O Rei Coração Fechado voltou-se para Meg,
erguendo uma sobrancelha em desafio.
Mas Meg limitou-se a dizer:
«Isto não é amor.»
«Então o que é, bela Meg?»
Os lábios de Meg esconderam um sorriso.
«Luxúria, Majestade.
As vossas concubinas sentem luxúria por vós.»
O rei praguejou, elevando a voz,
fazendo o pássaro azul esvoaçar do seu poleiro.
«Vai-te, Meg. E, quando voltar a chamar-te,
escolhe um vestido mais adequado a uma sala do trono.»
Meg fez uma vénia.
«Lamento, Majestade,
mas a única roupa que tenho é esta que trago vestida.»
«Assegura-te de que te vestirás adequadamente»,
ordenou o Rei Coração Fechado e, mais uma vez,
Meg foi levada para as masmorras…
excerto de REI CORAÇÃO FECHADO
Temperance resistiu a Lazarus enquanto lhe enfiava a língua na boca. A sua raiva era desesperada, incompreensível, e quis gritar e chorar ao mesmo tempo. Porque era incapaz de sentir? Porque era incapaz de amar? Porque não conseguia dar-lhe aquilo de que precisava?
Mas a boca dele esmagava a sua com força e os seus lábios eram estonteantes. Deu consigo a apertá-lo nas mãos em vez de tentar libertar-se. Se não a libertava, obteria dele o que precisava, tal como ele lhe fazia.
Atirou-lhe o chapéu ao piso da carruagem, passando-lhe os dedos pelo cabelo prateado, desatando a fita que o prendia. Adorava o seu cabelo e deleitava-se com o seu toque sedoso. Fechou as mãos no seu cabelo e puxou-lhe a cabeça para trás. Lazarus gemeu quando o beijo que partilhavam foi interrompido e voltou a gemer quando Temperance lhe deslizou a boca aberta pelo pescoço abaixo. Não lhe importava que o magoasse. O ar noturno deixara-lhe a pele fria, salgada e doce em simultâneo. Lambeu-o, saboreando-o, querendo mordê-lo. Querendo devorar aquele homem que não podia abandonar nem possuir por completo.
Abriu a boca sobre o tendão num dos lados do seu pescoço e mordeu com força.
Lazarus praguejou, com o som ecoando no interior da carruagem. Prendeu-lhe a cabeça entre as mãos, como se pretendesse afastá-la à força, mas abdicou do ataque. Ao invés, as suas mãos subiram-lhe de repente pelas saias, abrindo caminho enquanto continuava a praguejar.
Temperance segurou-lhe os ombros para se equilibrar enquanto ele avançava por ela acima, colocando uma perna de cada lado do seu corpo. Sentia as saias erguidas pela cintura, mas tinha os olhos fechados, saboreando a sua carne na boca. Lazarus tentou alcançar alguma coisa entre os corpos de ambos, com as mãos embatendo-lhe nas coxas nuas e um canto da mente dela questionou-se se acreditaria realmente conseguir fazer alguma coisa num espaço tão apertado.
A seguir, sentiu a sua ereção nua.
Abriu os olhos e afastou-se, fitando-o, chocado.
Lazarus olhou-a, fixando os olhos nos dela em silêncio enquanto se posicionava sobre o seu corpo. Sentiu-o roçar-lhe os lábios do seu sexo, sentiu que localizava a sua entrada. Sentiu que alojava aí a cabeça do seu membro.
Sentiu enquanto hesitava.
Olhou-o, equilibrando-se sobre o seu pénis, mantendo apenas a ponta dentro dela. Sentia-se vazia e desejosa.
– Fá-lo tu – disse com voz rouca.
Temperance pestanejou, como se despertasse de um torpor, olhando em redor. Estavam numa carruagem em movimento, por Deus.
– Não. – Lazarus colocou-lhe a palma de uma mão contra a face, voltando-lhe a cara para que o olhasse novamente. – É demasiado tarde para hesitações. Fica comigo. Faz-me entrar dentro de ti.
– Mas…
Deslizou a mão pelo seu corpo até os dedos cobrirem a mais feminina das suas carnes.
Temperance arregalou os olhos.
Retribuiu-lhe o olhar enquanto contornava deliberadamente a parte dela que o envolvia e depois subiu e apertou-lhe o clítoris entre o polegar e o indicador.
Gemeu.
– Temperance – sussurrou Lazarus, transformado num demónio sexual sombrio. – Temperance, faz amor comigo.
Arqueou as costas, sentindo-lhe o membro, grande e insistente, e aqueles dedos seguros e incansáveis. Aquilo estava errado. Tão errado e parecia-lhe tão, tão bom.
– Temperance – sussurrou, passando-lhe o polegar esquerdo sobre a boca enquanto usava o direito para lhe massajar o clítoris.
Temperance abriu a boca, sugando-lhe o polegar.
– Temperance.
As ancas de Lazarus ergueram-se, uma, duas vezes. A sua cabeça recuou enquanto Temperance lhe encharcava o pénis com o seu orgasmo. Abriu os olhos enquanto se vinha, fitando-o com pálpebras semicerradas. Tinha a face contorcida e a boca formava uma linha tensa e torturada.
– Não me mantenhas em suspense – disse-lhe ele.
Mas Temperance sentia-se selvagem. Era um ser sem outro pensamento além da satisfação dos desejos do seu corpo. Olhou-o, com um meio-sorriso, enquanto movia as ancas, provocando-o a ele e provocando-se também a si mesma.
Lazarus gemeu.
– Temperance.
A carruagem estremeceu ao passar sobre um buraco na estrada e Temperance permitiu que o movimento a fizesse mover-se sobre ele, permitindo-lhe penetrá-la um ou dois centímetros.
Mas, logo a seguir, ergueu-se imediatamente até ser apenas a cabeça a provocar-lhe os lábios.
Lazarus praguejou. O seu lábio superior estava coberto de suor.
E Temperance soltou uma gargalhada baixa. Era um som que não se assemelhava a qualquer outro que tivesse produzido em toda a sua vida. Estava possuída, ali naquela carruagem pouco iluminada, viajando entre mundos, numa viagem sem destino claro. Arqueou as costas, puxando-o novamente para dentro dela, apenas um pouco, antes de o fazer sair por completo do seu corpo.
– Maldição, Temperance. – A sua voz, normalmente tão fria, parecia dilacerada.
Temperance sorriu e inclinou-se para diante, esfregando-se contra ele e usando a sua carne quente e dura para se excitar. Curvou-se, inclinando as ancas e prendendo-lhe o lábio inferior entre os dentes.
Lazarus terá praguejado nesse momento (as palavras foram incompreensíveis), mas a sua intenção era clara. Segurou-lhe as ancas com mão firme e ergueu-a, posicionando o pénis com a outra mão e fazendo-a descer com força.
Oh, êxtase! Preencheu-a, forçando a sua carne ao limite naquela posição. A sensação era notável. Arqueou as costas, segurando-lhe os ombros e roçando-se contra ele, mas Lazarus queria uma coisa diferente.
Aplicou-lhe uma palmada no traseiro sobre as saias.
– Monta-me.
Temperance reagiu com um amuo encantador.
– Não. – Agradava-lhe aquilo. Aquele roçar subtil, aquela maravilhosa fricção.
– Monta-me, maldição. – Pressionou o polegar contra ela e, por um momento, Temperance viu estrelas.
A seguir, afastou o dedo.
– Nãoooo – gemeu Temperance.
– Então monta-me. Por favor.
Temperance olhou-o, àquele aristocrata, àquele lorde, implorando-lhe que lhe desse prazer e decidiu ter piedade. Ergueu-se sobre os joelhos, fazendo-o deslizar dentro dela, e voltou a baixar-se.
Lazarus olhou-a, massajando-a com o polegar oculto por baixo das saias enquanto Temperance o montava, deixando-se cair violentamente sobre ele, ondulando, arfando, montando-o enquanto a carruagem avançava aos solavancos pelas ruas escuras. Cada estremeção, cada curva contornada, contribuíam para lhe acelerar o ritmo até se mover rapidamente sobre ele, abrindo a boca para conseguir encher os pulmões de ar. Galopando em direção à meta.
A face de Lazarus estava coberta por uma película brilhante de suor, tinha a boca contorcida até ao limite. Os músculos no seu pescoço retesavam-se e viu-o engolir em seco enquanto se pressionava contra ela.
Quis dizer-lhe, quis gritar-lhe, o quanto era importante para ela. Mas, a seguir, perdeu o ímpeto, vacilou e caiu sobre ele, com o corpo dominado por convulsões incontroláveis. Apercebeu-se vagamente de que passara a segurar-lhe as ancas com as duas mãos, agitando-se por baixo dela, cravando o membro uma e outra vez na sua carne aberta. Temperance soluçou contra o seu ombro, esperando, com os músculos liquefeitos e uma fornalha no seu centro. Lazarus penetrou-a sem misericórdia e Temperance virou a cabeça para o olhar, vendo-o inclinar a cabeça para o alto, com a boca aberta e os dentes expostos num grito silencioso.
O seu sémen inundou-a.
Lazarus arqueava as costas, erguendo as ancas, com os joelhos quase pairando sobre o banco enquanto se mantinha dentro dela, jorrando a sua essência.
A seguir, descontraiu de repente.
Os joelhos de Temperance voltaram a cair sobre o estofo. Os braços de Lazarus ergueram-se lentamente, como se estivesse esgotado, cruzando-se atrás das costas dela, mantendo-a junto a si. Continuaram unidos, com o membro dele tornando-se flácido dentro dela enquanto Temperance lhe pousava a cabeça no ombro, ouvindo os sons da noite londrina passando lá fora.
SENTIA-A COMO UM PESO quente no colo, imobilizando-lhe o pénis dentro do seu corpo macio.
Lazarus fechou os olhos, inspirando o perfume da sua união. Era um cheiro primordial, um aroma humilde, um dos que ficariam para sempre associados a ela. Passou-lhe uma mão aberta pelas costas, sentindo a lã áspera da capa que mantinha vestida. Tinham feito amor numa carruagem. Um canto da sua boca ergueu-se, motivado pelo absurdo. Não era um lorde jovem dado a atos de ousadia gratuita, mas Temperance parecia excitá-lo em qualquer local.
Viu-a erguer a cabeça e tentar afastar-se dele, mas manteve-a onde estava por mais um momento.
– Silêncio.
– Chegaremos em breve ao lar – sussurrou ela.
Tinha razão, porém sentia-se relutante em deixá-la ir. Em separar-se dela. Mas a sua carne era fraca. Temperance moveu-se novamente e Lazarus sentiu-se a deslizar para fora das suas profundezas. Suspirou e abriu os braços.
Saiu-lhe do colo, quase caindo quando a carruagem contornou outra curva.
– Cuidado. – Amparou-a com uma mão, mas Temperance não perdeu tempo a regressar ao seu lugar no lado oposto da carruagem.
Não o olhou.
Ah. Mrs. Dews, a matrona reservada, estava de volta. Lazarus pousou a cabeça no banco, sentindo-se fatigado.
– Precisas de te compor – disse ela, indicando-lhe o colo sem olhar. Como se o que veria pudesse ofendê-la.
Lazarus olhou para baixo. Não estava, sem dúvida, num dos seus momentos de maior orgulho, flácido e húmido contra o pano das calças.
– Por favor – murmurou ela.
– Tens um lenço? – perguntou-lhe ele, educadamente.
Enfiou os dedos na manga e retirou um lenço, estendendo-lho.
Aceitou-o, envolvendo lentamente o tecido à volta do seu membro, limpando-se. Devolveu-lhe o lenço.
– Obrigado.
Temperance abriu a boca, tão horrorizada como se o visse mijar em Westminster.
Ter-se-ia rido, mas a situação era mais trágica que divertida. Porque teria de ser tão provinciana na forma como encarava o amor? Semicerrou os olhos. Talvez o seu marido fosse um pudico ou um incapaz de outro tipo. Ocorreu-lhe que mal o referira, apesar de professar amá-lo. Abriu a boca para a questionar acerca do falecido, mas a carruagem travou. Olhou pela janela e viu que tinham chegado ao fim de Maiden Lane.
E Temperance já se erguia para o deixar.
Ergueu-se também.
– Não é necessário – disse ela, apressadamente. – Consigo sair sozinha.
Lazarus esticou os lábios num sorriso fino.
– Não duvido que consigas, mas pretendo acompanhar-te até à porta.
– Oh, mas… – O protesto dela esmoreceu quando lhe viu a cara. – Oh.
Depois disso, desceu em silêncio.
Lazarus pegou-lhe no braço logo que pisou a rua, sem conseguir perceber se Temperance lhe fugiria. Caminharam até à porta em silêncio e, quando lá chegaram, Lazarus sentia-se furioso, apesar de não conseguir perceber porquê. Temperance virou-se junto ao lar, pretendendo, aparentemente, entrar sem sequer se despedir dele.
Algo explodiu no seu interior. Murmurou uma praga antes de a puxar, cobrindo-lhe a boca com a sua. Era aquilo que queria. Era aquilo que amansava a besta dentro dele. Os lábios macios dela, o som baixo do seu gemido enquanto os lambia. Havia uma ânsia desesperada e animalesca dentro dele, algo que não conseguia identificar por completo. Uma ânsia que não conseguia compreender racionalmente. Aquela ânsia dilacerava-o por dentro. Desejava-a, desejava algo nela, não percebendo ainda o quê. Era um pensamento confuso e, quando ergueu a cabeça, viu que a face dela revelava também a confusão que sentia. Talvez também ela fosse dominada por algo terrível que não conseguisse definir. Viu-a abrir a boca como se quisesse dizer alguma coisa.
Mas, no final, afastou-se sem dizer nada.
– Temperance – suplicou Lazarus. Mas não sabia o que suplicava.
Parou, mantendo as costas viradas.
– Eu… não posso. Boa noite.
E bateu na porta do lar.
Sangue de Cristo! Lazarus virou-se, pisando com violência o empedrado irregular. Não podiam continuar assim. Um deles quebraria e não sabia ao certo o que seria pior: que fosse ele a quebrar ou ela.
A viagem de regresso na carruagem foi longa e cansativa. Quando chegou a casa, os relógios tinham já batido a meia-noite. Entregou o chapéu, a capa e a bengala ao mordomo e começara a subir as escadas quando o ouviu pigarrear.
– Milorde, tendes uma visita.
Lazarus virou-se e olhou o mordomo.
O mordomo curvou-se.
– Lady Caire encontra-se na biblioteca.
Lazarus dirigiu-se à biblioteca, com uma qualquer trepidação sem nome acelerando-lhe o batimento cardíaco. Abriu a porta e viu-a imediatamente. Sentava-se num cadeirão, com as saias azul-claras reluzentes espraiando-se à sua volta e a cabeça caída sobre o ombro. Adormecera à sua espera.
Aproximou-se do cadeirão em bicos de pés, estranhamente hesitante em acordá-la. Quando fora a última vez que a olhara sem ser visto? Talvez tivessem passado anos ou mesmo décadas. Era bela. Sempre o fora e sempre o seria. Os ossos na sua face eram delicados e aristocráticos, mas notou naquele momento um ligeiro suavizar da linha do maxilar, uma minúscula queda das pálpebras. Curvou-se mais para olhar outras alterações e inspirou o perfume de citrinos, o seu perfume. Sempre o usara e despertava nele recordações da infância. Da visita da sua mãe para o chá, com sete ou oito anos. Do beijo que lhe aplicou na face antes de partir.
Moveu-se e Lazarus recuou prontamente.
– Lazarus. – A sua mãe abriu aqueles olhos azuis intensos. – Perguntaria onde estiveste se não receasse a resposta.
– Minha senhora. – Apoiou um cotovelo na pedra sobre a lareira. – A que devo esta visita?
Sorriu-lhe, provocando-o com malícia, mas pareceu-lhe que via os seus lábios tremerem.
– Uma mãe não pode visitar o seu filho?
– Estou cansado. Se viestes apenas para vos divertirdes, perdoar-me-eis se decidir procurar a minha cama. – Voltou-se para a porta, mas a voz dela deteve-o.
– Lazarus, por favor.
Olhou-a. O sorriso tinha desaparecido e os lábios dela tremiam realmente.
Inspirou fundo, como se invocasse as suas forças.
– Tens vinho?
Olhou-a por um momento mais e suspirou. Talvez fosse pela hora adiantada ou pelo cansaço que sentia, mas também lhe apetecia uma bebida, mesmo que não fosse vinho. Dirigiu-se à garrafeira e serviu dois brandes.
– Se bem me lembro, preferíeis isto. – Passou-lhe um copo.
– Lembras-te? – Recebeu o copo nas duas mãos, parecendo sobressaltada. – Como sabias?
Encolheu os ombros, sentando-se à sua frente.
– Penso que vos vi beber uma noite, no escritório do pai.
Arqueou as sobrancelhas, mas não comentou. Por um momento, ambos beberam o brande em silêncio.
Finalmente, ouviu-a pigarrear.
– Levaste aquela mulher ao baile de Lady Stanwicke.
Olhou-a sobre o bordo do copo. O seu tom de voz fora muito neutro.
– Chama-se Temperance Dews. Gere um lar de órfãos em Saint Giles.
– Um lar de órfãos? – Ergueu rapidamente o olhar. – Para crianças?
– Sim.
– Compreendo. – Olhava o seu copo, pressionando os lábios.
– Porque viestes, mãe? – perguntou, baixando a voz.
Esperou a habitual explosão dramática. Talvez algum sarcasmo cortante. Ao invés, permaneceu em silêncio durante algum tempo.
Depois, disse:
– Amei-a, sabes?
E percebeu que falava de Annelise, morta um quarto de século antes.
– Tive três abortos – disse a sua mãe. – Um antes de nasceres e dois antes do nascimento de Annelise.
Olhou-a intensamente.
– Não sabia.
A sua mãe acenou com a cabeça.
– Claro que não. Eras uma criança e não éramos uma família particularmente unida.
Lazarus não se deu ao trabalho de responder àquilo.
Continuou:
– Quando Annelise nasceu, era-me muito querida. O teu pai, claro, não via qualquer utilidade numa filha, mas foi inevitável. – Olhou-o brevemente e voltou a olhar o copo em seguida. – Levou-te para longe de mim quando eras apenas um bebé. Tornou-te seu, à sua maneira. O seu herdeiro. Por isso, tornei Annelise minha. A sua ama vivia na casa e visitava-a todos os dias. Várias vezes por dia, se pudesse.
Bebeu um longo gole de brande, fechando os olhos.
Lazarus não disse nada. Não se lembrava daquilo, mas fora uma criança, interessada apenas em questões com impacto no seu pequeno mundo.
– Quando adoeceu… – Parou e pigarreou. – Quando Annelise adoeceu pela última vez, implorei ao teu pai que chamasse um médico. Quando recusou, devia ter sido eu a chamá-lo. Sei isso. Mas mostrou-se determinado… e era o teu pai. Lembras-te de como era.
Sim, recordava bem como era o seu pai. Duro. Mau. Completamente seguro da sua invencibilidade e correção. E frio, tão frio.
– De qualquer forma – afirmou ela, com voz delicada. – Achei que deverias saber.
Olhou-o, como se esperasse alguma coisa, e Lazarus retribuiu o olhar, silencioso, porque não sabia ao certo se estava pronto. Se algum dia estaria pronto para lhe dar o que queria.
– Bom. – A sua mãe esvaziou o copo e pousou-o numa mesa antes de se erguer. Esboçou-lhe um sorriso brilhante. – É muito tarde e devo voltar para casa. Amanhã, tenho a prova de um novo vestido e fui convidada para tomar chá. Terei de dormir um pouco para estar no meu melhor.
– Naturalmente – disse ele.
– Boa noite, Lazarus. – Virou-se para a porta, mas hesitou antes de o olhar sobre o ombro. – Por favor, recorda que o amor pode ser sentido mesmo quando não é expresso.
Saiu antes que Lazarus tivesse tempo de responder.
Voltou a sentar-se e olhou o copo enquanto agitava o que restava do brande no interior, recordando os olhos castanhos de uma rapariguinha e o cheiro a laranjas.
NÃO PODIA CONTINUAR ASSIM.
Silence fingia dormir enquanto via o marido levantar-se. Tinham dormido na mesma cama, mas fora como se tivessem dormido em camas separadas. William deitara-se no extremo oposto da cama, imóvel como um cadáver e tão próximo do vazio que receou que caísse durante a noite. Quando se aproximou cuidadosamente para se encostar a ele na escuridão, o corpo dele enrijeceu por inteiro e, receando que caísse realmente, voltara para o seu lado, magoada.
Mas precisou de muitas horas para adormecer finalmente.
Via-o agora barbear-se e vestir-se sem um único olhar. Algo encolheu e morreu dentro dela. A carga do seu navio reaparecera de forma tão repentina como tinha desaparecido. O proprietário do navio ficou eufórico. William deixara de correr o risco de ser enviado para a prisão por roubo e recebera finalmente o seu pagamento.
Deviam estar felizes.
Ao invés, o desespero pairava sobre o seu lar modesto como uma névoa tóxica.
William calçou os sapatos e saiu do quarto, fechando a porta com cuidado atrás dele. Silence esperou um momento e ergueu-se também movendo-se apressadamente em bicos de pés pelo quarto para se vestir. No dia anterior, William partira sem se despedir. E, com efeito, quando saiu do quarto, tinha já o chapéu posto.
– Oh! – exclamou.
Aproximou-se da porta.
– Eu… esperei poder fazer-te o pequeno-almoço – disse, rapidamente.
Abanou a cabeça sem a olhar.
– Não é necessário. De qualquer forma, tenho assuntos para resolver esta manhã.
Passara mais de seis meses no mar. Era provável que tivesse realmente assuntos para resolver, mas, às sete da manhã?
– Não me tocou – disse Silence, baixando a voz. – Juro pela campa da minha mãe que nunca me tocou. Juro… Juro por…
Olhou freneticamente em redor e correu para pegar na Bíblia que o pai lhe oferecera quando era pequena.
– Juro, William. Juro pela…
– Não. – Com dois passos, colocou-se finalmente a seu lado. – Não o faças.
Olhou-o, impotente. Tinha-lo dito uma e outra vez, mas, de cada vez, limitava-se a afastar o olhar.
– É a verdade – disse, com voz trémula. – Levou-me para o seu quarto e disse-me que, se passasse a noite na sua cama, devolveria a carga roubada de manhã. Prometeu não me tocar e não o fez. Não o fez, William! Dormiu numa cadeira junto à lareira durante a noite inteira.
Calou-se, implorando-lhe em silêncio que aceitasse o que lhe dizia, que se voltasse e a beijasse ou a acariciasse na face, dizendo-lhe que fora tudo um mal-entendido tonto. Que voltasse a ser o seu William.
Ao invés, afastou o olhar
– Porque não acreditas em mim? – gritou.
Abanou a cabeça. O seu silêncio era mais perturbador do que a raiva.
– Mickey O’Connor é um patife notório, sem pinga de decência ou piedade. Silence, não te culpo. Mas gostava que me tivesses permitido lidar com isto. Olhou-a, finalmente, e horrorizou-a perceber que tinha os olhos marejados de lágrimas. – O meu maior desejo é que nunca o tivesses pro-curado.
Dirigiu-se à porta e abriu-a de rompante.
– Perguntou-me se me amavas – gritou-lhe.
William hesitou, mantendo-se imóvel e silencioso.
– Disse-lhe que sim – sussurrou ela.
Saiu sem dizer nada e fechou a porta atrás dele.
Silence olhou as suas mãos e olhou a divisão diminuta à sua volta. Outrora, achara-a acolhedora. Naquele momento, parecia-lhe apenas deprimente. Deixou-se cair sobre uma cadeira de costas direitas. Quando disse a Mickey Encantador que o seu marido a amava realmente, este limitou-se a sorrir, respondendo: «Se te ama, acreditará em ti.»
Que tola fora.
Que tola.
NUNCA SE PERMITIRA REALMENTE examinar os motivos que o levavam a procurar o assassino de Marie, refletiu Lazarus enquanto caminhava pelas ruas de escuridão crescente na noite seguinte. St. John dissera-lhe que estava obcecado e Temperance acusara-o de acreditar que estivera apaixonada por Marie sem fazer ideia do que era o amor. Mas algum dos dois estaria certo? Talvez fosse apenas uma busca quixotesca sem motivo percetível. Talvez a sua vida fosse tão vazia que a morte violenta de uma amante se tivesse tornado excitante.
Que pensamento deprimente.
Deitava-se com outros homens enquanto vivia às suas custas. Saber isso deveria tê-lo chocado, deveria tê-lo enfurecido, mas a única emoção que sentia era curiosidade. Precisara de mais dinheiro além da sua generosa avença? Ou teria precisado do sexo?
Contornou um homem quase esquelético, desmaiado ou talvez morto na rua. Aproximava-se de St. Giles. A rua tornava-se mais estreita, mais imunda e miserável. O escoadouro no centro estava repleto de detritos nauseabundos, exalando um miasma que se colava à pele.
Encontrara já um dos homens referidos por Faulk, um sujeito magro, que fazia lembrar um fuinha e que nunca o olhara nos olhos durante a conversa. Não conseguia impedir-se de pensar que o homem precisava de atar as suas mulheres para ter a coragem de se excitar. O pensamento era repugnante. Era isso que era? Um cobarde incapaz de olhar uma mulher nos olhos enquanto se deitava com ela?
Mas conseguia olhar Temperance nos olhos. Não precisava de cordas e capuz com ela. Proporcionava-lhe um tipo de liberdade. Uma forma aprazível de normalidade.
Talvez fosse por esse motivo que os seus pés o conduziam em direção a ela naquele momento.
A noite caíra por completo, negra e ameaçadora, quando entrou em St. Giles. Empunhou a bengala com maior firmeza, sabendo que tinha sido atacado três vezes naquela área. Desejara a caçada, desejara seguir o rasto de sangue, mas talvez fosse mais sensato examinar atentamente o local e o momento dos ataques.
O motivo dos ataques.
Mais à frente, um bando de homens contornou uma esquina. Lazarus escondeu-se numa viela perpendicular e observou atentamente a sua aproximação. Discutiam por um relógio de ouro e uma peruca encaracolada, objetos que tinham sido obviamente roubados a pelo menos um cavalheiro infeliz naquela noite.
Lazarus esperou um momento depois de as suas vozes terem sido levadas pela noite, seguindo caminho quando se afastaram.
Dez minutos depois, erguia-se no exterior da cozinha de Temperance. A hora era tardia. Hesitou por um momento, forçando a audição para ouvir sons no interior. Não ouvindo nada, torceu o castão da bengala, desembainhando a espada curta. Inseriu a lâmina na fissura entre porta e ombreira. Após um momento de manobras cuidadosa, ergueu a tranca.
Abrindo a porta, entrou e voltou a trancá-la. A lareira tinha sido apagada. Talvez Temperance se tivesse deitado. Podia subir as escadas às escondidas, mas não sabia qual era o seu quarto. O risco de alarmar os outros residentes era elevado. Além disso, uma chaleira repousava sobre a mesa, com uma lata pequena e miserável de chá a seu lado. Talvez pretendesse voltar para o seu chá da meia-noite.
Entrou na sua pequena saleta, como fizera na noite em que a conheceu. A lareira estava fria e ajoelhou-se para atear uma fogueira, regressando brevemente à cozinha para trazer acendalhas. A seguir, sentou-se e esperou como um imbecil perdido de amores. Riu-se sem produzir grande ruído. Não era isso o que era? Um pretendente esperando que a sua senhora o agraciasse com a sua presença? Nem sequer era pelo sexo. Queria apenas estar com ela. Ver as expressões sucedendo-se naqueles extraordinários olhos dourados. Ouvir a sua voz.
Era patético.
Ouviu ruídos na cozinha e inclinou a cabeça, fechando os olhos e ouvindo. Seria ela? Imaginou que sim. Imaginou-a a retirar a chaleira do fogo, vertendo a água sobre as folhas. Permaneceu imóvel e chamou-a sem palavras, com todo o seu corpo ansiando por ela.
A porta gemeu e abriu os olhos, vendo-a à sua frente, olhando-o fixamente. Sorriu como um tolo. Não conseguiu evitar.
– Oh! – exclamou ela, obviamente sem estar impressionada. – Que fazes aqui?
– Visito-te – replicou. – Receio que precise da tua orientação em Saint Giles esta noite.
Olhou-o por um momento e regressou à cozinha. Seguiu-a e viu que vestia já a capa.
– Porque precisas de mim?
– Porque pretendo regressar à taberna de Mãe Coração--Tranquilo.
– Porquê? – Franziu-lhe a testa sobre os atilhos da capa. – Já lá estivemos três vezes. Teremos descoberto certamente tudo o que havia para descobrir.
– Sim, aparentemente. – Passou um dedo sobre a madeira gasta da mesa da cozinha. – Mas falei com um dos amantes de Marie. Disse que a conheceu na taberna de Mãe Coração-Tranquilo.
– O quê? – Temperance fitou-o. – Mas Mãe Coração-Tranquilo deu a entender que nunca a tinha conhecido.
– E talvez tenha dito a verdade. – Encolheu os ombros. – Mesmo assim, parece-me estranho que Marie tenha frequentado a taberna. Marie convivia com cavalheiros. Se me tivesses perguntado antes de morrer, teria dito que não a apanhariam morta num sítio como aquele.
– É muito estranho. – Caminhou até ao fundo das escadas e chamou, sem elevar demasiado a voz. – Mary Whitsun.
Ouviu-se um ruído vindo de cima, seguido por passos.
– E há também a questão de Martha Swan – disse Lazarus.
Olhou-o, intrigada.
Lazarus esboçou um sorriso malicioso.
– Sei que parece tolice, mas pensa: porque fomos atacados em casa de Martha Swan?
Temperance encolheu os ombros.
– Para impedir que falássemos com ela.
– Mas já estava morta.
Temperance franziu a testa. Mary Whitsun chegou nesse momento, vestindo o seu roupão.
– Minha senhora? – A rapariga moveu um olhar incerto entre ele e Temperance.
– Tranca a porta depois de sair, por favor – disse-lhe. – E volta para a cama.
A rapariga acenou afirmativamente e, no momento seguinte, estavam na viela.
O vento soprou a capa de Temperance e fê-la esvoaçar atrás dela.
– Se o objetivo não era impedir-nos de falar com Martha Swan, porquê o ataque?
– Não sei. – Acelerou o passo com o cuidado de a manter perto de si. – Talvez alguém na taberna de Mãe Coração-Tranquilo nos tenha visto lá. Alguém que não queria que investigássemos. Talvez Marie se tenha encontrado com essa pessoa na taberna.
Fixou nele um olhar pleno de dúvida.
– Ou talvez seja apenas uma coincidência.
Mantiveram o silêncio durante o resto do caminho. Lazarus apercebia-se intensamente do calor de Temperance a seu lado. Da sua vulnerabilidade. Talvez não devesse tê-la trazido, mas, quanto mais pensava no assunto, mais certezas tinha: a resposta esperava-o algures na taberna de Mãe Coração-Tranquilo. E Temperance era a chave para levar as pessoas a falar quando lá fosse.
Quinze minutos depois, entraram na sala miserável e, a princípio, a taberna parecia igual ao que fora nas suas duas visitas anteriores. Estava apinhada e quente, a fogueira ardia com pouco vigor e o fumo pairava por baixo das traves enegrecidas do teto. Lazarus começou a abrir caminho até ao fundo, dirigindo-se aos aposentos privativos de Mãe Coração-Tranquilo.
Temperance segurou-o pelo braço, fazendo-o parar. Lazarus curvou-se, permitindo-lhe segredar:
– Alguma coisa não está bem. A taberna está demasiado silenciosa.
Lazarus ergueu a cabeça e percebeu que tinha razão. Não havia canção embriagada vinda da mesa dos marinheiros no canto. Não havia discussões ou zaragatas. Com efeito, os clientes pareciam aglomerar-se uns contra os outros e ninguém os olhava diretamente.
Lazarus olhou Temperance.
– Que aconteceu?
Abanou a cabeça. Os seus belos olhos manchados de dourado estavam intrigados.
– Não sei.
A criada zarolha ergueu a cortina e saiu do corredor traseiro. Antes que a cortina tivesse tempo de cair, Lazarus conseguiu contar três homens no corredor. O que fizera Mãe Coração--Tranquilo triplicar a sua guarda? A rapariga mantinha a cabeça baixa e a sua cara estava manchada de lágrimas. Viu-os e baixou mais a cabeça, virando para um lado.
Temperance seguiu-a sem que Lazarus precisasse de lhe pedir que o fizesse. Viu-a pressionar a rapariga, seguindo-a enquanto esta abanava a cabeça e tentava afastar-se. Temperance pousou uma mão na criada e a rapariga esquivou-se, dizendo uma palavra brusca.
Temperance endireitou-se abruptamente, arregalando os olhos.
Lazarus aproximou-se num ápice.
– O que foi?
Abanou a cabeça.
– Aqui não.
Temperance levou-o para fora da taberna, olhando em redor, receosa. Lazarus puxou-a para si, por baixo da capa, envolvendo-a com os braços.
– Diz-me.
Olhou-o. A sua face era uma oval pálida na noite.
– Recusou falar de Marie. Houve outro homicídio. Uma prostituta. Encontraram-na presa à cama e o seu ventre… – Não conseguiu terminar a frase.
– Chiu. – O coração de Lazarus acelerara, mantendo os sentidos atentos a cada movimento, por mais ínfimo que fosse, a cada som insignificante na vizinhança. – Tenho de te levar de volta ao lar.
Abraçou-o.
– Dizem que foi o Fantasma de Saint Giles.
– O quê?
– Há quem o ache um fantasma. Também há quem o considere um homem real. Seja como for, acreditam que foi ele o assassino.
Abanou a cabeça e começou a afastar-se.
– Porquê?
– Não sabem. Circulam rumores de que procura algum tipo de vingança, de que foi enviado para punir os pecadores ou de que simplesmente aprecia matar. – Estremeceu mais uma vez. – Não faz sentido, pois não? Se for ele o assassino, se nos quisesse mortos, não se teria aliado a ti para derrotar quem nos atacou.
– Não – murmurou. – Não faz sentido.
Passaram-se outros dez minutos até regressarem à porta do lar e Lazarus nunca antes se sentiu tão feliz por ver aquele local. Temperance destrancou a porta e Lazarus seguiu-a até à cozinha.
Viu-a encher a pequena chaleira e pendurá-la sobre a lareira antes de avivar as brasas.
– Que provas há de que o Fantasma é o assassino? A criada explicou?
Temperance fixou nele um olhar perplexo enquanto colocava o serviço de chá sobre a mesa.
– Pareceu-me que não sabia. Limitou-se a repetir o que todos diziam.
– Hmm. – Tamborilou com os dedos sobre o tampo da mesa. – Questiono-me se alguém espalhará este rumor.
– Mas quem?
Abanou a cabeça.
– Seja como for, não podes voltar a acompanhar-me por Saint Giles. Não enquanto houver um assassino à solta.
Temperance acenou com a cabeça em silêncio, franzindo a testa depois de ouvir a sua decisão. Seria assim tão submissa à sua vontade ou desobedecer-lhe-ia mais tarde? Essa possibilidade deixou-o inquieto. A possibilidade de não ter poder real sobre aquela mulher. Poderia fazer o que quisesse, independentemente do que Lazarus pensasse ou da preocupação que sentisse.
A chaleira ferveu pouco depois e encheu o bule, Lazarus seguiu-a para a sua saleta, agachando-se para acender uma fogueira aí enquanto ela se sentava no seu banco. A seguir, deixou-se cair no cadeirão e olhou-a, ridiculamente satisfeito, enquanto ela enchia uma chávena de chá para si mesma, acrescentando açúcar. Ocorreu-lhe que não se importaria de passar o resto da sua vida daquela forma, vendo-a beber o primeiro gole de chá quente, interiorizando a forma como a descontração a fazia semicerrar os olhos.
– Como está a tua irmã? – perguntou, pouco depois.
Ergueu o olhar nesse instante, talvez surpreendida. E isso irritou-o.
Arqueou as sobrancelhas.
– Silence, não é? Recuperou do encontro com O’Connor?
– Não sei – respondeu, suspirando. – Não tenho tido notícias dela. Winter não fala comigo. Limita-se a desempenhar as suas funções sem discutir nada. Concord está furioso. E será adequado dizer que o que lhe motiva a fúria é o facto de não aprovar.
– E as crianças? – perguntou. – Como estão elas?
Aninhou a chávena entre as mãos.
– A maior parte está como sempre esteve. Mas Mary Whitsun segue-me pela casa como a minha sombra, como se receasse o meu desaparecimento se me perder de vista.
Lazarus acenou afirmativamente, não sabendo o que dizer. A sua experiência com famílias, ou mesmo com sentimentos, tinha falhas insuperáveis.
Temperance inspirou fundo.
– E tu? Como está o ombro?
– Quase como novo.
Ficou calada durante alguns segundos e a seguir perguntou em voz baixa:
– Porque achas que Marie nunca te falou do irmão?
– Talvez porque nunca lhe perguntei pela família. – Encolheu os ombros. – A verdade é que mal nos falávamos. Isso não era necessário na nossa relação.
– Então, quando a vias, limitavam-se a…
– Foder. Sim. – Olhou-a, esperando ver-lhe repulsa na face. – Não queria mais nada dela. Não precisava de mais nada.
– E de mim? – sussurrou ela.
Lazarus inspirou fundo.
– De ti, quero muito, muito mais.