que se estendia das traseiras da casa até à frente. Numa parede estavam pendurados quadros com retratos a óleo dos seus antepassados, homens e mulheres, remontando ao primeiro Bartholomew, com o seu farto bigode e olhos semicerrados por causa do sol, a posar ao lado de um camelo. Cada retrato tinha um expositor correspondente na parede em frente.

Expositores de Curiosidades, como o seu pai lhes chamava.

Cada um continha artefactos e relíquias das aventuras dos seus antepassados: escaravelhos e borboletas presos em pedaços de cortiça, pedras preciosas e amostras de minerais, pequenos fragmentos de peças de barro e figuras esculpidas, e, claro, fósseis suficientes para encher um museu inteiro, incluindo um ovo de tiranossauro parcialmente eclodido.

Jake virou por baixo do arco seguinte para a biblioteca principal. Estantes carregadas de livros erguiam-se a uma altura de dois andares, acessíveis através de uma escada alta que corria ao longo de duas calhas de ferro forjado. A parede ao fundo tinha uma lareira tão alta que não era preciso curvar-se para entrar lá dentro. Um fogo brando crepitava, espalhando um calor convidativo pela divisão. A enorme secretária de carvalho do pai ocupava um dos cantos. A restante mobília consistia num conjunto de cadeiras e sofás confortáveis, que quase pediam que alguém se afundasse neles e se perdesse nos mundos contidos nas páginas de um dos livros.

O tio Edward encontrava-se de pé ao lado da secretária.

— Ah, aí estás tu, Jake — disse o tio. Virou-se sobre os calcanhares. Tinha as costas direitas e modos severos, mas os seus olhos nunca estavam frios, até mesmo naquele momento em que se sentia ligeiramente preocupado. Um par de óculos pequenos assentava sobre a ponta do seu nariz. Segurava um grande envelope amarelo nas mãos. — Isto chegou hoje. Vem de Inglaterra. Do distrito de Blackfriars, Londres.

— Blackfriars?

Um aceno de cabeça respondeu afirmativamente à sua pergunta.

— Um dos distritos financeiros mais antigos de Londres. Bancos e afins.

O tio Edward devia saber do que falava. Ele crescera em Londres. Na verdade, Edward e Matilda não eram mesmo tios de Jake. O seu nome de família era Batchelder. Eram amigos do avô de Jake e geriam a mansão Ravensgate há três gerações. Corriam rumores de que Edward salvara a vida do avô de Jake durante a Segunda Guerra Mundial, algures em África. Mas nunca ninguém contara a história toda.

Sem quaisquer parentes para tomar conta de Jake e Kady, o tio Edward e a tia Matilda tinham-se tornado tutores das crianças, enquanto continuavam a gerir a propriedade. O casal era muito afetuoso com eles, como quaisquer progenitores, mas também igualmente severos. Contudo, a maior parte dos residentes parecia encontrar-se em espera, desejosos pelo regresso dos verdadeiros donos da casa.

O tio Edward atravessou a sala em direção a Jake e estendeu-lhe o envelope selado.

Jake aceitou-o e olhou fixamente para o nome na parte de cima do envelope.

Menino Jacob Bartholomew Ransom.

Por baixo, encontrava-se o nome completo da irmã.

Jake sentiu um arrepio. Da última vez que vira o seu nome completo escrito fora na encomenda endereçada com a letra do seu pai, uma encomenda que ainda carregava um laivo de desgraça.

Agora, aqui estava novamente o nome, só que nítida e friamente dactilografado.

O tio Edward aclarou a garganta.

— Não sabia se querias esperar que a tua irmã voltasse para…

Jake rasgou o papel e abriu o envelope. Não se sabia quando Kady iria regressar.

Jake ouviu um rosnar baixinho atrás dele. Virou-se e viu Watson a entrar de rompante na sala. Tinha os pelos do cachaço eriçados e o nariz no ar. Era óbvio que tinha sido mandado para fora da cozinha e que viera procurar Jake para o consolar. Contudo, o seu olfato apurado devia ter captado algo no envelope, talvez tivesse cheirado algo que só o sentido apurado de um cão conseguiria. Watson não se aproximou mais. Começou a andar lentamente à volta de Jake, rosnando baixinho como que a avisá-lo.

— Sossega, Watson… está tudo bem.

Jake abanou o envelope para deixar cair o que estava lá dentro. Uma brochura colorida e outros artigos escorregaram-lhe por entre os dedos e caíram no chão de madeira. Watson recuou rente ao chão. Jake agarrou a folha maior de papel de linho. Era amarelada com letras em relevo de tinta preta.

O tio Edward já se agachara para apanhar os papéis soltos, incluindo uma carta de apresentação. Olhou de relance para os documentos, enquanto Jake lia o convite duas vezes.

— Estão aqui bilhetes de avião — acrescentou o tio. — Dois. Para ti e para a tua irmã. Primeira classe. E o que parecem ser reservas de quarto no Savoy. Um hotel muito caro.

Jake franziu o sobrolho e leu a linha mais intrigante.

— «Tesouros Maias do Novo Mundo.»

O tio Edward desdobrou a brochura. Fotografias de objetos de ouro e jade decoravam o que parecia ser o anúncio de uma exposição no museu.

— É do Museu Britânico — disse o tio Edward. — Que estranho. Os bilhetes de avião são para depois de amanhã. Segunda-feira. E, de acordo com a brochura, o primeiro dia da exposição é terça-feira.

— Terça-feira? — indagou Jake, reparando noutro facto estranho. Lembrava-se da sua apresentação sobre o calendário maia no dia anterior, bem como da predição maia para aquele dia. — É o dia do eclipse solar. Em Londres, o eclipse vai ser total.

Jake não conseguiu disfarçar a excitação na sua voz.

— Não estou a gostar nada disto — afirmou o tio Edward, acentuando as rugas da sua testa. — Com tão poucos dias de aviso. Apenas dois bilhetes. Para ti e para a tua irmã.

— A Kady e eu temos idade suficiente para viajar sozinhos. E não é o tio que me está sempre a dizer que devia conhecer o Museu Britânico um dia?

O tio Edward franziu ainda mais o sobrolho.

— Antes sequer de considerarmos aceitar o convite, tenho de fazer uns quantos telefonemas. Há centenas de pormenores a ter em consideração. Vamos ter de…

Jake ficou surdo para as palavras do tio. Em vez de o ouvir, os seus olhos fixaram-se numa das imagens da brochura desdobrada. Aproximou-se e tirou-a dos dedos do tio. No meio da página, encontrava-se a fotografia de uma serpente dourada, decorada com jade e rubis. Estava enrolada, formando um oito, mas em cada ponta estava esculpida uma cabeça, uma com os maxilares abertos, exibindo presas afiadas, e a outra com a boca fechada e uma pequena língua bifurcada de fora.

Jake olhou fixamente para a imagem. Sentiu a sala inclinar-se por baixo dos seus pés, e a sua respiração ficou ofegante e acelerada.

Reconheceu a serpente de duas cabeças.

Vira um desenho dela no caderno da mãe, chegara até a ler uma descrição pormenorizada dela no diário de campo do pai. Ambos os cadernos — duas metades do diário conjunto deles — tinham chegado juntamente com a moeda de ouro partida. Estava tudo na encomenda que lhe fora endereçada na letra do pai. Contudo, a encomenda viera sem qualquer nota ou explicação.

Por fim, Jake levantou a brochura e declarou:

— Este é um dos artefactos encontrados na escavação do pai e da mãe.

Jake deu uma vista de olhos rápida à brochura. Havia outros artigos que lhe pareciam familiares, mas queria compará-los com os do caderno de desenho da mãe.

O tio Edward aproximou-se.

— Pensei que os artefactos estivessem todos trancados num cofre qualquer na Cidade do México.

Jake acenou com a cabeça. Pouco depois de os bandidos terem atacado o acampamento dos seus pais, o exército mexicano voara para lá e isolara o local. Não se sabia quantos objetos tinham sido roubados e o que acontecera aos corpos do pai e da mãe de Jake. Outro colega deles também desaparecera. O doutor Henry Bethel.

Contudo, o exército recuperara a maior parte dos artefactos maias. Devido ao seu valor enquanto património nacional, nunca tinham saído do México.

Até agora.

O museu de Londres tinha-os por empréstimo para esta exposição.

Tesouros Maias do Novo Mundo.

— Não é de admirar que te tenham convidado — disse o tio Edward, que se encontrava ao seu lado a ler a brochura por cima do ombro de Jake. — O filho e a filha da equipa que descobriu os artefactos.

Jake não conseguia desviar o olhar da brochura. Traçou com um dedo os contornos da serpente de duas cabeças. De certeza que os seus pais também lhe tinham tocado, desenterrado com as suas próprias mãos.

— Eu tenho de ir — disse Jake com uma determinação feroz na sua voz.

O tio Edward colocou-lhe a mão sobre o ombro de forma reconfortante.

Quem sabe quando teria outra oportunidade de ver as relíquias antes de estas voltarem a ser trancadas a sete chaves? Jake sentiu lágrimas subirem-lhe aos olhos. Por estar tão mais perto dos seus pais.

Ouviu-se o guinchar de pneus vindo da parte da frente da casa. Risos e gritos de despedida ecoaram até eles. Pouco depois, a porta abriu-se de rompante e Kady entrou. Ela virou-se e acenou para a boleia que a trouxera até casa, usando todo o braço.

— Até amanhã, Randy!

Kady entrou em casa e viu Jake e o tio Edward a olharem fixamente para ela. Ao ver a expressão nos seus rostos, uma única ruga de preocupação formou-se na sua testa.

— O que foi? — perguntou ela.

— Bom, eu não vou — declarou Kady.

Jake observou-a a enumerar as suas razões pelos dedos.

— Tenho a festa na piscina do Jeffrey no domingo. Depois, tenho o treino da claque na segunda… seguido de outra festa. E isso já sem contar com as duas festas na terça-feira.

Kady parou de falar, batendo ligeiramente com o calcanhar no chão.

— E é óbvio que não vou abdicar disso tudo para tomar conta do Jake num museu aborrecido qualquer.

Jake sentiu o seu rosto ficar cada vez mais quente. Ela nem sequer se dignara a ouvi-lo. O coração dele batia aceleradamente. Ele sabia que, se Kady não fosse, ele não poderia ir. O tio Edward nunca o deixaria viajar sozinho.

— Kady! Estamos a falar dos artefactos da mãe e do pai!

Ela engoliu em seco. Olhou de relance para a brochura e novamente para longe dela. Kady era bem melhor a artes e a desenhar do que Jake. Ela estudara aprofundadamente o caderno de desenho da mãe, ou pelo menos era o que tinha feito quando os diários chegaram na encomenda. Nos últimos dois anos, Kady não voltara a olhar para eles.

No entanto, Jake reparara no ligeiro tremor nas mãos de Kady quando ela olhou para a brochura pela primeira vez. Ela também reconhecera a serpente de duas cabeças.

— Não sei — disse ela. — Tenho demasiadas coisas para fazer.

Jake virou-se para o tio Edward com uma expressão de súplica estampada no rosto.

O tio limitou-se a encolher os ombros. Era óbvio que ele ainda estava a considerar se deviam ir ou não. Sobretudo, sem a cooperação de Kady.

— Isto são bilhetes de primeira classe? — perguntou Kady de repente. Passou em revista os papéis que tinha nas mãos. — E a reserva de uma penthouse no Savoy?

Sentindo uma brecha na sua defesa, Jake mudou a sua abordagem. No meio de todo o seu entusiasmo, esquecera-se de com quem estava a lidar.

— É… tenho a certeza de que é um evento e tanto — disse Jake, cuidadosamente, apontando para os bilhetes. — Vê só a despesa. E até se deram ao trabalho de fazer a data coincidir com o eclipse solar. Se calhar é só um golpe de publicidade estúpido. Ainda assim…

Jake reparou no movimento dos ombros de Kady ao ouvir a palavra publicidade.

— Tenho a certeza de que vai haver câmaras por todo o lado — insistiu ele. — Equipas de reportagem, estações de televisão, talvez até celebridades.

Os olhos de Kady ficaram mais brilhantes. Voltou a olhar para o convite.

Quando Kady mordeu o isco, Jake rematou:

— Além disso, pensa em todas as compras que poderás fazer… as últimas modas da Europa que ainda nem sequer chegaram ao centro comercial de North Hampshire. Serias a primeira a usá-las.

Kady olhou de relance para os seus sapatos.

— Beeem, talvez fazer uma curta viagem não seja assim tão mau.

Jake olhou de relance para o tio Edward.

Este abanou a cabeça. O tio Edward sabia bem quando era derrotado. Ele até seria capaz de travar Jake, mas nunca conseguiria meter-se entre Kady e uma câmara.

— Então, parece-me que tenho de começar a tratar dos preparativos para a viagem — admitiu ele.

Kady anuiu e Jake suspirou de alívio.

Restava apenas lidar com um impedimento.

Watson ainda estava sentado junto à secretária do pai de Jake com o pelo todo eriçado. O olhar do basset hound continuava cravado no envelope amarelo descartado. Da garganta do velho cão, ainda saía um ligeiro rosnar.