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Capítulo 29

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Sempre aja como um vencedor

mesmo se você estiver perdendo.

—Anônimo

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Georgina encontrou a cozinhasem problema. Ela podia estar presa em uma ilha onde nenhum de seus planos de fuga tinha funcionado, mas seu nariz ainda funcionava. Ela seguiu o cheiro da comida até ficar diante de um conjunto de grandes portas.

Ela as abriu, desceu os dois degraus para umaposento grande com uma janela larga ao longo de uma parede. A parede à sua direita era toda de pedra e tinha outra daquelas enormes lareiras.

Ela virou na parte inferior dos degraus e congelou.

Eachann MacLachlan estava sentado em uma enorme mesa de pinho no centro da sala. Seus grandes pés estavam apoiados no canto da mesa e sua cadeira tinha sido empurrada para trás e oscilava nas duas pernas. Ele tinha algo que parecia uma toalha pressionada contra o rosto, então tudo que ela podia ver era sua mandíbula teimosa.

"Oi, George."

O homem tinha uma habilidade incrível para saber onde ela estava a cada momento. Era inquietante. Ele nem tinha olhado para ela.

"Lá se foi o meu apetite," ela murmurou. Ela respirou profundamente e atravessou a cozinha para ficar no lado oposto da mesa e agarrou uma cadeira.

"Sente-se e coma," ele disse. Ele ainda não tinha olhado para ela.

Tinha dois lugares postos na mesa, o dele e o assento ao lado dele. Ela saltou a cadeira e atravessou para o lugar livre, recolheu o prato e os talheres, depois se virou para voltar ao assento que ficava do outro lado da mesa.

A cadeira onde ele estava bateu no chão no mesmo momento em que ele agarrou o braço dela. "Sente-se aqui." Sua voz estava abafada; tinha vindo de atrás da toalha.

Ela olhou para ele. Ele tirou a toalha e ela olhou para o rosto inchado.

Ela quase se encolheu. Quase, não completamente.

Ele parecia o próprio diabo. Uma pálpebra estava ficando roxa e inchada. Havia um corte vermelho no lábio inferior — um lábio que estava com o dobro do tamanho normal. Ele tinha uma contusão feia e redonda na base do queixo que parecia crescer a cada minuto que passava. Ela quase podia ver o contorno das juntas dos dedos do irmão dele.

"Sente-se."

Ela sentou.

"David!" Ele gritou. Uma porta atrás dele se abriu e um homem entrou carregando um pesado balde. Ele era alto, como Eachann e seu irmão, mas era magro e ossudo como um arenque. Tinha cabelo vermelho-laranja brilhante que chegava até os ombros; era da mesma cor de um penny (23) novo. 

Quando ele se aproximou de Eachann, ela pôde ver que seu rosto parecia uma chuva de sardas. Ele tinha um queixo comprido e pontudo com uma maçaneta na ponta que era do tamanho de um ovo, e quando ele olhou para ela e sorriu, tudo o que ela viu foram dentes.

Ele colocou o balde para baixo com um baque. “Essas pedras vieram do riacho. Elas estão mais frias do que as outras."

Eachann abriu a toalha molhada e jogou algumas pedras lisas sobre a mesa. Ele se inclinou sobre o balde, tirou mais pedras e as enrolou na toalha. Ele olhou para David, que estava olhando para ela. "Obrigado. Esta éGeorge."

"Georgina Bayard," ela corrigiu no tom mais leve que pode pensar, considerando que ela sentiu um intenso desejo de adicionar mais hematomas no rosto de Eachann.

David olhou para ela. "Como os relógios."

Ela assentiu.

"Relógios?" Eachann colocou a toalha de volta em seu olho inchado e, em seguida, olhou de David para ela.

"Sim," disse David.

Ela olhou para o idiota. "Você precisa ser capaz de ler para entender."

David riu e deu a Georgina uma piscadela rápida antes de se virar para pegar algo que estava na parede oposta.

"Bem, eu acho que você já me disse isso." Eachann olhou para ela com o seu olho bom.

Ele olhou para ela de propósito, só para irritá-la, então ela fez questão de ignorá-lo.

David colocou uma tigela de pãezinhos quentinhos na mesa, um pote de manteiga, depois acrescentou um prato com ovos, bacon, linguiça, presunto, batatas, molho de maçã, mirtilos frescos e uma grande jarra de leite.

Ela percebeu que ainda estava segurando o prato no peito. Ela o colocou na mesa.

Ele bateu alto na mesa.

Ela fez o seu melhor para continuar a ignorar Eachann enquanto comia. Ela estava em sua segunda porção de presunto quando ele estendeu a mão e pegou uma salsicha.

"Pena que você perdeu o apetite."

Ela apenas deu a ele um olhar frio e cortou o presunto com um golpe cruel de sua faca. Ela o espetou junto com a linguiça, então olhou para cima e deu-lhe um sorriso doce.

Ele mordeu um pedaço de salsicha e mastigou enquanto sorria para ela.

O silêncio era estranho. Os únicos sons na sala eram feitos por David, que estava em uma mesa de trabalho, com um avental amarrado em volta da cintura enquanto socava uma massa branca. O homem não parecia um cozinheiro.

Mas a comida estava maravilhosa.

"Então, David." Eachann quebrou o silêncio. "O que você acha de George?"

David olhou para cima e sorriu. "Ela é linda".

"Você acha?" Ele fez um grande esforço para olhá-la como se estivesse tentando vê-la sob uma nova luz. Ele esfaqueou outra salsicha e comeu. "Ela é uma mulher desesperada, no entanto."

"Desesperada para ficar longe de você," ela murmurou.

"Desesperada para se casar."

Ela olhou através dele e deu uma mordida nos ovos, fingindo que não o estava ouvindofalar sobre ela como se ela não estivesse lá.

"Ela quer se casar com John Cadaver."

Ela engasgou com seus ovos.

Ele deu um tapinha nas costas dela com solicitude e entregou-lhe uma xícara de leite.

David estava olhando de Eachann para ela com uma expressão estranha.

"Cabot," ela disse com os dentes cerrados. "O nome dele é John Cabot."

"Está certo. Eu continuo esquecendo o nome do sujeito."

"Eu gostaria de esquecer o seu."

Ele a saudou com o garfo.

David socou a massa mais algumas vezes, depois a cobriu com uma toalha úmida. Ele olhou para ela, depois para Eachann, e balançou a cabeça algumas vezes antes de sair da cozinha. Ela podia ouvir os passos dele descendo pelas escadas de madeira.

Ela ignorou o MacIdiota e olhou pela janela. A neblina abraçava a encosta. Ela se perguntou se essa coisa, em algum momento,ia sumir. Era como uma cortina que os fechava do mundo. O mundo dela. O mundo ao qual ela tinha que voltar.

"Preocupada, de como você vai voltar para casa, George?"

O homem podia ler sua mente.

"Eu vou voltar para casa."

Ele riu. “É disso que eu gosto em você. Você é mais teimosa do que eu."

"Hã! Uma mula sem idade não é tão teimosa quanto você. Eu mal posso acreditar que você é real."

"Suba comigo por cerca de uma hora e eu vou te mostrar como eu sou real."

"Eu realmente te odeio."

Ele riu.

"Eu não posso acreditar que você é um pai."

Ele parou de rir.

“Você sai por aí arruinando a vida das pessoas. Por que você não pode simplesmente criar seus filhos e deixar pessoas inocentes em paz?”

Ele estava com raiva agora. Ela podia ver e ficou feliz.

"Eu não sei nada sobre crianças." Seu tom era áspero.

"Você não sabe ou não quer saber?"

"Eu não tenho que saber. É por isso que eu te raptei."

Seu garfo congelou no ar. "O que você acabou de dizer?"

“Eu disse que foi por isso que eu te raptei. Eu preciso de alguém para cuidar dos meus filhos."

"Você me sequestrou para cuidar dos seus filhos?" Ela perguntou, tentando absorver sua pergunta. Ela se lembrou de trechos de sua conversa em seu jardim. Seus comentários sobre como lidar com crianças. Ele a havia entrevistado para o trabalho!

Ela se levantou bem devagar e plantou as mãos na mesa. "Você arruinou a minha vida porque você não pode simplesmente contratar uma babá?"

Ele não disse uma palavra.

"Meu Deus... Você é realmente um idiota. Essa é a coisa mais egoísta, estúpida, arrogante e completamente imbecil que eu já ouvi!”

"Não realmente," ele disse em um tom preguiçoso que a incomodou. Isso implicava que ela era burra demais para entender seu raciocínio. “Você alegou que queria um marido. Eu precisava de uma mãe para meus filhos. Pareceu-me bastante simples.”

"Eu não quero me casar com você! Eu quero me casar com John Cabot! Ele é rico, seu idiota!”

“Eu tenho dinheiro suficiente para sustentar você, George. E você nem precisa puxar o vestido até a cintura para conseguir uma oferta de mim. Eu já te disse antes. Eu posso me casar com você.”

"Você pode ir para o inferno."

Ele deixou cair à toalha sobre a mesa com um baque furioso e se levantou, elevando-se sobre ela. "Sim, e você pode ficar direto nas suas costas naquela mesa."

Ela não tinha medo dele. "Essa é a sua maneira de fazer tudo, não é? Se você não consegue o que quer, simplesmente pega. Eu me pergunto se você sabe o quanto eu te desprezo."

Ele não disse nada. Mas segundos depois ele a agarrou tão rapidamente que ela nem sequer sentiu que isso ia acontecer. Sua boca estava na dela antes que ela pudesse respirar.

Ele gemeu dolorosamente, recuou e xingou. Ela empurrou-o para longe dela e limpou a boca. Ela não se importava que ele tivesse parado, que ele tivesse se machucado ainda mais. Ele a tinha humilhado.

Eles apenas se encararam. O ar entre eles se tornou pesado. Ele deu um passo em direção a ela.

Ela pegou a coisa mais próxima dela: um garfo.

Ela acenou na frente do rosto dele machucado. "Se afaste."

Seu olhar voou dela para o garfo e de volta para ela novamente.

"Se você me tocar, chegar perto de mim, o inferno e todas as suas torturas serão o céu comparado a um minuto comigo e com este garfo."

Ela se afastou dele. Então subiu as escadas e saiu da cozinha o mais rápido que pôde.

Eachann jogou as pedras na mesa. Ele passou um minuto ou dois enchendo a toalha com pedras frescas e frias, então a colocou de volta no rosto, franzindo o cenho para o mundo em geral.

David fechou a porta do porão com uma batida forte que fez Eachann se virar, a toalha ainda pressionada em um lado do rosto.

David apenas olhou para ele, estupefato. "Eu ouvi isso direito?"

"O que?"

"De costas na mesa?"

"Seria um bom lugar para ela."

David deu uma risada curta. "Você é um tolo."

A expressão de Eachann ficou beligerante. "Ela está causando problemas."

"O problema não é ela. O problema é você. Você está confuso."

"Eu mal posso esperar para ouvir o porquê," ele murmurou.

"Você está tratando a dor errada."

Eachann fez uma careta para ele com o seu único olho bom.

"Essa toalha fria não devia estar no seu rosto inchado. Você deveria colocá-la entre suas pernas."

(23) Penny - uma moeda de um centavo igual a um centésimo de um dólar.