Sebastián tinha nove anos quando o Mantequero foi capturado.
Aquele foi um ano terrível. As chuvas da primavera nunca chegaram e, depois um vento quente soprou do mar e secou as colheitas. As uvas se transformaram em passas ainda nos galhos das videiras. Os tomates não passavam de minúsculos sacos murchos. Até mesmo o feijão não conseguiu tomar corpo.
As pessoas passaram a roubar o que podiam da terra do Senhor da terra. Eles sabiam que poderiam ser mortos se fossem pegos, mas se não roubassem, suas famílias morreriam de qualquer jeito. Então se puseram a roubar.
O longo verão era exasperador, e o povo faminto sofria com o calor sufocante, carregando água para os campos na esperança de salvar o pouco que restava da minguada safra. As casas eram verdadeiros fornos, e à noite dormia-se nos telhados e varandas.
E então, quando parecia que as coisas não podiam piorar, o Mantequero apareceu e roubou a pouca gordura que tinham nos ossos.
Ninguém o tinha visto, mas todo mundo sabia que ele havia chegado. Sebastián ouviu as mulheres cochichando, descrevendo como Rubén Abalafeo ouvira um barulho na noite em que uma janela veneziana bateu com um estrondo e como ele encontrou a mãe na manhã seguinte, magra como um esqueleto, o olhar perdido no espaço e incapaz de explicar o que tinha acontecido. Ou como Geraldo Plácido, que tinha ouvido alguma coisa subindo a parede da casa e fechou as janelas bem a tempo.
Depois dessas ocorrências, todos passaram a se trancar dentro de suas casas quando escurecia e cuidavam para que as janelas estivessem fechadas. Noite após noite, eles se amontoavam no calor sufocante, com medo de deixar entrar, além do ar fresco da noite, algo bem pior.