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Capítulo 14

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Você nunca deve pegar qualquer coisa que não lhe

pertença— se você não puder carregá-lo.

— Mark Twain

Georgina não parou para ver o vaso passar pela cabeça do idiota e se espatifar contra a parede. Ela estava ocupada demais pegando outra coisa para jogar.

O que estava mais perto era um travesseiro.

Sem dor, ela pensou com desgosto e o jogou para o lado.

“Você errou George. Da próxima vez você pode tentar jogar com os olhos abertos.”

Seu olhar se iluminou ao ver uma tigela de latão cheia de maçãs. Ela olhou quando ele se aproximou dela, ainda sorrindo como se arruinar sua vida fosse engraçado.

Ela pegou uma maçã, olhou diretamente para ele e a jogou. "Você arruinou tudo!"

Ele se esquivou. "Bem melhor. Mas ainda assim, você não acertou o seu objetivo."

Ela jogou a próxima; a maçã bateu contra a parede com uma pancada!

Ele balançou a cabeça.

"Você não se importa, não é?" Ela lançou outra maçã. "Você não se importa em ter arruinado a minha vida!"

Ele se esquivou da maçã e começou a aplaudir. "Bem mais perto. Eu pude sentir o vento. Agora, se você mirar e se concentrar..."

Ela queria ir até ele, gritar ou berrar ou bater no peito dele com os punhos até que ele entendesse o que tinha feito com ela. Mas ela ficou parada, impotente, olhando para ele, ciente de que seu peito arfava forte a cada respiração que ela dava, e que suas emoções estavam à flor da pele.

"Diga-me como arruinei sua vida."

Ela o olhou nos olhos e procurourespirar com mais calma. "Tinha um homem esperando por mim no gazebo."

"Sozinha com um homem, George?"

"Eu estava sozinha com você."

"É verdade." Ele sorriu.

“Além disso, era um encontro perfeitamente adequado.”

"Em um gazebo na parte de trás do jardim, à noite." Seu olhar era sarcástico, sua voz muito presunçosa.

"Ele ia me propor casamento." Sua voz soou defensiva, mesmo para ela, então ela ficou um pouco mais ereta. "Ele ia me pedir em casamento."

Ele encolheu os ombros. "Casamento não é problema para mim. Na verdade, é a melhor solução." Ele se recostou na borda de uma cadeira e cruzou os tornozelos de uma maneira preguiçosa. "Eu vou me casar com você."

“Oh? Isso acalma meu coração."

Ele riu novamente.

"Eu quero me casar com John Cabot."

Com isso dito ele gargalhou, então ela jogou outra maçã nele.

O diabo a pegou direto do ar. “Ah... Eu entendo." Ele assentiu, segurando a maçã para a luz e parecendo examiná-la. "Você está apaixonada por ele."

"Sim!" Ela mentiu.

Ele abaixou o olhar lentamente, o que era tão irritante quanto todo o resto que ele fazia, então lhe deu um longo e penetrante olhar que dizia que não acreditava nela.

Ela levantou o queixo um pouco. "Loucamente apaixonada. Completamente. Totalmente. Eu penso nele noite e dia. Ele é minha vida. Meu futuro. Meu..." Ela acenou com a mão. "John Cabot é tudo o que eu poderia querer em um marido."

Ele pegou a maçã e a poliu na camisa, ignorando-a. Ele deu uma mordida e mastigou desagradavelmente, depois engoliu. Ele apenas ficou ali comendo a maçã como se estivesse esperando-ajogar outra e sabendo que ela ia errar por um metro ou mais.

Depois de alguns segundos, ele disse: "Você quer saber o que eu acho, George?"

"Não, mas tenho certeza que você vai me dizer."

Ele sorriu. "Talvez não."

Ela pegou outra maçã e ficou ali parada, tentando olhar para ele com a mesma aparente indiferença que ele olhava para ela.

"Eu acho que você não precisa puxar o seu decote para atrair um homem."

Ela ficou parada, percebendo que ele tinha acabado de dizer oque tinha visto no escuro do jardim. Ela desejou que o chão simplesmente se abrisse e a engolisse.

“Agora, tenho que admitir que foi uma visão e tanto..." Ele lhe deu um sorriso lento e quente. "E ainda é, mas eu já tinha decidido que queria você antes de puxar seu decote quase até a cintura."

Eu não vou deixar ele me provocar. Eu não vou, ela pensou, resistindo ao impulso de puxar o decote de seu vestido até a sua garganta, que ela estava certa de que estava vermelha como seu rosto em chamas.

Os segundos se arrastaram lentamente. Depois de um minuto ou mais, ela olhou para a maçã e disse: "Então é isso que você pensa?"

Ele cruzou os braços, desafiando-a a jogar mais uma maçã. "Sim. Isso é o que eu penso."

"Bem, então." Ela jogou a maçã levemente para o alto, como se estivesse medindo seu peso. Ela estudou a cabeça dele por um momento, então deu a ele seu sorriso mais doce. "Eu acho que vou ter que jogar a próxima bem onde você pensa."

Ele riu. "Você não conseguiria acertar a minha cabeça se eu ficasse parado como uma pedra, George." Ele cruzou os braços de novo.

Um segundo depois, a maçã o atingiu bem entre as pernas.

"Eu não disse nada sobre sua cabeça."

Ele se dobrou e gritou cinco palavrões verdadeiramente vis, tudo em uma frase incrivelmente inventiva.

Ela correu para a porta.

Assim que ela aí pegar a maçaneta, a porta se abriu e bateu contra a parede.

Amy Emerson estava na porta, envolta em um cobertor xadrez vermelho e carregando uma pistola. Ela olhou para Georgina com surpresa, depois olhou para onde o idiota estava dobrado.

"Aqui!" Ela puxou a outra mão do cobertor e entregou a Georgina um grosso cordão de tecido trançado. "Amarre-o!"

Ele se endireitou e ficou de olhos abertos para elas, então seus olhos se estreitaram. Ele não estava mais se divertindo. "Onde está Calum?"

"Seu irmão?" Amy acenou com a pistola como se ele tivesse feito uma pergunta tola. "Não se preocupe. Saiu pouco sangue."

"Sangue?" Sua voz era letal e ele deu um passo.

Amy usou as duas mãos para levantar a arma e apontá-la diretamente para ele. "Não dê outro passo."

Ele congelou, seu olhar agora endurecido passou da arma para o rosto dela, depois de volta para a arma, que estava apontada para seu peito.

"Seu irmão só tem um pequeno corte."

"Um corte? Onde você pegou uma faca?"

Amy franziu o cenho para ele. "Eu não tinha uma faca." Ela olhou para Georgina. "Eu disse que tinha uma faca?"

Georgina sacudiu a cabeça.

Amy olhou para Eachann MacLachlan. "Eu não disse que eu tinha uma faca. Eu acho que você está tentando me confundir."

Eachann falou com os dentes cerrados. "Você disse que ele estava sangrando de um corte."

“Oh... foi do copo de uísque que quebrou."

"Meu irmão cortou a mão com um copo de uísque?"

"Não. A cabeça."

Eachann ficou confuso. "Ele cortou a cabeça com um copo de uísque?"

“Apenas um pequeno copo. Só fez um pequeno corte, tenha certeza..." Amy levantou os dedos para mostrar o quanto e olhou para Georgina. "Quão grande você diria que é?"

"Cerca de meia polegada," respondeu Georgina, depois acrescentou: "dificilmente mortal."

"Isso é verdade." Ela olhou para ele e repetiu: "Dificilmente mortal. Ele vai ficar bem." Amy fez uma pausa, com uma expressão pensativa. “O galo em sua testa é um pouco maior. Mas não se preocupe, ele estava voltando a si, enquanto eu o estava amarrando. Tenho certeza de que sua mente não estava confusa nem nada, porque ele parecia querer limpar todo o vidro quebrado."

O imbecil gemeu e sacudiu a cabeça.

"Sente-se, por favor." Amy apontou a pistola para ele e acenou ao redor.

Ele levantou uma mão. “Por Deus! Pare de acenar com essa arma! Você pode dar um tiro sem querer!"

Ela acenou um pouco mais. "Bem, se você não quer que eu acene a minha mão com a arma," ela disse, "então você precisa se sentar."

Ele se moveu em direção à cadeira mais próxima, tão rapidamente que Georgina quase riu. Ele estava com a cara amarrada, o cenho franzido.

A cadeira era uma enorme monstruosidade cheia de pedaços de papel amassados, camisas amassadas e uma enorme pilha de cascas de nozes. Ele se inclinou um pouco e, com um braço enorme, jogou tudo no chão.

Ele se virou, olhando para elas com um rosto que aparentava não estar nem um pouco satisfeito. Ele sentou-se devagar. Deu a Georgina um olhar que podia tê-la cozinhado.

"O que há de errado com ele?" Amy sussurrou, mantendo a pistola apontada para ele.

"Nada," disse Georgina, enquanto desenrolava uma corda. "Ele está apenas pensando."

Ele amaldiçoou em voz baixa.

Georgina não sorriu, mas mudou de posição para ficar ao lado dele e não bloquear a mira da arma de Amy. Ela podia ver pela maneira como ele as observava que estava esperando que uma delas cometesse algum erro. "Estique as mãos."

Ele virou a cabeça lentamente e olhou para ela. Seu olhar prometia uma vingança terrível.

Mas ela o ignorou e torceu o cordão em torno de seus pulsos. "Agora seus grandes pés, por favor."

Ele não se mexeu.

Ela se agachou e puxou o cordão para baixo com um puxão firme que o fez inalar bruscamente, em seguida enlaçou-o em torno de seus tornozelos algumas vezes. Ajoelhando-se, ela deu outro sorriso açucarado, depois amarrou o cordão ainda mais apertado.

"Você vai se arrepender disso, George," ele murmurou com os dentes cerrados.

"Oh, eu acho que não." Ela estendeu a mão e acariciou sua bochecha, em seguida, estendeu a mão sobre ele de propósito e pegou outra maçã. Ela recostou-se nos calcanhares e segurou a maçã entre os seus rostos.

Seus olhos se estreitaram e ele abriu a boca para falar.

Ela enfiou a maçã dentro da sua boca e fingiu surpresa. “Oh meu querido, você ia dizer alguma coisa? Nada importante, tenho certeza."

Seu pescoço estava lentamente ficando cada vez mais vermelho.

Ela o olhou para seus olhos irritados e disse: “Com raiva, Sr. MacLachlan? Que pena. Sua mãe deveria ter lhe ensinado a não pegar as coisas que não são suas."

Ela se levantou, esfregou as mãos e olhou para Amy. "Pronta?"

Amy assentiu, então seu olhar olhou ao redor do quarto e parou na parede oposta. “Pegue aquele outro cobertor. Você pode precisar."

Georgina atravessou a sala, passando por maçãs esmagadas e uma desordem que ela mal notara antes. O quarto estava uma bagunça. Ela puxou outro cobertor de lã vermelho de um pino de madeira na parede, enrolou-o em volta dos ombros e se virou.

"Vamos," disse Amy, ainda acenando a arma para ele quando se virou e foi para a porta.

Georgina atravessou a sala e, antes de fechar a porta, deu uma última olhada triunfante para o idiota,para lhe mostrar que ela tinha ganhado.

Amy pegou uma cesta coberta com um pano. "Siga-me."

Poucos minutos depois, elas estavam na escada externa da casa. Amy não se mexeu, mas olhou em volta, franzindo a testa. Ela mordeu o lábio inferior, depois olhou para Georgina. "Para onde vamos agora?"

Tudo o que Georgina podia ver era névoa branca. “O nevoeiro parece ainda mais espesso do que antes. Estas ilhas têm falésias traiçoeiras. Se não formos cuidadosas, poderemos cair de uma."

“A lamparina ainda está no convés do barco. Calum deixou-a lá antes de me trazer para cá."

“Vamos então." Georgina puxou Amy pela escada.

De repente, Amy parou e levantou a cabeça. "O que foi esse barulho?"

Georgina olhou em volta, mas viu apenas o nevoeiro e a sombra escura da casa atrás delas.

"Eu pensei ter ouvido algo ranger, como uma dobradiça." As duas olharam para a porta da frente. Ainda estava fechada. Georgina virou-se para ela. “Provavelmente era algum animal, um esquilo ou um pássaro. O som se propaga no nevoeiro, especialmente à noite." Ela agarrou o braço de Amy novamente. "Vem por aqui."

Elas desceram mais dois degraus.

Um estrondo veio por trás delas, assustando Amy tanto que ela largou a pistola e agarrou o braço de Georgina com as duas mãos.

Georgina engasgou, depois se virou, esperando que talvez o imbecil de alguma forma estivesse ali.

"O que foi isso?" Amy sussurrou, liberando um pouco o aperto no braço dela.

Georgina tirou os dedos de Amy do braço dela e subiu um degrau. Seu sapato esmagou algo no chão. Ela se abaixou e viu uma bacia de porcelana que estava em pedaços sobre a pedra.

Georgina olhou para o andar de cima, mas não conseguiu ver nada, apenas o nevoeiro e a sombra escura do contorno da casa que se erguia acima delas.

Amy pegou a arma e olhou por cima do ombro para os degraus. "Como que isso veio parar aqui?"

"Eu não sei. Eu não consigo ver nada lá em cima, mas vamos sair daqui. Rápido." Elas se viraram e desceram os degraus no momento em que outro jarrocaiu do céu nebuloso e se quebrou exatamente onde elas estavam.

Georgina arrastou uma Amy ofegante junto com ela.

"Você viu isso?" Amy sussurrou em uma voz aterrorizada.

"Esqueça isso! Precisamos pegar aquela lamparina. Agora!"

Elas saíram correndo e desapareceram no denso nevoeiro. Os únicos sonseram o cascalho rangendo alto sob seus pés em fuga, suas respirações e o débil ruído do mar contra alguma costa rochosa distante, de modo que elas não ouviram a janela do andar de cima se fechar.