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Puro amor
AMOR VERDADEIRO
Pergunta:
Sempre fico intrigado com a frase: “O amor não é definido por nossos sentimentos e comportamentos, mas por nosso nível de consciência.” Francamente, não consigo entender o significado dessa citação desde que a li pela primeira vez há mais de um ano. Você poderia ter a gentileza de explicar seu significado para mim?
Também quero perguntar o que é o amor verdadeiro (amor pelo companheiro de sua vida)? Ele pode mudar com o tempo? Se isso acontecer, então ele será mesmo amor verdadeiro? Talvez eu tenha definido incorretamente o amor na minha vida e talvez seja essa a razão pela qual sofro emocionalmente.
Resposta:
Nossos conceitos sobre o amor são tão condicionados pelas histórias e pelas canções românticas que fica difícil vê-lo de uma maneira mais universal. Ao dizer que o amor é o nível de consciência em que vivemos, tento demonstrar que ele é muito mais do que uma emoção ou uma interação social. O amor é o poder da vida em nós que nos permite estabelecer conexões e uniões com os outros, transcendendo nossos interesses egoístas. Esse poder de unir depende da profundidade de nossa consciência. Quanto mais autoconscientes somos, maior a nossa capacidade para amar, seja o objeto do amor uma criança, um parceiro, a natureza ou Deus. Nesse sentido, todo amor é amor verdadeiro. Uma paixão de uma semana pela colega do jardim de infância que se senta ao nosso lado pode ser amor verdadeiro, uma vez que pode fazer-nos sair de nosso mundo autocentrado e pensar em termos de um mundo mais vasto, que inclui mais alguém.
AMOR PURO
Pergunta:
Se no fim da jornada o encontro com Deus significa experimentar amor puro por toda criatura viva, como é possível ter um relacionamento amoroso com a esposa, o marido ou os filhos no qual, haja o que houver, sempre estará presente uma forma de apego? Se restar a menor forma de apego, a completa realização ou o despertar não é alcançado. É possível chegar a esse passo final enquanto ainda sentimos algo “diferente” por alguém em particular?
Resposta:
O amor universal e divino não se limita a um sentimento abstrato de amor por Deus ou pela Natureza. O amor individual pelo marido ou pela esposa pode expressar a infinitude do amor universal. Isso é parte do milagre do amor — que o relacionamento finito possa expressar a totalidade de nosso amor por Deus. Ser casado e ter uma família não resulta na impossibilidade de seu amor crescer e transcender o apego. Os videntes mais iluminados dos vedas eram casados e tinham filhos. Podemos alcançar a consciência de unidade e ainda manter todas as nossas ligações de amor pela família e pelos amigos. Nesse caso, os limites específicos de nossa vida — o corpo, a personalidade, os relacionamentos — tornam-se o veículo para expressar e viver o infinito no mundo.
DAR AMOR
Pergunta:
Você recomenda “oferecer” uma prece silenciosa às pessoas que encontramos, desejando-lhes mentalmente saúde, riqueza e felicidade. Acho difícil estampar essas palavras na tela de minha mente, portanto simplesmente tenho uma impressão/intenção difusa desses sentimentos para com as pessoas. E isso geralmente resulta numa sensação agradável na região do coração. Isso é suficiente? Além disso, esses sentimentos serão manifestados na vida de quem os recebe e também em minha vida se forem realmente dados com amor e a melhor das intenções?
Resposta:
Sua maneira de dar essa bênção silenciosa aos outros é perfeita. Sim, essas intenções serão manifestadas na vida dos outros até certo ponto. É maravilhoso que você reconheça como isso faz bem ao coração porque você pode ver que dar amor aos outros não só espalha mais amor a seu redor, mas também cria mais amor dentro de você e faz de você uma pessoa mais amorosa.
SERVIR À HUMANIDADE
Pergunta:
O que significa exatamente servir à humanidade? Alguns exemplos parecem mais evidentes que outros. Servir alimento a quem tem fome, cuidar dos doentes... tudo isso parece óbvio. Contudo, como podemos servir à humanidade, por exemplo, compondo músicas? Ou corrigindo programas de computador?
Resposta:
A música é uma maneira maravilhosa de ajudar os outros. Servimos à humanidade por meio da música quando a linda música que criamos eleva os espíritos dos que a ouvem. Contribuímos para o bem-estar do mundo em nosso trabalho diário quando realizamos nossas tarefas com excelência, com amor e com a intenção de melhorar as vidas alheias. Dessa forma, cada um de nós sustenta a integridade de nosso pequeno fio no tecido da existência cósmica, e dessa forma cada fio serve para fortalecer o todo.
AMOR PESSOAL
Pergunta:
O amor pessoal é uma ilusão, não só no nível da personalidade, mas também no nível do carma? Mesmo que existam fortes ligações entre certas almas, não é a ilusão de um amor “especial” o que nos mantém separados? Se o amor universal é Jiva percebendo sua natureza como Atman, não será o amor pessoal um canto da sereia, uma armadilha no caminho? Nesse caso, podemos fazer alguma coisa para evitá-lo?
Resposta:
O amor pessoal não é algo que devemos evitar para superar a dualidade. Na verdade, o amor é o meio pelo qual reduzimos o fosso entre o Ser maior e os outros seres. O amor pessoal é o valor focalizado e concentrado do amor abstrato e ilimitado. Ele só é uma ilusão se no relacionamento deixarmos de perceber o valor universal e abrangente do amor. Na tradição védica, assim como em muitas outras culturas sagradas, os indivíduos aprendem a ver o divino e o universal em todo relacionamento de amor. As crianças aprendem a ver os pais e os mais velhos como Deus. Os casais são estimulados a ver o parceiro como Deus. O convidado e um estranho desvalido devem ser tratados como Deus. A expressão “namastê” é o reconhecimento da divindade na outra pessoa. Se tentarmos interromper o fluxo de sentimento em nossas relações interpessoais com o objetivo de superar a ilusão, tornaremos a vida muito árida e sem expressão, e só conseguiremos substituir um conceito limitado por outro. O fluxo do amor na vida pessoal é natural e saudável, e pode se tornar parte de uma iluminação espiritual feliz e gratificante.
O UNIVERSO QUE REFLETE NOSSO ESTADO INTERIOR
Pergunta:
Não é verdade que quanto mais conseguirmos nos ver com clareza como realmente somos e quanto mais amarmos, respeitarmos, aceitarmos, valorizarmos e apreciarmos a nós mesmos, mais o universo apoiará essa realidade e nos dará o mesmo nível de amor?
Resposta:
Como consequência da relação íntima entre o microcosmo e o macrocosmo, o cosmos sempre refletirá de volta para nós o nosso estado interior. Quanto mais amor descobrirmos dentro de nós, mais amor será refletido de volta pelo meio ambiente por meio dos outros.
AMOR UNIVERSAL
Pergunta:
Todo livro espiritual e todas as principais religiões afirmam que somos todos um, e devemos amar-nos uns aos outros. Isso significa que não deveríamos amar alguém mais do que os outros? É um erro que eu ame minha mãe mais do que amo a mãe de minha amiga, por exemplo?
Resposta:
Não há nada de errado nisso. Amar sua mãe mais do que você ama a mãe de sua amiga é a coisa mais natural do mundo. O ensinamento do amor universal não pretende substituir as ligações pessoais de afeto que temos com pessoas especiais. Ele quer enfatizar a conexão essencial de amor que todos compartilhamos no âmago de nossa humanidade. Essa conexão básica que todos compartilhamos deveria pelo menos orientar todo o nosso comportamento para com os outros. Contudo, os relacionamentos estreitos e íntimos que criamos na vida podem ir muito além desse mínimo de amor universal que sentimos por todos.
ÓDIO E CRUELDADE
Pergunta:
Como entender o sentido do ódio, da crueldade e do sofrimento? Gostaria de acreditar que aqueles que cometem atos de ódio (grupos como a Ku Klux Klan) e aqueles que abrigam e manifestam pensamentos poderosos de ódio (racistas e outros) serão punidos, mas é difícil acreditar nisso porque muita gente parece se dar bem fazendo ou dizendo coisas horríveis e cruéis. O que me surpreende é que eles conseguem racionalizar esse comportamento e não sentir culpa. Essas pessoas, de certa forma, se detestam e projetam esse sentimento para fora? Algum dia esses indivíduos pagarão pelo que fazem ou pregam? Às vezes sou dominado pela tristeza e não sei como entender todo o ódio que existe no mundo.
Resposta:
Acredito que o ódio e a crueldade são filhos da ignorância, portanto é difícil entendê-los de outra maneira, porque a ignorância não é inteligente. No entanto, os atos praticados por ignorância, como todos os atos, trazem consequências inevitáveis para seus perpetradores. Portanto, não há leniência para com os autores de ações abomináveis. Em vez de se preocupar com o castigo para os atos dessas pessoas, é melhor se concentrar em expandir a luz do conhecimento e do amor, para que haja menos ignorância e menos ódio no mundo.
ENTREGA
Pergunta:
Como podemos manter nossos desejos sem sermos egoístas? Imagino que a resposta a essa questão traga alguma informação que me ajude a entender melhor a resignação em comparação com a entrega.
Resposta:
Vejo a entrega como a suprema realização do desejo, e não como sua supressão. No fundo de cada pequeno desejo do ego existe uma alma em busca da felicidade, da liberdade e da totalidade. Quando realmente nos entregamos em amor, abrimos mão de todos os pequenos desejos para nos unirmos com a totalidade do desejo de nosso coração. É como um rio que corre para o oceano. Ele está abrindo mão de seu sentido limitado de Ser e de seus valores para adquirir sua condição realmente ilimitada, para a qual sempre se dirigiu. Nesse estado de entrega, não existe apego ou egoísmo — nossos desejos são os desejos do ser amado, e as necessidades dele são as nossas necessidades.
AMOR DIVINO
Pergunta:
Em uma de suas listas de perguntas e respostas, você afirma: “Para viver completamente aquele amor divino, você precisa se tornar aquele amor, compreendendo sua verdadeira natureza.” O que significa e como podemos fazer isso? O processo é o mesmo para todos? Se alguém nunca conheceu o amor, como pode obter algo que não existe em seu universo?
Resposta:
Você compreende sua verdadeira natureza pela prática da meditação em que você experimenta diretamente aquela inteligência não localizada como sua essência. Os detalhes desse processo diferem de pessoa para pessoa, de acordo com a história do indivíduo, mas o mecanismo subjacente de transformação é o mesmo para todos. Os exercícios de cura que descrevi em diversos livros e fitas são ferramentas que ajudam a alcançar esse despertar divino do coração.
EMOÇÕES DOMINANTES
Pergunta:
Toda vez que me surpreendo pensando sobre Deus ou rezando, seja numa reunião religiosa, seja sozinho, sou dominado por essa emoção poderosa e intensa que envolve muitos sentimentos: humildade, desespero, assombro, amor e muito mais que não consigo descrever. Como resultado, choro convulsivamente. É quase como se estivesse perdido e a conexão com Deus me desse essa visão poderosa que domina todos os meus sentidos. Até quando eu estava lendo as comunicações em seu fórum, experimentei a mesma emoção poderosa e comecei a soluçar. Parece que alguma coisa dentro de mim desperta toda vez que fico introspectivo. Você pode explicar por que isso acontece?
Resposta:
Parece que você está se conectando com um nível profundo de amor divino e compreensão. Os poderosos sentimentos de amor e assombro são típicos da condição em que o coração aprende a se sintonizar com o amor e o conhecimento universais. Ao mesmo tempo, isso pode deflagrar uma cura profunda do sofrimento emocional enraizado, e essa reação de cura é responsável pelos sentimentos poderosos de desespero e de tristeza que também surgem. Apenas tenha tolerância consigo mesmo sem encorajar os sentimentos de tristeza e desolação, e eles irão se dissipar com o tempo, à medida que os velhos traumas forem curados.
Quando você se acostumar com os outros impulsos de amor e encantamento, já não sentirá mais que é dominado por eles, e logo os reconhecerá como vertentes naturais de seu próprio coração.