Meg suspirou. «Isto não é amor, Majestade.»
O Rei Coração Fechado estacou enquanto oferecia
um pequeno pedaço de bolo ao pequeno pássaro azul.
«Então o que é?»
«Medo», disse Meg, simplesmente.
«Os vossos cortesãos temem-vos, Majestade.»
O rei grunhiu e ficou pensativo.
«Levem-na de volta para as masmorras»,
ordenou aos guardas. «Meg?»
«Majestade?»
«Certifica-te de que pentearás o cabelo quando voltar a ver-te.»
«Mas preciso de um pente e de alfinetes para prender o cabelo», explicou Meg em voz baixa.
O rei limitou-se a acenar impacientemente e, mais uma vez, Meg foi levada…
excerto de REI CORAÇÃO FECHADO
Temperance abraçou Silence e fechou-lhe delicadamente o corpete enquanto a carruagem alugada estremecia sobre a estrada em direção a Wapping. Silence permanecia imóvel, mas a sua respiração parecia forçada e Temperance sentia lágrimas caindo-lhe nos dedos enquanto compunha o vestido.
– Precisas de um médico? – perguntou-lhe, por fim.
– Não. Não, estou bem – sussurrou Silence.
Era obviamente falso e Temperance sentiu novas lágrimas caindo. Secou-as ferozmente com o pulso. Não era o momento de sucumbir ao seu horror e remorso. Precisava de se manter forte por Silence.
– O que… – Precisou de parar para inspirar. – Que te fez ele, querida?
– Absolutamente nada – afirmou Silence num tom monocórdico. – Nem sequer me tocou.
Temperance quis protestar, mas conteve-se. Era evidente que Mickey Encantador tinha feito alguma coisa a Silence e era igualmente evidente que não conseguia falar no assunto naquele momento. Durante os minutos seguintes, concentrou-se em pentear com os dedos o cabelo castanho-claro longo da sua irmã. Separou-o e entrançou-o e, usando alguns dos seus alfinetes, prendeu-o numa coroa no alto da cabeça.
Silence permaneceu encostada ao peito de Temperance enquanto a irmã lhe acariciava a testa como se fosse uma criança.
Interrompeu o silêncio após algum tempo.
– Minha querida, porque foste ter com aquele homem?
Silence suspirou. Era um som perdido e solitário.
– Precisava de salvar William.
– Mas porque não me procuraste primeiro? Poderíamos ter discutido o assunto. Talvez tivéssemos encontrado outra forma de o ajudar. – Temperance tentou manter a voz estável, mas percebeu que o seu desespero era percetível na voz.
– Estavas tão ocupada – disse Silence, baixando a voz. – Com o lar, com as crianças, com Lorde Caire e a tua busca por um novo patrono.
As suas palavras foram como uma faca no peito de Temperance. Como poderia ter-se envolvido tanto com outras coisas ao ponto de a sua própria irmã não querer pedir-lhe ajuda?
– De qualquer forma, não teria importado – sussurrou Silence, fechando os olhos. – Tive de visitar Mickey Encantador sozinha. Precisava de estar sozinha quando fiz o acordo com ele. E funcionou, sabes?
– O que funcionou, querida? – murmurou Temperance.
– A visita a Mickey Encantador. O acordo que fiz com ele. Disse que devolverá a carga roubada do Tentilhão.
Temperance fechou também os olhos. Esperou que o rei pirata mantivesse a sua palavra, mas, mesmo que o fizesse, por milagre, isso não mudaria a situação de Silence.
A sua irmãzinha estava arruinada. Para sempre.
LAZARUS ACORDARA momentos antes quando a discussão no exterior do seu quarto começou naquela tarde. Ergueu o olhar da sua escrivaninha, onde se sentara com o roupão sobre o tronco nu, vendo a porta do quarto abrir-se.
Temperance entrou. Atrás dela, vinha Small.
Lazarus viu as lágrimas na face de Temperance e elevou a voz para o criado:
– Deixa-nos.
Small curvou-se e fechou as portas do quarto atrás de si.
Lazarus ergueu-se devagar.
– Que sucedeu?
Olhou-o. A tragédia era percetível nos seus olhos castanhos com partículas douradas.
– Silence… Santo Deus, Lazarus. Silence.
Notou de forma ausente que nunca antes se lhe dirigira pelo seu nome próprio.
– Diz-me.
Fechou os olhos como se tentasse preparar-se para o que diria a seguir.
– Decidiu tentar resgatar sozinha a carga de William, o seu marido. Visitou o chefe do bando das docas, um homem chamado Mickey O’Connor…
Durante as suas deambulações por St. Giles, ouvira rumores vagos acerca de um exuberante ladrão das docas. Tratava-se de um homem poderoso. Caire franziu a testa.
– E?
Uma lágrima prateada deslizou-lhe de uma pálpebra e caiu ao chão, refletindo a luz da tarde.
– Aceitou devolver a carga do navio… por um preço.
Uma vida inteira de cinismo fê-lo perceber qual era o preço, mas perguntou, mesmo assim.
– Qual foi o preço?
Abriu os olhos, expondo o brilho castanho-dourado.
– Obrigou-a a passar a noite com ele.
Lazarus expirou ao ouvir a confirmação. Nunca conhecera Silence, não sabia nada a seu respeito e, mesmo que a tivesse conhecido, seria provável que não se importasse minimamente com ela. Além de ser a irmã de Temperance.
E isso fazia toda a diferença no mundo.
Era estranha aquela sensação de empatia. Nunca sentira algo assim. Percebeu que o que magoava aquela mulher magoava-o também a ele, o que a fazia sangrar, provocava uma hemorragia de dor na sua própria alma.
Estendeu-lhe os braços.
– Vem.
Lançou-se entre os seus braços e apertou-a contra o peito, sentindo pontadas de dor sublime na pele nua, onde o roupão se abria, expondo-o. Tinha um cheiro tão doce. Cheirava a amanhecer e a mulher.
– Lamento – disse-lhe, com as palavras parecendo-lhe desajustadas na sua voz. – Lamento muito.
Ouviu-a soluçar uma única vez.
– Quando voltei ao lar esta manhã, William disse-me que Silence não voltara para casa na noite anterior. Desconfiou que teria procurado O’Connor, mas seria demasiado perigoso entrar no território do bando à noite.
Lazarus pensou em silêncio que, se tivesse sido Temperance, se tivesse sabido que estava num covil de ladrões, mesmo com o perigo para a sua pessoa e para a sua alma, arriscaria o que fosse preciso para a resgatar.
– Esperámos até ao amanhecer e alugámos uma carruagem – sussurrou contra o seu ombro. O seu hálito arrepiou-lhe a pele de forma desconfortável. – A casa de O’Connor tinha acabado de se tornar visível quando vimos Silence sair do interior.
Acariciou-lhe o cabelo. Trazia ainda os alfinetes de topázio amarelo que lhe tinha comprado, apesar de ter mudado de vestido.
Temperance estremeceu, como se recordasse.
– Tinha o cabelo solto, Caire, e o corpete desapertado. Obrigou-a a caminhar assim pela rua, como se quisesse que parecesse uma pega. Quando me viu, começou a chorar.
Lazarus fechou os olhos, absorvendo a sua dor e repetiu a única coisa que podia dizer.
– Lamento.
– Disse que não aconteceu nada, que O’Connor a obrigou a passar a noite no seu quarto, mas não lhe tocou. Oh, Caire, os seus argumentos eram tão patéticos que não me atrevi a pressioná-la para me contar a verdade. Consegui apenas abra-çá-la.
Apertou-a com maior firmeza.
– Lamento.
Afastou-se, olhando-o nos olhos.
– Mas o pior foi quando regressámos ao lar. William esperava-nos…
– Não te acompanhou na carruagem? – Lazarus franziu a testa.
Temperance abanou a cabeça.
– Disse que, se tinha sido vista perto da casa de O’Connor, isso daria credibilidade à teoria de que estaria aliado com o pirata do rio.
Lazarus passou-lhe a mão pelas costas num gesto apaziguador, sem dizer nada. Hollingbrook parecia ser um tolo.
– E, quando chegámos, bastou-lhe olhar Silence uma única vez para virar a cara. Oh, Caire… – Fechou os olhos, exausta. – Quase me despedaçava o coração.
Baixou a cabeça nesse momento porque lhe era impossível não o fazer. Roçou levemente os lábios pelos dela.
– Lamento muito.
Temperance baixou a cabeça contra o seu ombro enquanto aceitava os seus beijos. Os seus lábios eram macios e sabiam a lágrimas. Beijou-lhe a face, provando as lágrimas também aí e lambendo a sua mágoa.
– Caire – suspirou ela.
– Hmm?
– Estou tão cansada – disse ela, parecendo quase uma rapariguinha. Supôs que não teria dormido desde que a levara a casa na noite anterior.
– Nesse caso, deita-te um pouco comigo.
Pegou-lhe ao colo como se fosse uma criança e levou-a para a sua cama ainda por fazer, deitando-a aí com cuidado antes de se deitar a seu lado. Puxou-a para ele até a sua cabeça ficar aninhada contra o peito coberto pelo roupão, provocando um formigueiro quase doloroso.
Voltou a ouvi-la suspirar.
– Tem graça.
– O quê? – murmurou ele, passando-lhe os dedos pelo cabelo. Puxou os alfinetes de topázio amarelo do seu penteado e pousou-os na mesa de cabeceira.
– William enviou uma mensagem. Depois de voltar para casa com Silence. Depois de os meus irmãos discutirem e de Asa partir, furioso.
– Que dizia? – Retirou-lhe pequenos ganchos do cabelo, um a um, soltando as madeixas e penteando-as com os dedos.
– A carga do navio – disse. – Mickey O’Connor manteve a sua palavra. Estava tudo no navio esta manhã. Como se nunca tivesse desaparecido.
Lazarus olhou a cobertura da cama e pensou na perfídia de um ladrão, na sua honra e no preço que uma mulher poderia pagar pelo homem que amava. Quando voltou a baixar o olhar, viu que Temperance respirava lenta e regularmente contra ele, com a boca carnuda entreaberta. O cabelo cor de mogno espalhava-se sobre o seu ombro e sobre a cama e vê-lo encheu-lhe a alma com uma profunda satisfação.
Ergueu uma madeixa e viu os fios de cabelo encaracolarem-se de forma adorável à volta dos seus dedos. Esboçou um sorriso ligeiro. Como um homem poderia enganar-se a si mesmo com tal visão.
Baixou o braço. Puxou-a um pouco mais contra o peito e fechou os olhos.
E dormiu.
TEMPERANCE ACORDOU NUM QUARTO ESCURO, percebendo que algo horrível a esperava assim que abrisse as pálpebras.
Por isso, não o fez.
Deixou-se levar, sem pensar, sem acordar, tentando manter a paz do sono. Havia outro corpo a seu lado, grande, quente e confortante. Concentrou-se nisso. Ouvia-o respirar profundamente, como se ainda dormisse, e gostou do som das suas expirações suaves. Significava que não estava sozinha. Desejou poder ficar ali para sempre, no calor cinzento do sono parcial. Mas, inevitavelmente, a consciência e a perceção intrometeram-se e abriu os olhos com um gemido dorido.
O braço de Caire apertou-se à sua volta.
Virou-se para ele, inspirando o seu odor e sentindo-se envergonhada pelas lágrimas que continuavam a ameaçar cair. Silence era a mais nova, o elemento mais inocente da sua família, e a sua queda parecia demasiado terrível para suportar, como se toda a luz do mundo se tivesse extinguido.
Caire suspirou profundamente, com uma mão descendo-lhe pelas costas até ao traseiro, apertando-o.
– Temperance.
Estava quente. Temperance passou-lhe também o braço pelas costas, vagamente surpreendida por perceber que uma fina camada de seda lhe separava os dedos da sua pele nua.
– Caire.
A boca dele encontrou a sua, preguiçosamente. Beijou-a e fê-la sentir-se confortada na escuridão. Deixara de ser Temperance naquele momento. E ele deixara de ser um aristocrata muito acima do seu estatuto. Ali, no limbo entre a noite e o dia, eram simplesmente um homem e uma mulher.
E, como mulher, abriu a boca para a dele.
Ouviu-lhe um ruído satisfeito nas profundezas do seu peito e sentiu que lhe introduzia a língua na boca, demonstrando a sua autoridade. Deixou que o fizesse, puxando-o para dentro de si. Naquele momento, não queria enfrentar o mundo fora das portas daquele quarto. Queria apenas sentir.
Deixar-se sentir como não sentia há anos.
O desejo atingiu-a com rapidez e intensidade. Sempre fora particularmente vulnerável à luxúria física, protegendo-se diariamente contra ela durante todos os dias da sua vida para assegurar que ninguém perceberia como a controlava. Naquele momento, deixou-a livre.
Abriu as mãos sobre as costas dele, sentindo a seda macia sob a palma das mãos. Tinha músculos salientes, ombros largos e a curvatura da coluna vertebral muito definida.
Lazarus suspendeu o beijo com um gemido, puxando-lhe o corpete.
– Despe isto.
Foi complicado na escuridão, mas contorceu-se e, quando o seu corpete se torceu sobre o tronco, Caire limitou-se a enfiar os dedos sob os atilhos, puxando-os dos ilhós. Cada atilho estalou ao ser libertado da sua prisão e sentiu os seios movendo-se em liberdade. Caire arrancou-lhe do corpo o corpete desfeito e despiu-lhe a camisa de dormir pela cabeça acima.
E ficou nua.
– Despe isto – sussurrou ela, puxando-lhe o roupão.
– Não posso. Perdoa-me – murmurou, fazendo-a recordar a sua sensibilidade.
Olhou-o. Os seus olhos fitavam-na com mágoa.
– Sentirias dor?
– Não é dor. – Roçou os lábios pelo canto da sua boca. – Já não dói contigo. É apenas… desconforto. E apenas quando tocas a minha pele nua.
– E quando tocas a minha pele nua?
Esboçou um sorriso lento.
– Asseguro-te que isso não me provocaria qualquer dor.
Aquilo frustrava-a, mas aproximou-se mais dele, esfregando os seios contra o seu peito e sentindo a seda nos mamilos.
Caire rosnou, movendo as mãos para ela e Temperance libertou-se das suas rédeas. Cobriu-o com uma perna e passou a pele nua sobre a perna de Caire, movendo-a para cima e para baixo. Vestia calças e sentiu o pano áspero contra a pele antes de alcançar a perna exposta abaixo do joelho. Sentiu-o ficar hirto. Sabia que lhe provocava desconforto, mas não conseguia parar. Deleitava-se com o contraste entre a sua própria maciez e a força e dureza dele.
Moveu-se de repente, colocando-a por baixo dele.
– Sim – gemeu ela. – Sim.
Mas não fez o que esperara. Ao invés, prendeu-lhe as mãos, pressionando-as sobre a cabeça e esmagando-a com o peso do seu corpo até não conseguir mover-se.
– Por favor. Agora – gemeu. Não queria abandonar aquele estado de embriaguez e regressar à sua vida de culpa e remorso.
– Não há pressa – murmurou ele contra o seu pescoço.
– Sim – replicou ela, furiosa. – Há, sim.
Mas Caire limitou-se a rir, com o seu hálito provocando-lhe cócegas na pele enquanto fazia deslizar a boca sobre a sua clavícula. Que pretenderia? Não teria os mesmos desejos dos outros homens? Essa parte dele, a parte que o tornava um homem, estava claramente interessada. Pressionava-se contra o seu ventre, dura e quente por baixo das calças, deslizando-lhe para a anca enquanto o corpo dele se movia junto ao seu.
Sentiu-se distraída, atordoada e confusa, com a atenção dividida entre a boca inquieta e o membro que se pressionava contra o topo do seu monte de vénus. Tentou erguer as ancas, para se pressionar contra ele, mas ouviu-o rir e sentiu que movia uma coxa, assegurando que permanecia imóvel.
– Que fazes? – perguntou ela, elevando a voz de frustração.
– Minha cara Mistress Dews – começou ele. – Pensei que havíeis sido casada.
– Fui casada – disse, sentindo-se melindrada. A última coisa em que desejava pensar era no seu marido morto.
– Assim sendo, supus que estarias familiarizada com este processo – sussurrou ele imediatamente antes de lhe cobrir o mamilo com a boca quente.
A sua mente esvaziou-se e, a seguir, uma onda crescente de sensações fê-la tremer de forma muito literal. Santo Deus. Há tanto tempo que um homem não a tocava ali. Passara tanto tempo desde que sentira aquela sucção forte. O erotismo era quase avassalador.
Caire ergueu a cabeça para lhe lamber preguiçosamente o seio, com cada movimento lânguido da língua húmida sendo dilacerante à sua maneira.
– Devo admitir que sou um novato – disse.
– Em quê? – Temperance pestanejou, olhando a escuridão. – Que queres dizer com isso?
– Em fazer amor – explicou de forma bastante pragmática, mordiscando-lhe delicadamente o outro mamilo.
Temperance soluçou, sentindo o misto de prazer e dor e a ânsia crescente no centro do seu ser. Não pretendia ali-viá-la.
Em vez disso, falava.
– Ouvi dizer que é uma experiência extraordinária – afirmou, calmamente. – Mas espero que me perdoes se pareço inseguro. Deitei-me com muitas mulheres, mas o ato de fazer amor é algo em que nunca me aventurei. Na verdade, creio que serás tu a mestra neste campo.
Havia uma ligeira interrogação na sua voz, mas, mesmo que estivesse no pleno uso das suas capacidades, não teria comentado. Porque jogava aquele jogo quando tudo o que ela queria era sentir a sua carne entre as pernas?
– Devagar – disse ele com voz contida, censurando-a por um gemido de frustração. Abriu-lhe as pernas e instalou-se no espaço assim desimpedido. – Pronto. Está melhor?
Não era perfeito, mas era inquestionavelmente melhor. A sua dureza pressionava-se contra os seus recantos húmidos, com o pano das calças proporcionando uma deliciosa fricção. Fechou os olhos, maravilhada pelo calor dele e como resultado da pressão, ligeira sem ser suficientemente dura.
– Pronto – repetiu ele, com um tom de voz apaziguador. – E se acrescentar isto?
E voltou a cobrir-lhe o mamilo com a boca, com os dentes roçando-o ligeiramente enquanto sugava.
Quis tocá-lo, perder os dedos nos pelos do seu peito, segurar-lhe os ombros e introduzir as mãos dentro das suas calças para lhe massajar as nádegas. Mas as mãos dele continuavam a prender as suas e viu-se obrigada a esperar.
A submeter-se.
– Abre mais as pernas – sussurrou ele, com voz grave e cristalina na escuridão.
Obedeceu.
– Ergue-as um pouco.
Obedeceu. Ouviu-lhe um gemido que parecia ser de prazer. O movimento dela fê-lo aproximar-se mais, com o membro aninhando-se entre os folhos do seu sexo.
Temperance engoliu em seco, esperando o seu movimento seguinte.
– Creio que… sim, isto. – Moveu-se, colocando a mão entre os corpos de ambos, abrindo a braguilha e libertando-se. Quando permitiu que o peso do corpo se instalasse sobre ela, o seu pénis nu roçou-lhe de forma muito explícita o clítoris e, enquanto isso a distraía, uniu a boca à sua.
Beijou-a com a boca aberta e foi quase demasiado íntimo na escuridão. Deitava-se sobre ela, com o peito pressionando os seus seios nus e vulneráveis e o membro quente aninhado nas profundezas suaves do seu corpo. A seguir, beijou-a de forma demorada e com deleite.
Prendeu-lhe o lábio inferior entre os dentes, mordiscando delicadamente. A seguir, sussurrou-lhe contra os lábios.
– Abre.
Aceitou a sua língua na boca, sugando por longos momentos sem poder resistir. O beijo foi de tal forma erótico que quase não notava quando começou a pressionar-se contra ela. Mas notou. Parou, concentrando-se inteiramente na parte do corpo dele que, naquele momento, travava conhecimento íntimo com uma parte específica do seu corpo. Até sentir que Caire lhe mordiscava um canto da boca.
– Presta atenção. – A sua voz parecia forçada.
Algo selvagem e feminino reagiu à dureza da sua voz ao perceber a forma como o afetava, apesar da sua sofisticação. Abriu a boca sob a dele, mordendo-o também e fazendo-o suster a respiração. A seguir, a boca dele esmagou a sua, com dureza, de forma quase descontrolada, como um macho dominando a fêmea. A sua fêmea.
Moveu-se novamente, com o pénis recuando, encontrando a entrada do seu corpo e encaixando-se nela. Ergueu a cabeça apenas o suficiente para sussurrar:
– Agora.
Penetrou-a com vigor.
A dureza dele desbravou-lhe as profundezas, abrindo-lhe a carne e invadindo uma parte de si que passara anos vazia. O movimento fê-la gemer e a sensação era simultaneamente física e psicológica, mas a boca dele voltou a cobrir a sua e Caire sugou-lhe o lábio. Lazarus pressionou uma e outra vez, até ficar perfeitamente encaixado, com as coxas dela bem afastadas e as ancas dele encaixadas contra as suas.
Teve um momento de pânico. Quem era aquele homem? Porque estava por baixo dele, deixando que a pior parte de si ditasse as suas ações? A seguir, Caire começou a mover-se e Temperance deixou de conseguir pensar. Movia-se como uma onda contra a praia, como o vento soprando sobre o empedrado de uma rua, como um homem sobre uma mulher. Era o movimento mais ancestral e comum na história e, ao mesmo tempo, era novo e puro. Porque era ele e ela e nunca tinham feito aquilo juntos.
Arqueou as costas por baixo dele, sentindo as suas carnes fundirem-se enquanto Caire continuava a beijá-la profundamente.
Passou a boca sobre a face, sem nunca parar o movimento suave e lento. Sussurrou-lhe ao ouvido:
– Rodeia-me as ancas com as pernas.
Fê-lo e, a seguir, ficaram unidos. Ergueu-se um pouco sobre ela e fê-la gemer. Com cada estocada descendente, com cada recuo lento e arrastado, a sua carne acariciava o ponto mais sensível do seu sexo. Virou a cabeça, sentindo-se subitamente demasiado exposta, demasiado vulnerável, mesmo na escuridão, mas Caire não lhe deu tréguas, pressionando delicadamente a boca contra os cantos dos seus lábios. Aquela invasão lenta, controlada e repetida, aquele ataque contra os seus sentidos, era insuportável. Quis gritar, fazê-lo parar. Insistir que acelerasse. E, como se tivesse percebido em que pensava, aumentou o ritmo, devastando-a com cadência viril.
Enlouquecendo-a.
Temperance afastou a boca da dele, ofegante, contorcendo os pulsos entre as mãos de Caire.
– Para.
– Não – sussurrou ele, como um fantasma invisível. – Deixa-te ir.
– Não consigo.
– Consegues. – Apoiou-se um pouco mais e iniciou um movimento ondulante das ancas enquanto a penetrava e, de alguma forma, a pressão, o prazer, o calor e a expetativa foram libertados em simultâneo.
Descontrolou-se, soluçando, gloriosamente livre, sem mente nem alma, sentindo apenas um ponto único e palpitante de beleza deslumbrante. Ouviu-o suster a respiração de forma vaga, sentindo o seu ritmo vacilar. De repente, perdeu o controlo. Penetrou-a selvaticamente enquanto flutuava e enquanto o movimento a fazia elevar-se mais ainda.
Expirou bruscamente.
Desferiu mais uma ou duas estocadas e, a seguir, parou, baixando a cabeça e beijando-a delicadamente. Sentiu uma ânsia desvairada para dizer algo inteiramente inadequado. Para lhe explicar o que aquilo significara para ela.
Caire soltou-lhe os pulsos, mas Temperance estava demasiado exausta para conseguir baixar os braços.
– Verdadeiramente extraordinária – murmurou ele, voz serena e grave, apenas ligeiramente ofegante.
Percebeu que deveria analisar aquilo, que deveria dar uma resposta de algum tipo.
Mas, ao invés, deixou-se adormecer.
NUNCA ANTES ACORDARA ao lado de uma mulher.
Foi o primeiro pensamento de Lazarus na manhã se-guinte. As suas amantes habituais assemelhavam-se mais, por definição, a parceiras de negócio. Vendiam um produto e comprava-lho. Era simples, limpo e impessoal. Era tão impessoal que, muitas vezes, nem sequer sabia os seus verdadeiros nomes, mesmo os nomes daquelas, como Marie, de quem se servira durante anos. Marie, em cujo nome procurara um assassino em St. Giles.
No entanto, nunca dormira ao lado de Marie. Nunca sentira o seu doce calor a seu lado. Nunca ouvira a sua respiração suave enquanto dormia.
Abriu os olhos e virou a cabeça para olhar Temperance. Continuava com os braços erguidos sobre a cabeça. Os seus lábios eram de um vermelho profundo, as faces estavam rosadas e o sol nascente conferia um brilho dourado à sua pele. Era quase demasiado bela, deitada a seu lado, para ser real. Só o emaranhado do seu cabelo escuro a salvava da perfeição. Graças a Deus. Comprara e servira-se da perfeição em ocasiões anteriores e deixara de lhe interessar. O seu sangue fervilhava com a ânsia por uma mulher real.
Uma madeixa rebelde cobria-lhe a face, chegando ao pescoço e colando-se com transpiração ligeira ao topo de um seio exposto. Redondo e cheio, com mamilo de um rosa suave. Tocou o mamilo, sentindo-se intrigado pela textura de veludo da sua pele, pelo endurecimento imediato da extremidade.
Temperance gemeu e o olhar de Lazarus fixou-se no dela. Olhou-o, curiosa, como se estivesse surpreendida por estar na sua cama.
E talvez estivesse mesmo.
– Bom dia – começou ele. Talvez fosse banal, mas que outra coisa poderia dizer?
Viu-a afastar as cobertas e sair da cama como uma corça sobressaltada.
– Onde está a minha camisa de dormir?
Lazarus uniu as mãos atrás da cabeça.
– Não faço ideia.
Voltou-se para o olhar com irritação. Por estar nua, foi completamente encantador.
– Despiste-ma. Deves saber.
– Tinha… hmm… outras preocupações quando o fiz. – Pena. Não precisou de olhar para o colo para perceber que o seu membro ficaria muito feliz por repetir as atividades da noite anterior.
Olhou-a. Estava de joelhos, com o traseiro no ar enquanto procurava, presumivelmente, a camisa de dormir perdida debaixo de uma cadeira. A vista era notável, mas sentiu que não estaria na disposição certa.
E, com efeito, quando se endireitou de repente e surpreendeu o seu olhar, pareceu irritar-se.
– Preciso de ir para casa. Disse a Winter que vinha ver-te, mas nunca esperei passar a noite! Estará preocupado.
– Naturalmente – disse Lazarus, esperando tê-lo feito com uma voz apaziguadora. – Mas acaba de amanhecer. De certeza que não poderás ficar um pouco mais para quebrar o jejum?
– Não. Preciso de voltar – murmurou. – Não posso permitir que os meus irmãos pensem que somos amantes.
Lazarus abriu a boca, mas algum instinto de sobrevivência impediu-o de referir que eram realmente amantes.
Em vez disso, afirmou, pacientemente:
– Chamarei uma criada para te ajudar a…
– Não! – Ergueu o que restava do seu corpete.
Lazarus encolheu-se.
– Ah. Permite-me que envie uma das minhas criadas para te comprar um novo.
– Isso levará horas! – O olhar irritado voltou.
Lazarus suspirou. Nunca lhe agradara particularmente levantar-se cedo, mas era bastante evidente que não poderia passar aquela manhã na cama.
Afastou as cobertas e ergueu-se, permitindo-se um momento de satisfação quando a viu reparar no volume acrescido dentro das suas calças, corando violentamente. Caminhou até ao cordão da campainha para chamar Small. Depois de uma conversa em surdina à porta do quarto (Temperance voltara a enfiar-se na cama), o criado saiu com uma das criadas para comprar um corpete e, meia hora depois, Mrs. Dews voltava a estar adequadamente vestida.
Lazarus preguiçou numa cadeira, vendo-a prender com firmeza a capa por baixo do queixo. Cada cabelo estava no sítio certo e uma touca branca cobria-lhe modestamente a cabeça. Nada na sua aparência destoava do que se esperaria da proprietária responsável de um lar de órfãos.
Odiava essa aparência.
– Espera – disse, quando a viu colocar uma mão na maçaneta da porta.
Voltou-se impacientemente, mas pareceu receosa quando o viu aproximar-se.
– Precisarei de fazer algumas averiguações esta noite – disse. – Quando voltei para casa na noite passada, fui informado acerca de um homem que deverei interrogar.
Mordeu o lábio.
– Claro.
Lazarus acenou afirmativamente.
– Espera-me às oito.
– Mas…
Curvou-se e beijou-a com intensidade, forçando a boca dela a abrir-se com a sua e introduzindo a língua sem resistência.
Quando ergueu a cabeça, Temperance olhava-o, alarmada. Viu que lhe sorria.
– Bom dia, Mistress Dews.
E viu-a virar-se e sair do seu quarto. Mantinha as costas direitas e nunca olhou para trás. Talvez tivesse já decidido esquecer a noite que passaram juntos.
Se assim fosse, sentiu pena. Porque tinha todas as intenções de voltar a deitar-se com ela.