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Início dos relacionamentos
AMOR SURPREENDENTE
Pergunta:
Tenho 24 anos e ainda não sei o que é viver um relacionamento romântico. Desde muito pequena, sempre fui muito introspectiva. Eu me lembro de me perder em especulações do tipo: Quem sou eu? O que sou sem o meu corpo? Sou composta de quê? Nunca fiz nada que não me parecesse correto do fundo do coração. Estou esperando e me guardando para o verdadeiro amor. Não necessariamente um casamento, mas um amor surpreendente. Nada parecido com um conto de fadas, mas um amor profundo e sólido. Todos me dizem que isso não existe e que eu preciso sair dessa. Eu me recuso a acreditar nisso! Não consigo admitir que seja assim. Estou idealizando o amor?
Resposta:
Creio que você esteja idealizando um pouco o amor, mas isso pode ser inevitável, porque você ainda não viveu um relacionamento romântico. Não se preocupe com isso. O amor que você sente em seu coração, em sua essência, é bastante real. Esse amor é o seu verdadeiro Ser, e isso não é uma fantasia ou um ideal. Essa plenitude do coração será a base para um relacionamento amoroso intenso quando chegar o momento certo. Você não precisa transformar esse relacionamento em algo grandioso, basta cuidar de seu coração agora e deixar que o amor floresça a seu próprio tempo.
AMOR E COINCIDÊNCIA
Pergunta:
Durante toda a minha vida tenho sido tão avesso à religião e às coisas espirituais e tão a favor da ciência e da razão quanto possível. No entanto, tudo mudou quando comecei a me sentir profundamente apaixonado por uma garota, uma velha amiga por quem criei sentimentos intensos nos últimos anos. Mais ou menos na época em que notei os primeiros sinais de que estava amando, também passei a notar estranhas ocorrências. Por exemplo, eu podia estar pensando em como minha vida era solitária quando, sem mais nem menos, alguns de meus colegas mais próximos (que não chegam a ser meus amigos) apareciam à minha porta e me convidavam para sair com eles. Em outras ocasiões, parecia que o destino estava tentando me ensinar alguma lição. Outro dia mesmo eu pensava no medo e na impotência dos homens para combater seus demônios. Cheguei a uma conclusão que refletia a ideia do presidente Franklin D. Roosevelt: “Não há nada a temer senão o próprio medo.” Menos de uma hora depois, meus colegas apareceram novamente e me sequestraram para passar a tarde com eles. Durante a tarde inteira, enfrentei meus piores demônios. Tenho medo dos elementos desconhecidos da natureza (bactérias, lagartas, cobras, essas coisas), mas logo estava atravessando um córrego com meus companheiros. Eu me sentia extremamente desconfortável de nadar na frente de estranhos (tenho muita consciência do meu próprio corpo), porém mais tarde, na mesma tarde, fui empurrado para dentro de uma lagoa. Parecia que o destino decidira me ensinar o verdadeiro poder de minha compreensão.
Só mais tarde me ocorreu a ideia de que essas estranhas coincidências começaram a acontecer na época em que percebi que estava me apaixonando. O amor ou outras poderosas emoções humanas, às vezes irracionais, afetam a maneira pela qual o indivíduo percebe a realidade e as coincidências?
Resposta:
Com certeza o amor é um dos recursos favoritos da natureza para destroçar nossas visões e opiniões arraigadas e confortáveis. O amor desafia nossas crenças arrumadinhas sobre nosso isolamento e independência, e isso pode movimentar percepções poderosas e uma sequência de eventos que ponha abaixo barreiras, medos e padrões de pensamento obsoletos. Parece que você está começando uma aventura excitante e maravilhosa. Desfrute-a.
AMOR HUMANO
Pergunta:
Eu realmente preciso de amor humano. Estive num caminho espiritual durante muitos anos (discípula de Yogananda), e costumava pedir a Deus um parceiro espiritual. No início de minha jornada, tinha tanta confiança no sucesso de minha solicitação que fui para a Índia em peregrinação depois de fazer uma grande cirurgia na perna, e até mesmo comprei um sari de casamento. Essas duas ações não são sinal de fé e devoção?
Muitos dos meus conhecidos me disseram para ter amor por mim, mas eles não se amam e mesmo assim têm parceiros. Minha mãe era muito agressiva e me rejeitou desde que eu era pequena porque tenho um pequeno defeito físico.
Tenho procurado desesperadamente alguém que me ame. Tive vários namorados, mas com nenhum deles deu certo. Já fiz vários anos de terapia.
Resposta:
Pense no que você está realmente pedindo. Você diz que está procurando desesperadamente por alguém que a ame porque precisa de amor humano. Você teve namorados, mas não “deu certo” com eles. Você não quer se amar porque acha que outras pessoas não precisaram disso para encontrar o amor. Como demonstrou sua fé numa peregrinação e na compra de um sari e mesmo assim não conseguiu sentir Deus, você não quer procurar o amor por meio da busca de Deus no próprio coração.
Acho que você não está percebendo que, quando encontramos o amor com outro ser humano, na verdade estamos encontrando amor dentro de nós. Esse amor é o que você é, a forma como se ama, e essa é sua conexão com Deus. Se viver sua vida de acordo com o conceito de que o amor está à sua espera “lá fora”, pronto para preencher o seu vazio, você se sentirá eternamente vazia e insatisfeita. Na verdade, você estará insistindo em permanecer numa vida sem amor porque se recusa a aceitar e encarnar o amor que você é.
Talvez você diga que os que têm parceiros não precisaram satisfazer esses altos padrões de amor espiritual para encontrar alguém que os ame e cuide deles, portanto, por que você deveria fazê-lo? Minha resposta a isso é que ninguém pode saber exatamente que tipo de amor os outros experimentam; cada um só pode saber o que experimenta e se está fazendo o possível para viver plenamente o próprio amor e a própria verdade. Para isso, você precisa mudar sua orientação, parando de se sentir mal sobre aquilo que acredita não ter, e começando a afirmar e a reivindicar o que você é: amor, alegria, sabedoria e paz.
Quando começar a levar sua vida em direção a essa realidade, descobrirá que o amor fluirá em sua direção, e fluirá de dentro de você em todas as direções.
BELEZA BOLLYWOODIANA
Pergunta:
Minha recente visita à Índia depois de ter vivido quatro anos no Canadá me causou muita depressão. Percebi como o povo daquele país é ignorante e intolerante. Estou cansada de ouvir minha avó dizer que sou feia e nunca vou conseguir um marido decente. Estou até mesmo pensando em fazer cirurgia plástica para melhorar algumas características do meu rosto e do meu corpo. É verdade que as colunas matrimoniais dos jornais estão cheias de anúncios procurando noivas altas, magras e bonitas. Sou muito baixa, escura e extremamente magra, com um rosto ossudo. Acho que depois que a Miss Índia ganhou alguns títulos internacionais, o país formou opiniões muito rígidas sobre beleza, considerando que ser bonita é ser alta, o que não acontecia antes. A mídia determinou que uma atriz de Bollywood é a mulher mais bonita, e os homens passaram a considerá-la a referência em termos de beleza. Todos querem se casar com a mais bonita, sem perceber toda a diferença que a maquiagem, um ângulo de câmera e alguns efeitos podem fazer. Acho que no Ocidente os atores não são adorados da forma como acontece na Índia, e as pessoas têm opiniões diversas sobre o que é bonito ou atraente, em vez de seguirem uma tendência. Na verdade, no Ocidente vi muito pouca gente tão preocupada com beleza a ponto de rejeitar um possível parceiro por ser feio. Embora uma pele escura e bochechas afundadas possam ser marcas de beleza no Ocidente, é muito difícil explicar isso para minha avó, cujas opiniões refletem as da minha cultura e vêm me incomodando há algum tempo. Gostaria de conhecer sua opinião sobre a importância da beleza. Por que num país como a Índia, onde quase 80% da população acredita em reencarnação e na existência da alma, existe tanta apreciação de uma beleza puramente exterior? Todo mundo sabe que temos um corpo perecível, e mesmo assim, tudo o que todos querem numa noiva, namorada ou nora é a beleza física e a boa aparência?
Resposta:
Por favor, esqueça a cirurgia plástica. Sei que os comentários insensíveis de parentes, como os da sua avó, podem ferir profundamente nossos sentimentos. Isso é ainda mais prejudicial quando uma jovem está no processo de formar um sentido de autovalorização fundamentalmente baseado nas interações com os circunstantes. Contudo, espero que você consiga deixar de lado esses comentários dolorosos e usar essa situação como uma oportunidade para se definir em termos de beleza interior e autoconsciência, em vez de se pautar pelos comentários dos outros. Não é fácil deixar de receber essas opiniões num nível pessoal, mas isso é o que você precisa fazer. Saiba que sua identidade e seu valor não guardam a menor relação com a aparência exterior. Você é imortal, uma centelha divina de bem-aventurança que irradia luz, e nada pode ser mais belo do que isso. A única beleza física importante é aquela que se expressa e é formada de virtudes de amor, compaixão e generosidade.
Não creia na explicação simplista de que essa ênfase ignorante na beleza física é uma preocupação exclusiva de Bollywood e da cultura indiana. Infelizmente, essa visão é universal e endêmica em todas as culturas modernas, e orienta a maior parte da publicidade. Diga à sua avó que, embora não se pareça com o ideal de beleza de todo o mundo, você é muito bonita no que realmente conta, e que encontrará um parceiro que também veja essa beleza.
CIÚME DE HOMENS BONITOS
Pergunta:
Sou uma mulher de 24 anos, e desde que me entendo por gente tenho atração por mulheres. Eu me sinto desafiada e com inveja quando há homens por perto — principalmente os que são atraentes. Não entendo isso e não gosto de me sentir dessa forma. Por que me sinto assim e como posso evitar esse sentimento?
Resposta:
Você diz que tem inveja de homens atraentes. Como afirmou que é gay, é provável que tenha ciúme da capacidade que esses homens têm de atrair mulheres desejáveis. Você deve invejar esse poder e também a abertura e a permissão que a sociedade lhes dá para buscar um relacionamento com as mulheres de quem eles gostam. Talvez você sinta que não tem a mesma capacidade de atração, e provavelmente sente a reprovação social quando tenta conquistar uma mulher em público. Portanto, alguma coisa nesse sentido deve estar por trás de seu sentimento de inveja. A boa notícia é que os homens atraentes na verdade não são concorrência para você. A parceira que você busca sente atração por outras mulheres, e não pelos homens. Portanto, lembre-se disso toda vez que sentir ciúme de um cara bonito.
RETOMAR A VIDA AMOROSA
Pergunta:
Depois de vinte anos solteira, comecei a sair com um homem adorável. Estamos namorando há mais ou menos seis meses, e tudo indica que podemos vir a ter um bom relacionamento. Infelizmente estou sofrendo de uma grande dose de medo e insegurança. Ele ainda é casado; está separado há três anos, mas continua em contato com a esposa. Percebo que quem precisa crescer sou eu, mas às vezes fico muito desesperada. Tentei fazer meditação e terapia da criança interior. Se você tiver alguma sugestão, ficarei muito grata.
Resposta:
Vinte anos é muito tempo, e, embora você não diga por que motivo ficou solteira por um período tão longo, podemos presumir que suas razões foram importantes. Dito isso, é razoável esperar que uma mudança no sentido de ter um relacionamento saudável vá pedir tempo e paciência. Não se apresse e não seja muito exigente consigo mesma se uma maior proximidade com o parceiro suscitar sentimentos exagerados ou irracionais, ou reações fora de proporção com a situação. Nossos sentimentos são condicionados pelas lembranças do passado, e não pela realidade presente. Respire fundo e perceba que o passado precisa ser deixado para trás para que você possa desfrutar do presente. Peça a seu namorado para tranquilizá-la, porque o passado já se foi e o agora é agora. Diga a ele que você está pronta para abandonar o passado e se entregar ao amor que está presente. Tenha paciência com o processo, e gradualmente você verá as inseguranças desaparecerem.
TOLERÂNCIA E LIMITES
Pergunta:
Na tentativa de ser “tolerante”, tenho deixado de estabelecer os necessários limites pessoais. Ao começar a ver a necessidade de certos limites, parece que minha crença arraigada na “mente aberta” corre o risco de se esvair. Isso me perturba. Sinto-me como se perdesse um tesouro. Você pode falar sobre o valor de cada uma dessas atitudes, a tolerância e os limites, ou sobre o conflito entre elas?
Resposta:
Uma genuína liberalidade é um tesouro de inocência, mas essa atitude não precisa existir à custa de fragilidade e vulnerabilidade. Da mesma forma, ter limites sólidos e claros não deve prejudicar a sensibilidade e a compaixão.
À medida que aumenta em nós a percepção de nossa verdadeira natureza, nós nos tornamos mais sensíveis e generosos porque podemos reconhecer que estabelecer uma ligação com a pureza e a bondade dos outros faz parte de nossa própria essência. Portanto, ficamos abertos a tudo a nosso redor que favoreça a vida e seja positivo. Simplesmente preferimos não lidar ou dar atenção às coisas que não nos ajudam ou não nos são úteis. É assim que permanecemos acessíveis apesar de mantermos limites pessoais.
A autoconsciência opera como um processo natural de seleção que deixa entrar o que ajuda nossa evolução e bloqueia o que não a ajuda. É como uma porta de tela, que deixa entrar a brisa, mas bloqueia as folhas.
MEDO DE SE ENVOLVER
Pergunta:
Você tem uma sugestão de como superar o medo de se envolver? Penso que num envolvimento entramos numa área muito desestruturada onde nosso senso do Ser é perdido. Como podemos nos ligar a outras pessoas e ainda manter o senso de direção e identidade na vida?
Resposta:
O envolvimento com outro alguém não nos leva a perder o Ser ou nos dissolvermos no outro. Para estabelecer uma verdadeira ligação, os envolvidos precisam manter a integridade própria e a individualidade. Caso contrário, a coisa toda se transforma num sentimentalismo que não funciona. Para usar uma analogia fisiológica, todas as células dos olhos se unem para realizar o processo da visão. Cada célula precisa trabalhar em harmonia com as outras, e isso implica a necessidade de cada uma manter a estrutura e o funcionamento individual a serviço da operação mais ampla da visão. Quando nos ligamos a outra pessoa, estamos simplesmente sendo quem somos enquanto compartilhamos uma meta ou uma atividade. Na verdade, é muito simples. Imagine que você sai à tarde com um grupo para registrar eleitores; nesse processo vocês veem crescer um senso de camaradagem, e mais tarde saem para jantar e compartilhar histórias pessoais. Essa é uma experiência de ligação. Contrariando os medos que alguns de nós podemos ter de que essa ligação nos leve a perder o senso do Ser, uma conexão saudável fortalece em nós a autoconfiança e a autoestima.
NAMORO
Pergunta:
Os últimos dois anos de minha vida foram um verdadeiro despertar de minha consciência mais elevada, que me trouxeram uma espiritualidade mais profunda do que jamais sonhei ter, além de ter sido um tempo de verdadeira paz e restauração. Fiz um esforço consciente para preencher minha vida com coisas boas e comecei a meditar, voltei para a universidade, comprei minha primeira casa e comecei a conviver com minhas amigas. Nos últimos tempos, as amigas começaram a me perturbar e a insistir para que eu saia e faça as coisas que, na opinião delas, me ajudarão a “encontrar um homem”. Tenho 30 anos, e quero encontrar um amor, mas não quero ter que caçá-lo. Acho que frequentar casas noturnas ou academias para conseguir um homem parece um desperdício de uma quantidade preciosa de tempo e energia. Tenho vida social e faço o que me agrada, mas nada que favoreça muito encontrar um parceiro. Gosto de meditar, ler e procurar antiguidades. Apenas acho que, quando aparecer a pessoa destinada a mim, nós nos encontraremos no lugar certo e na hora certa. Eu realmente gostaria de relaxar, desfrutar a vida e esperar que o universo evolua como deve evoluir. Quero esperar essa sincronicidade, em vez de forçar um namoro para dentro de meu espaço vital.
Resposta:
Gosto de sua abordagem à questão de encontrar um parceiro. Semelhante atrai semelhante, portanto devemos ser o tipo de pessoa com quem gostaríamos de viver. Se você estiver desesperada, carente e focalizada nas aparências externas enquanto procura um parceiro, atrairá alguém também desesperado, carente e focalizado nas aparências superficiais. Você não precisa organizar sua vida em torno da questão de encontrar um parceiro. Se viver a vida plenamente, com total dedicação, o companheiro se manifestará na hora certa. Sem se esforçar, o cosmos consegue organizar e conduzir a magnífica sinfonia da vida em todo o universo; ele também conseguirá trazer para você o homem certo na hora certa.
ADIAR RELACIONAMENTOS
Pergunta:
Devo continuar a buscar um relacionamento amoroso baseado na independência e na doação? Ou devo apenas aceitar que sinto atração por homens dotados de qualidades que não tenho? Eu não me permito conviver com ninguém assim. Temo que nunca conseguirei ser completa a ponto de poder amar alguém pelas razões corretas.
Resposta:
Não adie a vida e o amor em benefício de um futuro ideal em que você seja perfeita. Aceite que o relacionamento e o amor que lhe sejam atraentes agora são o que você necessita neste momento de sua vida, e que esse relacionamento, por mais imperfeito que pareça, é o caminho para seu crescimento em direção ao tipo de pessoa que você quer ser.
O ESPELHO DOS RELACIONAMENTOS
Pergunta:
Eu já vi você afirmar que todos os relacionamentos são um espelho do Ser. Não tenho muita clareza sobre o que isso significa, em especial no caso do amor romântico. Você poderia expandir esse conceito? Se um relacionamento romântico entra em declínio, isso acontece porque subconscientemente desejei isso?
Resposta:
A ideia do espelho nos relacionamentos é que subconscientemente procuramos nos outros o que precisamos ver e entender em nós mesmos para encontrar plenitude, equilíbrio e saúde. Quem participa conosco do relacionamento é um espelho que nos permite ver o que precisamos elaborar em nós. Por essa razão, de um ponto de vista espiritual, é inútil tentar mudar o comportamento dos outros como base para conquistar a própria felicidade. Isso é tão sem sentido quanto querer mudar a imagem que o espelho nos mostra trocando o espelho.
Quanto mais pudermos ver os outros como fonte de amor, e não como seu comportamento, mais fácil ficará não adotar uma atitude defensiva e não levar as coisas a um nível muito pessoal. Isso nos permite realmente escutar, aprender e crescer com todos os relacionamentos e, em consequência, estruturar uma fundação mais sólida para o amor e a conexão com os outros. É assim que usamos o espelho dos relacionamentos para crescer emocional e espiritualmente.
Um relacionamento pode entrar em declínio por diversas razões. Pode haver um desejo subconsciente de encerrá-lo, mas também é possível que o relacionamento já tenha cumprido seu papel e agora os envolvidos estejam prontos para algo mais.
AMOR INCONDICIONAL
Pergunta:
Vejo que quando tenho um desentendimento com minha parceira, todo o sentimento de amor desaparece. Com certeza, se a amasse realmente como acredito amar e como sempre amei meus pais, por exemplo, o sentimento não desapareceria por causa de uma simples discussão, não é mesmo?
Resposta:
Sentir por sua namorada um amor condicional não significa que o sentimento não seja real ou sincero, apenas significa que em determinadas condições ele é encoberto por feridas e traumas do passado. Enquanto ainda tivermos em nossos corações áreas danificadas, elas poderão ser ativadas por determinadas situações, e continuaremos a reagir com base no medo e numa atitude defensiva, em vez de agir com amor.
Se você tiver uma prática espiritual que lhe dê acesso ao amor incondicional que existe dentro de você, e se encarar os desafios que porventura surjam em seu relacionamento com sua namorada como oportunidades de curar essas velhas feridas, com o tempo você elevará seu sentimento à condição de amor incondicional.
OS RELACIONAMENTOS PODEM CAUSAR SOFRIMENTO?
Pergunta:
Acredito em ter com os outros — cônjuge, filhos, pais, amigos etc. — relacionamentos baseados no amor. Um amigo defende a ideia de que os seres humanos sofrem muito quando morre um de seus entes queridos — por exemplo, o parceiro de um casamento duradouro — e que a principal razão de sofrimento é o apego e a dependência. Essas palavras me parecem verdadeiras, mas também vejo nelas um grande desprezo pelos relacionamentos humanos. Em minha opinião, embora os relacionamentos humanos sejam imperfeitos e prejudicados pelo apego, nós somos capazes de abrir os corações e nos ligar uns aos outros de forma profunda. Há nisso muita beleza, e esses relacionamentos nos trazem lições valiosas e nos permitem uma compreensão profunda de nós mesmos. Por exemplo, quando me vejo com raiva de alguém, em geral consigo localizar a origem desse sentimento em algum aspecto de mim mesmo que não examinei antes. Portanto, acho que os relacionamentos na verdade me ajudam a evoluir e me tornar uma pessoa melhor.
Também entendo que, com a ajuda de uma prática espiritual, idealmente é possível transcender esse amor individualizado e egoísta e amar a todos. Com frequência experimento estados de um amor profundo que se derrama do meu coração depois de sessões de meditação. Portanto, existe realmente algo errado com os relacionamentos humanos? Será que é preciso evitá-los e abandoná-los? Nós precisamos ser cuidadosos e vigilantes — ou seja, controladores — com as ligações de apego a dependência que se desenvolvem em nossos corações? Em sua opinião qual é a maneira ideal de ver e lidar com relacionamentos humanos? Eles podem nos ajudar a crescer?
Resposta:
Concordo com sua visão dos relacionamentos. Embora seja verdade que as pessoas sofrem uma experiência de dor e perda na morte das criaturas amadas, essa dor não decorre do amor, mas do apego ou da falsa identificação da mente com o objeto. Além disso, viver em isolamento não nos poupa de sentir apego e sofrimento. Na verdade, estudos mostram que aqueles que vivem privados de interações sociais afetivas são mais infelizes, menos saudáveis e morrem mais cedo do que aqueles que valorizam os relacionamentos.
Sua visão dos relacionamentos é um espelho para reconhecer onde é preciso crescer, e esse é um entendimento que defendo há muitos anos.
TIPOS DE AMIGOS
Pergunta:
Estou sempre atraindo para minha vida amigos que têm problemas parecidos com os que tive no passado. Estou sempre envolvida em ajudá-los a resolver esses problemas e sempre falando sobre minhas experiências passadas com as mesmas questões (divórcio, filhos etc.). Apesar de gostar de ajudá-los, sempre me pergunto por que continuo a atrair esse tipo de amigo. Será que não estou totalmente curada do passado? Amo meus amigos, mas só questiono por que os atraio para minha vida. Será que por meio das experiências deles preciso reviver essas coisas para poder aprender todas as minhas lições?
Resposta:
O que me parece é que você está sendo colocada na posição de oferecer seu conhecimento àqueles que podem utilizá-lo. Não significa que você ainda tenha problemas não resolvidos; provavelmente é apenas uma maneira de ajudar os outros. É provável que você atraia esses amigos exatamente porque resolveu essas questões e assim pode ser-lhes útil. Essa é a responsabilidade do conhecimento — devemos compartilhá-lo com quem precisa dele. Da mesma forma que recebemos tanto conhecimento quando precisamos, devemos aceitar bem a oportunidade de servir aos outros passando adiante o que aprendemos.
SERVIR A UM AMIGO
Pergunta:
Como posso ajudar um amigo a superar um problema de autoestima que se manifesta como a necessidade de se afirmar conquistando mulheres mais jovens? Ele é uma pessoa sensível e inteligente, mas nessa área não consegue ver que explora e manipula pessoas para conseguir o que quer. Eu já sugeri aconselhamento. Já tentei conversar com ele sobre as verdades que aprendi, mas ele responde que sou muito moralista e continua incapaz de ouvir o que digo.
Resposta:
Quando gostamos de alguém, é difícil ver esse amigo adotar um comportamento destrutivo. Contudo, precisamos reconhecer que cada um controla e é responsável pela própria vida. O máximo que podemos fazer é rezar para que essas pessoas realmente se conscientizem das próprias ações e acordem para a responsabilidade de agir com honra e com amor por si mesmos e pelos outros.
MAUS-TRATOS
Pergunta:
Tive um relacionamento com um homem, mas há sete meses estou muito longe dele, em outro país. Ele me tratou muito mal. Sinto que ele me usou. Já pensei em voltar para ele, mas seus e-mails não mostram que ele queira meu retorno. Não consigo ter uma resposta direta, mas agora estou achando que ele não é a pessoa certa para mim. No entanto, ainda o amo.
O que mais me incomoda é sentir que fui usada e maltratada. Você acha que é uma boa atitude dizer a ele o que sinto?
Resposta:
Relacionamentos a distância podem ser difíceis, e são emocionalmente capazes de suscitar diversas suspeitas, como no seu caso. Explicar a ele como você se sente pode ser bom se ajudá-la a encerrar o relacionamento e lhe permitir verbalizar seus sentimentos. Mas não espere que ele reconheça o comportamento que teve com você. Limite-se a dizer como se sentiu e parta para fortalecer em sua vida as coisas que promoverão um relacionamento mais saudável no futuro.
PESCARIA
Pergunta:
Estou me relacionando com um homem há bastante tempo. Estive conversando com minhas amigas sobre a forma pela qual as mulheres fecham os olhos para certas características dos namorados ou maridos “pelo bem do relacionamento”.
Tenho problemas com o passado do meu namorado. Ele fez coisas que considero ultrajantes, além de serem ilegais. Até onde posso ver, ele mudou. No entanto, toda vez que algo lembra o passado, ele recorda aqueles tempos como se tivessem sido a melhor época de sua vida. Eu não estava com ele nessa “melhor época de sua vida”, e por questões morais não teria ficado com ele naquelas circunstâncias. Mas, se ele mudou tanto, como pode se lembrar daquele tempo com tanta saudade? É como se ele lamentasse ter se tornado uma pessoa melhor. Esse aspecto e outras coisinhas nele me incomodam muito. O mar está cheio de peixes, não é mesmo? Devo aprender a aceitar meu namorado... ou devo sair para pescar?
Resposta:
Você pode estar supervalorizando a nostalgia de seu namorado pelo passado. Por exemplo, o valor dessas lembranças do passado pode não ter nenhuma relação com sua natureza ilegal ou imoral. É muito comum nos lembrarmos dos bons tempos do passado, não porque o que fizemos foi maravilhoso, mas porque a lembrança nos traz de volta o sentimento de aventura, liberdade e camaradagem daquela época. O que você deve fazer é perguntar a ele o que mais lhe agrada com relação àqueles tempos. Se ele disser que sente falta de violar a lei, talvez você deva sair para pescar. No entanto, se ele apenas recordar o sentimento de prazer daquela época, não vejo problema. Acho significativo que ele tenha mudado de comportamento mesmo antes de encontrá-la. E isso me leva a pensar que ele superou por si mesmo os aspectos mais imprudentes de seu passado. Portanto, se ele não foi obrigado a mudar, é pouco provável que “lamente ter se tornado uma pessoa melhor”. Quanto às outras pequenas coisas que lhe desagradam muito, você precisará descobrir se elas realmente se referem a ele e se você consegue aceitá-las, ou se o desconforto é uma projeção dos seus próprios sentimentos. Se isso for um reflexo do seu próprio senso crítico, encontrar outro parceiro não vai tornar as coisas mais fáceis para você. Você ainda precisará procurar dentro de si o motivo do desconforto que faz com que você atribua a culpa ao outro.
O DILEMA DO AMOR
Pergunta:
Estou namorando um rapaz há um ano e meio. Quando o conheci, eu tinha acabado de passar por um trauma grave. Desde então venho ao mesmo tempo me recuperando, me curando e me apaixonando. Quero passar o resto da minha vida com esse homem, o que é um compromisso e tanto se considerarmos que tenho 20 anos. No entanto, por causa da necessidade pessoal de me curar do meu trauma, eu o feri muito. Ele me viu chegar ao fundo do poço, e eu descarreguei nele muito da minha raiva emocional. Sei que ele me ama de todo o coração, porque é um milagre que ainda esteja comigo até hoje, depois de tudo o que lhe fiz. No entanto, minha ansiedade está em achar que talvez ele não perceba o quanto o amo. Eu lhe digo isso diariamente, mas não basta. Não sei o que fazer para deixá-lo seguro da pureza do amor que tenho por ele em meu coração. Será que meditar juntos pode ser uma boa ideia? Sei que pareço ambígua e pouco original, mas quero tanto que ele acredite em mim! Há alguns meses tenho visto um terapeuta, e meu namorado também começou a se consultar com alguém, o que acho que pode ajudar com o tempo. Existe alguma coisa que eu possa fazer, dar a ele ou dizer, algo que ajude no presente?
Resposta:
Se você ama seu namorado e ele não percebe seu amor, então não cabe a você imaginar uma maneira de convencê-lo; ele precisa lhe dizer de que precisa e ver se isso é algo que você pode fazer. Não ficou claro qual foi esse trauma e como você acha que feriu seu namorado. Meditar juntos e fazer terapia pode ser benéfico, mas o principal é que ele se fechou, e ele é a única pessoa capaz de dizer por que isso aconteceu e o que é necessário para que você torne a ser bem recebida. Tente colocar essa discussão em termos práticos, e faça o possível para evitar a questão de quem tem um amor mais puro, ou do motivo por que tudo isso aconteceu. Boa sorte.