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Criação dos filhos

CRIAR FILHOS

Pergunta:

Biologicamente, a maioria das pessoas pode ter filhos, mas isso não torna ninguém capaz de criá-los bem. Os filhos são uma dádiva preciosa, e eu gostaria de dar a meu filho o melhor início de vida em todos os níveis, inclusive o espiritual. Em sua opinião, quais são as melhores práticas e atitudes que devemos adotar com nossos filhos em crescimento? Você recomenda orientá-los a meditar desde cedo?

Resposta:

Ensinar uma criança a meditar desde cedo não é tão importante quanto estimulá-la a cultivar o sentido da própria espiritualidade. A partir daí, o próprio interesse da criança será o melhor guia sobre o momento mais apropriado para meditar. Talvez seja bom você dar uma olhada no livro As sete leis espirituais para os pais. Uma criação espiritual é evidentemente um tema importante, e só posso apresentar aqui algumas ideias. O sucesso que desejamos para nossos filhos deve incluir a capacidade de irradiar alegria, de amar, de sentir compaixão e de sentir a segurança que vem de saber que nossa vida tem um propósito. E finalmente, o sucesso espiritual implica ter uma conexão com a energia criativa e vital do cosmos. Quanto mais conexão temos, mais desfrutamos da abundância do universo, que foi organizado para realizar nossos desejos e aspirações. É da intenção divina que cada ser humano desfrute de sucesso ilimitado, portanto o sucesso é totalmente natural. Eu reescrevi as sete leis espirituais de modo que até uma criança pequena possa mantê-las na mente e no coração.

PRIMEIRA LEI: Tudo é possível.

SEGUNDA LEI: Se você quiser alguma coisa, dê essa coisa.

TERCEIRA LEI: Quando fazemos uma escolha, mudamos o futuro.

QUARTA LEI: Não diga não, siga o fluxo.

QUINTA LEI: Toda vez que desejamos ou queremos algo, plantamos uma semente.

SEXTA LEI: Aproveite a viagem.

SÉTIMA LEI: Você está aqui por uma razão.

Uma criança criada com habilidades espirituais será capaz de responder às questões mais básicas sobre o funcionamento do universo; ela entenderá a fonte da criatividade dentro e fora de si e será capaz de praticar a equanimidade, a aceitação e a verdade, que são as habilidades mais valiosas para lidar com outras pessoas; será capaz de viver livre do medo paralisante e da ansiedade sobre o significado da vida, sentimentos que são o verme que devora o coração da maioria dos adultos, quer eles admitam, quer não.

Toda criança já tem uma vida espiritual. Isso acontece porque toda criança nasce no campo da criatividade infinita e da pura percepção do espírito. A melhor criação que você pode dar a seus filhos é a criação espiritual. O espírito precisa ser cultivado, nutrido e estimulado.

Desde que seu filho nasce, você é um instrutor do espírito. Se criar uma atmosfera de confiança, franqueza, equanimidade e aceitação, essas qualidades serão absorvidas como qualidades do espírito. Num mundo perfeito, a criação dos filhos seria resumida a uma única sentença: só mostre amor, só seja amor.

SER MÃE SOLTEIRA

Pergunta:

Quero muito ter um filho, mas não encontrei um homem com quem tê-lo. É possível que eu tenha a criança por inseminação artificial, e essa seria uma experiência maravilhosa. Quero dar a meu filho uma infância boa e cheia de amor, e um bom início de vida, com a certeza de que a vida é cheia de possibilidades. Entendo que a decisão de que meu filho não vai ter pai é algo “incomum”. Isso cria alguma dificuldade para o carma da criança ou o meu?

Resposta:

Uma criança pode ter uma infância plena e cheia de amor sem um pai biológico por perto, mas será necessário ter uma figura paterna estável que lhe dê o amor, o apoio e a orientação necessários. Talvez você ainda não tenha encontrado o parceiro certo, mas não desconsidere essa possibilidade — isso ainda pode acontecer.

Contudo, se você realmente quiser ter um filho, com ou sem um parceiro, veja que assistência pode encontrar para a criança na família e com os amigos, de modo a garantir que ela tenha todo o amor e a orientação necessários. Além disso, lembre-se de que, quando uma alma decide nascer, ela escolhe os pais e as circunstâncias necessárias para sua jornada evolutiva. Como mãe, você tem a responsabilidade de dar a melhor criação possível para seus filhos. No entanto, se amar seus filhos com todo o coração e fizer o máximo, não estará impondo a eles nenhuma dificuldade cármica que não esteja incluída nos parâmetros da intenção da alma deles.

DESAFIOS DE UMA MÃE SOLTEIRA

Pergunta:

São muitas as mães solteiras que estão fazendo o máximo para criar os filhos sozinhas, desempenhando muitos papéis simultaneamente e dando aos filhos todo o necessário. Elas trabalham, cuidam dos problemas de saúde (muitas vezes resultantes dos traumas do divórcio), administram a casa e ajudam os filhos com seus problemas, crescimento, escola etc. As vidas das mães solteiras são desequilibradas, e muitas têm medo do futuro, sofrem de ansiedade e se sentem assoberbadas e no limite.

Que conselho você daria a elas? O que é mais importante nessa jornada? Para que serve essa experiência? Que lições devem ser aprendidas? A o que recorrer e como? Como não ter medo e ser otimista?

Resposta:

As lições para as mães solteiras certamente serão diferentes e exclusivas de cada uma. No entanto, o que eu assinalaria para todas é a importância de cuidar de si mesmas como base para todo o resto. Isso significa repousar bastante, comer alimentos frescos e saudáveis, exercitar o corpo e se movimentar todo dia, buscar o apoio emocional da família e dos amigos e fazer questão de rir diariamente. Se você puder manter uma rotina vagamente semelhante a essa, terá os recursos internos necessários para lidar com as demandas inevitáveis, sem perder o equilíbrio interior.

FILHOS NÃO PLANEJADOS

Pergunta:

O fato de um filho não ter sido planejado pelos pais influencia a escolha da alma por uma criança ou sua evolução durante a infância?

Resposta:

Talvez o planejamento possa fazer alguma diferença, mas não há como dar uma resposta definitiva para essa questão. O fator mais importante na evolução de um novo ser no mundo é o amor que os pais lhe dedicam durante a gravidez e a infância. O processo de escolha da família por uma alma é complicado e velado demais para ser discutido de forma prática, mas é bem entendido que as crianças muito amadas pelos pais florescem, quer tenham sido planejadas, quer não.

OS PAIS E A ESPIRITUALIDADE

Pergunta:

Você acha que quem cresceu sentindo falta de coisas como um pai atento ou uma mãe amorosa tende a ser mais espiritual? Nesse caso, você acha que a espiritualidade pode trazer conforto para essas pessoas?

Resposta:

Não acho que a falta de uma mãe ou de um pai na fase de crescimento, por si só, possa tornar alguém mais espiritual, mas pode definir muitos problemas espirituais que essas pessoas enfrentarão no caminho. O relacionamento com a mãe e o pai caracteristicamente reflete nossas crenças e nosso relacionamento com os aspectos feminino e masculino de Deus. Quem cresce sem um pai por perto pode ter sua jornada espiritual afetada por sentimentos de estar desprotegido e abandonado por Deus. Quem cresce sem uma mãe amorosa pode ter problemas espirituais de não se sentir amparado e amado por Deus.

INTERNATO

Pergunta:

Somos uma família hinduísta de classe média e temente a Deus. Perdi minha mulher no ano passado, e desde então notei que minha única filha, de 15 anos, perdeu o interesse pelo puja — ritual religioso realizado pelos hindus como uma forma de oferecer símbolos de gratidão a divindades, pessoas ilustres ou convidados especiais — e pelos rituais que sempre realizava alegremente com a mãe. Os membros mais velhos da família insistem que ela faça o puja diário, mas ela se ressente. Meu problema é: embora seja emocionalmente madura e pareça ter recebido com tranquilidade a perda da mãe, ela está para ser mandada para uma escola interna de orientação internacional e baseada num currículo norte-americano.

Será que ela conseguirá lidar com os valores cristãos e o ambiente internacional com crianças muito afluentes e de diferentes culturas? Em outras palavras, estou preocupado com a dificuldade de socialização e os desajustes, além de uma possível crise religiosa.

Minha pergunta pode não estar diretamente relacionada com a adolescência e a espiritualidade, mas, após ter lido seus livros e artigos, estou certo de que uma resposta sua será uma orientação melhor do que a de um orientador educacional.

Resposta:

Não recomendo obrigá-la a realizar pujas diários contra a vontade. Ela tem idade suficiente para se sentir motivada a seguir suas práticas espirituais por interesse próprio. Se agora ela se sentir obrigada a realizá-las, terá menos vontade de voltar a elas quando estiver longe e por conta própria num internato. A grande perda emocional sofrida com a morte da mãe naturalmente terá consequências. É normal que ela perca o interesse pelas práticas espirituais que gostava de compartilhar com a mãe. Deixe que ela descubra sozinha o significado da espiritualidade, sem interferência dos adultos.

Qualquer pai estaria preocupado com a vida de uma filha em uma escola com um ambiente cultural e social tão diferente daquele a que ela está habituada. É inevitável que ela passe por um período de ajustes e de reavaliação de valores. Isso é natural. Esse é o processo de amadurecimento pelo qual todos nós passamos. Ela tem o seu amor, o ambiente familiar, as tradições, a herança espiritual. Com tudo isso, você precisa confiar que ela encontrará o próprio caminho nesse período da vida.

UMA FILHA DE 2 ANOS

Pergunta:

Minha filha tem 2 anos. Eu sou mãe solteira e vivo com minha mãe. Minha filha vive cercada por pessoas afetuosas, e tentamos atender às necessidades dela tanto quanto possível. Comecei a tentar explicar-lhe aspectos de segurança de forma simples, como a melhor maneira de se aproximar (ou não) de certas pessoas. Nós vivemos em Poznan, na Polônia (eu passei nove anos em Toronto, no Canadá, onde minha filha nasceu). Tento fazê-la perceber que algumas pessoas não são boas (e que às vezes não é fácil reconhecer imediatamente se uma pessoa é boa ou não, portanto é melhor que ela fique perto de mim). Porém, ao mesmo tempo, tento não assustá-la. Até agora, em algumas ocasiões ela se mostrou mais cautelosa e não parece traumatizada (felizmente!). Por favor, você poderia me dar algumas sugestões sobre a melhor maneira de falar de questões de segurança com minha filha e mostrar-lhe aos poucos como pedir ajuda, defender-se (se necessário) e principalmente evitar todas as “ocasiões” de perigo?

Sei como é importante falar sobre isso não só em termos genéricos, mas também de forma específica. Meus pais não conseguiram evitar que aos 5 ou 6 anos eu fosse sexualmente agredida por um homem desconhecido quando brincava numa área de lazer. (O homem me pediu para ir com ele até o porão, tocá-lo e não falar a ninguém de minha “experiência”; eu contei a minha mãe quando já era adulta.)

Resposta:

Você está certa sobre a importância de ensinar sua filha a se proteger desde cedo. Diante de sua história pessoal de abuso sexual na infância, será sempre uma questão delicada informar sua filha sobre esse tema sem lhe transmitir parte de seu medo decorrente do passado. Não acredito que aos 2 anos seja útil lhe dar informações muito detalhadas sobre os potenciais perigos do mundo. Nessa idade, a ênfase principal deve ser simplesmente sobre a necessidade de que ela fique a seu lado. Quando ela for mais velha, será interessante lhe explicar como determinar se alguém é uma ameaça, como evitar essas situações e pedir ajuda. Acho que você tem uma boa percepção do que é necessário ensinar a ela, mas não se apresse demais e não lhe diga mais do que ela pode entender. Portanto, procure ter certeza de que a orientação é indicada para a idade dela e tão simples quanto possível, para que as instruções de segurança sejam para ela, e não para seu próprio sofrimento. Procure ensinar-lhe segurança pessoal da mesma forma direta com que lhe ensina a agir no caso de um incêndio em casa.

PESSOAS BOAS E MÁS

Pergunta:

Minha filha de 17 anos e eu discutimos sobre nossas maneiras de ver as pessoas. Ela acredita firmemente e insiste em ser receptiva e tornar sua alma acessível a todo o mundo, não importa a quem. Para ela, o mal é não acreditar nas pessoas e não aceitá-las incondicionalmente. Ela não quer nem ouvir quando lhe digo que precisa se proteger. Na opinião de minha filha, proteger-se seria fechar sua alma para os outros, e que eles sentiriam isso e os relacionamentos não seriam puros e profundos. Eu gostaria de ter suas opiniões e sugestões.

Resposta:

Para começar, parabéns por criar uma filha num ambiente que fez dela uma pessoa segura e confiante. Essa é uma conquista rara em nossos dias. Agora, você está preocupada, com razão, porque ela está chegando à idade adulta e vai entrar num mundo de estranhos, onde sua inocência e sua natureza confiante não a protegem dos perigos muito reais que existem fora de casa.

Explique-lhe que procurar ter relacionamentos seguros e apropriados com os outros não é o mesmo que desconfiar deles ou esperar o pior deles. Quando entramos num carro, não partimos do princípio de que vamos sofrer um acidente, mas usamos o cinto de segurança mesmo assim. Aprender a ter segurança emocional com os outros significa não se tornar acessível ou vulnerável até ter uma profunda intuição de que eles são confiáveis. Por ser tão jovem e idealista, ela vai precisar de alguns erros e acertos para adquirir sabedoria e experiência antes de poder confiar na intuição. Infelizmente, não existe uma maneira de adquirir esse conhecimento sem viver a vida e aprender com ela, sobretudo nas questões do coração. Quando ficar mais velha, ela saberá quem é confiável e digno de sua entrega emocional e quem não é. Além disso, ela pode admirar indivíduos com personalidades extrovertidas e expressivas — pessoas de coração aberto — e achar que isso é um modelo de entrega e aceitação. Isso é um tipo de entrega, porém em geral bastante superficial, porque o que está sendo compartilhado são entusiasmos e sentimentos passageiros, e não a alma ou o cerne do seu Ser. Ela descobrirá que as conexões significativas entre almas acontecem automaticamente, quer as pessoas sejam ou não acessíveis, quer se protejam ou não.

O verdadeiro Ser ou alma não precisa de proteção nem de ajuda para ser acessível. Essa é sua natureza. No entanto, os delicados sentimentos do coração precisam de uma proteção sensata quando somos jovens e até termos adquirido mais sabedoria.

ORIENTAÇÃO A CRIANÇAS

Pergunta:

Como você ajudaria crianças pequenas a entender situações difíceis? O pai de meu filho é muito deficiente em suas responsabilidades e tem valores muito diferentes dos meus. Nós nos entendemos bem e estamos felizes, mas há momentos em que vejo e ouço a decepção e a confusão de meu filho. Eu disse a meu filho que as ações dos outros não dizem respeito a ele. Também o estimulo a falar sobre seus sentimentos positivos e negativos. Esse padrão de comportamento esteve presente desde o início de minha relação com meu ex-marido. Entendo meu papel e reconheço que recebi exatamente o que me foi apresentado. Estou tentando encontrar formas de limitar os efeitos negativos sobre meu filho.

Resposta:

Com base em sua carta, não é fácil determinar de que forma o pai falhou em suas responsabilidades. Não sei se estamos falando de um problema de pequena importância, como não ter assistido a um dos jogos de futebol do filho, ou de um problema de maior porte, como ser um presidiário e viciado em heroína. Sua abordagem no sentido de encorajar seu filho a expressar os próprios sentimentos certamente é saudável. É claro que a reação do seu filho também será muito diferente se ele tiver 3 ou 17 anos de idade. Imagino que ele seja relativamente pequeno; nesse caso, o importante é observar se ele não se culpa pelos problemas que observa nos pais. Não é preciso lhe explicar os problemas em detalhes, porque isso só vai levá-lo a pensar que deve tentar corrigi-los de alguma maneira. Sendo assim, você age bem quando o ajuda a entender que não é responsável pelas deficiências do pai. Essas ferramentas cognitivas ajudarão seu filho a criar limites emocionais claros e saudáveis, o que lhe será muito útil na infância e no resto da vida.

ZOMBARIAS NA ESCOLA

Pergunta:

Tenho um filho de 14 anos (somos pais indianos que vivem nos Estados Unidos). Nosso filho está sendo alvo de zombarias e é ridicularizado pelos colegas de escola. Nós sabemos que ele é uma criança sensível e reservada por natureza. Ele diz que não consegue ser amigo dos colegas, que o atormentam com apelidos e o diminuem. Que conselho posso dar a ele para fazê-lo ter força e autoconfiança para enfrentar esse desafio na escola? Seus perseguidores às vezes usam linguagem vulgar e comportamento agressivo. Como ele pode lidar com esse tipo de comportamento? Ele está perdendo o interesse pelos estudos, e vive zangado e triste.

Resposta:

Seu filho tem idade suficiente para entender que aqueles que o perseguem fazem isso porque se sentem inseguros e fracos. Rebaixar os outros é o recurso que usam para se sentir melhor consigo mesmos. Se seu filho reconhecer isso, poderá aprender a se manter indiferente aos comentários e não tomá-los no nível pessoal, porque aquelas expressões não têm nada a ver com quem ele é. Faça-o imaginar que os colegas estão ridicularizando outra pessoa, e não ele. Na verdade, é exatamente isso o que acontece.

É difícil para uma criança dessa idade não se envolver com os comentários e as opiniões dos colegas, porque ela espera encontrar nos seus pares muitos elementos para a formação da própria identidade. Contudo, essa situação é uma oportunidade para seu filho dar um grande passo na formação do verdadeiro sentimento de quem é e descobrir fontes saudáveis para o autodesenvolvimento. Espero que ele tenha força e coragem para encontrar o próprio caminho nessa fase difícil.

GRITAR COM AS CRIANÇAS

Pergunta:

Minha mulher e eu fomos abençoados com dois filhos maravilhosos, um menino de 9 anos e uma menina de 12. Sou o treinador do time de hóquei do meu filho, e minha mulher participa das aulas de dança de minha filha. Nossas vidas giram em torno deles, e fizemos sacrifícios para estar sempre à disposição para apoiá-los.

Agora que eles estão crescendo, nossa preocupação é: como impor disciplina sem gritar o tempo todo? Parece que nos últimos tempos estamos sempre no pé deles repetindo eternamente as mesmas instruções.

Acreditamos em muito amor e estímulo para os filhos, e tentamos muitos métodos diferentes de disciplina. Detesto dizer que os gritos parecem ser a única coisa que realmente funciona, e me decepciona ter que usar esse recurso.

O que podemos usar do ponto de vista do espírito para impor-lhes disciplina de uma maneira menos agressiva, mas que seja eficiente?

Resposta:

Vocês parecem ser um casal muito consciencioso e afetuoso, que sente frustração e raiva quando os filhos não reagem como vocês gostariam. O problema é que, apesar de atraírem a atenção das crianças, os gritos não são realmente eficazes. A tendência delas será se fechar diante da raiva de vocês e parar de escutar. A comunicação por meio da intimidação não é um modelo de comportamento desejável para passar aos filhos.

Não faça de sua raiva uma desculpa para gritar, mas veja-a como um sinal de que precisa resolver um problema — e não só um problema externo de comportamento deles; veja-a também como uma oportunidade para vocês descobrirem por que estão fazendo tanto do seu sentimento de bem-estar depender das ações de terceiros.

Não veja essa interação como uma disputa de poder, mas como uma maneira de ser para seus filhos um exemplo de habilidades de comunicação maduras e não violentas. Isso será para eles uma herança mais valiosa do que o hábito de recolher as roupas do chão para evitar ouvir gritos. Se o comportamento difícil das crianças estiver escondendo um problema emocional mais profundo, será preciso conquistar a confiança e a acessibilidade delas para ajudá-las, e os gritos só poderão deixá-las mais defensivas e reservadas.

É muito bom ser firme e claro sobre o que você quer, mas num tom calmo. Mantenha o controle da situação — não deixe as coisas fugirem ao controle por algum tempo para depois reagir de maneira furiosa e desproporcional. Ouça as crianças e faça o possível para que elas entendam o que você quer, procurando saber se elas precisam de mais orientações e apoio para fazer o que você espera deles.

Reavalie de quanto controle ainda precisa, sobretudo no caso da menina de 12 anos, que está tentando manifestar mais individualidade. Procure maneiras de criar uma atmosfera mais relaxada e feliz com muitas risadas, abraços, estímulo e amor por eles, só por serem quem são.

APOIO OU PERMISSIVIDADE

Pergunta:

Como saber a partir de onde o apoio prestado a um filho imaturo se torna um estímulo para que ele continue imaturo?

Resposta:

É muito difícil descrever em termos gerais como determinar a partir de onde o apoio se torna permissividade. Principalmente porque desconheço a idade de seu filho e o contexto do comportamento em questão. O fundamental é determinar de que grau de autonomia seu filho é capaz, e ter certeza de que seu apoio lhe dá os meios para avançar em direção à ação e à responsabilidade. É uma questão de o coração dar amor onde e como a mente entende que o amor é mais necessário. Evidentemente, uma mesma ação, como prover casa e comida, pode ser apoiadora se seu filho tiver 12 anos ou permissiva se ele tiver 35. Se seu filho estiver preparado e capacitado para fazer alguma coisa por si mesmo, mas sua intervenção impedi-lo de assumir esse passo de independência, então sua ação será permissiva. Por outro lado, não devemos nos apressar a considerar alguma ação permissiva. Em circunstâncias especiais, ajudar um filho de 35 anos com casa e comida ainda pode ser um apoio. Por exemplo, se ele acabou de se divorciar ou estiver se recuperando de uma doença grave e essa ajuda adicional contribuir para que ele recupere energias e recursos para se colocar de pé mais rápido, essa será uma ação apoiadora. Criar filhos é um caminho espiritual bonito e desafiador, que exige constantemente a busca de um equilíbrio cada vez maior de coração e mente em tudo o que fazemos.

CRIANÇA TEMPERAMENTAL

Pergunta:

Gostaria de pedir seu conselho sobre como criar um menino de 4 anos que vem de uma família de pessoas temperamentais e impacientes. Ele copia tudo o que vê e é muito dispersivo. Contudo, aprende muito depressa! O que me preocupa é que ele já está começando o tiranizar a mãe e a avó e a ter um temperamento desagradável. Grande parte de seu comportamento é causado pelo ambiente doméstico. Eu sei disso. Sei que criar uma criança não depende somente da natureza dela, mas também da maneira como é orientada, mas como posso ensinar “truques novos a cachorros velhos”, ou seja, à minha família e também a mim? Eu gostaria que ele visse a vida com calma e paz.

Resposta:

O segredo de criar filhos é ser capaz de exemplificar o comportamento que você deseja ver na criança. Sua preocupação pelo fato de todos na família serem temperamentais e de o menino estar se tornando agressivo é compreensível. Como é improvável que toda a família mude, você pode começar por mostrar à criança como manifestar sentimentos intensos sem gritar e sem desrespeitar os outros. O garoto precisa ver na família que não é preciso exagerar o comportamento e gritar para ser ouvido. E é importante que ele entenda que existem limites apropriados para expressar qualquer coisa de uma forma mais satisfatória e mais eficaz do que sua maneira atual.

Por meio de sua interação com seu parceiro, você pode mostrar à criança como alguém consegue manifestar sentimentos intensos e se acalmar de imediato e completamente sem guardar ressentimentos e raiva.

Se algum desses comportamentos não for natural para você e outros membros de sua família, veja a criação desse menino como um sinal da natureza de que está na hora de aprender a agir dessa forma, para o seu bem e para o bem da criança. Qualquer livro sobre comunicação não violenta pode ajudá-la nessa questão.

AUTODESCOBRIMENTO

Pergunta:

Tenho 60 anos e sou mãe de uma moça de 32, uma médica competente, mas profundamente infeliz. Não sei se a raiz do sofrimento dela é o fato de ter nascido no Oriente e ter sido criada no Ocidente. Estou procurando desesperadamente uma maneira de ajudá-la a se encontrar, mas não sei como fazê-lo. Por favor, me dê alguma orientação.

Resposta:

É natural a mãe de um adulto infeliz culpar-se ou culpar as condições nas quais a criança foi criada. No entanto, crianças com a mesma condição de infância de sua filha tornam-se adultos felizes e bem ajustados. Além disso, certamente muitas crianças nascidas no Oriente e criadas também no Oriente se tornam adultos infelizes.

Portanto, a infelicidade de sua filha não é causada por seu local de crescimento. Será bom você reconhecer que ela tem o próprio caminho de autodescobrimento e que as emoções e a perspectiva de vida de sua filha fazem parte da jornada dela. Você pode apoiá-la e amá-la, aconselhando-a quando ela pedir conselhos, mas, em última análise, esse é o caminho dela, e você precisa aceitar e confiar no processo.

A LUTA DOS PAIS

Pergunta:

Quando se trata de criar meu filho de 16 anos, estou com dificuldade para entender o conceito de aceitar as coisas como são. Ele está dependente de maconha. No ano passado, nós o mandamos para uma clínica de reabilitação porque ele começou a usar cocaína. Ele nunca se convenceu de que a maconha causa dependência e prejudica a saúde. Tentei explicar a ele em diversas ocasiões que, na melhor das hipóteses, essa droga causa dependência social e faz mal. Ele é uma criança inteligente, mas suas notas na escola são deploráveis. Sei que no fundo ele é um indivíduo gentil e caloroso, mas na superfície ele parece insensível e indiferente aos efeitos de seu comportamento sobre outros, principalmente sobre seus pais! Este ano, ele quis entrar para uma equipe de luta livre e nós permitimos, na esperança de que isso o tornasse mais preocupado com a saúde. Além disso, para fazer parte da equipe ele precisa melhorar o desempenho escolar. Ele é aceito nos treinos e frequenta as competições, mas é marginalizado. Não vi melhora nos resultados na escola, e parece que ele faz apenas o suficiente para frequentar a equipe, mas não o bastante para se tornar membro efetivo.

A mãe dele e eu quase sempre estamos em polos opostos do espectro da criação de filhos. Ele viveu com a mãe a vida toda e só recentemente passou a ficar comigo alguns dias por semana. Nas duas últimas semanas, ele não tem vindo muito, e isso parece coincidir com um novo interesse em usar drogas com mais frequência. Sempre fui mais rígido em termos de disciplina, portanto parece que ele foge de mim sempre que se comporta de um modo que reprovo. Nos últimos tempos, a mãe começou a se preocupar mais com os comportamentos dele, mas muitas vezes não tem a energia necessária para impor disciplina e/ou tentar ajudá-lo a romper com esses padrões pouco saudáveis.

Da minha parte, comecei a meditar há seis semanas, e descobri que isso me ajuda a avaliar melhor minhas próprias escolhas. Descobri que prefiro ser menos crítico quando falo com ele, mas internamente fico ansioso. Tenho dificuldade com a relevância de meu papel na vida dele, com a falta de respeito dele por mim e com seu desprezo por minhas preocupações por ele e por seu futuro. Tenho procurado não me deixar envolver emocionalmente com cada comportamento e atitude dele, mas não estou conseguindo evitar isso. Sinto que ele é o único elemento em minha vida no qual invisto minhas emoções mais profundas. Sei que desempenhamos muitos papéis, mas na qualidade de pai acho que esse é meu papel mais importante e com o qual sinto que luto para manter uma percepção de quem sou, sem me deixar consumir emocionalmente ou, no extremo oposto, desistir dele. Moro onde moro apenas para ficar perto de meu filho; não tenho outros parentes na região. Portanto, não tenho a sensação de ter raízes onde moro, o que torna meu papel de pai o único motivo para viver onde vivo.

Minha dúvida é: como ser pai e ao mesmo tempo aceitar as coisas como são? Em outras palavras, devo permitir que meu filho tome as próprias decisões na esperança de que ele encontre o próprio caminho, ou seja, devo ignorar as decisões dele e agir como se nada estivesse errado, ou devo interferir, impor disciplina quando possível e ficar firme no que acredito ser o melhor para ele? Isso com certeza vai significar não tê-lo por perto e aumentar meu sentimento de estar distante dele.

Resposta:

Ser um guia responsável para os filhos e ao mesmo tempo reconhecer as limitações do próprio poder sobre eles, principalmente quando eles se aproximam da idade adulta, é um dilema vivido por todo pai e mãe conscientes. Aprender a caminhar com segurança nessa corda bamba também faz parte do seu crescimento espiritual. Portanto, minha primeira afirmativa é de que você não está fazendo nada errado. Lidar com um adolescente é difícil, e quando a isso se somam uma dependência de drogas e uma vida com pais separados, as coisas ficam ainda mais complicadas. Contudo, essa é sua realidade, e é por aí que você deve começar.

Você mencionou que seu filho não reconhece que tem um problema, portanto a reabilitação não vai ajudar porque ele não se envolve no processo. Localize um mentor ou figura respeitada que possa conversar com ele e fazê-lo ver que alterar quimicamente sua percepção não o ajudará a longo prazo. Pode ser um médico, o treinador da equipe de luta ou um tio. Quando ele entender por si mesmo que precisa de ajuda, então você poderá dar qualquer apoio que o auxilie a ficar sóbrio.

Também me ocorre a ideia de que seu filho parece não ter uma experiência essencial que o ajude na transição para a vida adulta. Joseph Campbell falou sobre a importância dos ritos de passagem para ajudar os meninos a fazerem a transição para a condição de homens; o papel desses ritos é ajudá-los a direcionar as poderosas energias e emoções dessa fase da vida, transformando-as em fins produtivos e criativos. Se não houver eventos definidores que ajudem a criança a recriar seu Ser em evolução, ela se sente perdida, sem objetivo, deprimida e muitas vezes autodestrutiva. Sinto que seu filho precisa de alguma coisa dessa ordem para ajudá-lo a consolidar as energias e direcioná-las para um fim gratificante. Pode ser algo tão simples quanto levá-lo a uma expedição para acampar na natureza selvagem, onde você tenha a oportunidade de ensinar-lhe coisas e conversar com ele de homem para homem. Se você achar que seu relacionamento já deteriorou demais para isso, talvez ele possa fazer uma viagem como essa sozinho ou com outro mentor do sexo masculino. Não é preciso fazer dessa viagem a busca de uma visão. Você pode criar qualquer tipo de cerimônia de iniciação que considere mais adequada para ele.

É bom você estar aprendendo a meditar e praticar conscientemente um estado de equanimidade. Não faz mal se parecer que você está perdendo mais batalhas do que ganhando. O crescimento ocorre pela simples atenção de perceber sua reação, e não pelo fato de ter controle sobre ela. Fique com isso e você ajudará seu filho, tanto quanto é possível para qualquer pai, além de descobrir um conhecimento essencial sobre si mesmo. Os corações de todos os pais estão com você nessa situação.