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Casamento

O OBJETIVO DO CASAMENTO

Pergunta:

Devo me casar dentro de alguns meses, e estou passando por uma gama de emoções que vão do medo à euforia pela perspectiva de passar o resto da vida com alguém. Enquanto isso, ainda não consigo ver nenhum propósito real em me casar com essa pessoa tão bonita. Estou errada por pensar tanto nisso? Será que com o tempo vou entender esse objetivo? Por que as pessoas se casam?

Resposta:

As pessoas se casam por diversas razões, mas acho que a melhor delas é se amarem e se dedicarem um ao outro para realizar um amor e um destino espiritual que não conseguiriam alcançar sozinhos. Pode ser preciso uma vida inteira para atingirem juntos esse objetivo sagrado, mas é bom termos desde o início o máximo possível de certeza de que aquela é a pessoa certa para embarcar nessa viagem e com quem ter desde o início a mesma visão do objetivo.

PROBLEMAS DE COMUNICAÇÃO ANTES DO CASAMENTO

Pergunta:

Tenho 24 anos. Estou noiva desde o ano passado, e meu noivo e eu estamos planejando o casamento. Também estamos fisicamente envolvidos há algum tempo. Meus pais não estão felizes com esse relacionamento, mas aceitaram meu noivo por minha causa. Nesse último mês, ele mudou completamente e me trata de uma maneira estranha. Sempre que faço qualquer pergunta sobre ele mesmo ou seu trabalho, ele fica irritado. Antes ele era muito carinhoso e dedicado. Eu ainda não tenho estabilidade profissional, e isso me preocupa muito. Devo levar essa relação adiante ou não? Eu amo meu noivo e não quero perdê-lo.

Resposta:

Esse é um problema menor, que pode ser resolvido com uma comunicação honesta de sentimentos. É claro que ele está estressado com alguma coisa, e isso o deixa irritado. Pode ser o casamento à vista, o trabalho ou alguma coisa bem diferente, como a família dele. Se ele for fechado demais para conversar com você sobre a razão específica da irritação, então pelo menos tente fazê-lo descrever como está se sentindo. Pergunte a ele como pode ajudar, mesmo que seja simplesmente dando apoio moral. Explique que o casamento é uma parceria que depende de confiança, comunicação e apoio mútuos. Essa é uma oportunidade para vocês descobrirem se conseguem atuar bem juntos para lidar com as dificuldades do dia a dia que encontrarão mais tarde na vida de casados.

CASAMENTO ARRANJADO

Pergunta:

Sou um indiano hinduísta na casa dos 30 anos. Depois de muito tempo vivendo solteiro nos Estados Unidos, cedi à pressão de meus pais e concordei com um casamento arranjado na Índia. Minha esposa é uma mulher excelente e carinhosa. No entanto, às vezes não consigo sentir segurança na decisão que tomei. Digo coisas que a incomodam, ridicularizando-a porque sinto um complexo de culpa pelo que fiz. Sei que, se tenho tanto preconceito contra casamentos arranjados, não deveria ter concordado com essa solução. No entanto, tendo concordado, não consigo levar uma vida feliz porque estou cheio de sentimentos negativos.

Como posso resolver esses problemas e partir para uma vida conjugal normal e feliz? Por que estou sendo perturbado por pensamentos negativos sobre coisas que aconteceram no passado?

Resposta:

Você parece estar com muita dificuldade para aceitar seu casamento porque ele não foi iniciativa sua, nem foi precedido por uma atração romântica. Por ter vivido tantos anos nos Estados Unidos, você assimilou a expectativa cultural de que só um casamento de sua escolha honra sua individualidade. Contudo, você precisa perceber que um casamento arranjado também pode respeitar sua individualidade. Do ponto de vista da alma, todos os casamentos são arranjados com base em nossas escolhas. Do ponto de vista da alma, antes mesmo de terem nascido vocês dois decidiram se juntar e se casar. Os detalhes específicos sobre as circunstâncias e a forma pela qual vocês foram reunidos não são importantes, tenha você conhecido sua esposa por si mesmo ou por meio de seus pais. O importante agora é encontrar e cultivar o amor que uniu suas almas. Existe um mundo infinito de amor a ser descoberto na outra pessoa. Encontre, alimente e deixe crescer esse amor. Assim, você descobrirá seu darma conjugal, o objetivo mais elevado da união de vocês.

Ao entender que você decidiu viver com essa pessoa, você pode descartar as ideias equivocadas de culpa e negatividade. E pelo amor de Deus, pare de projetar sua confusão sobre sua mulher por meio do ridículo. Ela é a sua parceira divina. Trate essa deusa como merece, e ela o ajudará a curar o passado e se encontrar.

ALMAS GÊMEAS

Pergunta:

Como deve ser nosso relacionamento com nossa alma gêmea? A alma gêmea precisa necessariamente ser nosso cônjuge?

Resposta:

Isso tem muito a ver com a definição de “alma gêmea” que escolhemos. Para a maioria, o conceito simples é que a alma gêmea é uma parceira ou um parceiro romântico com quem podemos compartilhar as vidas física, mental, emocional e espiritual. Nesse caso, faz sentido que nosso cônjuge seja nossa alma gêmea.

Outro entendimento é que a alma gêmea é uma alma que complementa perfeitamente a nossa em todos os níveis de expressão e com quem podemos fazer o progresso evolutivo mais rápido. De acordo com essa teoria, nem sempre a alma gêmea encarna ao mesmo tempo que nós. Além disso, mesmo que as duas almas estejam encarnadas, o relacionamento entre elas não é obrigatoriamente romântico. Pode ser um relacionamento de família ou de amizade. Os dois podem ser de sexos opostos ou do mesmo sexo. Podem ter a mesma idade ou idades bem diferentes. O tempo juntos pode durar uma existência ou ser relativamente curto. Todos esses detalhes externos dependem das necessidades de evolução da alma naquele momento.

A DIREÇÃO DO CASAMENTO

Pergunta:

Tenho uma questão relacionada com meu casamento e minhas crenças espirituais. Estamos casados há apenas dois meses, mas já vivemos juntos há quase quatro anos e temos uma filha de 2 anos. Quando começamos a namorar, tínhamos ideias muito parecidas sobre muitas coisas. Quando minha filha nasceu, descobri que estava começando a procurar uma vida mais espiritual. Eu me tornei vegetariana, e comecei a meditar e ler livros sobre espiritualidade. Agora meu marido e eu temos visões bem diferentes sobre a vida, a espiritualidade e a saúde. Isso fica mais evidente quando conversamos sobre o tipo de criação que quero para minha filha. Eu sei que muitos casais têm convicções religiosas diferentes, e isso nem sempre significa que eles não possam ter um relacionamento gratificante. Li seu livro O caminho para o amor, e essa leitura mudou muito os comportamentos negativos que eu repetia em meus relacionamentos, mas meu marido não está interessado em ver o lado espiritual do casamento. Eu não consigo superar essa questão. Ela sempre surge em discussões, e às vezes sinto que não devíamos estar juntos. Muitas vezes escondo do meu marido o que é mais importante para mim, quando tudo o que quero é compartilhar com ele essas coisas fantásticas. Quero que tenhamos uma vida maravilhosa juntos, e também abençoar minha filha com um lar cheio de amor. Amo meu marido profundamente. Ele me ajudou nos últimos dois anos, enquanto eu lutava contra o câncer. Nós passamos por tanta coisa em tão pouco tempo, e não quero que meus sentimentos arruínem nossa relação. Como superar isso?

Resposta:

Quatro anos de casamento não é muito tempo, e isso me diz que vocês ainda têm muito a aprender sobre o outro e sobre as necessidades e metas dos dois. Isso se torna ainda mais verdadeiro se os últimos dois anos foram dominados por uma luta contra o câncer. Vale a pena explorarem juntos o que seu marido considera ser o significado profundo e o objetivo do casamento. Talvez ele não fique à vontade com a linguagem da espiritualidade, da religião ou da nova era, mas se ele pensou sobre essas coisas, é muito possível que vocês descubram um território comum no simples crescimento de seu amor em direção a algo maior que a vida individual de vocês. Muitas pessoas profundamente espirituais têm uma rejeição visceral por pessoas, livros, grupos e até mesmo expressões consideradas espirituais. Não sei se seu marido está nesse caso, mas se isso acontecer, ele pode sentir repulsa pelos aspectos exteriores de seus interesses espirituais, mas não ser afastado por seu verdadeiro crescimento interior. Portanto, veja se existe uma maneira de encontrar um objetivo compartilhado sob suas diferentes expressões externas de espiritualidade. Além disso, busque nas perguntas e respostas dessa página da internet um tópico, creio que se chama “Growing Apart”, onde já falei sobre essa dificuldade, e os leitores também contribuíram com suas respostas. Mesmo que você decida que o amor de vocês supera as diferenças e os une numa meta compartilhada, talvez seja preciso aceitar que ele não necessariamente aprecia e concorda com suas visões e experiências espirituais e talvez você precise de contatos fora do casamento. Eu lhe desejo o melhor.

CATOLICISMO

Pergunta:

Há alguns anos me converti ao catolicismo, porque parecia a coisa certa para mim, para minha mulher e para meus filhos. No entanto, agora cheguei a uma encruzilhada espiritual, porque não acredito em algumas das questões centrais da religião católica, e sinto que cresci espiritualmente e tenho um entendimento mais universal de Deus (em parte, graças aos seus escritos).

De qualquer maneira, meu problema vem das expectativas da minha mulher, que estou destroçando ao deixar para trás essa religião. Ela se sente traída porque questiono crenças que adotei ao me converter ao catolicismo. Só estou tentando ser honesto comigo mesmo e com ela (e com Deus). Como posso ajudá-la a lidar com isso, já que a questão é muito traumática para ela e potencialmente fatal para nosso casamento?

Resposta:

Você precisa explicar à sua esposa que sua busca da verdade não pretende destroçar a religião católica, mas encontrar com Deus um relacionamento significativo que seja real para você. Nada que o aproxime de Deus pode contrariar de fato o espírito do catolicismo.

Ela também pode estar satisfeita com sua fé na Igreja Católica, portanto o fato de você olhar mais além dos ensinamentos ortodoxos da Igreja pode parecer à sua esposa uma rejeição a ela e à religião dela. Se você puder lhe garantir que não se trata disso, e que você a apoia, bem como o caminho espiritual dela, isso poderá melhorar muito a situação.

CRESCER COM SEU CÔNJUGE

Pergunta:

Como posso viver com alguém que não quer crescer comigo? Meu marido e eu estamos juntos há mais de seis anos, e todo esse período foi cheio de discussões e desentendimentos. Não ajudava em nada o fato de que ambos bebíamos muito. Desde o início ele era muito inseguro, mas há um ano e meio ele sofreu queimaduras muito sérias. Passou vários meses no hospital, perdeu a mão direita e quase morreu. Eu não saí do lado dele, dormia numa cadeira no quarto e ajudava a tratar as feridas. Durante essa experiência, algo me aconteceu e passei a ver as coisas de outra maneira, mas ele continua o mesmo. Não bebo mais, adotei uma alimentação baseada em vegetais e passei a me exercitar regularmente. Até mesmo voltei a estudar. Eu queria isso há muito tempo, mas tinha medo. Aparentemente, não tenho mais tantos medos agora. Vejo a vida de uma forma tão diferente, tudo é novo e maravilhoso. Também cresci como pessoa. Alguma coisa me aconteceu e não posso voltar a ser quem era, mas meu marido não entende. Ele pergunta que fim levou sua esposa. Sinto paz comigo e com a vida, como nunca senti antes, e não vejo meu marido da mesma forma. Pela primeira vez, posso vê-lo como realmente é, e sinto tanto amor por ele que não depende de ele ser gentil ou não. Às vezes parece que meu coração vai explodir. O problema é que ele não mudou, e está ainda mais inseguro do que antes. Eu o amo e o aceito como é, mas ele não vê isso e estou sempre precisando me defender. Ele se recusa a ser diferente do que sempre foi, e não conhece a pessoa em quem me transformei. Eu tinha certeza de que ele também seria mudado pela experiência que sofreu, principalmente quando me contou que viu um amigo que já morreu há alguns anos, e que se sentiu em paz e não queria voltar. Eu não sabia que algo tinha acontecido na sala de cirurgia, mas quando ele voltou da anestesia estava tão diligente que eu soube que ele voltou por minha causa. Ele ficava repetindo: “Voltei por sua causa, voltei por sua causa.” Não sinto que nós estejamos no mesmo caminho de antes e não sei o que fazer. Eu o amo de todo o coração, e todas as coisas que costumavam me irritar nele não me incomodam mais. Só quero ter a chance de amá-lo e mostrar a ele como o amo. Como posso fazer isso se ele continua a me fazer acusações porque está inseguro e prefere continuar perturbado? Por favor, me ajude. Sinto que meu marido e eu estamos em mundos diferentes e acho que vou perdê-lo, quando só quero amá-lo.

Resposta:

Parece que você passou por uma transformação fundamental na orientação de sua vida e no crescimento espiritual, e é apenas natural que você queira compartilhar esse sentimento com seu parceiro. No entanto, pelo que você descreveu do relacionamento de vocês no passado, não parece claro que o casamento tivesse por base uma visão espiritual compartilhada. Portanto, seria fantástico se a vida dele mudasse na mesma direção da sua, mas essa é uma questão que você não pode controlar, além de que, por alguma razão, talvez esse não seja o momento certo para ele. Desde que ele não esteja ativamente sabotando seu crescimento, você pode evoluir tão depressa com ele quanto poderia evoluir em uma condição que não o incluísse. Sendo assim, resta saber se você pode amá-lo e aceitá-lo como é, sem julgar e sem esperar que ele mude também. Se puder, você estará fazendo o melhor que se pode fazer por alguém.

ENERGIAS ESTAGNADAS

Pergunta:

Meu parceiro tem energias bloqueadas (principalmente sobre seu trabalho e seu propósito na vida). Ele não sabe como colocar essas energias em movimento, embora a essa altura pareça disposto a tentar qualquer coisa. Eu o amo demais e sofro por vê-lo estagnado. Como posso ajudá-lo?

Resposta:

Não é nada complicado mover energias estagnadas. Basta saber o que você está sentindo e onde sente o que sente. Depois disso, trata-se de encontrar um canal de expressão confortável para liberar essas energias. Por conta do condicionamento cultural e social, muitas pessoas temem olhar francamente para os próprios sentimentos, portanto, em geral, o primeiro passo é praticar como enxergá-los. Você pode ajudar seu parceiro perguntando-lhe o que está sentindo, como é o que ele sente e se ele consegue localizar algum lugar no corpo onde o sentimento seja mais forte. Identificar um local físico do sentimento pode ser de grande ajuda para lhe dar substância e definição. Essa sensação física facilita perceber como a energia fica livre depois de ser liberada.

Encontrar uma via de escape para esses sentimentos pode deslocar a energia estagnada. São tantas as maneiras de fazer isso que não dá para enumerá-las. Você pode fazê-lo conversando com alguém, escrevendo, dançando, cantando, caminhando, meditando, praticando ioga, usando sons ou música, praticando atividade física, fazendo jardinagem... qualquer coisa que ajude a ativar aquele sentimento preso para que ele possa ser normalizado. O fator importante é manter uma conexão consciente com o sentimento enquanto você está envolvido na atividade terapêutica; caso contrário, em vez de liberar a energia, talvez você só consiga evitá-la.

AMAR TODO O MUNDO

Pergunta:

Às vezes acho que alguma coisa está errada comigo, porque me apaixono o tempo todo por todo mundo (homens ou mulheres). Amo todas as pessoas que conheço. Não é um problema sexual. Sou casada e tenho dois filhos, mas meu coração tem um problema. Não sei por que razão, quando converso ou convivo com alguém, a energia da pessoa me envolve e minha energia responde da mesma maneira. É como uma dança de energias. Não é preciso estar perto de alguém, minha alma sabe imediatamente quando alguém está pensando em mim com amor, e naquele momento a dança começa. O verdadeiro problema é meu marido. Ele não consegue entender por que sou tão receptiva e tenho tantos relacionamentos com pessoas. É difícil romper esse casamento. Estamos juntos há 13 anos. Não sei o que devo fazer, porque ele fica mais nervoso a cada dia. Estou convencida de que nos tornamos incompatíveis. Ele precisa de mim, mas ao mesmo tempo, seu ciúme me causa sofrimento, e às vezes ele chega a ser violento. Não sinto que eu queira ficar com alguém. Eu me amo, e isso basta. Mas talvez essa incapacidade de resolver meu problema seja causada por meu carma. O que devo fazer?

Resposta:

Tudo indica que você é um espírito muito receptivo e amoroso. Você começou a carta questionando se existe alguma coisa errada com você, e depois diz que o problema é a incapacidade de seu marido para aceitar sua natureza. Portanto, me pergunto se, à parte os problemas do seu marido, você tem alguma dificuldade associada com sua interação livre e franca com os outros. O fato de se apaixonar por todos os que encontra já lhe causou problemas ou mal-entendidos? Você está completamente à vontade com essa parte de sua natureza? Nesse caso, se você quiser continuar a viver com seu marido, terá que lhe explicar que esses sentimentos não envolvem sexo e não ameaçam a pessoa dele ou o casamento. Isso pode funcionar ou não. Desconheço a disposição de seu marido para aceitar ideias novas, mas se ele for violento novamente, você deve deixá-lo.

Por outro lado, se essa sua extrema sensibilidade emocional aos estranhos lhe causa dificuldades, será bom procurar estabelecer limites emocionais mais firmes e aprender a discernir entre o que você sente e o que os outros sentem.

DISTANCIAMENTO

Pergunta:

Não sei o que fazer com meu marido: ele é uma boa pessoa, mas é totalmente materialista. Para ele, o poder é tudo. Ele vive para ganhar dinheiro e quase sempre se sente muito infeliz. Sinto que estamos nos distanciando porque não posso retroceder, e ele evidentemente não quer avançar. Essa situação me entristece muito porque o amo e sei que ele está infeliz e deprimido por sua falta de espiritualidade, por sua incapacidade de ver a vida por outro ângulo.

Qual é a minha situação aqui? Ele diz que eu mudei muito e que não sou a pessoa com quem se casou. Às vezes ele pode ser muito arrogante, e não sei como lidar com suas variações de humor. Como posso ajudá-lo? Devo tentar? E que concessões posso fazer sem trair a mim mesma?

Resposta:

Com certeza essa é uma situação difícil, e não consigo oferecer uma solução simples que resolva a questão com facilidade. Sua ênfase não deve ser como ajudar seu marido, porque nada em sua carta indica que ele associe a própria infelicidade aos valores que adota, portanto é improvável que ele sinta necessidade de ajuda neste momento.

O amor que vocês compartilham no casamento é precioso, e essa pode ser a chave para encontrar o propósito mais amplo de sua parceria. Se vocês dois puderem descobrir um propósito espiritual comum, seu objetivo mais elevado, então você poderá constatar que o materialismo explícito do seu marido não é problema para você, e que seu desinteresse pelo poder não é problema para ele, porque ambos podem encontrar outras maneiras de se apoiarem mutuamente. Muitas vezes, casais com visões bem diferentes do crescimento individual podem ser parceiros harmoniosos se cada um respeitar totalmente o crescimento pessoal do outro e o papel que o outro desempenha na consecução dos objetivos que ambos compartilham. Nesse contexto, as concessões não traem a integridade pessoal de ninguém porque beneficiam uma união mais profunda entre os dois.

Por outro lado, mesmo com muito amor, se não conseguimos encontrar uma meta comum ou respeitar o caminho do outro, esses surtos divergentes de crescimento podem ser um sinal de que precisamos encontrar outro contexto amoroso no qual o crescimento espiritual possa ser mantido.

ENERGIA ENTRE MARIDO E MULHER

Pergunta:

Observo maus pensamentos quando meu marido olha para mim e fala comigo. Deixo que esses pensamentos me façam mal, sabendo que nossas energias não estão sincronizadas. O que você faria?

Resposta:

É muito importante estar em harmonia com a pessoa com quem nos casamos, mas também é importante ser honesto com os sentimentos de cada um. Eu começaria por colocar as cartas na mesa. Descubra o que seu marido sente, em vez de tentar ler sinais invisíveis. Você pode estar sentindo energias dirigidas a você, ou ele pode ter problemas em outra área sem conseguir manifestá-los. De qualquer maneira, descubra o que está acontecendo e converse sobre isso. Com certeza você não deve se tornar vítima de uma negatividade que não consegue sequer identificar. Se o amor em vocês for sólido, você poderá vencer esse obstáculo se entender que o casamento mais perfeito não é aquele que é feliz o tempo todo, mas aquele que consegue refazer o caminho para a felicidade quando as coisas ficam difíceis.

PÁGINAS MATINAIS

Pergunta:

Um método de meditação que uso é escrever páginas matinais. Muitas vezes, quando escrevo, estou apenas jogando para fora coisas que me causam raiva ou pessoas que me incomodam. Há ocasiões em que velhas feridas emergem. Continuo a escrever, e logo me sinto mais leve e pronto para encarar o dia. Faço isso há muitos anos e sinto que me ajuda muito. Geralmente escrevo em folhas de papel usadas e depois jogo essas folhas no lixo. Uma espécie de gesto simbólico de “jogar o lixo fora” para deixar que o Universo recicle essas coisas como achar melhor. Um dia, minha mulher encontrou no lixo uma de minhas páginas. Eu tinha escrito algumas coisas pesadas sobre ela. Coisas que pretendia conversar com ela quando terminasse de fazer um giro emocional daquilo tudo. A partir de então e durante algum tempo, minha mulher passou a ler meu diário matinal e acumulou um ressentimento considerável. Ela se ressentia de que às vezes eu tivesse dito o que disse no contexto de preces. (Geralmente começo por manifestar reconhecimento à Mente Única ou à Presença Única para que ela me ajude a me livrar do lixo.) Minha pergunta é: no contexto de minhas páginas matinais, ou de meu desabafo, estou inadvertidamente criando alguma coisa, ou na verdade estou liberando alguma coisa? Se, sem saber, eu tivesse invocado algum mal para minha mulher, isso me deixaria muito triste.

Resposta:

Para determinar se está de fato liberando a energia, em vez de fortalecê-la, você precisa ver se as questões que começou a ventilar há muitos anos melhoraram ou se transformaram em problemas maiores ou mais profundos. Se você determinar que está progredindo, explique à sua mulher como esse processo de escrita matinal o ajuda a se tornar um marido mais amoroso e feliz. Diga a ela que o que você escreve é apenas o subproduto de sua cura emocional, e não tem como objetivo comunicar a ela ou a qualquer pessoa o que você quer que os outros saibam a seu respeito. A escrita pode ser entendida como uma espécie de curativo que é jogado fora quando a ferida sara. Você pode descobrir que sua mente ficará mais confortável se você rasgar seus escritos todo dia para que eles não possam causar danos, sendo lidos por sua esposa. Você pode até mesmo fazer da destruição dos escritos uma parte do ritual de liberação em que você conscientemente entrega esses sentimentos à totalidade.

EQUÍVOCOS SOBRE A EXPRESSÃO “VIVER NO ETERNO PRESENTE”

Pergunta:

Estou envolvida num relacionamento há 15 anos. Eu achava que tínhamos uma relação de compromisso e amor. Meu companheiro estava trabalhando longe de casa e se envolveu com uma mulher. Ao saber disso, fiquei muito perturbada. Eu o confrontei e conversei com a mulher com quem ele se envolveu. Ele assumiu o compromisso de ficar comigo e se esforçar pela restauração de nosso relacionamento. A mulher com quem ele se envolveu costuma citar o que você escreve, mas distorce suas opiniões para atender às necessidades dela. Estou tentando ajudar meu namorado a entender o que significa fazer parte de um relacionamento saudável e honesto.

Eis algumas citações suas que ela usou para justificar o caso deles:

“Somos viajantes numa jornada cósmica... poeira de estrelas, girando e dançando nas correntes e nos redemoinhos do infinito. A vida é eterna. No entanto, as expressões da vida são efêmeras, momentâneas e transitórias. Paramos por um momento para encontrar-nos, conhecer-nos, amar-nos e compartilhar. Este é um momento precioso, mas passageiro. É um pequeno parêntese na eternidade. Se realizarmos uma troca com afeto, leveza e amor, criaremos abundância e alegria para ambos. Então esse momento terá valido a pena.”

O que isso significa? Você está afirmando que não faz mal dormir por aí e trair o parceiro desde que se desfrute o momento? Sou budista, e tenho muito respeito por seus ensinamentos, mas fiquei surpresa ao ver como as pessoas interpretam suas palavras. Como posso explicar isso no verdadeiro contexto do que você quis dizer?

Resposta:

Essa citação fala de enfatizar a plena experiência de viver no presente para desfrutar realização e alegria. Não é uma autorização para a promiscuidade ou o hedonismo. O que muita gente não percebe é que a busca pela felicidade e pelo prazer nas coisas externas se baseia na crença de que essas coisas não estão disponíveis aqui, agora mesmo, em nosso relacionamento, trabalho, família, estado de espírito e corpo atuais. Quando estamos no presente, experimentamos o infinito no que é passageiro a partir da perspectiva de nossa presença eterna. Esse é o momento que vale a pena.

Se imaginarmos que a felicidade é algo que capturamos em encontros fortuitos, estaremos nos vendo como centelhas efêmeras que tentam agarrar o infinito — uma completa inversão. Nossas responsabilidades atuais, nossas ligações de confiança e nossas obrigações são parte essencial da realidade presente. Buscar a realização fora dessa realidade significa tentar encontrar a felicidade fora de si mesmo. Isso não é o momento que vale a pena a que me referi.

SUSCETIBILIDADE A EMOÇÕES PREJUDICIAIS

Pergunta:

Moro junto a um lago e sou beneficiada pelos sons calmantes da água. As ondas ecoam minha respiração, o vento se torna minha respiração, e tudo isso me cerca e está dentro de mim. Isso é glorioso, e me sinto em casa.

No entanto, assim que meu marido chega com seu mau humor e seus comentários, o encanto se quebra! Então eu realmente experimento ressentimento por ele destruir minha paz (apesar de saber que quem faz isso sou eu).

Antes de sair para trabalhar, reservo algum tempo para ficar em silêncio. Sinto que estou cheia de luz. No trabalho (como enfermeira), tenho toda a intenção de ser útil a meus pacientes e fazer diferença com cada palavra, gesto ou atenção que possa lhes prestar. Sei que tenho sorte por ter essa vocação.

O ambiente da instituição, principalmente agora, é de incerteza e caos, com cortes de pessoal e de orçamento. Meus colegas se queixam, sentem-se desvalorizados e são obrigados a trabalhar mais do que o normal. Eu entro em sintonia com a consciência coletiva... sou como uma esponja, absorvendo o humor da equipe e do lugar. Acabo por me queixar, talvez não tanto quanto fazia no passado, mas ainda me queixo. Sinto-me desestimulada, derrotada e péssima por não ter sido capaz de evitar a influência das forças externas.

Vejo um pouco de progresso, mas queria tanto estar sentada em minha pedra à beira do lago...

Por que sou tão fraca? Será que preciso me mudar para uma caverna ou um monastério para me afastar das críticas e da negatividade que pareço estar absorvendo? Será que sou vazia como uma esponja e, por essa razão, suscetível e sujeita a sugestões? Como podemos ficar surdos à tremenda negatividade dos outros e não ser absorvidos? Isso melhora? Sinto tanta frustração e fracasso quando isso acontece! Às vezes passo a viagem de volta para casa chorando.

Além disso, como saber se as situações e pessoas são perniciosas ou se são personagens importantes nessa peça? A partir de onde o esforço para manter os relacionamentos vivos passa a ser demais?

Resposta:

Não acho que você tenha fracassado ou seja fraca. Acredito que você só precisa encontrar uma maneira de tornar mais portátil e acessível durante todo o dia a paz que sente quando está em comunhão com a natureza. Se durante o dia você irradiar um sentimento de paz, gratidão e tranquilidade a seu redor, então já estará completa e não absorverá os sentimentos negativos que a cercam.

Tente se lembrar de uma época em que se sentia equilibrada, feliz e à vontade no meio de uma situação difícil. Recorde tudo sobre as sensações de seu corpo, a respiração natural, os músculos relaxados, a postura descontraída e ereta. Perceba tudo sobre aquele estado e observe que isso é viver sua verdade no mundo real. Aquela foi uma circunstância em que você criou a presença de seu Ser silencioso no meio da ação real. Atribua a esse estado um nome e uma imagem para ancorar essa experiência no corpo e na mente. Lembre-se dessa presença dentro de você sempre que precisar, em casa ou no trabalho, para ter uma referência desse espaço interior cheio de paz. Algumas pessoas gostam de carregar uma foto como lembrete visual. Se quiser, você pode tirar uma foto de si mesma sentada em sua pedra no lago e colocá-la em seu local de trabalho ou usá-la como protetor de tela no computador. Ou ainda usar um pingente ou um anel que possa tocar e ver periodicamente, quando quiser levar a atenção para seu centro de equilíbrio. Seja criativa e descubra o que funciona melhor em seu caso.

Com o tempo você descobrirá que os circunstantes já não conseguem desequilibrá-la e que sua própria influência positiva passa a ser sentida cada vez mais a seu redor. Você já comentou que percebeu um pequeno progresso causado por sua influência no local de trabalho. Isso vai continuar a crescer, mas sem que você se sinta tão desgastada e desestimulada.

ESPOSA DE PASTOR

Pergunta:

Sou uma jovem sul-africana e me casei aos 19 anos com um pastor que fundou e dirige uma igreja cristã. Nos últimos anos, aconteceram em meu casamento coisas que me fizeram perceber que não quero continuar casada com meu marido, e não vejo um futuro para mim como líder nessa igreja cristã tradicional. Contudo, minha família e os líderes em minha comunidade desaconselham uma separação do meu marido, embora ele venha mantendo uma relação extraconjugal há tempos, seja um mentiroso patológico e tenha problemas de controlar a raiva, que se manifestam como um temperamento explosivo. A mensagem dessas pessoas para mim é que os casamentos são assim mesmo, e eu só preciso ser uma esposa forte e continuar com meu marido apesar de tudo, porque nosso casamento foi ordenado por Deus e, portanto, estarei contrariando a vontade de Deus se me separar. Ouvi falar de um princípio segundo o qual nos casamos com nós mesmos. Acredito que, se meu marido é uma verdadeira manifestação do estado da minha consciência, tenho o direito de me afastar até mesmo do meu casamento para lidar com essas questões em meu interior.

Tenho medo de cometer um erro e jogar fora o que as pessoas e minha sociedade consideram importante (casamento), mas desejo viver uma vida autêntica, sendo fiel ao que meu coração diz que é certo. Meu marido é uma boa pessoa, e tem suas fraquezas e comete erros, como qualquer um, mas não posso viver com ele, e acredito que a necessidade de dar uma nova direção à minha vida pode ter sido causada por tudo o que aconteceu em nosso casamento até agora. O que devo fazer?

Resposta:

Você parece ser uma jovem inteligente, madura e ponderada, e a ideia de tirar algum tempo para resolver os problemas internos que são refletidos no casamento faz o maior sentido para mim. E isso é ainda mais verdadeiro se seu marido não estiver interessado em conversar e resolver esses problemas com você. Eu entendo a dificuldade de encontrar sua vida autêntica quando a família e a comunidade só querem que você se conforme com o que eles esperam de você, de modo que as vidas deles não sofram nenhuma perturbação. Contudo, lembre-se, estamos falando de sua vida, não da vida deles.

É admirável que você não se limite a culpar seu marido e ir embora, que esteja interessada em usar essa dificuldade como forma de encontrar um significado mais profundo para sua vida e uma expressão mais autêntica de si mesma. Seus instintos são corretos, e sei que você vai descobrir um caminho para avançar em direção a uma vida mais cheia da luz de Deus.

CONFUSÃO CONJUGAL

Pergunta:

Vivo com meu marido há quase 13 anos, mas estamos casados há cinco. Temos muitos filhos. Ele sempre foi controlador, e eu aceitava essa atitude porque pensava: “Ele é o meu homem, o pai de meus filhos, e tenho que ser tolerante.” No entanto, com o tempo (na verdade, depois que passei a praticar ioga e conheci o ayurveda) comecei a ver que não gostava de ser controlada o tempo todo. Descobri do que gosto e do que não gosto: aonde ir, o que usar, com quem conversar. E comecei a contradizê-lo, o que o deixou chocado e fez com o que se tornasse ainda mais controlador. Ele quer ler minhas mensagens de texto, confere a lista de chamadas telefônicas para ver com quem falei e quem telefonou para mim, raramente me deixa sair de casa sem ele; quando isso acontece, tenho que levar as crianças comigo. Se ele percebe que recebi um torpedo, fica no meu pé tentando lê-lo. Ele diz que não confia em mim. Em todos os anos em que estivemos juntos, nunca fiz nada errado e nunca lhe dei motivos para me julgar mal. Sempre fui uma boa parceira. Para ser honesta, com todo esse tratamento abusivo ao longo dos anos, estou cansada de ser gentil! Estou muito zangada com ele. Não quero tê-lo por perto, e não quero que me toque. No passado, ele me ameaçou várias vezes com divórcio, sempre que não fiz alguma coisa que ele queria (por exemplo, ter um filho, sair para trabalhar contra a vontade dele etc.).

Finalmente cheguei ao ponto de dizer: “Está certo, eu também não quero mais você.” Bem, agora ele age como se estivesse tentando me conquistar, mas eu não aceito mais isso. Ele disse que só me tratou como tratou por causa de um amigo meu de quem ele não gosta. Ele diz que tinha ciúme, e por isso tentava me controlar. Mas ele nunca falou isso antes. Agora afirma que podemos continuar casados se eu abrir mão desse amigo e então nossa vida será melhor.

E agora, eis o meu problema: depois de todos esses anos de maus-tratos, eu não quero desistir do meu amigo. É claro que meu amigo está a milhares de quilômetros de distância, em outro país, e talvez eu nunca mais torne a vê-lo, mas faço muitas coisas com base em minha intuição, ela nunca falhou e nesse caso diz não. E meu bom senso também diz que não, que meu marido foi tão mau para mim e que nada vai mudar se eu desistir do meu amigo. Meus sentimentos por ele são muito fortes e não quero desistir dele. Durante muito tempo fomos apenas amigos e nada aconteceu. Admito que agi mal e, há algum tempo, quando meu marido e eu nos separamos, fui visitar esse amigo e ficamos mais íntimos, se é que você me entende. Eu sei que ele nunca poderia ser meu companheiro porque tem outra pessoa. Por essa razão, tudo isso é moralmente errado, mas na época eu estava tão confusa com minha vida que não me importei. No entanto, desde então eu sinto que não tenho o direito de voltar para meu marido por causa do que fiz — mesmo que eu quisesse viver com ele. Acho que não mereço. Mas também não quero. Quero meu amigo, a quem realmente amo, mas não posso ter. Nunca me senti assim com ninguém. No entanto, vamos continuar amigos, já que só posso vê-lo assim. Você entende o que estou dizendo? Mas me sinto mal por causa das crianças, e sinto pena do meu marido, porque não posso contar a ele o que aconteceu. Isso iria deixá-lo arrasado, e não quero fazer isso. Também não quero viver sozinha pelo resto da vida. Tenho medo do futuro. Tenho medo do que sinto. Tenho medo de tomar a decisão errada e não perceber até que seja tarde demais, quando já não tiver volta. Meu marido me ameaça o tempo todo, dizendo que vai me destruir financeira e mentalmente. É por isso que não quero mais viver com ele, mas estou com tanto medo que o mandei embora. Ele não me escuta. É terrível. Estou muito confusa e não sei o que fazer de minha vida.

Resposta:

Você provavelmente não vai gostar da minha sugestão, mas aqui vai: acredito que seu caminho para o bem-estar vai exigir que você comece exatamente onde está, com as pessoas que a cercam, e não imaginando uma fuga. Parece que a maior parte da tensão em seu relacionamento com seu marido é causada pela culpa que você sente por ter tido um caso com seu “amigo”. Mesmo que você não tenha contado a seu marido para não deixá-lo arrasado, parece que isso já arrasou a confiança entre vocês. Você diz que não quer passar o resto da vida com medo e sozinha. Bem, as coisas não vão melhorar porque você quer estar com seu “amigo”, que já tem outra pessoa, enquanto a situação com seu marido e seus filhos continua a deteriorar. Olhe a seu redor, para as pessoas que vivem em sua casa neste momento. São elas as pessoas de que você precisa para criar a vida que deseja, assim como a situação atual é aquela de que você precisa para criar a vida que deseja. Seja honesta consigo mesma sobre sua situação. Você não foi má porque transou com seu amigo, mas você não estará sendo honesta consigo mesma se mantiver um relacionamento com ele, desejando que de alguma maneira ele a tire de uma situação infeliz, mesmo sabendo que o caso de vocês não tem futuro. Você diz que vai continuar amiga dele se essa for a única maneira de se relacionarem. Isso não é uma boa ideia. Ele não é seu — isso não é uma amizade, é uma fantasia romântica avariada que você tenta manter chamando-a de amizade. Esse jogo de faz de conta é o que a deixa infeliz e confusa. Essa fantasia está arruinando o relacionamento entre você e seu marido, mesmo que não tenha sido a causa primária dos problemas conjugais. Sua clareza mental e sua felicidade dependem de você dar fim a esse delírio. Depois disso, seja honesta com seu marido. Com base em sua mensagem, concluo que ele não é compreensivo ou tolerante, mas a desconfiança e a culpa que já existem são tão prejudiciais que o relacionamento não terá a menor chance se não houver honestidade. Se o casamento não sobreviver, pelo menos você não terá adiado o fim inevitável com mais traição e medo. Por outro lado, se vocês concordarem em tentar solucionar a situação, essa honestidade será uma base sobre a qual poderão restaurar a confiança, o perdão e o afeto. Esse seu processo de retorno à realidade também é essencial para o bem-estar de seus filhos.

DECISÃO SOBRE CASAMENTO

Pergunta:

No caminho para a percepção e a iluminação, acredito que devemos a nós mesmos assumir a plena responsabilidade pelo que criamos e pelas circunstâncias em que nos encontramos; ninguém mais é responsável ou capaz de assumir a “culpa” em nosso lugar. Isso envolve um exame de consciência para conhecer ou revelar os padrões e pontos cegos que podem limitar nossa criatividade e nossos poderes de deliberação. Tudo ao nosso redor é um espelho que nos ajuda nessa tarefa. Acho que você não vai discordar dessa perspectiva, e eu ficaria muito grata por seu comentário ponderado, mas objetivo, sobre a seguinte questão.

Embora eu tenha a sorte de ter conquistado uma clareza razoável em muitas áreas de minha vida, e tenha liberdade e um acesso cada vez maior ao poder pessoal, existe uma área em que me sinto extremamente ineficaz e em dúvida sobre onde começam e terminam as responsabilidades; essa área é o casamento, sobretudo quando existem dois filhos pequenos, como em meu caso. Eu cresci e mudei graças ao apoio carinhoso de meu marido, que é um “bom” marido. Não posso me queixar de violência ou descaso. A coisa é muito mais sutil e confusa. Enquanto eu exponho constantemente a mim, a meus padrões e a meus pontos cegos e trato de corrigi-los, ele usa essas coisas como armas para provar que eu sou e sempre fui o problema. Quase nunca ele assume a responsabilidade pelas próprias contribuições para os padrões negativos ou pouco saudáveis que surgem. Veja, isso pode ser como uma crucificação e acaba por se tornar mais um padrão! Enquanto eu sempre vejo tudo, todos e qualquer situação como oportunidades de aprendizagem e crescimento ou como reflexos de problemas e lutas internos, já não consigo ver nenhuma aprendizagem e crescimento dentro desse casamento; ou então — e isso é o que me assusta — eu perdi de vista que isso é na verdade uma difícil curva de aprendizagem que não devo abandonar por considerá-la sufocante ou negativa. Sei que não existem respostas erradas, mas nesse caso, estou apavorada com a ideia de permanecer num casamento que não me ajuda a crescer, e igualmente apavorada com a ideia de abandonar um casamento potencialmente fantástico. No momento, o casamento não é bom. Vejo que agora estou obtendo intimidade, conexão, alegria e risos fora de casa, com os amigos. Conversei com meu marido sobre isso, e agora sou vista como “traidora”.

Ele adota teorias simplista de que o que conta é a energia e precisamos apenas “respeitar nossa energia”. Também acha que não há necessidade de “nos punirmos”, já que o passado é passado, e é irrelevante. Acredito que ele esteja parcialmente certo, mas penso que o autoconhecimento e a limpeza das janelas deixa brilhar nossa luz mais intensa, límpida e forte, se fizermos essa autopercepção funcionar.

No âmago das ideias de rendição e aceitação, mas também no que se refere a nossos poderes criativos e de intenção, você acha que essas circunstâncias são algo que convidei à minha vida para aprender uma lição que deve ser muito difícil (já que não consigo entendê-la), ou isso é uma circunstância que devo mudar e deixar para trás? (Existe o aspecto adicional de que temos um desses casamentos que são, em geral, muito bons. Ninguém entenderia ou acreditaria se nós nos separássemos. Às vezes sinto que estou chorando de barriga cheia e que muitas mulheres dariam qualquer coisa para ter um casamento tão bom quanto o meu, mas não sou qualquer mulher, e meus padrões para qualquer relacionamento são muito altos.)

Os fatos básicos que não consigo ignorar são:

A) Ultimamente, minha energia fica muito baixa quando estou com meu marido. (Isso significa que existe um ponto cego que faz de tudo para me distrair porque não quer ser visto, ou que meu marido na verdade rouba energia?)

B) Sou fundamentalmente, arquetipicamente, sexualmente, socialmente uma pessoa muitíssimo passional, alegre e divertida. Ele não é. É sério, introspectivo, preso a uma dinâmica de pai e filha na qual sou a filha atrevida que sai e se diverte, e ele telefona para mim para “ver se estou bem”. Tenho 35 anos, e ele, 42. No entanto, eu abandonei essa dinâmica e cresci; ela não me agrada mais.

Temos dois filhos lindos. Naturalmente desejo o melhor para eles, e não quero tomar uma decisão que mude nossas vidas se isso não for necessário. Se na cultura indiana é possível aprender a viver e ficar com a mesma pessoa por toda a vida, a gente não deve tomar esse caminho hedonista que estou tomando, não é mesmo?

Resposta:

Você descreveu um dilema difícil e altamente pessoal. Sua situação não é tão nítida que admita uma solução simples do tipo “fique onde está” ou “saia correndo”. Acredito que será útil você compreender como suas premissas ocultas perpetuam o dilema e limitam suas opções. Por exemplo, você parece acreditar que o aprendizado e o crescimento no casamento só são aceitáveis se atenderem a algum padrão interno de conforto e inteligibilidade. Não digo que isso esteja errado, mas acho que a falta de clareza sobre esses padrões está mantendo a decisão mais ampla numa espécie de limbo. Por outro lado, a questão de ser bom ou não para nós permanecermos envolvidos num relacionamento desvia nossa atenção daquilo que é nossa experiência concreta, presente, da vida real. Você parece partir do princípio de que uma mudança significativa só pode acontecer se você encerrar o relacionamento.

Quando um relacionamento deflagra questões profundas e complexas, é natural nos distanciarmos do problema ou mudarmos de assunto como mecanismo de defesa. Muitas vezes criamos um dilema confuso e impossível para nos proteger do que consideramos ser um processo de cura assustador. Posso ver que as diferenças descritas entre você e seu marido são reais, mas o simples fato de você pensar que ele não cresceu tanto quanto você não leva à conclusão de que o seu crescimento esteja sendo limitado. Se você puder se concentrar no processo evolutivo particular que esse momento de sua vida lhe oferece, terá mais facilidade para decidir se a continuidade desse relacionamento ainda pode ser útil para você ou não.