image
image
image

Capítulo 40

image

Se você quer algo mais do que qualquer coisa,

esteja preparada para apostar tudo.

—Conselho de Georgina Bayard

O que diabos você está fazendo aí?

Amy levantou os olhos do tanque de peixes para o rosto zangado de Calum MacLachlan. "O que eu estou fazendo? Eu acredito que estou enjoada de novo.”Ela levantou a mão para a testa úmida.

Ele disse uma maldição.

Ela piscou para ele, então estremeceu. “Você poderia, por favor, parar de se mexer para frente e para trás? Você está me deixando mais tonta e já estoutonta o suficiente."

"Eu não estou me mexendo. Eu estou perfeitamente parado, moça." Ele se abaixou e tirou-a de perto do tanque tão rápido que parecia que ele tinha deixado o estômago dela para trás.

"Meu Deus! Não se mova!" Ela engoliuo ar fresco do mar.

Ele devia ser surdo porque ele a ignorou e caminhou para o lado do barco. Ele a apoiou e a manteve presa contra a balaustrada, seus braços fortes segurando ambos os lados dela.

“Respire fundo, moça. Se você precisar, vá em frente e esvazie seu estômago.“

Não havia nada em seu estômago para esvaziar. "Eu ainda não comi," ela gemeu.

Ele resmungou algo que incluía a palavra estúpida, e a segurou novamente.

"Você sabe Calum, eu acho que estou ficando mais doente de você ficar me arremessando em seus braços do que do movimento do mar."

"Você tem sorte de eu nãojogar você no mar."

"Você não faria isso."

"Não me teste." Ele a levou para a pequena cabine na proa do barco e colocou-a sentada numa cama embutida na parede. Abriu um armário e tirou algumas coisas, encontrou o que procurava e voltou para ela. Ele se ajoelhou na sua frente com uma lata de biscoito sob um braço.

“Aqui moça. Tente comer isso."

Ela gemeu e caiu de costas contra a cama com uma mão na sua testa. "Meu estômago está em algum lugar que eu não sei onde é e você quer que eu coma."

"Você se sentirá melhor se comer algumas bolachas. Por favor, tente comer apenas uma."

Ela levantou a cabeça e olhou para as bolachas brancas em sua mão estendida. Ela pegou uma e segurou-a, virando-a para um lado e depois para o outro.

"Você vai comê-la ou memorizá-la?"

"Eu ainda não decidi."

“Dê pequenas mordidas e mastigue bem. O sal vai ajudar seu estômago."

Ela fez o que ele tinha lhe dito. O primeiro pedaço que ela engoliu, ela pensou que ia jogar tudo para fora. Não foi isso o que aconteceu. Então ela deu outra mordida, depois outra. Em pouco tempo seu estômago não estava tão enjoado.

"Agora eu quero ouvir por que você ficou a bordo."

"Eu não queria ir embora."

"Mas Eachann não devia ter raptado você, moça. Eu pensei que você devia voltar para casa, onde você teria seu pessoal ao seu redor."

"Eu não tenho pessoas que eu quero que fiquem ao meu redor." Ela olhou para ele. "Exceto você."

"Moça, isso não é inteligente ou sensato."

"Eu não me importo."

"Use a sua cabeça."

“De acordo com Georgina, eu não quero ser conhecida pelo meu cérebro. Ela afirma que é melhor ter beleza porque os homens enxergam melhor do que pensam."

Ele começou a sorrir, depois deu uma gargalhada. "Eu acho que no caso de Eachann isso pode ser verdade." Ele ainda estava rindo. "Eu não posso ficar ao seu lado agora, Amy-minha-querida. Eu tenho trabalho a fazer. Eu não posso cuidar de você."

"Eu posso cuidar de mim mesma."

Seu olhar era incrédulo. "Como você se cuidou na caverna e quando você esteve doente?"

"Eu posso ajudar."

"Você vai ajudar," ele repetiu sem inflexão.

"Eu posso te ajudar. Apenas me diga o que fazer."

"Eu não posso, moça. Agora não. Nós precisamos sair daqui agora. Will não vai poder trabalhar sozinho com o barcoque vai chegar em breve.Eu tenho que ter certeza de que as pessoas naquele navio tenham alimentos, roupas etransporte seguro para as suas terras."

"Posso ir com você? Eu quero saber como tudo isso começou. O que exatamente você faz? Eu quero ver. Eu quero ajudar. Eu me sinto tão inútil. Se eu puder ajudar alguém, então talvez eu... bem, eu não sei exatamente o que, Calum, mas sei que precisofazer algo."

Ele ficou ali parado por um longo tempo, como se precisasse tomar alguma decisão, então atravessou a sala, virou um pequeno trinco na parede e puxou uma gaveta escondida na mesa atrás dele. Ele vasculhou e tirou um livro encadernado em couro que parecia um diário.

Ele entregou a ela. "Tome. Quando estiver se sentindo melhor, você pode ler isso. Vai te contar muito mais sobre o que eu faço do que eu mesmo posso.”

Ela pegou o diário e observou-o caminhar até a escada.

Ele parou e olhou para ela. "Como você está se sentindo agora?"

"Melhor. Você estava certo sobre as bolachas. Obrigada."

Ele acenou com a cabeça para um pequeno tanque de metal do outro lado da sala. "Há água ali se você precisar."

“Na verdade, o que eu preciso agora não é beber água. Eu preciso me livrar de alguma água."

Ele riu e apontou para outra cabine. "O que você precisa está ali."

Ela corou e então murmurou: "Obrigada."

Ele se virou e abriu a porta para sair, mas se virou de novo. "Por que você não perguntou se podia vir comigo?"

"Você teria me trazido?"

"Não."

"Foi por isso."

Ele apenas balançou a cabeça e saiu da cabine.

Ela abriu o diário efolheou as páginas. Nas primeiras páginas havia recortes de jornais e editoriais colados. Ela começou a ler o primeiro editorial.

––––––––

image

Nós temos sofrido por muitotempo vendo em

nossas ruas tantos infelizes emigrantes das Highlands, aparentemente como indigentes. Seu último xelim é gasto para alcançar esta nova terra, onde eles são reduzidos à mendicância.O caso deles é agravado pela sua ignorância da língua inglesa. Das centenas de Highlanders atualmente na cidade, talvez meia dúzia não compreenda nada além de gaélico. Podemos ajudar essas pobres criaturas por um tempo, mas a caridade não manterá tantas por tanto tempo. O inverno está se

aproximando e depois? Eles vão morrer de fome e

congelar nas ruas?

Amy sentiu-se mal. Era uma coisa terrível o que estava acontecendo. Ela ficou lendo, cada artigo mais horrível que o anterior. Em seguida, as páginas do livro tinham sido escritas pelo próprio Calum, entradas no diário do que ele tinha visto. O que ele tinha sentido. Suas experiências.

Eu vi um funeral hoje. Uma longa fila de emigrantes das Highlands descia a rua em silêncio. Em seus ombros, ossudos e estreitos de fome, tinha um pequeno caixão, não muito maior

que um berço. Era o caixão de uma criança, feito de material bruto, tábuas ásperas que pareciam o tipo de velhas madeiras lascadas que eram deixadas para apodrecer ao longo do cais.

As crianças seguiam com tristeza a fila, e, quando perguntadas, contavam sobre o amigo, o pequeno menino de 8 anos que, em tempos mais saudáveis ​​e felizes, brincava com eles em seus vales nativos.

Seus olhares e seus rostos eram indescritíveis. A tristeza e o pesar estavam lá, mas também tinham um olhar e uma sensação de um futuro totalmente sem esperança que enrugava seus rostos como rugas de uma pessoa idosa. Seus rostos podiam quebrar o coração de uma pessoa cruel e insensível.

Suas vestes eram um pouco mais do que farrapos

que outrora haviam sido roupas. A mãe da criança caminhava atrás do pequeno caixão; a roupa rasgada e os olhos vazios como as promessas feitas a essas pobres pessoas por seus lairds e benfeitores — aqueles homens desesperados cujos avôs os protegera. Agora os netos expulsaram os arrendatários da

terra que cultivaram durante séculos para poderem fazer o

pasto para as suas ovelhas.

A procissão seguiu em direção ao túmulo, onde

suas esperanças e promessas de futuro seriam enterradas naquela cova rasa junto com o caixão.

Eu sou o laird do meu clã, por nascimento, e pelo

meu título de MacLachlan. Eu não tenho terras nas Highlands, porque elas foram tiradas do meu bisavô muitos anos atrás. Não tenho membros do meu clã como na época dos meus avós.

Tenho apenas a minha pequena família. Mas eu tenho sangue escocês e não posso deixar de sentir um forte sentimento de raiva com o que estou vendo aqui. Eu chorei enquanto assistia ao funeral. Eu chorei por aquela mãe, por aquela criança. Poderiater sido eu ou meu irmão, ou mesmo Kirsty ou Graham.

Eu juro, hoje, com tudo que tenho e tudo o que sou, que isso não mais vai acontecer. Que mais nenhum Highlander

vai passar fome ou morrer congelado nas ruas. Eu não vou deixar isso acontecer. Se eu não fizer mais nada na minha curta vida, isso será o suficiente.

Quando Amy terminou de ler, ela estava chorando. As lágrimas escorriam pelas suas bochechas do jeito que deviam ter caído pelas de Calum. Ela leu todos os artigos de jornal e tudo o que Calum tinha escrito. Ela podia ver o que ele fazia, como ele fornecia a essas pessoas mais do que apenas comida e roupas e um lugar para morar. Calum lhes devolvia seu orgulho.

Ela fechou o livro e ficou sentada olhando para a madeira no teto. Então tentou fechar os olhos contra todas as imagens que viu, imagens vívidas e dolorosas do diário de Calum. Aquelas imagens a assombravam, até que Amy finalmente adormeceu com lágrimas ainda escorrendo dos cantos dos olhos.