Introdução

Será que a vida teria algum mistério se não existisse o amor? Acho que o amor é o mistério que nos envolve de forma invisível. Conforme declarou o grande poeta indiano Rabindranath Tagore: “O amor não é apenas um impulso. Ele deve conter a verdade, que é lei.” Nem todo mundo consegue encontrar palavras tão eloquentes, mas nosso desejo de amar e ser amado é, em seu poder, singularmente humano.

Em sua melhor atuação, o amor transforma a natureza humana. Ele traz ternura e afeição, e transforma a raiva em compaixão. Quando as pessoas em busca de conselhos fazem perguntas, os principais tópicos são o amor e os relacionamentos. E agora, pasme: apaixonar-se talvez seja a experiência mais profunda que qualquer um de nós pode ter — mas também a mais enigmática. Por que o amor pode causar tanta dor quando traz o êxtase? O que torna esse sentimento tão extremado, capaz de transformar-se em ódio e ciúme quando nos sentimos traídos?

Outras condições podem ser secundárias em nossa vida diária, mas quando se trata de amor, temos sempre a impressão de que está tudo em jogo. Nossos relacionamentos românticos e nossas ligações familiares são os mais fortes impulsionadores de nossas vidas. Essas conexões profundas com outros indivíduos às vezes podem parecer dominantes a ponto de nos causar extrema perplexidade. Por provocar a mais incrível felicidade, a experiência de amar sempre foi considerada a porta para uma realidade superior. No entanto, do ponto de vista espiritual, o amor não é apenas o sentimento de afeto por cônjuges, amigos e filhos. O amor é a nossa essência central.

Neste livro estão reunidas perguntas e respostas sobre todas as fases do amor. Para quase todos, o início de um relacionamento é o ponto de partida de uma jornada para toda a vida. Ele inicia o indivíduo numa experiência desconhecida; há uma fragilidade e uma insegurança exclusivas da intimidade sexual e da intimidade emocional. Nós nos dispomos a deixar cair a máscara de nossa identidade autoconfiante e segura do dia a dia porque o desejo de amar e ser amado é poderosíssimo. Se você realmente aprender com eles, os relacionamentos amorosos lhe darão amor gratificante e íntimo; sobre esse alicerce, as possibilidades de crescimento são infinitas. Essas ligações humanas, tanto frágeis quanto poderosas, fortalecem nossa natureza espiritual. Não existe um limite definido entre amar alguém e amar a alma dessa pessoa. No entanto, nos tempos modernos ocorreu uma grande inversão. Nas épocas passadas, a meta era o amor idealizado, fosse o amor sublimado por Deus, fosse uma conexão entre almas. Hoje as pessoas falam mais abertamente e se concentram com mais obsessão no lado material do amor, que é o sexo. Mais do que nunca somos francos sobre desejar uma parceria sexual saudável, já que o sexo permeia todos os recantos da cultura popular. Aqui, mais uma vez os limites não são fixos. Amar alguém sexualmente, com paixão e desejo, pode ser a expressão física do amor universal que liga espiritualmente duas pessoas. Nas duas situações existe uma união que transcende o ego. Naturalmente, à sua maneira, a sexualidade também nos deixa vulneráveis. Nós nos entregamos completamente a uma experiência sexual intensa que inclui nosso passado, nossa cultura, nossas necessidades e expectativas. Isso transforma o quarto de dormir num território traiçoeiro onde as inseguranças podem ser extremamente dolorosas. Porém, o quarto também é o lugar para a honestidade, onde nos damos conta da importância de sermos fiéis a nossos corações.

Na sociedade moderna, onde inúmeros fatores se combinam para aumentar o índice de divórcios, o próprio casamento gera inseguranças. Duas pessoas podem embarcar no casamento pelas mais diversas razões, relacionadas com quem são os envolvidos e de onde eles vêm. No Ocidente, muitos foram condicionados a acreditar que o casamento cresce a partir de uma parceria íntima já estabelecida. No Oriente, porém, casamentos arranjados são tradicionais e populares, e os indivíduos têm uma compreensão diferente do que leva um homem e uma mulher a se casar. A segurança econômica, os costumes familiares, as conexões conquistadas pelos pais dos dois envolvidos e o medo da solidão são uma parte importante desse complexo. Contudo, à parte as diferenças culturais, um número surpreendente de pessoas que escolhem se casar, em vez de adotar o caminho prático de simplesmente viver junto, o faz porque considera esse ato um sacramento. Ele representa uma união abençoada por Deus. Embora essa crença esteja em declínio, penso que outro tipo de sacramento permanece intacto: cultivar uma vida de amor abnegado com outra pessoa pode nos levar a uma compreensão de nosso verdadeiro ser.

Como você poderá ver neste livro, a maioria dos que fazem perguntas sobre o amor vem de situações de conflito e infelicidade. Por revelar nossa natureza essencial, o amor parece muito arriscado, e o sofrimento resultante da perda do amor pode parecer insuportável, como se a própria identidade do ser estivesse sendo destroçada. (Observe com que frequência alguém diz “não existo sem ela” ou “não consigo viver sem ele”.) Principalmente quando a vida pessoal foi estruturada em torno da pessoa amada, o fim de um relacionamento parece arrancar tudo pela raiz. De maneira similar, também pode ser difícil perceber quando um relacionamento se esgotou. Nesses momentos, é importante sofrer e restaurar-se lembrando que o amor universal não pode ser destruído. Em seu sentido mais elevado, o amor não é pessoal. Como diz Tagore, com tocante simplicidade, em um de seus poemas:

Meu coração se quebra em ondas
na praia do mundo
e com lágrimas escreve o próprio nome
nestas palavras:
“Eu te amo.”

Os relacionamentos mais íntimos geralmente estão relacionados com a família — os pais, os filhos, os irmãos e as irmãs. Como não foram escolhidos por nosso ego, esses relacionamentos muitas vezes podem estar mergulhados em conflito. No entanto, a responsabilidade que sentimos uns pelos outros supera a razão. Como seres vivos, fomos feitos para amar.

Este livro explora perguntas de meus leitores sobre a natureza do amor em todas as dimensões que abordei. A busca pelo amor em todas as suas encarnações começa e termina no coração. Tentei responder nesse espírito, desejando livrar os indivíduos da dor e da perplexidade, porém, mais do que isso, procurando fazê-los ver a luz do amor como uma possibilidade eterna dentro deles mesmos.

Deepak Chopra