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A primeira vez que li sobre o Mantequero foi nos livros de Gerald Brennan.
Ele relata a história de um amigo, um aristocrata alto, magro e muito pálido, que foi capturado por alguns camponeses quando caminhava nas montanhas. Eles estavam convencidos de que ele era um mantequero pelo tom descolorido da pele e por ser tão macilento, e estavam decididos a matá-lo ali mesmo; porém, para não se meterem em encrenca, mudaram de ideia e resolveram entregá-lo ao prefeito. Por sorte, o prefeito não era supersticioso e explicou aos camponeses que o homem não era um mantequero, mas um inglês.
Fiquei muito intrigada com o relato e decidi fazer algumas pesquisas. Não há muitos escritos sobre esse ser sobrenatural, mas, igual ao que ocorre com algumas espécies de vampiros, pessoas da vida real são acusadas de imitar o mantequero, sendo que o mais conhecido é Juan Díaz de Garayo, que confessou seis assassinatos, mas que provavelmente cometeu muitos outros. Contudo, ele só recebeu o título de mantequero porque uma de suas
“quase” vítimas, uma criança, ficou tão apavorada ao ver aquele rosto horroroso que achou que ele fosse o sacamantecas (outro nome dado à mesma criatura). Um candidato mais viável ao título é Manuel Blanco Romasanta, nascido em 1809, um vendedor ambulante de gorduras para lubrificar rodas. Ele foi acusado de usar gordura humana em seus produtos. Depois de escapar das garras da justiça, ele seguiu em frente e assassinou mais nove pessoas, deixando-as com feridas pavorosas e se alimentando de partes de seus cadáveres.
Mais recentemente, no verão de 1910, Francisco Leone, um curandeiro, sequestrou e matou um menino de sete anos com o único propósito de extrair-lhe o sangue e a gordura, para curar um homem que sofria de tuberculose.
A respeito da própria lenda não há quase nada; então usei a ausência de informações como justificativa e me dei o direito de inventar o meu mantequero. Na primeira história, simplesmente intitulada Mantequero, tentei não acrescentar muitos detalhes à lenda, e apenas sugeri que a criatura tinha por hábito aparecer ao anoitecer. Mas de todas as minhas obras, essa foi a que mais redundou em pedidos de uma sequência.
No começo, eu não conseguia ver como poderia escrever uma sequência, já que me havia colocado num beco sem saída na história original. Então um amigo querido sugeriu uma possível saída e senti-me inspirada a escrevê-la.
O problema, para mim, foi que essa sequência saiu do controle e foi crescendo, crescendo e, em vez de um conto, virou um romance. Eu não ia escapar de adicionar mais detalhes à lenda.
Eu não aprovo esse tipo de coisa. Se o plano é escrever uma narrativa sobre lendas, temos de nos ater às fontes. Neste caso, porém, não há fonte alguma. Este é, na minha opinião, um exemplo de lenda que se espalha por tradição oral, nunca tendo sido devidamente documentado. Conversei com amigos, moradores das aldeias, e eles quase nada sabiam sobre essa lenda (Ou, quem sabe, não quiseram me contar?). No início, achei que o mantequero pertencesse exclusivamente à região de Alpujarran, na Espanha, mas com o tempo concluí que ele é amplamente conhecido, inclusive em Barcelona.
Ninguém até hoje, porém, foi capaz de me dar mais detalhes da lenda original.
Confesso: trapaceei. Onde eu percebi que algo deveria ser explicado, usei como base os mitos consagrados de vampiros.
Caso eu tenha me desviado demais do verdadeiro mito do mantequero, peço desculpas antecipadamente.
Mas acho que deu certo como obra de ficção.
Algum tempo entre a publicação de Mantequero e de Disappeared, a professora de uma escola americana me contou que sua turma havia amado Mantequero. Muitos alunos eram de origem hispânica e estavam especialmente interessados por se tratar da cultura deles. E ela sugeriu que eu escrevesse um romance Mantequero para jovens adultos.
Flertei com a ideia e, propositalmente deixei uma “porta aberta” para uma nova história no final de Disappeared. Os pecados do pai é o resultado dessa sugestão. É a primeira vez que tento escrever um romance para a categoria jovem adulto e estou um pouco insegura, sem saber como será recebida pelo público. Não só espero, mas também acredito que essa obra seja suficientemente “adulta” para os atuais fãs do Mantequero. Mas isso nós veremos...
Especular se haverá mais histórias sobre o Mantequero, vai depender da minha inspiração que, até este instante, não tem nada para mostrar. Tenho planos, porém, de publicar muito em breve as três histórias em um único volume e talvez acrescente, inclusive, um texto preliminar de apresentação, no formato de um prefácio. O objetivo é cumprir uma antiga promessa de lançar Mantequero como livro impresso (o primeiro livro era muito curto para ser impresso).
Enquanto isso não acontece, ficaria muito grata por receber qualquer feedback que você queira me oferecer sobre Os pecados do pai (sobretudo se você for um jovem adulto).
Você pode entrar em contato comigo a qualquer momento por casahoya@gmail.com ou pode escrever uma resenha na Amazon. Ficarei muito grata pelos comentários.
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Obrigada