Capítulo 15

 

 

 

 

 

Meg passou o dia sentada sozinha

na sua minúscula cela nas masmorras,

pois ninguém a visitou.

Ocupou-se a limpar a cela e lavou-se com o balde de água,

penteando o cabelo loiro longo.

Quase decidira ir para a cama

quando ouviu alguém bater à porta da cela.

Entraram três criadas e uma cabeleireira muito elegante.

Antes de perceber o que se passava,

o seu cabelo estava enfeitado com pérolas

e tinha sapatos finos calçados.

«Que significa isto?», gritou, espantada.

A cabeleireira curvou-se e respondeu:

«Esta noite, jantarás com o rei.»

excerto de REI CORAÇÃO FECHADO

 

 

 

Temperance olhou-o, àquela criatura exótica, àquele homem de um mundo desconhecido, dizendo que queria mais dela. Que mais quereria? Quis perguntar, mas receou a resposta.

Em vez disso, pousou a chávena.

– Muito bem.

Lazarus acenou afirmativamente, olhando as chamas. Parecia satisfeito com o pacto estabelecido, fosse qual fosse, mas Temperance sentia o calor alastrar-lhe pelo ventre. Também ela queria mais.

– Não me falaste da tua família.

Abanou a cabeça, irritado.

– Não é verdade. Falei-te da minha irmã. E da minha mãe.

– Mas não do teu pai – disse ela com voz baixa. Não sabia de onde viera aquilo, aquela súbita necessidade de conhecer todos os seus segredos. Talvez fosse por saber que um assassino vagueava pelas ruas de St. Giles. Talvez fosse a proximidade da morte. Tudo o que sabia era que queria conhecê-lo, àquele homem que recebera dentro do seu corpo.

Viu-o ficar hirto.

– O meu pai era um aristocrata. Não há mais nada a dizer a seu respeito.

Temperance inclinou a cabeça, olhando-o. Os olhos dele voltaram a fixar-se na fogueira e foi óbvio que havia mais alguma coisa para dizer.

– Como era fisicamente?

Lazarus olhou-a, espantado.

– Era… um homem grande.

– Mais alto que tu? – perguntou.

– Sim. – Franziu a testa. – Não. Não é verdade. Quando voltei de Oxford, estava mais alto que ele. Parecia apenas… volumoso.

– Porquê?

– Não quero falar disto – disse abruptamente.

– Mas queres mais de mim – disse-lhe. – Não devia eu querer também mais de ti?

Esboçou-lhe um sorriso enviesado.

– Sois uma negociadora implacável, Mistress Dews. Que queres de mim?

– Talvez queira saber tudo – afirmou com arrojo.

– Ah. Poderá alguém saber alguma vez tudo sobre uma pessoa?

– Talvez não – disse ela, erguendo-se.

Lazarus permaneceu imóvel, vendo-a dar dois passos até ficar de pé diante dele.

– Talvez sejamos indivíduos separados e solitários durante toda a nossa vida – murmurou, sentando-se sobre o joelho dele. Tocou as dobras do lenço que trazia ao pescoço e começou a desenrolá-lo. – Talvez seja impossível conhecermo-nos algum dia verdadeiramente. Não é isso que queres que diga?

Pigarreou.

– Não tinha pensado nisso.

– Claro que tinhas – troçou ela, gentilmente. – És um cavalheiro inteligente e muito cínico. Acredito que passarás parte considerável do teu tempo a pensar no mundo e em como estás sozinho nele.

Lazarus engoliu em seco. A sua maçã de Adão movia-se sobre os dedos da mão.

– E não estou?

– Talvez. – Olhou-o, concentrando-se em seguida em retirar-lhe o lenço. – É por isso que as atas?

– Quem?

Tss. Nunca julguei que fosses um cobarde, Lazarus.

Suspirou e fechou os olhos.

– Talvez. Não sei.

Começou a desabotoar-lhe os botões do colete.

– Não sabes porque as atas ou não queres admiti-lo?

– Como sois severa, minha senhora. – Havia na sua voz um indício de advertência.

– Sim. – Temperance acenou afirmativamente, fixando o olhar no que fazia. – Mas não acredito que obtivesse uma resposta tua de outra forma. A proximidade delas provoca-te dor? Pensar no que te separa delas, e de toda a gente, provoca em ti a angústia que sentes quando outros te tocam?

– A tua avaliação assusta-me. – Ajudou-a a despir o colete. – Não sei porque sinto dor.

– A dor é física ou psicológica?

– As duas coisas.

Temperance acenou afirmativamente enquanto começava a desabotoar-lhe a camisa. Sentia o calor da sua pele e os pelos escuros do seu peito eram uma sombra visível por baixo do pano branco fino. Sentiu um aperto nas entranhas.

– Nesse caso, talvez as ates para não poderem magoar-te.

– Talvez.

– Ou… – Ergueu os olhos para os seus. – Talvez as ates para não precisares de admitir a sua humanidade.

Arqueou uma sobrancelha, olhando-a.

– Isso não faria de mim o demónio?

– Faria? – repetiu ela em voz baixa.

Os olhos dele afastaram-se dos seus.

– Receias o seu olhar? É esse o propósito da venda? Impedir que vejas os seus olhos?

– Talvez não queira que vejam os meus.

– Porquê?

– Talvez não queira que vejam o negrume no centro da minha alma.

Por um momento, Temperance olhou fixamente os seus extraordinários olhos azuis e Lazarus permitiu-lhe que o fizesse, como se lhe dissesse alguma coisa sem palavras.

A seguir, Temperance afastou o olhar.

– Não me atas. – Sentia a pulsação acelerar. Quis despir-lhe a camisa, mas não desejava magoá-lo. Passou as mãos sobre o tecido, sentindo os músculos quentes por baixo. Tinha um peito encantador, largo e suave, com a linha dos ombros fluindo para os músculos salientes dos braços.

– Não. Não ato.

– É por ser mais importante que as outras ou menos?

– Mais. Sem dúvida.

Temperance acenou afirmativamente, olhando as mãos que se moviam sobre o corpo dele. Pensar que era importante para ele trouxe-lhe lágrimas aos olhos.

– Sou mais importante para ti? – perguntou ele, baixando a voz.

Claro que era. Mas ignorou a pergunta. Interessavam-lhe as vulnerabilidades dele. Não lhe interessavam as suas.

– Isto magoa-te? Se te tocar sobre o tecido?

– Não.

Inclinou-se para diante e beijou-lhe delicadamente o ombro.

– Fico feliz.

– Respondo às tuas perguntas, mas não respondes às minhas.

Abanou a cabeça.

– Não posso. Ainda não. Não forces.

– O que… – A sua pergunta foi interrompida quando se inclinou para ele e lhe lambeu um mamilo sobre a camisa.

Inspirou fundo.

– Precisarei de saber algum dia.

– Talvez. – Moveu a língua em círculos. O pano molhado estava quase transparente e via a pele escura do mamilo através da camisa.

– Aah.

Temperance sorriu contra a camisa.

– Temperance.

– Não forces. – Espalmou-lhe a camisa contra o peito para poder vê-lo com maior clareza. O mamilo arrepiado formava um botão minúsculo.

– Como me forças a mim?

– Forço-te?

– Sem dúvida.

Temperance puxou-lhe um fio de cabelo como reprimenda.

Lazarus gemeu.

– Perguntas a ti mesma porque precisas de me forçar?

– Não. – Deslizou as mãos para baixo, deixando-as repousar contra a barriga dele. Sentia-a firme e quente.

– Talvez devesses fazê-lo.

Hmm. – Sentiu-se distraída por um momento pelo cós das suas calças e pelo que havia mais abaixo.

– Temperance…

– Não. – Saiu-lhe do colo e ajoelhou-se-lhe entre as pernas. Abriu-lhe os botões das calças. – Sentes dor agora?

Hmm? – murmurou ele. Parecia hipnotizado, vendo os seus dedos desabotoando-lhe as calças. Por baixo, a ereção forçava o tecido. Temperance tinha a boca seca, antecipando o que veria.

Mas não lhe permitiria que escapasse com tanta facilidade.

– Lazarus? Magoo-te?

– Se magoares, é soberbo.

– Ótimo – disse, enquanto lhe puxava as calças. O seu membro erguia-se contra a frente das ceroulas. – Lazarus…

– Sim? – respondeu ele. – Ah…

Rodeou-lhe o pénis com as mãos por cima das ceroulas. Olhou-o de baixo para cima.

– Gostarias de me atar um dia?

Pestanejou como se despertasse. O seu olhar tornou-se irado.

– Não. Claro que não.

– Quem mente agora? – murmurou ela enquanto apertava gentilmente, testando a sua dureza. – Magoar-te-ia se o tirasse para fora e o tocasse?

Ouviu-o inspirar fundo.

– Creio que conseguiria suportá-lo.

– Conseguirias?

– Por favor.

A sua súplica rouca fê-la decidir-se. Com cuidado e delicadeza, desabotoou-lhe as ceroulas e abriu-as. A seguir, limitou-se a olhar.

Era verdadeiramente magnífico, sentado no seu cadeirão gasto, com as pernas abertas e o pénis ereto, parecendo enorme. O facto de continuar vestido com a camisa, as calças e as meias e com os sapatos calçados, tornavam a visão dos seus pelos púbicos e pénis avermelhados ainda mais excitante. Era uma visão chocantemente íntima. Parecia um rei, arrogante e seguro do seu poder.

– Adoro olhar-te – disse-lhe ela.

– Deveras? – sussurrou ele. A sua voz era um ronronado viril grave.

Temperance olhou-o e, ao mesmo tempo, envolveu-lhe o membro com a mão.

– De certeza que não gostarias de me deitar na tua cama? Indefesa perante os teus desejos?

Os olhos dele semicerraram-se e as faces coraram com avidez sexual.

– Eu… eu… talvez.

– Talvez? – murmurou ela, voltando a olhar o prémio que tinha diante de si. A verdade era que o seu interesse pelo jogo tinha esmorecido. – Nunca te soube inseguro acerca das tuas vontades. Dos teus desejos.

Apertou com muito cuidado, sentindo a suavidade da pele dele e a dureza férrea por baixo.

Lazarus gemeu, erguendo as ancas para lhe preencher mais as mãos com o membro.

– Maldição. Enfia-o na boca.

Temperance mordeu o lábio, um pouco chocada. Nunca antes fizera tal coisa. Acariciou com um dedo a extremidade do seu pénis, onde uma gota se formava sobre uma fenda minúscula. A que lhe saberia esse líquido se o recebesse na boca?

– Temperance – disse ele, com voz muito grave e cristalina na saleta silenciosa. – Chupa-me.

Baixou a cabeça e colocou a língua de fora, hesitante. E lam-beu. Torceu o nariz. Era um sabor salgado e almiscarado. Não era desagradável, mas também não era o que esperara.

Ouviu-o gemer.

– Por favor.

Como era sublime ouvi-lo gemer. Algo nela, algo malvado e primário, deleitou-se com a súplica na voz dele. Abriu a boca e envolveu com ela a cabeça do seu membro.

Chupou.

As ancas dele estremeceram, enfiando-lhe mais ainda o pénis na boca. Quase afastou a cabeça, mas segurou-o com maior firmeza e espalmou a língua contra ele, sugando delicadamente. As mãos dele ergueram-se, acariciando-lhe a cabeça. Sentiu-o retirar os alfinetes do seu cabelo, deixando as mãos perderem-se entre as madeixas e puxando ligeiramente. Não sabia ao certo se perceberia o que fazia. Inclinou-se um pouco para trás, deixando-o sair da sua boca para poder olhá-lo.

Também a olhava.

Saber isso deixou-a molhada. Encostou-lhe a língua e, fixando os olhos nos seus, fê-la deslizar à volta da cabeça do pénis.

– Jesus. – Lazarus firmou o maxilar, fletindo os músculos à luz da lareira.

Moveu a mão pelo pénis abaixo e abriu os lábios à sua volta, chupando-lhe delicadamente a ponta.

A expressão de Lazarus contorceu-se enquanto retesava os músculos dos braços.

– Mais fundo.

E obedeceu, engolindo tanto dele quanto conseguia, mantendo os olhos nos seus enquanto as ancas dele se moviam por baixo dela. Lazarus cobriu-lhe a mão com a sua para a ajudar a acariciar mais depressa.

Viu-o gemer, enchendo as faces e com a cara corada.

– Queres-me? – sussurrou. – Se não aguentas, para agora.

Não conseguiu falar por ter a boca cheia, mas queria ver aquilo. Queria levá-lo até ao fim inevitável. Olhou-o enquanto sentia o membro inchar-lhe dentro da boca. Olhou-o enquanto a sua mão o acariciava de alto a baixo com vigor. Viu-o arreganhar os dentes.

– Oh, Deus.

O sabor era salgado e quente. Sentiu lágrimas nos olhos enquanto Lazarus cedia a espasmos incontroláveis. Era grande e forte, mas fora ela a trazê-lo até ali.

Continuou a lambê-lo enquanto amolecia, parecendo sentir-se mais vulnerável. Parecendo perdido, de alguma forma.

– Vem – ordenou, puxando-a para os seus braços.

Prendeu-lhe a cabeça sob o queixo e ficaram assim durante longos momentos enquanto lhe acariciava o cabelo. A seguir, começou a puxar-lhe as saias para cima. Sem palavras e sem vacilar, descobriu-lhe as pernas até ficar montada sobre ele, com o tecido das saias amarrotado à volta da cintura.

Lazarus olhou para baixo e Temperance seguiu-lhe o olhar. Os pelos escuros encaracolados dela contrastavam profundamente com a brancura da pele. Não estava habituada àquilo, a ter um homem examinando-a à luz da fogueira, e começou a puxar as saias para baixo para esconder a sua nudez.

– Não. – Prendeu-lhe a mão, olhando-a nos olhos enquanto dava a orem. – Quero ver-te.

Abanou a cabeça, mas o movimento foi débil.

Lazarus colocou a mão onde as coxas dela se uniam e Temperance virou a cabeça, escondendo a face no ombro dele. Sentiu-o acariciando-lhe os pelos.

– Abre as pernas – disse-lhe em voz baixa.

Obedeceu, engolindo em seco e antecipando o seu toque.

Foi tão delicado que quase lhe passou despercebido. Roçou-lhe o interior das coxas, até ao ponto onde o centro do corpo dela o esperava. Mas, a seguir, mudou de direção, contornando-lhe o sexo e tocando apenas o limite dos pelos.

– Vê – disse-lhe ele.

Temperance abanou a cabeça.

– Não consigo.

– Consegues.

Temperance inspirou fundo e ergueu a cabeça.

A sua mão volumosa cobria-lhe o sexo, com os dedos afastados num gesto possessivo.

– Continua a olhar ou paro – murmurou ele.

Temperance voltou a engolir em seco, vendo-lhe dedos deslizarem lentamente até aos seus lábios exteriores. Abriu-os, abrindo-a e expondo o rosa intenso que escondiam e a sua humidade embaraçosa.

– Tão macia – disse, passando o indicador entre as suas pétalas.

Fazia-a arfar, vendo o dedo subir e rodear-lhe o topo do sexo. Tocou-lhe o clítoris com cuidado.

– Gostas disto? – sussurrou.

Quis abanar a cabeça e afastar o olhar, mas, se o fizesse, ele pararia. E pensar isso era suficiente para a fazer acreditar que morreria.

– Temperance – disse ele num sussurro profundo e íntimo. – Diz-me se gostas disto. – Pressionou delicadamente, não exercendo a pressão ideal. – Temperance?

– Com mais força? – sussurrou ela.

– O quê?

Engoliu em seco mais uma vez.

– Com mais força. Toca-me com mais força.

Pressionou-a novamente.

– Assim?

Oh, glorioso deleite! As ancas de Temperance ergueram--se como se tivessem vontade própria. Acenou afirmativamente com movimentos incertos.

Os seus dedos contornaram-na, aplicando a pressão exata.

– Agora vê. Mantém os olhos abertos e atentos à minha mão ou paro. Compreendes?

Voltou a acenar afirmativamente, hipnotizada por aquele dedo, que ficava cada vez mais molhado com a sua humidade. Ocupou-se dela no silêncio da sua saleta. Os únicos sons eram a respiração forçada e os pequenos ruídos viscosos da mão dele contra a sua carne. Acariciou com rapidez cada vez maior até Temperance sentir as pálpebras pesadas, até ser necessário um esforço hercúleo para as manter abertas. Estava em brasa, com o calor e um prazer doce irradiando do seu centro.

E, de repente, torceu a mão.

Arregalou os olhos enquanto o via introduzir profundamente dois dedos dentro dela e gemeu com o que sentia e com o que via. Ao mesmo tempo, pressionou-a com o polegar e devastou-a. O fogo alastrou-lhe pelos membros, projetou a cabeça para trás, a sua visão turvou-se enquanto o via manipular-lhe o corpo. Santo Deus. Nunca sentira semelhante abandono. Tremia-lhe nos braços, fletindo as pernas, e a intensidade com que os dedos dele a penetravam não diminuiu, abrindo-os e torcendo-os dentro dela.

A sua outra mão voltou-lhe a cabeça e, de repente, beijava-a. A sua boca abria-se, molhada, e os dedos astutos ficaram mais lentos.

– Temperance – gemeu a seu lado. – Preciso de ti. Preciso de ti agora.

Erguia-a, fazendo-lhe as pernas rodeá-lo, posicionando-a como uma boneca de trapos para seu próprio prazer. Porque Temperance já não conseguia mexer-se.

Lazarus ergueu-se e inverteu as suas posições, encostando-lhe as costas ao grande cadeirão, com o traseiro no limite da almofada do assento e os pés no chão. Agachou-se diante dela e Temperance viu que a sua ereção estava enorme. Viu-o pegar-lhe com uma mão e posicionar-lha entre as pernas. Passou os ombros por baixo das suas pernas abertas e endireitou-se, erguendo-lhe as pernas para ficar completamente à sua mercê.

Posicionou o membro à sua entrada, abrindo a boca, ofegante, e Temperance olhou-o enquanto entrava dentro dela. Viu que projetava a cabeça para trás como se sentisse alguma dor insuportável. Como se estivesse prestes a morrer.

– Oh, Deus… – exclamou, ofegante. – Não consigo… não…

E começou a massacrá-la, empurrando-a contra o cadeirão, apertando-lhe as pernas contra o peito e impedindo que as apoiasse, sem forma de se defender do seu ataque.

Não que quisesse defender-se.

Senti-lo preenchendo-a repetidamente, imediatamente após a forma sublime como a levara ao clímax com a sua mão, fez o calor regressar de imediato. Sucumbiu, com ondas sucessivas de prazer atingindo-a violentamente, fazendo explodir os seus sentidos. Percebeu vagamente que Lazarus se erguia, continuando dentro dela, elevando-lhe o traseiro do cadeirão por completo e empalando-se até ao fundo. Manteve-a assim enquanto se esgotava nela.

As suas mãos grandes cobriam-lhe o traseiro, abrindo-se e pressionando-a. Pressionou-se contra ela como se não conseguisse saciar-se, como se quisesse ficar unido a ela para sempre. Mas não deixava de ser apenas um homem. Tombou para diante, conseguindo, de alguma forma, pousá-la com cuidado. Afastou-lhe as pernas dos ombros e pousou a cabeça ao lado da sua contra o cadeirão.

– Temperance – murmurou, grande e pesado. Saciado. – Temperance.

Temperance olhou o teto da sua pequena saleta e soube que precisava de encontrar as palavras para lhe dizer o que significava para ela. Soube que o perderia se não conseguisse forçar as palavras a passar-lhe entre os lábios, por mais dolorosas e difíceis que lhe fossem. Erguia-se numa encruzilhada e não tomar uma decisão significaria perder tudo. No dia seguinte. No dia seguinte, encontraria uma forma.

Naquela noite, limitou-se a fechar os olhos.

 

 

TEMPERANCE ACORDOU CEDO na manhã seguinte e deixou-se ficar deitada, olhando o teto no seu quarto pequeno e solitário. Não queria levantar-se. O seu quarto ficava imediatamente abaixo do telhado. Naquele piso, havia apenas três quartos. O seu, o de Winter e o quarto em que Nell dormia quando não vigiava o quarto das crianças. Quando chovia, caía água num canto. No inverno, tinha frio e, no verão, o calor era insupor-tável.

Santo Deus. Por vezes, desejava poder voar para longe. Talvez fosse esse o motivo para aceitar aqueles interlúdios perigosos com Caire, arriscando não apenas a gravidez e um filho bastardo, mas também a sua própria alma. Era uma tentação contra a qual parecia não ter qualquer defesa. Talvez, após todos aqueles anos a lutar contra a sua natureza, a questão se tivesse tornado meramente hipotética. Talvez a luta tivesse sido sempre impossível de vencer. Talvez…

Ouviu um ruído no quarto ao lado do seu. O quarto de Winter. Temperance franziu a testa e começou a erguer-se.

Ouviu um estrondo do outro lado da parede.

Correu para fora do quarto. A porta de Winter estava fechada, claro. Bateu.

– Irmão?

Não houve resposta.

Bateu com mais força, mas não houve resposta. Fechou a mão e bateu novamente.

– Winter! Estás bem?

Tentou a maçaneta da porta, mas estava trancada. O quarto de Winter era o único onde o seu irmão poderia ter alguma privacidade. Começava a pensar se deveria deitar a porta abaixo quando esta se abriu de repente.

– Está tudo bem. – Winter erguia-se à sua frente, mas, apesar das palavras tranquilizadoras, era evidente que não estava bem. A face pálida estava manchada com o sangue que corria de um ferimento na testa e parecia erguer-se com dificuldade.

Temperance rodeou a cintura do irmão com os braços para impedir que caísse.

– Que te aconteceu?

Levou uma mão à face e pareceu sobressaltado quando viu o sangue nos dedos.

– Acho que… que caí.

O seu tom hesitante alarmou-a mais ainda.

– Não sabes?

– Não consigo… – Calou-se e olhou o pequeno quarto que o rodeava, tão semelhante a uma cela. – Talvez fosse melhor sentar-me.

Ajudou-o a sentar-se na cama. Não havia espaço sequer para uma cadeira. A seguir, aproximou-se dele, ansiosa.

– Estás doente? Quando comeste pela última vez?

Tentou encostar-lhe as costas da mão à testa, mas, com irritação nada comum, Winter afastou-a.

– Estou ótimo. Apenas…

– Caíste e não te lembras porquê? – disse ela, exasperada. – Que jantaste ontem à noite?

A sua testa franziu-se.

– Ah…

– Oh, Winter! Comeste alguma coisa?

– Talvez um pouco de caldo – disse, sem a olhar.

Temperance suspirou. Winter nunca aprendera a mentir de forma convincente.

– Fica aqui. Vou buscar-te o pequeno-almoço e ligaduras.

– Mas… a escola – afirmou, forçando a voz. – Tenho de a abrir.

– Não. – Temperance empurrou-o de volta para a cama, pois tentara voltar a erguer-se. – A escola pode fechar durante um dia.

– Perderemos dinheiro.

Temperance olhou-o fixamente. Era verdade. Se a escola não abrisse, os alunos não pagariam as aulas desse dia.

– Certamente poderemos fechar durante um dia, não?

Winter abanou a cabeça. Tinha a pele quase tão branca como a almofada.

– Gastámos quase todo o dinheiro que Lorde Caire nos deu.

– O quê? – perguntou ela, chocada.

– Devíamos dinheiro ao talhante e ao padeiro – sussurrou. – E faltava pagar ao sapateiro os sapatos que fez para os rapazes em novembro.

Temperance olhou o pequeno quarto à sua volta, mas não havia mais ninguém para tomar a decisão por si.

– Vamos ficar bem. Não tentes levantar-te. Prometes-me que não o farás, Winter?

– Sim. – Acenou afirmativamente e os seus olhos tinham-se fechado novamente quando Temperance saiu do quarto.

Santo Deus. Sabia que estavam numa situação desesperada, mas não sabia a que ponto se tinham afundado. Desceu rapidamente as escadas, tentando ordenar as suas prioridades, mas não conseguia escapar ao facto de Winter estar doente e de não conseguir gerir o lar sem ele.

Entrou na cozinha grande e velha, com a mente num turbilhão, parando quando viu quem lá estava.

Polly erguia-se ao lado de Nell e havia medo na face das duas mulheres. Mary Whitsun encolhia-se num canto com a sua pequena face pálida. Polly segurava nos braços um volume imóvel.

– O que é? – sussurrou Temperance.

– Sinto muito – disse Polly. – Mamava bem, mas, na noite passada… – Afastou um canto do cobertor. Era Mary Hope. A sua pequena face estava vermelha e transpirada.

Polly olhou-a, pálida.

– Tem a febre.